A Carne/XIII: diferenças entre revisões

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O viver da fazenda entrou logo em seus eixos: dir-se-ia até havia melhoramento, que se estava mais à vontade. Joaquim Cambinda inspirava medo, ninguém se atrevia a proferir uma palavra contra ele, e, todavia, exceto um pequeno número de adeptos de suas práticas, todos o odiavam. A sua morte, como a de todo tirano, fora um motivo de júbilo geral, alargara todos os pulmões que bebiam ar então a haustos largos. Desaparecera o perigo invisível e temeroso que a todo o instante a todos ameaçava.
 
A fruiteira continuava a ser muitíssimo freqüentadafrequentada por pássaros de espécies várias, por serelepes e até por ouriços caixeiros.
 
Lenita ia por diante com as suas razias matinais. Acompanhava-a então Barbosa, que lhe deixava todo o prazer das caçadas, reservando-se o trabalho. Era ele quem ia buscar as aves mortas, quem perseguia e apanhava as que caiam ainda vivas. Tendo achado um carreiro batido de caça, a alguma distância da caneleira, escolheu um lugar que lhe pareceu apropriado, limpou-o em bom espaço, deitou milho, fez uma ceva. Ao terceiro dia notou com prazer indizível que a caça acudia, que o milho estava comido. Em pouco tempo teve de renová-lo: tinha acabado. Entendeu que era tempo de construir um reparo. Fê-lo quadrangular, grande bastante para duas pessoas. Tapou-o em roda com palmas de guarirova, arranjou dentro um assento de varas, sólido, relativamente cômodo. Cravou no chão forquilhas para encostar as espingardas, dispôs olheiros por onde pudesse espreitar a caça. Antegostava a surpresa agradabilíssima que ia causar a Lenita, o arrebatamento, o êxtase em que ficaria ela, ao defrontar pela vez primeira com caça de importância com caça de grande pêlo.
Lenita ia por diante com as suas razzias matinais. Acompanhava-a então Barbosa, que lhe
 
deixava todo o prazer das caçadas, reservando-se o trabalho. Era ele quem ia buscar as aves mortas, quem perseguia e apanhava as que caiam ainda vivas. Tendo achado um carreiro batido de caça, a alguma distância da caneleira, escolheu um lugar que lhe pareceu apropriado, limpou-o em bom espaço, deitou milho, fez uma ceva. Ao terceiro dia notou com prazer indizível que a caça acudia, que o milho estava comido. Em pouco tempo teve de renová-lo: tinha acabado. Entendeu que era tempo de construir um reparo. Fê-lo quadrangular, grande bastante para duas pessoas. Tapou-o em roda com palmas de guarirova, arranjou dentro um assento de varas, sólido, relativamente cômodo. Cravou no chão forquilhas para encostar as espingardas, dispôs olheiros por onde pudesse espreitar a caça. Antegostava a surpresa agradabilíssima que ia causar a Lenita, o arrebatamento, o êxtase em que ficaria ela, ao defrontar pela vez primeira com caça de importância com caça de grande pêlo.
 
Deixou passar alguns dias para que a caça se familiarizasse com a choça, e, quando entendeu ser tempo azado, mandou acordar a Lenita bem de madrugada, muito antes da hora do costume. Saíram. Para atravessar o carreadouro e a picada, Barbosa teve de ir riscando fósforos; estava escuro como breu. Ao chegarem junto da caneleira ainda tudo era trevas. A copa das árvores formava uma pasta compacta, negra, indistinta do negror do céu. Lenita tinha sono, bocejava. A mucama encolhia-se toda, aconchegando-se no xale.