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Foi para o seu quarto.
Um banho
Saiu, enxugou-se em uma toalha felpuda, grande, vestiu uma camisa branca de cambraia finíssima, deitou-se por sobre as cobertas, de costas, bem estendida, com as mãos entrançadas por baixo da cabeça, com uma perna por cima da outra.
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Sentia picadas na pele, tinha calafrios, zuniam-lhe os ouvidos.
Sugando-lhe as feridas feitas pelos aguilhões da cobra, Barbosa retirara um veneno, mas deixara outro. Lenita nunca mais cessara de sentir a sucção morna, demorada, forte, dos lábios de Barbosa em torno às picadas, no peito do pé. A sensação estranha, deliciosa, incompatível que produzira essa sucção perdurava, vivia; mais ainda, multiplicava-se, alastrava. Era um formigamento circular que lhe trepava pelas
E ela queria Barbosa, desejava Barbosa, gania por Barbosa.
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Curvou-se, apoiou a mão no respaldo da cabeceira, aproximou a sua cabeça do peito do homem adormecido, escutou-lhe a respiração igual, hauriu-lhe o cheiro másculo do corpo, sentiu-lhe a tepidez da pele.
Quedou-se por muito tempo nesse ambiente entorpecedor. De súbito o braço com que se encostava falseou; ela caiu pesadamente sobre o leito.
Barbosa deu um estremeção, acordou sobressaltado, sentou-se, estendeu as mãos, encontrou-a, asiu-a, perguntou assustado:
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E, contudo, era real, ali estava: ele sentia-lhe a carne quente, dura, palpava-lhe a pele híspida pelo desejo, escutava-lhe o estuar do sangue, e o pulsar do coração.
Um tropel de idéias desordenadas agitou-se-lhe,
Sentou-se rápido à beira da cama sem largar a moça, puxou-a para si, cingiu-a ao peito, segurou-lhe a cabeça com a mão esquerda, e, nervoso, brutal, colocou-lhe a boca na boca, achatou os seus bigodes ásperos de encontro aos lábios macios dela, bebeu-lhe a respiração. Lenita tomou-se de um sentimento inexplicável de terror, quis fugir, fez um esforço violento para desenlaçar-se, para soltar-se.
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— Deixe-me ! Deixe-me ! Assim não quero ! implorava, resistia Lenita, com voz quebrada, ofegante, esforçando-se por escapar, e presa, todavia, de uma necessidade invencível de se dar, de se abandonar.
De repente fraquejaram-lhe as
Ela deixava-o fazer, inconsciente, quase em delíquio, mal respondendo aos beijos frementes que a devoravam.
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Barbosa não podia prestar fé ao que se estava dando.
Descrente de mulheres, divorciado da sua, gasto, misantropo, ele abandonara o mundo, retirara-se seus livros, com seus instrumentos científicos, para um recanto selvagem, para uma fazenda do sertão. Abandonara a sociedade, mudara de hábitos, só conservara, como relíquias do passado, o asseio, o culto do corpo, o apuro despretensioso do vestir. Levava a vida a estudar, a meditar; ia chegando ao quietismo, à paz de espírito de que fala Plauto, e que só se encontra no convívio sincero, sempre o mesmo, dos livros, no convívio dos ausentes e dos mortos. E eis que a fatalidade das coisas lhe atira no meio do caminho uma mulher virgem, moça, bela, inteligente, ilustrada, nobre, rica. E essa mulher apaixona-se por ele, força-o também a amá-la, cativa-o, aniquila-o. Faz mais : contra a expectativa, tomando realidade o improvável, o absurdo, vem ao seu quarto, interrompe-lhe o sono, entrega-se-lhe... Ele a tem entre os seus braços, lânguida, mole, roída de desejos; aperta-a, beija-a...
E... nada mais pode fazer!
Não que o detenham preconceitos, receio de
Debalde procura na concentração da vontade o tom da fibra nervosa, o robustecimento do organismo...
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— Não posso! Não posso! exclamou, ululou desatinado.
Deu-se uma inversão de papéis: em vista dessa frieza súbita, desse esmorecimento de carícias, cuja causa não podia compreender, nem sequer suspeitar; no furor do erotismo que a desnaturava, que a convertia em bacante impudica, em fêmea corrida, Lenita agarrou-se a Barbosa, cingiu-o, enlaçou-o com os braços, com as
E o prazer que ela sentia revelava-o na respiração açodada; no hálito curto, quente; era um prazer intenso, frenético, mas... sempre incompleto, falho.
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Era o dia que vinha chegando.
— Deixe-me
— Não, não
— Vou
E, fazendo um esforço violento, Lenita escapou-se do leito e dos braços de Barbosa.
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