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{{navegar
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|autor=Machado de Assis
|seção=Capítulo XX: Uma voz misteriosa
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Félix estacou à porta da sala. Luís Batista deu dois passos para ele.
Era um gracejo ou um remoque? Félix limitou-se a apertar a mão que o outro lhe estendia e convidou-o a sentar-se.
Félix convidou-o a entrar e ambos se sentaram à mesa. As primeiras frases trocadas foram acanhadas e frias, mas as maneiras livres do hóspede conseguiram abalar a reserva do dono da casa.
Batista aceitou uma xícara de café que o médico lhe ofereceu. Depois, com um modo acintemente leviano, referiu ao dono da casa uma aventura amorosa daqueles últimos dias. Tratava-se de uma mulher caprichosa e requestada. Seu triunfo era portanto duas vezes glorioso. Como beleza, desafiava ao próprio médico a resistir-lhe depois de meia hora de contemplação. Achar-se-iam, talvez, outras mulheres mais formosas; nenhuma, porém, tinha como essa o misterioso encanto que sabe agrilhoar a vontade mais rebelde.
Todo o estilo da sua descrição era assim,
Dizendo isto, Luís Batista engoliu o resto, já frio, do café que tinha na xícara, acendeu de novo o charuto, e recostou-se na cadeira. Félix teve tempo de reassumir a atitude tranqüila que as últimas palavras de Batista lhe haviam alterado.
Félix fez um gesto afirmativo.
—Ah!
Luís Batista calou-se
Luís Batista estava naquele dia singularmente falador. A simples observação do médico deu azo a um largo discurso a respeito do
Félix não respondeu; foi buscar a disputada gravura e trouxe-lha. Luís Batista não pôde reter um grito de surpresa. A figura de Betsabé, dizia ele, parecia realmente uma cópia da sua dama. A dama era talvez mais formosa do que a cópia.
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Foi nesse momento que trouxeram ao médico uma carta, entregue pelo correio. Félix abriu-a distraidamente, mas tanto que lhe leu o conteúdo ficou muito pálido e encostou-se a uma cadeira. Com a mão trêmula aproximou o papel dos olhos, enquanto os dentes mordiam os lábios até deitar sangue. Luís Batista aproximou-se rapidamente de Félix e perguntou-lhe o que tinha.
O hóspede curvou-se, sorriu e saiu.
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Félix encerrou-se no seu quarto. Do que lá se passou ninguém de casa soube: algum rumor se ouvia de quando em quando, mas abafado, e uma ou outra exclamação vaga e solta. Eram quatro horas quando o médico saiu à sala.
O tempo tinha melhorado. O sol reaparecera entre duas nuvens, dando de chapa nas árvores molhadas de chuva e nos telhados que escorriam um resto de água. Dissera-se que a natureza queria fazer outro contraste ao inverso do da manhã, porque, se a tarde sorria alegre, o homem dava sinais de tempestade interior. Tinha os olhos vermelhos, a boca contraída, os cabelos em desordem. Saiu com passo vacilante. De quando em quando, colhia o alento com a expressão de quem lhe custa respirar. Um escravo, a
Félix escreveu em seguida uma carta que sobrescritou para a viúva. Vestiu-se depois. Não tardou que lhe parasse um carro à porta. Meteu-se nele e mandou tocar para a cidade.
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