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|obra=[[No País dos Ianques]]
|autor=Adolfo Caminha
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Como militar e disciplinador o comandante Saldanha da Gama distinguia-se por sua inflexibilidade porventura exagerada, especialmente para com as guarnições sob seu zeloso comando. Temperamento atrabiliário,
Pois bem, o comandante Saldanha pouquíssimas vezes castigava conforme a lei. Colocava acima dela seus caprichos inexplicáveis, sua natureza rancorosa, sua vontade suprema. Não trepidava, e isto é sabido, em mandar açoitar com duzentas chibatadas uma praça qualquer, tal fosse o delito cometido. A um simples olhar seu as guarnições tremiam como caniços. A qualidade característica desse ilustre oficial era ser arbitrário e prepotente. Por isso a guarnição do ''Almirante Barroso ''corria a seus postos, em ocasião de manobra, com a velocidade duma seta.
Estávamos quase à entrada do Mississipi, a grande artéria fluvial da América do Norte, que nós imaginávamos um colosso talvez superior em volume
Ninguém pensava mais no Rio de Janeiro para só se lembrar de Nova Orleans, a ''Cidade Crescente, ''como a denominam os americanos.
Três horas da tarde, mais ou menos. Embarcações
Envolvidos em grossas capas de lã, abotoados até o pescoço ao abrigo do frio que se tornava insuportável para nós da zona tórrida, de pé no tombadilho, máquina a um quarto de força, bandeira nacional desfraldada na carangueja do mastro de ré, esperávamos também o
O Mississipi! Dentro em pouco sulcávamos a grande corrente.
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O autor destas simples notas de viagem, que admira os Estados Unidos como uma segunda pátria, porque ali moram juntas todas as liberdades e florescem prodigiosamente todas as nobres idéias civilizadas, de braços cruzados estendia o olhar cheio de admiração, cheio de deslumbramento por cima das extensas planícies das margens do grande rio.
O pôr-do-sol entre a neblina que cobria os horizontes fazia lembrar as páginas de Chateaubriand na sua ''Voyage en Amérique, ''páginas esculturais e cheias da comovida nostalgia dos que se vão da pátria...
Quanta verdade nas suntuosas descrições do poeta! Quanta poesia naquelas paragens desertas da foz do Mississipi
Eram ave-marias. Lembrei-me do Brasil, dos sertões de minha terra natal, da torrezinha branca do Senhor do Bonfim badalando o terço das almas, justamente aquela hora, quando as boiadas recolhiam mugindo, pesadas e melancólicas...
Ave-marias!... Mesmo quando não se é crente, àquela hora da tarde o coração fica cheio de não sei que terna e piedosa unção mística...
Fundeamos no ponto em que o rio se divide em dois braços ou pequenos confluentes, e aí passamos a noite inteira, essa longa e tristíssima noite de inverno.
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Frio de rachar. As águas do rio, pardas e barrentas, estavam quase geladas.
As margens do Mississipi, em vários pontos, são, no inverno, verdadeiras planícies, onde apenas medra a erva rasteira. À
Noutros lugares, porém, vêem-se rebanhos pastando silenciosamente, plantações verdejantes, casas de campo, postos de correio, em cujas portas destacam-se em caracteres maiúsculos as palavras▼
▲Noutros lugares, porém, vêem-se rebanhos pastando silenciosamente, plantações verdejantes, casas de campo,
O povo parece viver satisfeito no meio de suas plantações e de seu gado, entregue à cultura e à criação.
Nuvens de mosquitos atordoaram-nos toda a noite.
Felizmente na manhã do dia seguinte levantamos ferro.
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Como passatempo líamos os jornais que o prático trouxera, os quais noticiavam a recepção popular e oficial que se nos preparava.
Dois iates a vapor
Ou fosse a natural afinidade que existe entre as duas nações americanas, ou fosse o fato de ir a bordo do cruzador brasileiro um representante da família imperial do Brasil, o certo é que durante nossa travessia da foz do Mississipi à cidade fomos constantemente saudados de ambas as margens do rio a tiros de espingarda e a lenços que nos acenavam de longe.
E o ''Almirante ''seguia devagar, alvo de mil olhares curiosos.
Ao meio-dia ouvimos as notas de uma música alegre que se aproximava, e em breve surgiram numa curva do rio os dois magníficos iates
De ambos os lados, no cruzador e nos iates, hurras confundiam-se no ar.
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Em viva efusão de inexprimível júbilo patriótico estreitavam-se as duas grandes potências da América; a mesma brisa balouçava simultaneamente os dois gloriosos pavilhões.
A gente do ''Barroso ''subiu às vergas acelerada, e acenando com os lenços e os bonés, saudava com vivas estrepitosas e delirantes aclamações aos Estados Unidos, ao mesmo tempo que das duas embarcações partiam ruidosas manifestações ao Brasil.
Fardada em segundo uniforme, espada e dragonas, a oficialidade do cruzador brasileiro, em pé no tombadilho, vivamente comovida, descobria-se a todo instante risonha e feliz.
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Sentíamos a falta de uma banda de música bem organizada, que naquele momento, verdadeiramente solene, entoasse o hino da república a bordo.
Passado o primeiro momento de delírio, aproximaram-se os dois iates que nos acompanhavam e o cruzador diminuiu a marcha. Ficamos borda a borda. Num instante toda aquela gente, que vinha nos vaporezinhos, passou para o ''Barroso.''
Houve um silêncio respeitoso de parte a parte e começaram os abraços.
O cônsul-geral brasileiro,
Conduzidos à câmara, desde logo estabeleceu-se entre brasileiros e americanos uma camaradagem franca, uma corrente comunicativa de afabilidades, como se já fôssemos conhecidos velhos. As taças de champanha chocavam-se, vivas sucediam-se, levantavam-se ''toasts ''às duas nações, trocavam-se os mais espontâneos
A viagem continuou ao som da música do ''Cora ''e do ''Pansy.''
Às 4 horas da tarde largamos ferro defronte da antiga capital da Luisiana.
[[Categoria:No País dos Ianques|Capítulo 06]]
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