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|obra=[[No País dos Ianques]]
|autor=Adolfo Caminha
▲|seção=Capítulo VIII
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A Grande Exposição Industrial de Nova
Compreende-se o vivo interesse do povo em assuntos desta ordem.
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Não havia na cidade quem não soubesse que estava no porto um navio de guerra do Brasil, e este fato por si só era bastante para que toda a gente ardesse em desejo de vê-lo de perto, de o percorrer dum extremo a outro.
E quando afirmávamos que a máquina do ''Barroso ''era de ferro Ipanema e doutros metais brasileiros, que todo o navio, da popa à proa, era construção inteiramente nacional, subia de ponto a surpresa dos. nossos vizinhos.
O quê! No Brasil já se constroem navios de guerra?
Todo o cruzador, desde a câmara do comandante até ao alojamento dos marinheiros, desde o tombadilho até ao porão, foi exposto à curiosidade pública.
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Desde as oito horas da manhã, ao içar-se a bandeira, começavam a atracar lanchas a vapor e escaleres cheios de visitantes de ambos os sexos.
Grandes lanchas iam e vinham do cais para o cruzador e do cruzador para o cais, continuamente, incessantemente, apinhadas de passageiros, que pagavam 5 cêntimos de ida e volta. Cada uma trazia à proa, em letras
À tarde, depois duma faina acabrunhadora de receber famílias e percorrer duas, três e mais vezes o navio, dando explicações, descrevendo aparelhos e maquinismos com uma paciência de pedagogos, íamos à terra, distrair nos cafés, nos teatros, nos bailes, tanto mais quanto multiplicavam-se os convites para todas as diversões públicas e familiares.
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As famílias com que íamos entretendo relações de amizade exigiam que fôssemos quotidianamente a suas casas, como se nos sobrasse tempo para isso; e, força é confessar, dispensavam-nos um tratamento quase paternal.
A melhor de todas as recepções que tivemos, não obstante o caráter oficial que a revestia, foi a do
A casaca, o clak, a gravata de seda branca, o vestido decotado até aonde permite a decência, confundiam-se nos salões do hotel ricamente adornados, cheios de luz, escancarados de par em par como um palácio em festa.
A jovem oficialidade brasileira, exímia em ''cotillons, ''expandiu-se a valer nessa magnífica ''soirée ''de inverno, fria e clara, constelada de botões de ouro e brilhante, longe da pátria, longe de suas famílias, mas no seio dum povo que nos amava deveras.
Sarau principesco esse de que ainda sinto o saibo esquisito ao traçar as reminiscências da minha primeira ausência do Brasil.
Mesa abundantíssima e franca, desde a deliciosa sopa de ostras com molho inglês ao mais fino champanha Clicot, com escala pela maionese de lagosta, fresca e picante, pelo suculento ''poisson
Volvemos para bordo seria madrugadinha, trôpegos, cansados e sonolentos, pálpebras caídas, suplicando a frescura dum travesseiro, dentro de nossas invioláveis capas da Bretanha.
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Uma noite brasileira com todos os excessos da nossa educação e do nosso caráter; saudosa noite, a primeira de minha vida em que me enfronhei numa casaca irrepreensivelmente bem-feita...
O ''Barroso''', '''''diluído na escuridão da noite, aproado à correnteza que descia rio abaixo cantando uma
...
Falemos ainda das mulheres de Nova Orleans.
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Belas quase todas, amáveis e insinuantes, cheias duma inexcedível graça que arrebata e seduz voluptuosamente.
As ''créoles, ''ah! as ''créoles... ''ninguém as vê que não as fique desejando.
Caracteres principais: tez morena, com uns tons de rosa na face, olhos muito negros, criminosos até ao homicídio flagrante, pequenas, delicadas, flexíveis, aéreas quase, conjunto meigo e melancólico, muito sensíveis... A vaga expressão de seu olhar aveludado derrama não sei que misterioso fluido, cujos efeitos traduzem-se em voluptuosas sensações, secretos desejos de posse absoluta...
Como diferem as chamadas ''créoles ''das verdadeiras americanas!
Estas
É curiosa a origem da população ''créole ''de Nova Orleans. Ela descende na maior parte de aventureiros canadenses e ''courreurs des bois
Isso, porém, não trazia vantagens à colônia, que precisava de gente. Os canadenses satisfaziam seus apetites carnais sem que aumentasse o número de habitantes
Nestas condições foram dadas outras providências, e, em 1728, chegou a Nova Orleans um grupo de raparigas, conhecidas na Luisiana histórica pelas ''filles de la cassette ''ou ''casket girls, ''mandadas pelo rei para o convento das Ursulinas a fim de se casarem licitamente. A experiência foi coroada de sucessos. Em breve tempo começou a crescer a colônia e os descendentes da ''cassette ''tinham orgulho em o serem.
Tal foi a origem humilde dos primeiros filhos nativos da Luisiana.
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A mulher americana do Norte é geralmente bem-educada. Muitas vimos em Nova Orleans, que conheciam e falavam dois, três idiomas, além do vernáculo.
Preocupam-se pouco com bailes e modas, trajam com simplicidade e elegância, sem afetação, sem a natural ''coquetterie ''da mulher parisiense. Seu divertimento predileto é a música.
O proverbial desembaraço das americanas manifesta-se a todo instante. Prontas sempre a repelir com dignidade um ataque à sua honestidade, elas se dirigem aos homens em qualquer parte, na rua ou nos salões, com a mesma simplicidade com que o fazem às amigas. O respeito entre os dois sexos, nas classes superiores, é um dos principais caracteres do povo americano. Habituados, homens e mulheres, a uma educação livre, vivendo uns e outros em comum desde criança, as americanas não se confundem nunca diante dos homens.
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Os pais depositam confiança ilimitada nas filhas. Deixam, sem escrúpulo, que elas saiam a passeio, de carro ou a pé, só ou em companhia de um amigo da casa, na certeza de que elas saberão zelar a sua castidade.
Os raptos e os defloramentos são raros, não sei se devido ao temperamento da raça ou se à inflexibilidade da Lei. O que sei é que, se um rapaz gosta de uma rapariga de família reconhecidamente honesta, não tem mais do que namorá-la escandalosamente às barbas de quem quer que seja, à vista do mundo inteiro, beijá-la sem
E ai! daquele que violar os preceitos decretados pelo governo! Imediatamente vê-se dentro deste triângulo medonho: o casamento, o dote, ou a cadeia. A Lei é inexorável e a polícia exerce uma vigilância sem igual.
Informados de tais particularidades do caráter americano, nós, brasileiros, pusemos um dique ao nosso temperamento de meridionais, evitando o mais possível os compromissos amorosos, as manifestações de simpatia por essas adoráveis ''ladies, ''que, a falar verdade, infligiam-nos os maiores suplícios com o maravilhoso poder de suas qualidades físicas.
Tântalos do coração, éramos obrigados a conter os ímpetos ferozes da carne que nos aguilhoava implacavelmente no delicioso convívio das louras ''misses ''e das ternas ''créoles.''
''Estão verdes, não prestam
[[Categoria:No País dos Ianques|Capítulo 08]]
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