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{{navegar
|obra=[[São Cristóvão]]
|autor=Eça de
|seção=Capítulo VII
|anterior=[[São Cristóvão/VI|Capítulo VI]]
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Uma tarde, na fonte, as mulheres viram como uma torre que avançava: as mais novas fugiram de medo, mas outras mais velhas erguiam as mãos e diziam:
O seu vasto corpo crescera ainda, e a sua grenha ruiva ia mais alta que a mais alta das árvores; lento nos movimentos, cada um dos seus passos parecia despregar-se do chão, com dificuldade; todo ele cheirava a torrão e a arvoredo; uma barba ruiva, como um capim queimado, cobria-lhe a face: e os seus olhos azuis conservavam, como os de uma criança, um espanto perpétuo.
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Ao chegar junto da fonte baixou a cabeça, bebeu com lentidão; depois, limpando os beiços, olhava, com um bom sorriso, as mulheres, que já sem medo, reconhecendo o filho do lenhador, se juntavam em torno dele, tocando-lhe com as toucas altas pelo joelho, e erguendo os olhos pasmados para as alturas de sua face.
Obtuso de espírito, ele não reconhecia ninguém
Despojado dos fardos, foi-se sentar no cruzeiro
Os dois frades picaram as mulas, pouco a pouco a gente recolhera às casas, de onde saía o fumo das lareiras acesas. Uma a uma, as estrelas brilhavam. E Cristóvão só, cansado, estirou-se junto ao cruzeiro, onde o sacristão veio acender uma lâmpada.
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De manhã, chegou do outro lado do vale, em frente do mosteiro. Uma muralha envolvia-o como a um castelo: - e por trás da porta, de grossa pregaria, os cães inquietos agitavam as cadeias de ferro. No pátio enorme uma faia abrigava a roldana de um poço. Altas fachadas com reixas nas janelas, erguiam-se em redor: - e ao fundo, junto à entrada da capela, havia um banco de pedra onde um guardião lia o breviário.
Ao ver Cristóvão, fechou o breviário
Mas quando Cristóvão apareceu, tudo se interrompeu, todos ergueram as faces, um rumor correu de espanto: - e o guardião diante de Cristóvão, que hesitava, com o seu barrete na mão, fazia-lhe sinais para o levar até ao abade.
Sua Senhoria deu um salto na cadeira ao encarar com o monstro. Depois ergueu as mãos ao Céu, com olhos de piedade. Para mostrar a força de Cristóvão, o guardião mandou-lhe erguer uma pilastra partida que jazia no chão. Cristóvão brandiu a pilastra, como um simples cajado: e todos os frades recuaram com grandes ''ahs'' maravilhados.
Cristóvão fora trazido para servir no convento, fazendo o trabalho de muitos serventes. O rancheiro, porém, perguntava se era na realidade uma economia
Foi o servo da comunidade
Todos os anos, na véspera da Candelária, o padre-mestre reunia os serventes, e interrogava-os sobre a doutrina. Cristóvão não pôde responder, nem sequer enfiar o padre-nosso. Não sabia quem criara o Mundo
Quando a sineta de estudo tocava, Cristóvão chegava ao muro: - e a sua imensa grenha surgia no parapeito da janela. Todos os discípulos riam
Sentado no estrado o mestre ensinava
De noite, o doce sono fugia de Cristóvão. E encolhido, voltava para o Céu os olhos desconfiados. Se Deus reparando nele, de repente, fizesse sobre ele cair o fogo que queimara Gomorra? Todo o barulho o inquietava: e numa noite de trovoada os seus gritos acordaram todo o convento.
Mas o padre-mestre bem depressa começou a explicar os dogmas. E foi como se toda a Terra e Céu perdessem a sua realidade, ficando apenas deles baixas névoas que flutuavam. Nas alturas já não governava um homem forte e velho, de longas barbas: - mas uma trindade, que era de três, mas que formava um só, e era um Pai, um Filho, e um Espírito que tinha asas. O pecado não era fazer mal, mas nascer, e a água, escorrendo de uma concha, lavava-o como um linho sujo. Cristóvão arregalava os olhos desmedidamente
Um só parecia simpatizar com Cristóvão. Era um moço franzino, que tinha a sua banca junto da janela, sobre a qual caíam os caracóis dos seus cabelos louros. As suas mãos pálidas folheavam de leve um in-fólio: - e havia em todo ele como a gravidade de um letrado e a doçura de uma virgem.
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Todos os dias Cristóvão o via chegar da aldeia com o seu tinteiro metido no cinto, o rolo de papel sob o braço: e todas as tardes o seguia com os olhos quando ele, finda a aula, regressava à aldeia, folheando ainda pelo caminho algum livro onde havia cores brilhantes. Por vezes via-o parar, colher as flores silvestres do caminho. Ou alegremente, deitando os seus longos cabelos para trás, cantava sob a doçura da tarde.
Sempre que passava junto de Cristóvão, dizia-lhe:
[[Categoria:São Cristóvão|Capítulo 07]]
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