Últimas Páginas (1912)/S. Christovam/XIV: diferenças entre revisões

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|obra=[[São Cristóvão]]
|autor=Eça de QueirozQueirós
|seção=Capítulo XIV
|anterior=[[São Cristóvão/XIII|Capítulo XIII]]
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Cristóvão fora humildemente postar-se ao funda da sala abobadada. E tão grande era o seu terror, tão arraigado o desdém pelos servos que não era nele que os Senhores pensavam, nem no poderoso socorro de sua força indomável, mas nas espadas dos pajens, a quem elas gritavam que defendessem a porta.
 
Através dos pátios, no entanto, já os gritos dos feridos ressoavam por entre o clamor da turba de Jacques, que vinha como uma onda que arrebentou os diques. E mal a porta da torre fora fechada, que sobre ela caíram enormes machadadas, entre uivos de furor, o ruído dos vidros que se partiam, os gritos dos servos assassinados. Dentro ninguém falava, todos com olhos cravados naquela porta atacada – velhas pranchas de carvalho e ferrugentas chapas de ferro, que eram a única defesa contra a morte. Os pajens, mas pálidos que a cera, amolecidos pelos anos de paz, sem educação guerreira, faziam diante das mulheres uma sebe de espadas – espadas cujas pontas tremiam. O capelão rezava de bruços. E o arquivista estendia os braços por cima dos seus in-fólios, como para os proteger, com os olhos cravados na porta, e estremecendo a cada machadada. Só a avó parecia serena, sustentada pelo seu orgulho, com o peito direito, preparado para a morte, enquanto a nora sucumbia agarrada ao filho, banhando-o de lágrimas. E pela escada de caracol, que subia ao pavimento superior, apinhava-se a criadagem, as aias – algumas ainda com a sua roca na mão.
 
Sob os golpes desesperados a porta cedia! Pelas fendas da muralha entrava o fumo das fogueiras, que os Jacques acendiam no pátio para pegar o fogo ao castelo, com os móveis que arrastavam das salas, cadeiras brasonadas, arcas cheias de estofos. Já ninguém contava com a vida. Duas aias velhas, de rosário na mão, pediam a absolvição, ao padre, que as não escutava, de joelhos, batendo os queixos, entre os gritos de ''misereres.''