Outras Reliquias (Machado de Assis, 1910)/Poezia/O Almada/Advertencia: diferenças entre revisões

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Não é exagerada a pintura que faço do prelado administrador. Era ele, na verdade, homem irritadiço e violento, conquanto Monsenhor Pizarro no-lo dê por vítima de perseguição. Inimigos teria, decerto, e de tais entranhas, que uma noite lhe disparam contra a casa uma peça de artilharia. Verdade é que da devassa que então se fez resultou ter sido aquele ataque noturno preparado por ele mesmo com o fim de se dar por vítima do ódio popular. O juiz assim o entendeu e sentenciou, e o prelado foi compelido a pagar as custas da alçada e do processo. Monsenhor Pizarro pensa que isto foi ainda um lance feliz dos seus perseguidores. Pode ser; mas capaz de grandes coisas era certamente o Almada. Não tardou que recebesse ordem da corte para desistir do cargo, como se colhe de um documento do tempo citado nas ''[[Memórias Históricas]]'', tomo VII.
 
Observei quanto pude o estatuto do gênero, que é parodiar o tom, o jeito e as proporções da poesia épica. No canto IV atrevi-me a imitar uma das mais belas páginas da antiguidade, o episódio de Heitor e Andrômaca, na ''[[Ilíada]]''. [[Autor:Homero|Homero]] e [[Autor:Virgílio|Virgílio]] têm servido mais de uma vez aos poetas herói-cômicos. Não falemos agora de [[Autor:Ludovico Ariosto|Ariosto]] e [[Autor:Alessandro Tassoni|Tassoni]]. Parodiou [[Autor:Nicolas Boileau|Boileau]], no ''[[Lutrin]]'', o episódio de Dido e Enéias; [[Autor:António Dinis da Cruz e Silva|Dinis]] seguiu-lhe as pisadas no diálogo do escrivão Gonçalves e sua esposa, e ambos o fizeram em situação análoga ao do episódio em que imitei a imortal cena de Homero.
 
Não se limitou Dinis à única imitação citada. Muitas fez ele da Ilíada, as quais não vi até hoje apontadas por ninguém, talvez por se não ter advertido nelas. Indicá-las-ei sumariamente.