Encarnação (José de Alencar)/III: diferenças entre revisões

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}}[[Categoria:Encarnação (José de Alencar)|Capítulo 03]]
 
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Aquela casa de São Clemente foi para os noivos o ninho do amor e da felicidade; mas o ninho perene,
sem estações, sem primavera, sem lua-de-mel.
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hora por hora, se fosse possível, para amar seu marido em cada um desses momentos anteriores a ela.
O presente não lhe bastava. nem o futuro. Carecia de remontar-se à origem dessa existência que lhe
pertencia, para soldá-la ainda mais intimamente a
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si, de modo que não lhe fosse possível marcar a época de sua união. Então o casamento teria sido apenas a consagração social do vínculo de duas almas gêmeas Por seu lado Hermano sentia também a necessidade de vazar no coração ingênuo e casto da esposa, como em um crisol, os seus pensamentos, as idéias de que a sociedade o imbuíra; e assim apurar sua consciência naquela chama celeste.
 
Sua individualidade, escoimando-se da liga mundana, apagando os traços de uma mocidade fácil,
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Duas vezes por mês reuniam as famílias de sua amizade. Essas longas noites, em que se deviam a seus
convidados, eram uma ausência, uma separação para eles. Tinham o mundo entre si.
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Que saudades não sentiam um do outro nesses momentos; e com que anelos encontravam-se de novo na sua querida solidão?
Amália era então uma criança de nove anos. No dia do casamento tinha vindo do colégio passar o
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montanha; e o declive fora cortado em socalco com terraços que se sucediam em degraus. De uma dessas elevações dominava-se a casa vizinha, especialmente a asa do edifício, que ficava fronteira, a duas braças apenas de distância.
 
Foi daí que Amália, aproveitando uma ocasião em que as janelas estavam abertas, viu o quarto de
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quarto de
dormir e o toucador da noiva, ambos preparados com luxo e primor.
 
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Afinal apareceu uma ligeira nuvem naquele céu aberto. Estavam casados havia mais de três anos, e não tinham filho. Começaram a sentir essa falta; era o primeiro desejo não satisfeito.
 
Engolfados no misticismo do amor, tão grato às imaginações vivas, eles consolavam-se com uma teoria psicológica
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um tanto abstrata, mas original e encantadora. Hermano dissera uma vez à mulher:
 
-- Um filho é uma porção de nós que se destaca para formar outro eu. Nós, Julieta, nos queremos tão exclusivamente, e nos possuímos com tanta ânsia, que nenhum quer perder do outro a menor parcela, ainda mesmo reproduzir o nosso ser.
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Desde esse momento o marido caiu em um letargo profundo, que o conservou alheio ao que se passava.
Esse estado que se assemelhava à idiotia durou por muito tempo. O Dr. Teixeira, amigo de infância de Hermano,
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partindo para a Europa a fim de praticar nos hospitais de Paris, levou consigo o infeliz viúvo, na esperança de que a viagem o arrancasse àquela estupefação em que o deixara a perda da mulher.
 
Antes de seis meses Hermano voltou da Europa com Abreu que o acompanhara; e foi morar na casa de
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Muito se falou dos tais enormes caixões. Na opinião de alguns tinham eles desembarcado na Copacabana
e entrado por contrabando na cidade.
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Outros, admitindo o contrabando, afirmavam que passara pela própria alfândega. Finalmente, choviam as suposições acerca do arrombamento da parede e da carga misteriosa que se ocultara até dos criados da casa, com exceção do velho Abreu.
 
O Sr. Veiga voltou a ocupar sua antiga casa. Amália teve muitas ocasiões de ver na alameda da chácara