Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
mSem resumo de edição |
m 555: match |
||
Linha 7:
|notas=
}}[[Categoria:A Bela Madame Vargas|A 01]]
==
''O esplêndido terraço da vila de Mme. Vargas. Á direita, avançando sobre o terraço entre grinaldas de rosas e trepadeiras floridas, a fachada da linda casa, com varanda e escadaria. Para essa varanda dão a larga janela e a porta do salão de música. No fundo balaustrada de mármore. Do terraço domina-se um maravilhoso panorama de florestas, deslizando para a baía em baixo, ao fundo. Em baixo os jardins do palacete.''
Linha 14 ⟶ 15:
Antônio - A idéia de tomarem chá no terraço c'est três bien.
Braz - Pois sim. Desde que te dêem ares e haja palavras estrangeiras, ficas satisfeito.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/10]]== Eu é que não. Estou aqui, estou a deixar isto. Olha que é trabalho. Chá no salão, chá nos quartos, chá no terraço, chá em toda a parte, chá a toda hora... Antônio - É a civilização, rapaz...
Linha 25 ⟶ 28:
Antônio - C'est très bien. As casas assim, ainda não são as melhores. De repente vem o dinheiro. Olha, eu enquanto houver tapetes, música, chá, comedorias - vou esperando. Ça me vá. Nasci para o luxo.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/11]]==
Braz - Palerma!
Linha 41 ⟶ 45:
Braz - Que samovar?
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/12]]==
D. Maria - O aparelho de chá. Digo-lhe todos os dias a mesma coisa. Ainda não sabe?
Linha 59 ⟶ 64:
D. Maria - Dando os últimos toques ao chá.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/13]]==
Carlos - Sala cheia, não?
Linha 74 ⟶ 80:
Carlos - Não tinha razão?
D. Maria - Não tinha o direito. São coisas tão diferentes a razão e o direito, que o
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/14]]== direito foi feito para dar razão a quem não a tem. Você não só tem direito, como não tem razão, nem juízo. Carlos - Má.
Linha 87 ⟶ 95:
D. Maria - Apenas comigo esses ares são menos úteis. Seria muito melhor que não tivesse o desejo de prejudicar os outros.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/15]]==
Carlos - Está insuportável!
Linha 105 ⟶ 114:
Gastão - Fala de prazer.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/16]]==
Carlota - Devo estar descabelada, pois não?
Linha 121 ⟶ 131:
O grupo sai subindo a escada. Há risos.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/17]]==
Depois palmas. A cançoneta continua dentro. E no terraço um momento deserto aparecem o Barão André de Belfort, José Ferreira.
Linha 131 ⟶ 142:
José - Maldizente!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/18]]==
Belfort - De resto, vamos assim muito bem. A única intimidade possível hoje em dia é fingir que sabemos da vida alheia. Com os amigos escapamos de logros e com os indiferentes nada há que melhor nos coloque. A maioria das pessoas a quem cumprimento não me foi apresentada. Acontece a muitos o mesmo. E é esplêndido. Um homem que trata toda a gente de você e pergunta pela família dos desconhecidos é um tremendo valor. Por isso nós nos tratamos todos por você.
Linha 141 ⟶ 153:
Belfort - Jovem lisonjeiro!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/19]]==
José - Se entrássemos?
Linha 155 ⟶ 168:
José - Oh! Barão! Também?
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/20]]==
Belfort - Perdão. Não quero com isso ofender ninguém. Mas conheço Hortência há largos anos e vejo-a sempre vitima de paixões. (Gesto de José) Vítima é o termo, porque as recebeu sempre com a mais glacial indiferença.
Linha 164 ⟶ 178:
José - Duas?
Belfort - A do estudante Theotônio Rodrigues, que se precipitou de um pedreira, e a
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/21]]== do velho conselheiro Gomide, que tomou lisol. José - Mas o conselheiro não morreu.
Linha 177 ⟶ 193:
Belfort - Aquela da qual ninguém fala. o casamento.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/22]]==
José - O barão está sempre a brincar.
Linha 188 ⟶ 205:
José - Oh! Barão!
Belfort - Claro. Já viu você desastre maior do que uma pessoa que tem amor por outra?
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/23]]== Quando não é a desgraça de ambos, é pelo menos o desastre de um. José - Do que ama ou do que é amado?
Linha 201 ⟶ 220:
Belfort - Como o sinto diferente, José, desta sociedade!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/24]]==
José - Ela então é muito má, para que me admire tanto?
Linha 211 ⟶ 231:
José - Como não a compreendem! Hortência é um coração puro, meigo, capaz de amar.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/25]]==
Belfort - Muito bem!
Linha 224 ⟶ 245:
José - Parece-lhe extraordinário?
Belfort - Só as coisas sem importância são extraordinárias.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/26]]==
José - Não sou como os outros, barão. Há muito tempo guardava em segredo o meu amor. Só depois de pensar muito, declarei-me. E quando pedi a mão de Hortência, ela estava comovida; o seu olhar foi tão profundo, que nunca mais esquecerei esse instante imenso.
Linha 234 ⟶ 256:
José - Espero hoje falar a minha mãe. Sou maior, formado como toda a gente, possuidor de uma fortuna não pequena. O casamento será logo que queira Hortência. Procurarei ser apaixonado, mas amigo.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/27]]==
Belfort - Será espantoso se realizar essas duas coisas contraditórias - ao mesmo tempo.
Linha 243 ⟶ 266:
José - Em esconder um ato honesto?
Belfort - É que ela o julga por demais grave. Que vê o José aqui, em redor do seu amor? Senhoras, meninas, rapazes, a rir e a fletar. Parecem-lhe inofensivos? São perigosíssimos, feitos de desrespeito, de invejas, de egoísmos. É uma sociedade
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/28]]== que se forma de aluvião em torno do dinheiro, - que a maioria tem por hipótese. Há gente rica hoje e amanhã sem real continuando a viver como quem tem dinheiro; há damas que caçam o amante como quem caça borboletas e meninas que caçam maridos como quem caça a raposa. Os rapazes, alguns parecem milionários, numa idade em que poderiam jogar a pelota, e outros não tem profissão no momento em que e preciso trabalhar. José - E de que vivem?
Linha 251 ⟶ 276:
José - Os outros.
Belfort - Do crédito dos que parecem ricos, do nome das famílias, da complacência geral. São esses rapazes encantadores, bem lavados, bem vestidos, bem perfumados,
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/29]]== que não renunciam a nenhum prazer devem a todos, e cometeriam crimes para beber champanha nos clubes, fletar, ter amantes, gozar - se não tivessem medo ao código. Toda essa gente acumula despeitos contra os que encontram a felicidade. Hortência defende-se do ataque há muito tempo, a espera do Lohengrin. Tape os ouvidos e fujam. José - O senhor é fulminante.
Linha 259 ⟶ 286:
José - Entretanto, só agora percebeu.
Belfort - É que eu só compreendo logo o que
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/30]]== não é possível. Entremos, meu caro José, a conversar com essas damas. Do alto da escada aparece D. Maria. Ouve-se a cançoneta sem compasso.
Linha 276 ⟶ 305:
D. Maria - Pois perdeu em não entrar. Fizeram um puzzle tout a fait réussi.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/31]]==
José - Quem acertou mais?
Linha 288 ⟶ 318:
D. Maria (Rindo) - Onde está o seu juízo barão?
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/32]]==
Belfort - No bolso, D. Maria. O juízo traz a gente no bolso para não incomodar os conhecidos.
Linha 303 ⟶ 334:
Guedes - Essas pessoas vão entrando aos poucos, saídas do salão, a conversar com animação. apertos de mão. Beija-mão. Trocam-se as primeiras frases, ao sentarem-se segundo as simpatias. Os dois criados fazem discretamente o serviço. Há nos gestos de Carlos lima permanente inquietação.
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/33]]==
Como vai o meu caro amigo?
Belfort - Receoso de perturbar a bela companhia.
Linha 316 ⟶ 349:
Belfort - Nunca. A mulher está sempre para aquém da idade.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/34]]==
D. Eufrosina - Dr. Ferreira, bons olhos o vejam.
Linha 332 ⟶ 366:
Baby - E lucraram muito com isso!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/35]]==
Carlos - Eu gostei imenso! Tem até filosofia.
Linha 345 ⟶ 380:
Carlos - Só se cantasse em inglês.
Deputado Guedes - -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/36]]== Perdão. apesar da invasão das línguas estrangeiras ainda há muita gente que resiste. D. Eufrosina - Sou da mesma opinião.
Linha 360 ⟶ 397:
Julieta - Com que então teremos o deputado
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/37]]==
Guedes - batendo-se a favor da língua portuguesa na Câmara?
Linha 376 ⟶ 414:
Carlos - D. Maria...
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/38]]==
D. Maria (baixo) - Deixe de olhar assim Hortência!
Linha 390 ⟶ 429:
D. Maria - Você perde a cabeça. Não seja infantil.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/39]]==
José - Onde se senta?
Linha 403 ⟶ 443:
Gastão - As aparências enganam.
Belfort - Talvez não... O exercício é o esporte que se pratica para a própria higiene. E o esporte é o exercício que se faz para
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/40]]== dar que falar da gente. O senhor ao que parece só faz esporte. D. Eufrosina - Se esporte é isso, então barão não há quem não seja esportivo agora.
Linha 419 ⟶ 461:
D. Eufrosina - Estes bolos são muitos bons. Como os faz D. Hortência?
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/41]]==
Os bolos? Oh! isso é com a tia Eufrosina.
D. Maria - Mandamo-nos buscar fora.
Linha 432 ⟶ 476:
Deputado Guedes - - E um progresso.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/42]]==
Carlos - Ou pelo menos um aumento de despesa.
Linha 443 ⟶ 488:
Carlos - Para mudar de xícara; sempre que podem.
Carlota - Não me canso nunca de admirar este
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/43]]== panorama do terraço de Hortência. Não acha bonito dr. Guedes -? Deputado Guedes - - Muito. Eu gosto do mar...
Linha 453 ⟶ 500:
Madame Vargas - Mais do que eles, acredite..
Belfort - É impossível deixar de ter uma grande paixão pelo mar. Principalmente de terra, o mar é um sugestionador poderoso. Basta olhar para o mar para cair uma pessoa no largo domínio das idéias vagas. E nada mais agradável do que sonhar sentado num rochedo, como os poetas das holografias românticas, ou mesmo na areia como faz a maioria dos contemplativos, no Leme. Um sujeito
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/44]]== sem idéias até sem ter tido a idéia de ter idéias, chega a beira da praia, olha o mar e tem logo meia dúzia de pensamentos. É fatal. O mar é um laboratório de imaginação e é por isso que eu explico a superprodução de poetas nacionais pela extensão das costas... Madame Vargas - Tia, manda servir o chá aos que ficaram no salão. (D. Maria vai até a porta do salão).
Linha 464 ⟶ 513:
José - Mas o senhor Jesuíno é, segundo me disseram, seu parente afastado.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/45]]==
D. Eufrosina - Infelizmente;
Linha 480 ⟶ 530:
Madame Vargas - Realmente, um pouco.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/46]]==
Belfort - Tenha calma e prudência.
Linha 492 ⟶ 543:
Carlos - Estamos a ver por quem se decide o Gastão. Se pela Julieta se pela Baby.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/47]]==
Baby - É uma pilhéria sem graça. Nesses casos eu e que decido e por ti é que não me decidiria nunca.
Linha 506 ⟶ 558:
D. Maria - Mas as suas inconveniências são sempre interessantes.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/48]]==
Belfort - Reputação atroz.
Linha 517 ⟶ 570:
Belfort - Adão! Horas depois tinha uma tal reputação que não fez mais nada digno de nota. E depois de Adão, D. Carlota, a reputação é que nos faz.
Deputado Guedes -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/49]]==
Não apoiado.
Carlos - Ninguém concorda com o barão.
Linha 530 ⟶ 585:
Gastão - Pelo menos numa coisa o _senhor barão -concordará conosco. Está. uma tarde linda!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/50]]==
D. Eufrosina - De fato. Uma beleza. Também esta Tijuco é um encanto.
Linha 546 ⟶ 602:
Baby - Como deve ser interessante!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/51]]==
D. Eufrosina - Menina!
Linha 557 ⟶ 614:
D. Eufrosina - Menina, não conte isso.
Baby - Que tem mamãe, se já passou tanto tempo? D. Jesuina Praxedes com várias outras senhoras nossas amigas teve a idéia de passar uns trotes e de entrar nos clubes e bailes, onde os maridos pintam o sete. Mas precisávamos de um guia e D. Jesuina não queria homem.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/52]]== Então Carlota Pais lembrou a Argentina. Carlota - Eu, não!
Linha 571 ⟶ 630:
Belfort - E a Argentina foi?
Baby - Foram propor o caso ao palacete que ela
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/53]]== habita. Ela custou muito a aceitar. Mas afinal acedeu. Saímos todos de dominó preto fazendo "A Mão Negra". Como nos divertimos! Pois quando uma de nós brincava de mais, a Argentina dizia! ninãs tengan modos! e ferrava-nos um beliscão. Parecia mais uma professora. Guedes - (no riso geral) - Caspité!
Linha 582 ⟶ 643:
Madame Vargas - Essa brincadeira tem feito o sucesso da estação.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/54]]==
Julieta - E a Argentina?
Linha 598 ⟶ 660:
Baby - Eu prefiro descer ao jardim. Gastão acompanha-me.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/55]]==
D. Eufrosina - Olha o sereno, minha filha. (Baby e Gastão saem para o jardim).
Linha 613 ⟶ 676:
Carlos - A senhora viu o convite, a provocação com que Hortência? pediu o braço ao dr. Ferreira?
D. Maria - Carlos, você
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/56]]== é desolador. Leva a contrariar-se, contrariando os outros. Hortência? estava irritadíssima. Carlos - Não era por mim.
Linha 627 ⟶ 692:
D. Maria - Vá-se embora, Carlos. É melhor.
Carlos - A senhora sabe tão bem que eu não
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/57]]== vou! Não vou enquanto não falar com Hortência. Não me olhe assim. É cá uma coisa. D. Maria - Paixão ou pedido?
Linha 637 ⟶ 704:
Carlos (mais impertinente) - Chamo eu mesmo. Não acha que fica mal?
D. Maria - Julgou-o capaz de mais. Vamos ver. (Ao entrar no salão). Ainda não se decidiu esse
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/58]]== bridge? (Rumor de dentro. Carlos encosta-se ao balaústre. Um minuto. Depois aparece Mme. Vargas). Madame Vargas (para dentro) - descanse, D. Eufrosina. Vou vê-los (Alto) Oh! Senhor Carlos.
Linha 652 ⟶ 721:
Madame Vargas - Ora temos. Devemos ter. O ar de censura, a impertinência, a frase de dúvida...
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/59]]==
Carlos - Deve ser impressão sua Anda nervosa demais!
Linha 668 ⟶ 738:
Madame Vargas - Não me enerves, Carlos. Precisamos de tanta prudência. Tu bem sabes que não deves proceder assim!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/60]]==
Carlos - Mas não faço nada, olho quando muito.
Linha 685 ⟶ 756:
Madame Vargas - Mas acreditas que depois desta loucura contigo, eu arrisquei outra loucura?
Carlos - Por que
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/61]]== não? Nada de ilusões. É a vida. Preciso saber ao justo o grau dos seus sentimentos por mim.
Linha 698 ⟶ 771:
Madame Vargas - Meu Deus!
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/62]]==
Carlos - Deploras!
Linha 709 ⟶ 783:
Carlos (Num ímpeto) - tem tão pouca importância o que? O José? Eu? A minha loucura? Talvez tudo isso junto. Ninguém pode adivinhar a intenção das tuas palavras. Continuas a mesma, a fazer sofrer, a torturar, a desgraçar...
Madame Vargas - Oh! Não me fales de fazer sofrer! É
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/63]]== tempo de acabar com essa legenda. E tu bastas para redimir as maiores faltas! Carlos - Queres dizer que sou eu quem te tortura?
Linha 725 ⟶ 801:
Carlos - Desejo apenas que expliques claramente a situação.
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/64]]==
Que situação?
Carlos - A nossa. Não terás coragem de acabar logo com isso, e dizer francamente: aquele idiota comvém-me, tem dinheiro. Ponha-se fora você!
Linha 734 ⟶ 812:
Madame Vargas - Tu?
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/65]]==
Carlos - Não é possível que em três meses tenha acabado um amor tão grande. Lembraste daquele teu bilhete, o único que me escreveste? Já o li tanta vez, que até o decorei. "Espero-o hoje á noite. Deus perdoe a minha loucura. Venha à 1 hora." Essa loucura passou? Não podia ter passado! Nunca mais me escrevestes, mas as loucuras não acabam de repente. E estas cenas que reprovas, que te contrariam, estes ciúmes são do amor que te tenho. É sempre assim quando a gente gosta.
Linha 739 ⟶ 818:
Madame Vargas - Em que sociedade?
Carlos - Em todas. Em amor somos sempre os mesmos. Quando a gente ama não há diferenças, não, convence-
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/66]]== te. Mas se queres com isso fazer alusões aos clubes, aos meus hábitos antigos, enganas-te. A minha vida de alegria passou. Desde que te amei, nunca mais voltei a esses lugares. Só a ti amo e não quero, não quero que outro te tome. Só por isso, só por isso te chamei, só por isso endoideço. Madame Vargas - Mas tu me falas como se eu fosse qualquer. Tu duvidas de mim. Não te bastou o que fiz por ti?
Linha 749 ⟶ 830:
Carlos - Que queres? Bem procuro conter-me, mas não posso. Sei que não tenho e quanto mais te tenho, mais receio de perder-te.
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/67]]==
E fazes-me sofrer.
Carlos - É tua a culpa. Sim. Tratas-me mal, não me vês diante dos outros. Principalmente quando aparece esse moço rico, que aparece agora todos os dias.
Linha 761 ⟶ 844:
Carlos - Duvidas?
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/68]]== Não, mas reflito. Ignoras por acaso a nossa situação? Sabes tão bem! Não podes casar comigo. Nem queres. Carlos - Tu é que não querias.
Linha 773 ⟶ 858:
Carlos - Estás arrependida do nosso amor, Hortência?
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/69]]== Tu, insistindo num ponto que conheces, é que me fazes arrepender. Tu é que me apontas o arrependimento. Carlos - Não, não! Faço tudo sem sentir, sem querer. Tens razão, tens muita razão. Perdoa. Não posso casar, porque não tenho nem situação, nem dinheiro. Mas sabes? É instintivo. Quando te vejo com outros, que te cobiçam, que te acham bela, perco a cabeça, desconfio. Sou capaz de tudo.
Linha 785 ⟶ 872:
Carlos - Sim.
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/70]]==
Creio que não vais proibir que eu me case?
Carlos (num ímpeto quase alto) - Mas então é verdade tudo quanto desconfio! É verdade que queres o outro, é verdade que me afastas, que me aborreces?
Linha 793 ⟶ 882:
Carlos - Só pela maneira que falas, vejo a tua indiferença.
Madame Vargas - Sou indiferente e dei-te o que não dei a nenhum outro homem, e faço conscientemente a loucura de te amar, e recebo-
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/71]]== te aqui com risco de perder-me. Sou indiferente e entrego-me dou-me. Eu! Carlos - Hortência!
Linha 805 ⟶ 896:
Carlos - Ainda ontem...
Madame Vargas -
Madame Vargas - Ainda ontem. Eu te expliquei claramente. Não há outra solução. Não é possível. O verdadeiro amor é aquele que se sujeita. Diante desse rapaz...▼
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/72]]==
▲
Carlos - Não! Não! não me fales nele, ao recordar a nossa noite de ontem. Dou-te razão, aceito a frieza do teu bom senso, faço o que quiseres! Mas não me fales nele.
Linha 817 ⟶ 910:
Carlos - Mesmo que venha ocupar na tua vida um grande lugar?
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/73]]==
Na minha vida só ocupa lugar quem eu amo.
Carlos - E vê tu. Eu sinto que sou covarde, que sou um pobre diabo. Quero reagir, quero ser homem, gritar. E diante de ti não sou mais nada. Hei de fazer o que tu quiseres!...
Linha 827 ⟶ 922:
Madame Vargas - É uma criancice...
Carlos - O amor fez-me criança, assim tolo,
Carlos - O amor fez-me criança, assim tolo, assim nervoso. Quero-te tanto porque o meu desejo é muito maior que o teu. Mas consolo-me porque aos outros ainda queres menos.Não? Não? (Aproxima-.se) Dize. Pois não? Ainda agora. Quanta crueldade! Quanta frieza! Quanto bom senso! E enquanto tu falas, eu sinto apenas o desejo, um desejo imenso que aumenta. Estás tão bonita! este teu vestido... Este teu cabelo... Hortência! Perdoa. Escuta. Se hoje fosse como ontem?▼
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/74]]==
▲
Madame Vargas - Oh!
Linha 837 ⟶ 934:
Carlos - Pareço-te muito miserável, não é?
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/75]]== Não. Sabia que havias de terminar por isso. Há uma semana fazes assim. Há uma semana exiges e me atormentas! Estou fatigadíssima. Carlos - Mas então está tudo acabado entre nós? Queres deixar-me? Serias tu a primeira mulher que me abandonasse. Não!
Linha 849 ⟶ 948:
Carlos - Quero hoje. Quero ainda hoje. Hortência, concede.
Madame Vargas -
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/76]]==
Como me atormentas, Carlos!
Carlos - Dize de boa vontade: até logo.
Linha 863 ⟶ 964:
Madame Vargas - Deixa para outro dia! Hoje não.
Carlos - Assim por assim, é teu desejo acabar,
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/77]]== amar o outro. Vê-se. Não queres, porque já amas outro. Mas eu grito, faço escândalo, e verás depois. Madame Vargas - Carlos, por piedade.
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/78]]==
Carlos - Dá-me o beijo, então. (Agarra-a).
Linha 873 ⟶ 977:
Carlos (puxando-a) - Mas dá-me duma vez?
Madame Vargas (presa, debate-se com horror e medo nos braços do amante) - O que quiseres! O que quiseres! Eu
==[[Página:A Bella Madame Vargas.djvu/79]]== não me pertenço mais. Sou tua. Continua a ser tua! Carlos (esmagando-lhe a boca num beijo) - Sim, minha!
|