Laurinda Belfort: diferenças entre revisões

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Laurinda Belfort teve um sobressalto. O relógio de marfim, engastado discretamente no canto esquerdo do carro, marcava duas e cinco, e esse relógio, certo, incapaz de adiantamentos ou de atrasos, marcava sempre a hora precisa para que Laurinda Belfort pudesse regularizar com calma e tempo os múltiplos afazeres dos seus perfumados dias. Havia, pois, trinta e cinco minutos que o pobre Guilherme Guimarães a esperava, apaixonado e comum, numa casa solitária.
 
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O carro tornou a rodar, enquanto, reclinada na almofada de seda, Laurinda torcendo os dedos, sentia, por mais que não quisesse sentir, a falta daquela hora infame, daquelas frases tolas, a falta daquelas unhas que lhe davam a renovação de uma sensação toda cerebral, para ao menos quebra-las mais uma vez morde-las, despreza-las. Instintivamente, na imensa confusão dos seus desejos, olhava os transeuntes com ânsia, a ver se o via, a ver se o encontrava, para parar o carro, ou tocar à toda, ou cumprimenta-lo, ou fingir que não o via... Sabia lá! Mas para vê-lo um momento ao menos, o pobre diabo, com os seus bigodes e aquelas unhas da cor do nácar rosa... E nos seus olhos brotavam, de desespero e de desejo, lágrimas a fio -por não ter tido, apenas naquele dia, o brinquedo de um pobre ente para torturar e espezinhar, o brinquedo aborrecido uma hora antes.
 
[[Categoria:Dentro da noite]]