A Alma do Lázaro/I/IV: diferenças entre revisões

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}}[[Categoria:A Alma do Lázaro|Primeira Parte: Capítulo 04]]
 
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O velho tinha acabado a sua história, que eu ouvira com uma atenção religiosa:
 
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O velho ergueu-se. Saímos do convento e beiramos a parede que olha o mar. Depois de alguns passos, ele parou.
 
— Por que é que o senhor quer saber?
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que o senhor quer saber?
 
Hesitei; adivinhava o escrúpulo do velho.
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— Ouça!... Se a alma desse moço está nos livros,. para que ela volte ao céu é preciso que entre em outras almas vivas. Aquilo que ele escreveu deve ser lido...
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Foi-me preciso aceitar a crença do velho que era muito profunda, para ser abalada.
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Cavamos três palmos; creio que se abrisse o túmulo de um ente que me fosse caro, não sentiria as emoções por que passei naquele momento. O pescador, na ingenuidade de sua crença, tinha razão: era a alma de um homem, talvez de um poeta, que estava ali sepultada.
 
A chuva, que caíra a cântaros, amolecera o terreno, e facilitara o trabalho:. depois de um quarto de hora de escavação, o pescador tirou do chão uma caixa de folha, que teria dois palmos
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de comprimento sobre um e meio de largo, e já inteiramente oxidada.
 
Despedi-me. do velho, a quem fiz aceitar a muito custo a pequena espórtula que comportavam as magras economias do estudante, e carregado com o meu tesouro, recolhi-me.
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Chegando a casa, não dormi; eram quatro horas da madrugada, e não tinha sono. Abri, ou antes arrombei a caixa, e achei dentro três volumes in-fólio, cobertos de pergaminho, uma pequena mecha de cabelos grisalhos, uma flor seca que desfez-se em pó quando a toquei, e uma bolsa com algumas moedas de cobre.
 
Dos volumes in-fólio; dois escritos de princípio a fim com uma letra grossa e trêmula, continham
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alguns episódios da guerra holandesa, e da crônica dos tempos coloniais; o seu autor lhes dera o título singelo de — ''Histórias que me Contou Minha Mãe''.
 
O terceiro volume era um diário, escrito com pequenas interrupções; não tinha titulo, nem fora concluído.
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A razão é simples.
 
Quando pela primeira vez li o ''Diário do Lázaro'', convenci-me que o estilo, embora simples e terso, carecia de ser retocado ao gosto da época; e dei-me a esse trabalho. Apenas vesti de novo a primeira parte, me arrependi;. quis-me parecer que era uma profanação tirar ao pensamento do escritor a sua frase rude às vezes, mas sempre
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expressiva: rasguei o que tinha escrito para escrever de novo.
 
Demais, achava a primeira parte do livro tão triste a cortar-me o coração, que receava publicá-la. Ao mesmo tempo que não me sofria a consciência deixar ignorada a memória do escritor, cujas obras queria dar à estampa: pois essa parte de que falo é o diário.