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==__MATCH__:[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/116]]==
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/116]]==
<poem>
LXXXII.
Linha 30 ⟶ 31:
  Na Corte que ficou? Saudade brava.
Que fica lá que ver? Nenhuma cousa.
Que gloria lhe faltou? Esta beldade.{43}beld
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/117]]==
<poem>
ade.{43}
LXXXIV.
Ondados fios de ouro reluzente,
Linha 60 ⟶ 65:
  Mas quem ja t~ee o mundo exprimentado,
Não o magôa a pena, nem o espanta;
Que mal se estranhára o costumado.{44} costumad
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/118]]==
<poem>
o.{44}
LXXXVI.
Dos antigos Illustres, que deixárão
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E não fallo senão verdades puras
Que me ensinou a viva experiencia.{45}
LXXXVIII.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/119]]==
<poem>
.
Esfôrço grande, igual ao pensamento,
Pensamentos em obras divulgados,
Linha 121 ⟶ 134:
Ja sei que deste meu buscar ventura
Achado tenho ja que não a tenho.{46}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/120]]==
<poem>
XC.
A perfeição, a graça, o doce geito,
Linha 151 ⟶ 168:
Pouco a pouco desculpa o brando peito;
Que Amor com seus contrarios se accrescenta.{47}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/121]]==
<poem>
XCII.
Que poderei do mundo ja querer,
Linha 180 ⟶ 201:
  Não mo negueis, se andais para negar-me;
Porque se contra mi 'stais levantados,
Eu vos ajudarei mesmo a matar-me.{48} m
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/122]]==
<poem>
e.{48}
XCIV.
Se tomo a minha pena em penitencia
Linha 210 ⟶ 235:
  Oh ousadia estranha! estranho feito!
Que dando breve morte ao corpo humano,
Tenha sua memoria larga vida!{49}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/123]]==
<poem>
{49}
XCVI.
Os vestidos Elisa revolvia,
Linha 241 ⟶ 270:
Que teu descobrimento e meu defeito,
Hum me envergonha e outro me injuria.{50}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/124]]==
<poem>
XCVIII.
Se despois de esperança tão perdida,
Linha 271 ⟶ 304:
Jamais na vida a podes ver contente,
Nem tão triste nenhuma outra pastora.{51}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/125]]==
<poem>
C.
No mundo poucos annos e cansados
Linha 301 ⟶ 338:
Com que todos conheção claramente
Que quanto ao mundo apraz he breve sonho.{52}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/126]]==
<poem>
CII.
De amor escrevo, de amor trato e vivo;
Linha 331 ⟶ 372:
Para emendar os vicios que elle encerra,
Co'os divinos poderes que trouxeste.{53}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/127]]==
<poem>
CIV.
Esses cabellos louros e escolhidos,
Linha 361 ⟶ 406:
E se em vão meu querer vos persuade,
Mais vosso não querer faz que vos queira.{54}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/128]]==
<poem>
CVI.
Quem, Senhora, presume de louvar-vos
Linha 391 ⟶ 440:
As queixas que derramo da Ventura,
Que com penas de Amor me vai seguindo.{55}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/129]]==
<poem>
CVIII.
Brandas águas do Tejo que, passando
Linha 421 ⟶ 474:
E se o quizerdes ver, cuidai hum dia
O que se diz dos bem acutilados.{56}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/130]]==
<poem>
CX.
Onde porei meus olhos que não veja
Linha 450 ⟶ 507:
  Antes se dá de todo por perdida,
Vendo que não vai da alma acompanhada,
Que se deixou ficar onde t~ee vida.{57}vi
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/131]]==
<poem>
da.{57}
CXII.
Que doudo pensamento he o que sigo?
Linha 480 ⟶ 541:
  Donde vem, que não ha quem nos não culpe;
A vós, porque matais quem vos quer tanto,
A mim, por querer tanto a quem me mata.{58}mat
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/132]]==
<poem>
a.{58}
CXIV.
Ar, que de meus suspiros vejo cheio;
Linha 511 ⟶ 576:
E o desejado bem no mal eterno,
Buscando amor em vossa crueldade.{59}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/133]]==
<poem>
CXVI.
De cá, donde somente o imaginar-vos
Linha 541 ⟶ 610:
E a que elles t~ee vos dou, só para dar-vos
O mor louvor de todos os maiores.{60}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/134]]==
<poem>
CXVIII.
Não vás ao monte, Nise, com teu gado;
Linha 571 ⟶ 644:
Que queres? Que te peça por reparo
Ser neste valle Eneas desta Dido?{61}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/135]]==
<poem>
CXX.
Tornae essa brancura á alva assucena,
Linha 600 ⟶ 677:
  Mas eu sou quem me faz a maior guerra,
Pois conhecendo os riscos de hum amante
Fiado a ondas de Amor, dellas me fio.{62}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/136]]==
<poem>
.{62}
CXXII.
Mil vezes determino não vos ver,
Linha 630 ⟶ 711:
  Mas eu me vingarei. E sabeis quando?
Quando vos vir queixar porque deixastes
Ir-se a minha alma nelles abrazando.{63}abrazan
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/137]]==
<poem>
do.{63}
CXXIV.
Se com desprezos, Nympha, te parece
Linha 660 ⟶ 745:
  Entre si sempre os vejo divididos;
E se acaso concordão algum dia,
He só conjuração para meu dano.{64}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/138]]==
<poem>
.{64}
CXXVI.
No regaço de mãe Amor estava
Linha 692 ⟶ 781:
Ha de ser vosso sol, e obedecido.{65}
CXXVIII.
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/139]]==
<poem>
Huma admiravel herva se conhece,
Que vai ao sol seguindo de hora em hora,
Linha 721 ⟶ 814:
Porque se foi de ousado o teu intento,
Agora de atrevido he venturoso.{66}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/140]]==
<poem>
CXXX.
He o gozado bem em água escrito;
Linha 750 ⟶ 847:
  Em fim, Senhora, em vossa compostura,
Ella a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.{67}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/141]]==
<poem>
pura.{67}
CXXXII.
Nunca em amor damnou o atrevimento;
Linha 780 ⟶ 881:
  Mas a alma, que de cá vos acompanha,
Nas azas do ligeiro pensamento
Para vós, águas, vôa, e em vós se banha.{68}ba
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/142]]==
<poem>
nha.{68}
CXXXIV.
Senhor João Lopes, o meu baixo estado
Linha 810 ⟶ 915:
  Para que assi triumphante leve a palma
Da Morte Amor a grão pesar da ausencia,
Do tempo, da Razão, e da Fortuna.{69} For
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/143]]==
<poem>
tuna.{69}
CXXXVI
Árvore, cujo pomo bello e brando
Linha 840 ⟶ 949:
  Pois se hum deos nunca vio nem hum engano
De quem era tão pouco em seu respeito,
Eu qu'espero de hum ser, qu'he mais que humano?{70}hum
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/144]]==
<poem>
ano?{70}
CXXXVIII.
Presença bella, angelica figura,
Linha 870 ⟶ 983:
  Em qual figura, ou gesto desusado,
Póde ja fazer medo a morte irosa
A quem t~ee a seus pés rendido e atado?{71}ata
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/145]]==
<poem>
do?{71}
CXL.
Tal mostra de si dá vossa figura,
Linha 900 ⟶ 1 017:
  Ah! deixem-me enganar; que eu sou contente;
Pois, postoque maior meu damno seja,
Fica-me a gloria ja do que imagino.{72}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/146]]==
<poem>
.{72}
CXLII.
Diversos dões reparte o Ceo benino,
Linha 930 ⟶ 1 051:
  Antes, com som de voz trémulo e rouco
Por vós chamando, só com vosso nome
Farei fugir os ventos, e os imigos.{73} imig
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/147]]==
<poem>
os.{73}
CXLIV
Que modo tão subtil da natureza
Linha 960 ⟶ 1 085:
  Que basta estar em vós minha esperança,
E o ganhar-se a minha alma, ou o perder-se,
Para dos olhos meus nunca perder-vos.{74}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/148]]==
<poem>
{74}
CXLVI.
Quando a suprema dor muito me aperta,
Linha 991 ⟶ 1 120:
Como te não lembrou que me juraste
Por toda a sua luz que eras só minha?{75}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/149]]==
<poem>
CXLVIII.
Se me vem tanta gloria só de olhar-te,
Linha 1 020 ⟶ 1 153:
  Mas a razão que a luta vence, em fim,
Não creio que he razão; mas deve ser
Inclinação que eu tenho contra mim.{76} mi
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/150]]==
<poem>
m.{76}
CL.
Coitado! que em hum tempo chóro e rio;
Linha 1 051 ⟶ 1 188:
De trazer esculpido eternamente
Vosso formoso gesto dentro da alma.{77}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/151]]==
<poem>
CLII.
Olhos, aonde o Ceo com luz mais pura
Linha 1 080 ⟶ 1 221:
  Oh quem tivera partes de divino
Para vos merecer! Mas se pureza
De amor vai ante vós, de vós sou dino.{78}din
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/152]]==
<poem>
o.{78}
CLIV.
Que esperais, esperança?  Desespéro.
Linha 1 110 ⟶ 1 255:
  Pois ella não mo dá, porque piedade
Tenha deste meu mal, mas porque em mim
Possais assi fartar vossa crueza.{79} crue
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/153]]==
<poem>
za.{79}
CLVI.
Se algum'hora essa vista mais suave
Linha 1 144 ⟶ 1 293:
Levas de chôro em foro;
Porque de ver-te rir, de novo chóro.{80}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/154]]==
<poem>
CLVIII.
Eu me aparto de vós, Nymphas do Tejo,
Linha 1 201 ⟶ 1 354:
Ou ser no vosso amor
  
Achad
Achado em falta.{81}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/155]]==
<poem>
o em falta.{81}
CLX.
Divina companhia, que nos prados
Linha 1 231 ⟶ 1 388:
  De no tenerlas tú me consolaras,
Si tantas veces mil, como son ellos,
En ellos la que tengo me enredaras.{82}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/156]]==
<poem>
.{82}
CLXII.
Por gloria tuve un tiempo el ser perdido;
Linha 1 261 ⟶ 1 422:
  Mas viendo hoy á Natercia tan hermosa,
Hallo en esta prision glorias mayores,
Y en perderlas por libre hallo tormento.{83}tor
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/157]]==
<poem>
mento.{83}
CLXIV.
Las peñas retumbaban al gemido
Linha 1 291 ⟶ 1 456:
  Si allà pueden moverte en esa altura
Las quejas de un pastor enamorado,
No tardes en volver á dó saliste.{84}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/158]]==
<poem>
.{84}
CLXVI.
Orfeo enamorado que tañia
Linha 1 321 ⟶ 1 490:
  De quem me queixarei, se tudo mente?
Porém que culpas ponho ás esperanças,
Onde a fortuna injusta he mais qu'os erros?{85}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/159]]==
<poem>
erros?{85}
CLXVIII.
Ai amiga cruel! que apartamento
Linha 1 351 ⟶ 1 524:
  Amantes rouxinoes rompem-me o sono
Que ata o descanso: aqui sepulto mágoas
Que ja forão sepulcros de alegria.{86} alegri
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/160]]==
<poem>
a.{86}
CLXX.
Ah minha Dinamene! assi deixaste
Linha 1 381 ⟶ 1 558:
  Que culpas póde dar-me o pensamento,
Se a causa qu'elle t~ee de atormentar-me,
Tenho eu de soffrer mal o seu tormento?{87}torm
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/161]]==
<poem>
ento?{87}
CLXXII.
Cantando estava hum dia bem seguro,
Linha 1 412 ⟶ 1 593:
Move-se brandamente o arvoredo;
Leva-lhe o vento a voz, qu'ao vento deita.{88}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/162]]==
<poem>
CLXXIV.
Ah Fortuna cruel! ah duros Fados!
Linha 1 441 ⟶ 1 626:
  Olhos, não aggraveis outros formosos,
Tornando hum puro amor em esquivança,
Pois ficais por esquivos desdenhosos.{89}desdenh
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/163]]==
<poem>
osos.{89}
CLXXVI.
Lembranças, que lembrais o bem passado
Linha 1 472 ⟶ 1 661:
Pois tudo pára em morte, tudo em vento,
Triste o que espera! triste o que confia!{90}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/164]]==
<poem>
CLXXVIII
Ja cantei, ja chorei a dura guerra
Linha 1 501 ⟶ 1 694:
  Revolvo mais de toda a mais idade,
Desejos vãos, vãos choros, vãos cuidados,
Para que leve tudo o tempo leve.{91} lev
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/165]]==
<poem>
e.{91}
CLXXX.
Horas breves de meu contentamento,
Linha 1 532 ⟶ 1 729:
Alli não serei triste em dias ledos,
E dias tristes me farão contente.{92}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/166]]==
<poem>
CLXXXII.
Aqui de longos damnos breve historia
Linha 1 561 ⟶ 1 762:
  Oh subtil invenção para seu dano!
Vêde que manhas busca hum cego amante
Para que sempre seja descontente!{93} descont
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/167]]==
<poem>
ente!{93}
CLXXXIV.
Sentindo-se alcançada a bella esposa
Linha 1 591 ⟶ 1 796:
  Este defunto corpo lá o desvia
D'aquella tôrre: sê-me nisto amigo,
Pois no meu maior bem me houveste inveja.{94}inve
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/168]]==
<poem>
ja.{94}
CLXXXVI.
Os olhos onde o casto Amor ardia,
Linha 1 622 ⟶ 1 831:
Te offerece de flores a coroa,
Que ja de longo tempo te guardava.{95}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/169]]==
<poem>
CLXXXVIII.
Espanta crescer tanto o crocodilo
Linha 1 652 ⟶ 1 865:
Que Atlante, Homero, Orpheo, Cesar e Alcides,
Esfôrço, engenho, Amor, Fortuna e Fama.{96}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/170]]==
<poem>
CXC.
Despois que vio Cibele o corpo humano
Linha 1 681 ⟶ 1 898:
  O Euphrates temerá, seu nome ouvindo;
Que para delle ver vencido tudo,
Ja vio do braço seu tudo vencido.{97}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/171]]==
<poem>
.{97}
CXCII.
Agora toma a espada, agora a pena,
Linha 1 712 ⟶ 1 933:
Oh quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Genio de vinganças!{98}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/172]]==
<poem>
CXCIV.
Cá nesta Babylonia donde mana
Linha 1 741 ⟶ 1 966:
  Casos, opiniões, natura, e uso,
Fazem que nos pareça desta vida
Que não ha nella mais do que parece.{99}par
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/173]]==
<poem>
ece.{99}
CXCVI.
Vós outros, que buscais repouso certo
Linha 1 771 ⟶ 2 000:
  Es Filha, Mãe, e Esposa: e se alcançaste
Huma só, tres tão altas dignidades,
Foi porqu'a Tres de Hum só tanto agradaste.{100}agradast
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/174]]==
<poem>
e.{100}
CXCVIII.
Desce do ceo immenso Deos benino
Linha 1 801 ⟶ 2 034:
  Pobreza este Presepio representa;
Mas tanto por ser pobre ja merece,
Que quanto mais o he, mais lhe contenta.{101}cont
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/175]]==
<poem>
enta.{101}
CC.
Porque a tamanhas penas se offerece
Linha 1 832 ⟶ 2 069:
Que se chôro não ha como o meu canto,
Não sei canto melhor qu'este meu chôro.{102}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/176]]==
<poem>
CCII.
Onde mereci eu tal pensamento
Linha 1 861 ⟶ 2 102:
  Mas, vendo-as, entendeo que não podia
De ser morto livrar-se, ou de ser prêzo,
E ficou-se com ellas desarmado.{103} desar
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/177]]==
<poem>
mado.{103}
CCIV.
Nos braços de hum Sylvano adormecendo
Linha 1 891 ⟶ 2 136:
  Mas todas suas iras são d'Amor;
Todos estes seus males são hum bem,
Qu'eu por todo outro bem não trocaria.{104}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/178]]==
<poem>
104}
CCVI.
Formosa Beatriz, tendes taes geitos
Linha 1 921 ⟶ 2 170:
  Mostrai-lhe, para ver minha fé pura,
O bem que sempre quiz, formosas flores;
Qu'então não sentirei que mal me queira.{105}qu
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/179]]==
<poem>
eira.{105}
CCVIII.
Ondados fios de ouro, onde enlaçado.
Linha 1 952 ⟶ 2 205:
Que a gloria do querer, que tanto sigo,
Não póde ser co'os males mais pequena.{106}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/180]]==
<poem>
CCX.
Nem o tremendo estrépito da guerra
Linha 1 981 ⟶ 2 238:
  Em mi vingou Amor teu casto peito:
Mas está deste aggravo tão vingado,
Que se arrepende ja do que t~ee feito.{107}fe
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/181]]==
<poem>
ito.{107}
CCXII.
Quem quizer ver d'amor huma excellencia
Linha 2 011 ⟶ 2 272:
  Oh si los detuvieras! cuan dichoso
Seria aquel momento en que me viese
Vida en ellos cobrar, cobrar reposo!{108}repos
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/182]]==
<poem>
o!{108}
CCXIV.
No bastaba que amor puro y ardiente
Linha 2 041 ⟶ 2 306:
  Si gloria de mi pena en ti se siente,
Derrama en mí tus iras, desamando;
Que al ofenderme mas yo mas te quiero.{109}qui
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/183]]==
<poem>
ero.{109}
CCXVI.
O claras águas deste blando rio,
Linha 2 072 ⟶ 2 341:
Y tú quieres me pierda por amarte,
Sin gran ganancia no podré perderme.{110}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/184]]==
<poem>
CCXVIII.
Mi gusto y tu beldad se desposaron,
Linha 2 102 ⟶ 2 375:
Ni del Estigio lago eternos llantos
Os podrian quitar de mi memoria.{111}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/185]]==
<poem>
CCXX.
Que me quereis perpétuas saudades?
Linha 2 132 ⟶ 2 409:
Mas com a vida, em fim, elles fallecem:
Nem basta á carne enfêrma esprito pronto.{112}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/186]]==
<poem>
CCXXII.
Ay! quien dará á mis ojos una fuente
Linha 2 161 ⟶ 2 442:
  Mas yo siempre afligido noche y dia,
Por un camino, que no llevo errado,
Jamás puedo llegar donde deseo.{113} des
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/187]]==
<poem>
eo.{113}
CCXXIV.
Oh cese ya, Señor, tu dura mano!
Linha 2 192 ⟶ 2 477:
Así se condolece de mi vida,
Como si fuera el propio original.{114}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/188]]==
<poem>
CCXXVI.
Cuanto tiempo ha que lloro un dia triste,
Linha 2 221 ⟶ 2 510:
  Minerva do saber dá-lhe o dom raro,
Pallas lhe dá o valor de mais espanto,
E a Fama o leva ja de pólo a pólo.{115}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/189]]==
<poem>
a pólo.{115}
CCXXVIII.
Vós, Nymphas da Gangetica espessura,
Linha 2 252 ⟶ 2 545:
Pois o que não se alcança com mil mortes,
Tu com huma só morte o alcançaste.{116}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/190]]==
<poem>
CCXXX.
Debaixo desta pedra sepultada
Linha 2 281 ⟶ 2 578:
  Excede ao saber, determinar:
Á constancia se deve toda a gloria:
O ânimo livre he digno de memoria.{117}me
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/191]]==
<poem>
moria.{117}
CCXXXII.
Quanta incerta esperança, quanto engano!
Linha 2 311 ⟶ 2 612:
  A fé, que viva n'alma me ficou,
Dê ja fim aos caducos ardimentos
A que o passado bem se condemnou.{118} condem
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/192]]==
<poem>
nou.{118}
CCXXXIV.
Oh quanto melhor he o supremo dia
Linha 2 341 ⟶ 2 646:
  E pois de teus enganos a verdade
Conheces, deixa ja tantos enganos,
Pedindo a Deos perdão com humildade.{119}humi
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/193]]==
<poem>
ldade.{119}
CCXXXVI.
Verdade, Amor, Razão, Merecimento,
Linha 2 372 ⟶ 2 681:
Pois tyranicamente pretendião
Que cantassem aquelles que choravão.{120}
CCXXXV
CCXXXVIII.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/194]]==
<poem>
III.
Sôbre os rios do Reino escuro, quando
Tristes, quaes nossas culpas o ordenárão,
Linha 2 401 ⟶ 2 714:
  Se a lembrança eu perder que me recrea
Cá nestas penosissimas fadigas,
Oblivioni detur dextra mea.{121}dext
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/195]]==
<poem>
ra mea.{121}
CCXL.
Aponta a bella Aurora, luz primeira,
Linha 2 432 ⟶ 2 749:
Deo-nos o triumpho qu'elle mereceo;
Porque amor foi auctor desta victoria.{122}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/196]]==
<poem>
CCXLII.
Qu'estilla a Arvore sacra? Hum licor santo.
Linha 2 461 ⟶ 2 782:
  E de trophéos mais claros guarnecida!
Á vida a morte vimos em ti dada,
Para qu'em ti se désse á morte a vida.{123}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/197]]==
<poem>
a vida.{123}
CCXLIV.
Aos homens hum só homem poz espanto,
Linha 2 491 ⟶ 2 816:
  A quem o mesmo Deos por irmão marca;
Quem por filho da Mãe unica feito,
Em corpo e alma goza o claro dia.{124}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/198]]==
<poem>
.{124}
CCXLVI.
Como louvarei eu, Seraphim santo,
Linha 2 521 ⟶ 2 850:
  Triste, pois me não val o soffrimento,
E Amor para mais damno me t~ee dado
Para tão duro mal tão larga vida!{125} larg
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/199]]==
<poem>
a vida!{125}
CCXLVIII.
Contente vivi ja, vendo-me isento
Linha 2 552 ⟶ 2 885:
Soffrer sua crueza, e teu tormento,
Que sentir sua ausencia eternamente.{126}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/200]]==
<poem>
CCL.
Nas Cidades, nos bosques, nas florestas,
Linha 2 581 ⟶ 2 918:
  Nella e nelle achei sempre a mesma l~ua,
Em quem nunca se vio outra firmeza,
Que não seja a de ser sempre mudavel.{127}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/201]]==
<poem>
{127}
CCLII.
Se lagrimas choradas de verdade
Linha 2 611 ⟶ 2 952:
  O Amor mais caudaloso menos monta.
Qu'he de gostos mais rico, eu ignorava,
Aquelle que de amores he mais pobre.{128}pobr
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/202]]==
<poem>
e.{128}
CCLIV.
Em huma lapa toda tenebrosa,
Linha 2 641 ⟶ 2 986:
  Conhecei ja de mi tanta verdade;
Pois em penhor e fé desta pureza
Tributo vos fiz ser o que he vontade.{129}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/203]]==
<poem>
{129}
CCLVI.
Ilustre Gracia, nombre de una moza,
Linha 2 671 ⟶ 3 020:
  Porém não quer Amor que lhe resista,
Nem a minh'alma o quer; qu'em tal tormento,
Qual em gloria maior está contente.{130}content
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/204]]==
<poem>
e.{130}
CCLVIII.
Lembranças de meu bem, doces lembranças
Linha 2 701 ⟶ 3 054:
  E a mi, que por vós morro, e por vós vivo,
Fazei pagar a Amor o seu tributo,
Contente de por vós lho haver pagado.{131}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/205]]==
<poem>
.{131}
CCLX.
Pues siempre sin cesar, mais ojos tristes,
Linha 2 732 ⟶ 3 089:
Qu'antes de se partir, melhor lhe fôra
Partir-se do viver para ter vida.{132}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/206]]==
<poem>
CCLXII.
A peregrinação d'hum pensamento,
Linha 2 761 ⟶ 3 122:
  Vós, saudosos olhos, que o quizestes,
(Pois com tormento Amor me está pagando)
Chorai, como que vêdes, o que vistes.{133}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/207]]==
<poem>
vistes.{133}
CCLXIV.
Se no que tenho dito vos offendo,
Linha 2 791 ⟶ 3 156:
  Nem se engane nenhuma creatura;
Que não póde nenhum impedimento
Fugir o que lh'ordena sua estrella.{134}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/208]]==
<poem>
.{134}
CCLXVI.
Sempre, cruel Senhora, receei,
Linha 2 821 ⟶ 3 190:
  A vossa, de louvar-me pouco escassa,
Outro sogeito busque valeroso,
Tal qual em vós ao mundo se apresenta.{135}apr
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/209]]==
<poem>
esenta.{135}
CCLXVIII.
Este amor, que vos tenho limpo e puro,
Linha 2 851 ⟶ 3 224:
  Sem ti tudo me enoja, e me aborrece;
Sem ti perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias môr tristeza.{136} tristez
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/210]]==
<poem>
a.{136}
CCLXX.
Sustenta meu viver huma esperança
Linha 2 881 ⟶ 3 258:
  Mas eu de vossos males e esquivança,
De que agora me vejo bem vingado,
Não a quizera tanto á vossa custa.{137}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/211]]==
<poem>
custa.{137}
CCLXXII.
Quando, Senhora, quiz Amor qu'amasse
Linha 2 911 ⟶ 3 292:
  Em trôco do qual bem só me deixou
Lembranças, que me mátão cada hora,
Trazendo-me á memoria o bem passado.{138}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/212]]==
<poem>
passado.{138}
CCLXXIV.
Indo o triste pastor todo embebido
Linha 2 942 ⟶ 3 327:
Vigiai-vos de vós, não vos vejais,
Fugi das fontes; lembre-vos Narciso.{139}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/213]]==
<poem>
CCLXXVI.
Na ribeira do Euphrates assentado,
Linha 2 972 ⟶ 3 361:
Por isso mais na terra não esteve,
Ao ceo subio, que ja se lhe devia.{140}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/214]]==
<poem>
CCLXXVIII.
Senhora ja desta alma, perdoae
Linha 3 001 ⟶ 3 394:
  Em fim, fóra de mim ditoso estive.
Em mentiras ter dita razão era,
Pois sempre nas verdades fui mofino.{141}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/215]]==
<poem>
mofino.{141}
CCLXXX.
Diana prateada, esclarecida
Linha 3 033 ⟶ 3 430:
Que tomar-te a ti nellas teu marido.{142}
CCLXXXII.
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/216]]==
<poem>
N'hum tão alto lugar, de tanto preço,
Este meu pensamento posto vejo,
Linha 3 061 ⟶ 3 462:
  Oh sempre para mi hora ditosa!
Que posso temer ja, pois tenho visto,
Com tanto gôsto meu, tanta brandura?{143}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/217]]==
<poem>
brandura?{143}
CCLXXXIV.
Posto me t~ee fortuna em tal estado,
Linha 3 091 ⟶ 3 496:
  Pero digo, que aunque sea fingida,
Que basta que por lágrima sea dada,
Porque sea por lágrima tenida.{144} teni
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/218]]==
<poem>
da.{144}
CCLXXXVI.
Que póde ja fazer minha ventura,
Linha 3 108 ⟶ 3 517:
Me faz não sentir ja nada o futuro.{145}
ECLOGAS
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/219]]==
<poem>
ECLOGA I.
INTERLOCUTORES.
Linha 3 131 ⟶ 3 544:
Diante de h~uas mostras perigosas,
Que Venus mais que nunca engrandecia.
As pastoras, emfim, vi tão formosas,{146}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/220]]==
<poem>
formosas,{146}
Que o Amor de si mesmo se temia;
Mas mais temia o pensamento falto
Linha 3 162 ⟶ 3 579:
  E praza a Deos que o triste e duro fado
De tamanhos desastres se contente;
Que sempre hum grande mal inopinado{147}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/221]]==
<poem>
147}
He mais do que o espera a incauta gente:
Que vejo este carvalho que queimado
Linha 3 194 ⟶ 3 615:
Hum freio lhe está pondo e lei terribil,
Que os limites não passe do possibil.{148}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/222]]==
<poem>
  E se attentares bem os grandes danos
Que se nos vão mostrando cada dia,
Linha 3 224 ⟶ 3 648:
Aquelles brandos versos que cantaste,
Quando hontem, recolhendo o manso gado,
De nós-outros pastores te apartaste;{149}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/223]]==
<poem>
149}
Qu'eu tambem que as ovelhas recolhia,
Não te podia ouvir como queria.
Linha 3 256 ⟶ 3 684:
Fazendo companhia ao claro rio;
Nas sombras a ave garrula suspira,{150}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/224]]==
<poem>
Sua mágoa espalhando ao vento frio.
Toca, Frondelio, toca a doce lira;
Linha 3 286 ⟶ 3 717:
Cruel, acerba e triste,
Sequer de tua idade não te dera
Que lográras a fresca primavera?{151}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/225]]==
<poem>
 
Não usára comnosco tal crueza,
Que nem nos montes fera,
Linha 3 318 ⟶ 3 753:
Do fogo que trazia;
Que nunca soube amor ser encoberto.{152}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/226]]==
<poem>
  Ja diante dos olhos lhe voavão
Imagens e phantasticas pinturas,
Linha 3 348 ⟶ 3 786:
  Parece-me, Tionio, que te vejo,
Por tingires a lança cobiçoso
Naquelle infido sangue Mauritano,{153}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/227]]==
<poem>
153}
No Hispanico ginete bellicoso,
Que ardendo tambem vinha no desejo
Linha 3 380 ⟶ 3 822:
A pranto sempiterno a morte dura
De quem por ti somente a vida amava?{154}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/228]]==
<poem>
Por ti aos ecos dava
Accentos numerosos;
Linha 3 410 ⟶ 3 855:
Teu numeroso canto e melodia:
E ainda agora o tom suave e brando
Os ouvidos me fica adormentando.{155}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/229]]==
<poem>
 
  Em quanto os peixes humidos tiverem
As areosas covas deste rio,
Linha 3 442 ⟶ 3 891:
Que me faz cá no peito a alma triste.
Vês como t~ee os ventos em socêgo?{156}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/230]]==
<poem>
Nenhum rumor da serra lhe resiste:
Nenhum passaro vôa, mas parece
Linha 3 472 ⟶ 3 924:
Está perlas dos olhos destillando.
  De todas estas altas semidêas,
Qu'em tôrno estão do corpo sepultado,{157}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/231]]==
<poem>
157}
Humas, regando as humidas arêas,
De flores t~ee o tumulo adornado;
Linha 3 504 ⟶ 3 960:
Tudo o mais qu'eu de dor não sei dizer.{158}
            FRONDELIO.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/232]]==
<poem>
  Oh triste morte, esquiva e mal olhada,
Que a tantas formosuras injurías!
Linha 3 533 ⟶ 3 992:
Que no te acompañase en tal jornada,
Y para ornarse solo á ti quisieron;
  Nunca permitirán, que acompañada{159}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/233]]==
<poem>
159}
De mi no sea esta memoria tuya,
Que está de tus despojos adornada.
Linha 3 564 ⟶ 4 027:
Que á pesar de los hados enojosos
Tambiem para los tristes hubo muerte.{160}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/234]]==
<poem>
ECLOGA II.
INTERLOCUTORES.
Linha 3 590 ⟶ 4 057:
As roucas rãas soavão
N'hum charco de água negra e ajudavão
Do passaro nocturno o triste canto:{161}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/235]]==
<poem>
triste canto:{161}
O Tejo com som grave
Corria mais medonho que suave.
Linha 3 621 ⟶ 4 092:
  Corre suave e brando
Com tuas claras ágoas,
Sahidas de meus olhos, doce Tejo;{162}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/236]]==
<poem>
 
Fé de meus males dando,
Para que minhas mágoas
Linha 3 652 ⟶ 4 127:
Para tão doce mal faltar-me nada.
Oh Nympha delicada,
Honra da natureza!{163}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/237]]==
<poem>
163}
Como póde isto ser,
Que de tão peregrino parecer
Linha 3 683 ⟶ 4 162:
Que quando por meu nome alguem me chama,
Pasmo, porque conheço
Qu'inda comigo proprio me pareço.{164}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/238]]==
<poem>
 
  O gado, que apascento,
São n'alma os meus cuidados;
Linha 3 714 ⟶ 4 197:
Da sombra, que as montanhas encobria.
Descansa, frauta, agora,
Pois meu escuro canto{165}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/239]]==
<poem>
165}
Não merece que veja o claro dia.
Não canse a phantasia
Linha 3 746 ⟶ 4 233:
O ceo, a terra, as flores, monte e prado!
Oh tempo ja passado! quão presente{166}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/240]]==
<poem>
Te vejo abertamente na vontade!
Quão grande saudade tenho agora
Linha 3 776 ⟶ 4 266:
Toda a terra esmaltada destas rosas.
Hião Nymphas formosas por os prados;
E os Faunos namorados apos ellas,{167}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/241]]==
<poem>
167}
Mostrando-lhes capellas de mil côres,
Ordenadas das flores que colhião:
Linha 3 808 ⟶ 4 302:
Logo á manhãa reprovas com instancia.
Oh perversa inconstancia e tão profana{168}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/242]]==
<poem>
De toda cousa humana inferior,
A quem o cego error sempre anda annexo!
Linha 3 838 ⟶ 4 335:
Vivia então a gente moderada;
Sem ser a terra arada dava pão;
Sem ser cavado o chão as fructas dava;{169}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/243]]==
<poem>
169}
Nem águas desejava, nem quentura;
Suppria então natura o necessario.
Linha 3 870 ⟶ 4 371:
  São estas, Nympha, as tranças dos cabellos,
Que fazem de seu preço o ouro alheio,{170}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/244]]==
<poem>
Como a mi de mi mesmo só com vellos?
  He esta a alva columna, o lindo esteio,
Linha 3 900 ⟶ 4 404:
Que deste fogo insano não se inflama.
  Almeno, que aqui 'stá tão influido
No phantastico sonho, que o cuidado{171}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/245]]==
<poem>
171}
Lhe traz sempre ante os olhos esculpido,
  Está-se-lhe pintando, de enlevado,
Linha 3 932 ⟶ 4 440:
Senão donde he illicito e custoso;
E donde he mais o risco, mais se atreve.{172}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/246]]==
<poem>
  Passava o tempo alegre e deleitoso
O Troiano pastor, em quanto andava
Linha 3 962 ⟶ 4 473:
Sendo ausentes de si, se vem presentes
Com quem lhes pinta sempre a phantasia.
  Co'hum certo não sei que andão contentes,{173}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/247]]==
<poem>
173}
E logo hum nada os torna, ao contrário,
De todo ser humano differentes.
Linha 3 994 ⟶ 4 509:
He só doudice grande, grande engano.{174}
            ALMENO.
  Ó Agrario meu, que vendo o doce riso,
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/248]]==
<poem>
meu, que vendo o doce riso,
E o rosto tão formoso, como esquivo,
O menos que perdi foi todo o siso.
Linha 4 023 ⟶ 4 542:
  A barba então nas faces me apontava;
Na luta, na carreira, em qualquer manha,
Sempre a palma entre todos alcançava.{175}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/249]]==
<poem>
175}
  Da minha idade tenra, em tudo estranha,
Vendo (como acontece) affeiçoadas
Linha 4 055 ⟶ 4 578:
Os olhos alegrando descontentes,
Em te vendo, parece, se entristecem.{176}
  De
  De todos teus amigos e parentes,
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/250]]==
<poem>
todos teus amigos e parentes,
Que lá da serra vem por consolar-te,
Sentindo na alma a pena, que tu sentes,
Linha 4 085 ⟶ 4 612:
Nympha, que tanto amaste, descobrindo
Por falsa a fé, que dava, e mentirosa;
  Por as Alpinas neves vai seguindo{177}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/251]]==
<poem>
177}
Outro bem, outro amor, outro desejo;
Como inimiga, emfim, de ti fugindo.
Linha 4 117 ⟶ 4 648:
Á natureza o curso pressuroso.
  As cabras por o mar irão buscando{178}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/252]]==
<poem>
Seu pasto; e andar-se-hão por a espessura
Das hervas os delfins apascentando.
Linha 4 147 ⟶ 4 681:
Por algum dia ver-te descansado,
Se s'acabão trabalhos algum dia.
  Mas bem vês como Phebo ja empinado{179}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/253]]==
<poem>
179}
Me manda que da calma iniqua e crua,
Recolha em algum valle o manso gado.
Linha 4 171 ⟶ 4 709:
Co'o prado em gentileza,
Por quem o pastor triste endoudecia,
Por a praia do Tejo discorria{180}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/254]]==
<poem>
discorria{180}
A lavar a beatilha e o trançado:
O sol ja consentia
Linha 4 202 ⟶ 4 744:
Qu'eu, de mágoa, não posso dizer tanto;
Porqu'em tamanhas penas
Me cansa a penna, e a dor m'impede o canto.{181}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/255]]==
<poem>
181}
            BELISA.
  Que alegre campo e praia deleitosa!
Linha 4 233 ⟶ 4 779:
Nesta 'spessura longo tempo amei:
Se m'enganei com quem do peito amava,
Não me pezava de ser enganada.{182}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/256]]==
<poem>
 
Fui salteada, emfim, d'hum pensamento,
Que hum movimento tinha casto e são.
Linha 4 265 ⟶ 4 815:
Porque hum contente estado assi trocastes?
Vós me tirastes do meu peito isento{183}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/257]]==
<poem>
O pensamento honesto e repousado,
Ja dedicado ao côro de Diana;
Linha 4 295 ⟶ 4 849:
Que ja de mim m'esqueço co'a lembrança
Desta mudança, qu'esquecer não sei:
Bem qu'eu verei mudar a opinião,{184}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/258]]==
<poem>
 
Pois homens são: a quem o esquecimento
Depressa faz mudar o pensamento.
Linha 4 326 ⟶ 4 884:
  Oh altas semideas! pois padece
Em vosso rio a honra delicada
De quem tamanha fôrça não merece:{185}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/259]]==
<poem>
185}
  Ou seja por vós, Nymphas, preservada;
Ou em arvore alguma, ou pedra dura
Linha 4 358 ⟶ 4 920:
Se o vós, ó altos montes, não disserdes?
  E como te não lembras do perigo,{186}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/260]]==
<poem>
A que só por m'ouvir t'aventuravas,
Buscando horas de sesta, horas d'abrigo?
Linha 4 388 ⟶ 4 953:
Me vão ja pouco a pouco, o claro gesto
N'outra mais dura fórma traspassando.
  Hum só segredo meu te manifesto:{187}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/261]]==
<poem>
187}
Que te quiz muito em quanto Deos queria;
Mas de pura affeição, d'amor honesto.
Linha 4 420 ⟶ 4 989:
Fartae ja de meu sangue vossa sêde.
  E vós, pastores rudos deste outeiro,{188}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/262]]==
<poem>
Porque a todos, emfim, se manifeste
Que cousa he amor puro e verdadeiro;
Linha 4 451 ⟶ 5 023:
  E no tronco de huma árvore estara,
N'huma rude cortiça pendurado{189}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/263]]==
<poem>
Escripto co'huma fouce, e assi dirá:
  Almeno fui, pastor de manso gado,
Linha 4 475 ⟶ 5 050:
Frauta deste favor vosso for dina,
Posso escusar a fonte Caballina.
  Em vós tenho Helicon, tenho Pegáso;{190}ten
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/264]]==
<poem>
ho Pegáso;{190}
Em vós tenho Calliope e Thalia;
E as outras sete irmãas, co'o fero Marte;
Linha 4 506 ⟶ 5 085:
Ao longo d'hum ribeiro, que corria
Por a mais fresca parte da verdura
Claro, suave e manso, todo o ano,{191}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/265]]==
<poem>
 
Lamentando seu dano,
Vinhão ja recolhendo o manso gado.
Linha 4 538 ⟶ 5 121:
Porque não t'abrandava
Est'amor, que me tu tão mal pagaste?{192}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/266]]==
<poem>
Mas pois ja me deixaste
Co'a esperança de ti toda perdida,
Linha 4 568 ⟶ 5 154:
Porque, cruel, consentes
Qu'outro goze da gloria a mi devida?
Perca, quem te perdeo, tambem a vida.{193}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/267]]==
<poem>
193}
            DURIANO.
  Nenhum bem vejo, que a meu mal espere,
Linha 4 599 ⟶ 5 189:
            DURIANO.
  Levaste-me o meu bem n'hum só momento;
Levaste-me com elle juntamente{194}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/268]]==
<poem>
 
De cobrá-lo jamais a confiança:
Deixaste-me em lugar delle sómente
Linha 4 630 ⟶ 5 224:
Qu'a natureza irracional lh'ensina.
O rustico leão sem algum'arte,
Do natural instincto só ensinado,{195}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/269]]==
<poem>
195}
Aonde sente amor, logo se inclina.
E tu, que de divina
Linha 4 662 ⟶ 5 260:
As festas dos pastores,
Que podem alegrar toda a tristeza.{196}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/270]]==
<poem>
Em mi tua crueza
Faz que o mal cada hora vá dobrando.
Linha 4 692 ⟶ 5 293:
Não eu, que só comtigo
Estou contente, e nada mais desejo,
Se algum'hora te vejo.{197}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/271]]==
<poem>
197}
Tu es hum só meu bem, huma só gloria,
Que nunca se m'aparta da memoria.
Linha 4 724 ⟶ 5 329:
Por natureza o mal, que me condena.{198}
            FRONDOSO.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/272]]==
<poem>
  Juntamente viver compridos anos,
Os fados te concedão, que quizerão
Linha 4 753 ⟶ 5 361:
            FRONDOSO.
  Mil annos de tormento me parece
Cad'hora que sem ti, sem esperança{199}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/273]]==
<poem>
199}
Vivo de poder mais tornar a ver-te.
A vida só me dá tua lembrança;
Linha 4 784 ⟶ 5 396:
Junta com hum contino soffrimento,
E hum mal, em que o mal todo, emfim, consiste,
Não puderão mover teu duro peito{200}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/274]]==
<poem>
 
A mostrares sequer contentamento
De ver o meu tormento;
Linha 4 816 ⟶ 5 432:
Deste trabalho haver, que he todo vosso,
Senhora, alcançar posso;{201}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/275]]==
<poem>
Não será muito haver tambem a gloria
E o louro da victoria,
Linha 4 840 ⟶ 5 459:
  A vós se dem, a quem junto se ha dado
Brandura, mansidão, engenho e arte,
D'hum esprito divino acompanhado,{202}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/276]]==
<poem>
 
Dos sobrehumanos hum em toda parte:
Em vós as graças todas se hão juntado;
Linha 4 871 ⟶ 5 494:
As mágoas que cantou; e assi dizia:
  Ou tu do monte Pindaso es nascida,
Ou marmor te pario formosa e dura:{203}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/277]]==
<poem>
 
Não póde ser que fosse concebida
Dureza tal de humana creatura:
Linha 4 903 ⟶ 5 530:
Hum pequeno sinal n'hum coração?
  Na testa fonte viva tenho d'ágoa,{204}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/278]]==
<poem>
Que por meus olhos tristes se derrama;
E no peito de fogo viva fragoa,
Linha 4 934 ⟶ 5 564:
Mas eu de meu cuidado e mal tão forte
Tormento espero só, só crua morte.{205}
  D'ouvir meu damno as rosas matutinas,
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/279]]==
<poem>
meu damno as rosas matutinas,
Condoidas se cerrão, s'emmurchecem;
Com meu suspiro ardente as côres finas
Linha 4 964 ⟶ 5 598:
Eras tu nosso sol mais desejado;
Não temos luz, despois que nos deixaste.{206}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/280]]==
<poem>
Torna, meu claro sol; torna, meu bem:
Qual he o Josué que te detém?
Linha 4 994 ⟶ 5 632:
Alegrarás o valle, o campo, o gado,
E aquelle espelho teu da fonte fria.
Torna, torna, meu sol tão desejado,{207}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/281]]==
<poem>
207}
Faras a noite escura, claro dia;
E alegra ja esta vida magoada,
Linha 5 026 ⟶ 5 668:
De hum raminho saltando a outro raminho,
Mostra que por amor suspira e chama.{208}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/282]]==
<poem>
Em quanto no secreto amado ninho
Não acha aquelle, que só busca e ama,
Linha 5 056 ⟶ 5 701:
  Póde ser, se me visses, que sentiras
Ver liquidar hum peito em triste pranto;
E bem pouco fizeras, se me viras,{209}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/283]]==
<poem>
209}
Pois eu só por te ver suspiro tanto:
As mágoas, os suspiros, que m'ouviras
Linha 5 087 ⟶ 5 736:
Eu só, só pensativo, triste e mudo.
  Se ja d'alma e do corpo tens a palma,
E do corpo sem alma não tens dó,{210}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/284]]==
<poem>
 
Ha dó do corpo só, qu'está sem alma,
Pois sem alma não vive o corpo só.
Linha 5 118 ⟶ 5 771:
E ainda então vereis (s'isto ser possa)
Esta minh'alma lá servir a vossa.
  Aqui com grave dor, com triste accento,{211}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/285]]==
<poem>
211}
Deo o triste pastor fim a seu canto:
Co'o rosto baixo e alto o pensamento,
Linha 5 142 ⟶ 5 799:
Por não se descuidar de seu cuidado,
Levou para os curraes o manso gado.{212}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/286]]==
<poem>
ECLOGA VI
INTERLOCUTORES
Linha 5 168 ⟶ 5 829:
  E cujo são madeiro ja sahio
A lançar a forçosa e larga rede
No mais remoto mar que o mundo vio;{213}m
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/287]]==
<poem>
undo vio;{213}
  E vós, cujo valor tão alto excede,
Que, a cantá-lo com voz alta e divina,
Linha 5 200 ⟶ 5 865:
Hum d'escamas coberto, outro de lãas.
  Vereis, Duque sereno, o estylo vário,{214}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/288]]==
<poem>
A nós novo, mas n'outro mar cantado
De hum, que só foi das Musas secretario:
Linha 5 230 ⟶ 5 898:
Ja quando as sombras vem cahindo escuras;
  E nem co'a noite ao valle seu primeiro
Se lembra de tornar, como sohia,{215}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/289]]==
<poem>
 
Perdida por o bruto companheiro:
  Tal Agrario chegado, emfim, se via
Linha 5 262 ⟶ 5 934:
Está seu nome aos ecos ensinando
Por estylo do agreste som diverso.{216}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/290]]==
<poem>
  Ouvindo Agrario, attonito, affroxando
Da phantasia hum pouco seu cuidado,
Linha 5 293 ⟶ 5 968:
Com que as ondas horrisonas quebrantas.
  Porém se com verdade o louvo e approvo,{217}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/291]]==
<poem>
Desejo de o provar contra o sylvestre
Antigo pastoril, qu'eu mal renóvo.
Linha 5 323 ⟶ 6 001:
Nos engenhos porém subtis e agudos.
  Eis ja mil companheiros circumstantes{218}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/292]]==
<poem>
Estavão para ouvir, e apparelhavão
Ao vencedor os premios semelhantes.
Linha 5 353 ⟶ 6 034:
Que o seu claro inventor alli tangia.
Io foi vacca; Jupiter foi touro:
Mansas ovelhas junto d'ágoa fria{219}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/293]]==
<poem>
 
Guardou formoso Adonis; e tornado
Em bezerro Neptuno foi ja achado.
Linha 5 385 ⟶ 6 070:
            AGRARIO.
  Quem vio o desgrenhado e crespo Inverno,{220}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/294]]==
<poem>
D'atras nuvens vestido, horrido e feio,
Ennegrecendo á vista o ceo superno,
Linha 5 416 ⟶ 6 104:
A tinta, que no Murice se cria;
O navegar por ondas, que se assentão{221}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/295]]==
<poem>
Co'o brando bafo, com que o sol s'enfria,
Não podem, Nympha minha, assi aprazer-me,
Linha 5 446 ⟶ 6 137:
A Alicuto d'hum fio de torcidos
Buzios, e conchas ruivas e lustrosas.
  Estavão n'ágoa os peixes embebidos{222}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/296]]==
<poem>
222}
Com as cabeças fóra; e quasi em terra
Os musicos delfins estão perdidos.
Linha 5 470 ⟶ 6 165:
  Vós, Senhor Dom Antonio, aonde achárão
O claro Apollo e Marte hum ser perfeito,
Em quem suas altas mentes assinárão;{223}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/297]]==
<poem>
assinárão;{223}
  Se o meu engenho he rudo, ou imperfeito,
Bem sabe onde se salva, pois pretende
Linha 5 502 ⟶ 6 201:
Nasce huma crystallina e clara fonte,
  Donde hum manso ribeiro derivado,{224}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/298]]==
<poem>
Por cima d'alvas pedras mansamente
Vai correndo suave e socegado.
Linha 5 533 ⟶ 6 235:
  Cansada ja da caça vindo hum dia,
Quiz descansar á sombra da floresta,{225}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/299]]==
<poem>
E tirar nas mãos alvas d'ágoa fria.
  A novidade vendo manifesta
Linha 5 564 ⟶ 6 269:
Nuas Phebo em hum rio, e encobrirão
Seus delicados corpos n'ágoa clara;{226}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/300]]==
<poem>
  Syrinx e Nyse, que das mãos fugírão
Do Tegêo Pan; Amanta e mais Elisa,
Linha 5 594 ⟶ 6 302:
Exercitando os olhos saudosos,
Ao crystallino rio tributarios;
  Topárão dos pés alvos e mimosos{227}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/301]]==
<poem>
 
As pizadas na terra conhecidas,
As quaes forão seguindo pressurosos.
Linha 5 626 ⟶ 6 338:
  Com amorosos brados as seguião.
Hum só (que o outro ainda não tomava{228}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/302]]==
<poem>
Folego algum da pressa que trazião)
Desta sorte sentido se queixava:
Linha 5 656 ⟶ 6 372:
Desta nossa esperança, que enganais.
  Mas ah! que não consinto
Que nem palavra minha vos offenda,{229}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/303]]==
<poem>
229}
Postoque me desculpe a mágoa pura.
Digo, Nymphas, que minto:
Linha 5 688 ⟶ 6 408:
Que possão mais que a próvida natura?
Se vossa formosura{230}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/304]]==
<poem>
He sobrenatural, não he forçado
Que assi tenha tambem o peito irado:
Linha 5 718 ⟶ 6 441:
Pois lá no Olympo, a quantos captivou
Cupido e maltratou?{231}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/305]]==
<poem>
Melhor qu'eu o dirá a subtil donzella,
Que ja na sua téla o debuxou.
Linha 5 749 ⟶ 6 475:
  Nem vós nascidas sois de gente humana,
Nem foi humano o leite que mamastes,{232}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/306]]==
<poem>
Mas de alguma disforme fera Hyrcana:
Lá no Caucaso horrendo vos criastes:
Linha 5 780 ⟶ 6 509:
Que accrescentarão sempre o verde manto.
  E s'entre as claras ágoas houve amores,{233}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/307]]==
<poem>
Os penedos tambem forão perdidos.
Olhae os dous conformes amadores
Linha 5 810 ⟶ 6 542:
Como a côr das amoras he de amores:
O sangue dos amantes na verdura
Testimunha de Tisbe a sepultura.{234}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/308]]==
<poem>
 
  E lá por a odorifera Sabêa
Não vêdes que de lagrimas daquella,
Linha 5 841 ⟶ 6 577:
Todos em doce somno se occupavão
Por o monte, despois que anoiteceo;{235}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/309]]==
<poem>
Mas o deos do Hellesponto não dormia;
Que hum novo amor o somno lh'impedia.
Linha 5 871 ⟶ 6 610:
No louro amante, que de ti s'esquece,
S'esquecem os teus olhos saudosos.
Nenhum alegre estado permanece;{236}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/310]]==
<poem>
 
Que são do mundo os gostos mentirosos;
E á tua clara luz, por quem suspiras,
Linha 5 902 ⟶ 6 645:
(Que dos amores he maior defeito)
E aquella, que succede em seu lugar,
Ambas aves; de amor usado effeito;{237}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/311]]==
<poem>
237}
Huma, porque fugia ao deos do mar;
Outra, porque tentára o patrio leito:
Linha 5 934 ⟶ 6 681:
Das avezinhas mansas e amorosas?
Pois tambem teve Amor natural mando{238}
Entr'as feras montezes venenosas.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/312]]==
<poem>
feras montezes venenosas.
O leão e a leoa, como, ou quando
Taes formas alcançárão temerosas?
Linha 5 964 ⟶ 6 715:
He este, he este, o eco respondia.
  Quantas cousas em vão estou fallando
(Oh Napêas esquivas!) sem que veja{239}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/313]]==
<poem>
239}
O peito de diamante hum pouco brando
De quem meu damno tanto só deseja.
Linha 5 995 ⟶ 6 750:
Direi, emfim, ás duras esquivanças
Que só na morte tenho as esperanças.
  Aqui, sentido, o Satyro acabou,{240}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/314]]==
<poem>
 
Com huns soluços que a alma lhe arrancavão.
Os montes insensiveis, que abalou,
Linha 6 020 ⟶ 6 779:
  Se ao teu esprito alg~ua mágoa toca,
Se d'amor fica nelle huma pégada,
Que te vai, Galatêa, nesta troca?{241}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/315]]==
<poem>
troca?{241}
  Dar-te-hei minh'alma: lá ma tens roubada:
Não ta demandarei: dá-me por ella
Linha 6 052 ⟶ 6 815:
E hum pobre pescador aqui lançado?
  Antes que o sol no ceo cerre huma volta{242}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/316]]==
<poem>
Se póde melhorar minha ventura,
Como a outros succede, n'ágoa envolta.
Linha 6 077 ⟶ 6 844:
Atou o pescador pobre Palemo;
  Em quanto as negras redes estendia
Seu companheiro Alcão na branca arêa,{243}arê
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/317]]==
<poem>
a,{243}
E Lico as longas cordas envolvia;
  De cima d'huma rocha, a qual rodêa
Linha 6 109 ⟶ 6 880:
Por ventura d'algum meu companheiro?
Inda as redes ao sol t~ee estendidas.{244}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/318]]==
<poem>
  Toda a noite pescárão, e primeiro
Querem dormir a sesta nesta praia,
Linha 6 139 ⟶ 6 913:
Não vês que vão passando? Como as passas?
Quem deste passatempo te desvia?
  Ah rigorosa Nympha! ah! não me faças{245}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/319]]==
<poem>
245}
Dar em vão tantos gritos: vem; iremos
Ambos a levantar as verdes naças.
Linha 6 171 ⟶ 6 949:
  Faz d'aqui perto o mar hum largo seio,
Onde de ameijoas lisas, sem trabalho,{246}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/320]]==
<poem>
Podemos apanhar hum cesto cheio.
  Mas além de tudo isto hum crespo galho
Linha 6 202 ⟶ 6 983:
Me deixo aqui dizer! a quem os digo!
A surdas ondas ja, ja a ventos frios.{247}
  Elles e ellas ja crescem: ja em p'rigo
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/321]]==
<poem>
ellas ja crescem: ja em p'rigo
O barco vejo: ai! ei-lo combatido.
Ellas e elles o levão ja comsigo.
Linha 6 227 ⟶ 7 012:
Que não merece ser tão mal tratada
Hum'alma desses olhos tão captiva.
  Vives dos meus cuidados descuidada:{248}descuidad
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/322]]==
<poem>
a:{248}
Coitado de quem traz a duvidosa
Vida no mar e terra aventurada!
Linha 6 258 ⟶ 7 047:
Que menos o terás por serem minhas.
  Hum temor tal me chega a tal extremo,
Que, vencido d'hum triste esquecimento,{249}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/323]]==
<poem>
249}
No mar me cahe da mão o duro remo.
  E quando a branca vela sólto ao vento,
Linha 6 290 ⟶ 7 083:
Pondo os olhos no muito que meu fado
Nos teus, que ver desejo, quiz que visse.{250}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/324]]==
<poem>
  Aconteceo-me hum caso desusado,
(Inda que d'huma cousa n'outra salto)
Linha 6 320 ⟶ 7 116:
Me poz junto do barco, que tão perto
Esteve de ficar sem pescador.
  O sol era de todo ja coberto,{251}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/325]]==
<poem>
251}
Quando eu, entrando nelle, sahi fóra
Do perigo, onde tive o fim tão certo.
Linha 6 351 ⟶ 7 151:
Sempre á fôrça de braço o barco quedo.
  Tão seguro por ellas andaria,
Como polo seu campo o lavrador{252}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/326]]==
<poem>
 
No mais quieto, claro e bello dia.
  Ólha que não ha destro pescador,
Linha 6 377 ⟶ 7 181:
Onde triste me vez andar agora.
  Tinha lá para mi, que a vida tinha
Mais socegada cá e mais segura,{253} ma
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/327]]==
<poem>
is segura,{253}
Entre os meus, que com gôsto a buscar vinha.
  Foi d'outro parecer minha ventura:
Linha 6 410 ⟶ 7 218:
Que da calma, que cahe, bem nos defenda.{254}
            LIMIANO.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/328]]==
<poem>
  Vamos alli, que alli bosque sombrio
Nos dara fresco abrigo, assento o prado,
Linha 6 439 ⟶ 7 250:
Sem ordem, com mais graça, entremetidos!
  Vem encrespando as ágoas crystallinas
A branda viração; a fôlha treme;{255}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/329]]==
<poem>
255}
O movimento apenas determinas.
  A rôla seu amor suspira e geme;
Linha 6 471 ⟶ 7 286:
Em huma anzina envolto em pobres panos;
E daqui veio, que Anzino fui chamado.{256}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/330]]==
<poem>
  Neste meu desengano outros enganos
Fundou de novo a pouca dita minha,
Linha 6 501 ⟶ 7 319:
Mortas lhe dava as que por natureza,
Sem domar-se, são bravas, ou esquivas.
  Certo dia achei eu n'huma aspereza,{257}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/331]]==
<poem>
257}
Sem mãe, hum cervo branco e pequenino;
Trouxe-lho; ella o criou; inda hoje o préza.
Linha 6 533 ⟶ 7 355:
  Tornou-me: Essa resposta não entendo:
O que não quiz o ceo, queres que seja?{258}
Que castellos no vento andas fazendo?
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/332]]==
<poem>
no vento andas fazendo?
  Se me queres ver leda, não te veja
Soltar essas palavras ociosas:
Linha 6 564 ⟶ 7 390:
Me disse que assentára de casar-me
Com Tityro, pastor de muitas cabras.{259}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/333]]==
<poem>
  Que não buscasse causas d'escusar-me,
Como por muitas vezes ja fizera,
Linha 6 595 ⟶ 7 424:
Da fazenda não sei a quantidade.
  Se esse me fazes bom, daqui protesto{260}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/334]]==
<poem>
De não receber outro por marido:
Me respondia com sembrante honesto.
Linha 6 625 ⟶ 7 457:
Acaba de me ouvir o fim das culpas.
  T~ee-me, Ulina, por teu, não por irmão:
Se me não queres crer esta verdade,{261}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/335]]==
<poem>
261}
De teu pae saberás se minto, ou não.
  Por filho me criou: a flor da idade
Linha 6 657 ⟶ 7 493:
Fundava-se porém em casamento;
E deste fundamento lhe nascia,{262}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/336]]==
<poem>
Que, como me não via, o valle, o monte,
O bosque, o rio, a fonte rodeava.
Linha 6 688 ⟶ 7 527:
Não vês que o ceo estranha isso que tratas?
Não vês que a ti te matas cobiçoso?{263}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/337]]==
<poem>
Na porta o novo esposo tropeçou;
Na casa não entrou co'o pé direito:
Linha 6 718 ⟶ 7 560:
Chorando a desventura em que me via.
As vaccas, vindo o dia, derramadas,
De mi desamparadas, vem bramando,{264}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/338]]==
<poem>
 
Sinal n'aldeia dando em seu bramido
De qu'era ja perdido o pastor seu.
Linha 6 749 ⟶ 7 595:
  Casa de meus suspiros sempre cheia,
(Disse eu, quando passei pela de Ulina)
Tal fructo colhe quem amor semeia!{265}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/339]]==
<poem>
265}
  Fortuna, a mi cruel, sempre benina
Em tudo seja áquella, que em ti mora,
Linha 6 781 ⟶ 7 631:
E sei bem qu'erraria,
Se quizesse louvar{266}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/340]]==
<poem>
O grave estylo teu, tua brandura.
Aquella formosura,
Linha 6 812 ⟶ 7 665:
Lh'ordena a fatal sorte,
Com grande estrago e morte{267}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/341]]==
<poem>
Dos brutos mal nascidos Sarracinos,
Que de si despejados
Linha 6 842 ⟶ 7 698:
Que não foi tal pastor cá do ceo dado,
  Para não dar ao ceo tão larga terra.{268}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/342]]==
<poem>
ECLOGA XII.
INTERLOCUTORES.
Linha 6 869 ⟶ 7 729:
  Inda tu queres mais? Amigo (eu hei-te
De fallar claro e sem lisongerias:
Não hajas medo tu, qu'eu as affeite){269}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/343]]==
<poem>
eu as affeite){269}
  Tu cantavas amor, amor tangias;
Faltava a tua frauta; agora he muda:
Linha 6 900 ⟶ 7 764:
  Emfim, todas as cousas querem tento:
Encobre a dor, e guarda-te d'extremos;
Que sempre trazem arrependimento.{270}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/344]]==
<poem>
 
  Ao nosso doce canto nos tornemos:
Das nossas Nymphas, bellas inimigas,
Linha 6 931 ⟶ 7 799:
  Em quanto vós cantais, recolher quero
O gado; que são horas de ordenhar:
Á noite na malhada vos espero.{271}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/345]]==
<poem>
271}
            GALASIO.
  Isso não: has d'ouvir para julgar
Linha 6 963 ⟶ 7 835:
            GALASIO.
  Marfida, branca mais que o branco leite;{272}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/346]]==
<poem>
Vermelha muito mais que a rosa pura;
Assi descuido em ti nunca suspeite,
Linha 6 992 ⟶ 7 867:
O ceo chuivoso sempre, e turvo o rio;
Da sua leve folha a terra cobre
O bosque, que foi ja verde e sombrio.{273}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/347]]==
<poem>
273}
Mas se Learda o rosto seu descobre,
Logo desapparece o tempo frio:
Linha 7 025 ⟶ 7 904:
Nenh~ua mágoa tens de minha mágoa.{274}
            DELIO.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/348]]==
<poem>
  Quando vires, Learda, o nosso Lima,
Que lá vai de meu chôro acompanhado,
Linha 7 054 ⟶ 7 936:
  No liso tronco deste verde freixo.
Delio neste lugar doce cantou
Com Galasio, que doce respondia:{275}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/349]]==
<poem>
 
Hum Learda, Marfida outro louvou,
Com inveja de qual melhor diria.
Linha 7 080 ⟶ 7 966:
  Sabes, cruel, que tenho causas muitas
Para te convencer, de que queixar-me;
Por isso vás fugindo e não me escuitas.{276}escuit
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/350]]==
<poem>
as.{276}
  Puderão os teus rogos abrandar-me:
Os meus (triste de mi!) mais te endurecem.
Linha 7 112 ⟶ 8 002:
Usei comtigo d'ira, ou d'asperezas?
  Prouvera a Deos que tão isenta e dura{277}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/351]]==
<poem>
Me víras para ti, que nunca víras
Em mi sinal d'amor, ou de brandura!
Linha 7 143 ⟶ 8 036:
  Eu me queixo de ti, e tu da tua
Galatêa te queixas; e não vês{278}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/352]]==
<poem>
Que mais piedosa te he, quando mais crua.
  Sendo tu tão cruel, (tão cego es!)
Linha 7 171 ⟶ 8 067:
O vento vai levando. O sol he pôsto.
Porque, ligeira luz, te não detinhas,
  Em quanto em meu queixume achava gôsto?{279}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/353]]==
<poem>
279}
ECLOGA XIV.
INTERLOCUTORES.
Linha 7 198 ⟶ 8 098:
Lhe canta o doce verso sem medida.
  Agora ao pé d'hum alamo sombrio
Vê como dous carneiros s'offerecem,{280}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/354]]==
<poem>
offerecem,{280}
Os cornos inclinando, a desafio.
  Como ao que vence todos obedecem
Linha 7 231 ⟶ 8 135:
Rubicunda vergonha em mágoa estranha.{281}
            DELIO.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/355]]==
<poem>
  A gloria, Ergasto meu, qu'he possuida,
Nunca sabe de nós ser tida em preço:
Linha 7 261 ⟶ 8 168:
Que digas hum dos teus, não sei se o peça.{282}
            ERGASTO.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/356]]==
<poem>
  Se com m'ouvir, a dor se te allivia,
Eu o direi. Mas eis cá vem Laureno,
Linha 7 290 ⟶ 8 200:
E dos suspensos bosques he seguido.
  Não cuido que de faia são sahidas
De tal arte, lavor de tal maneira:{283}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/357]]==
<poem>
 
Tambem obra he d'Alceo, das mais polidas.
  Esta, das que me deo, foi a primeira;
Linha 7 322 ⟶ 8 236:
Teu amoroso riso a culpa teve.
Se só por viver della e por amá-la,{284}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/358]]==
<poem>
Julgas que algum castigo se me deve,
A ver-te sempre rindo me condena,
Linha 7 351 ⟶ 8 268:
No ardor, que pouco a pouco me consume;
Mas nem as chammas, qu'em suspiros deito,
Accendérão jamais hum frio peito.{285}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/359]]==
<poem>
285}
            LAURENO.
  Pastores, que buscais na sombra amada
Linha 7 383 ⟶ 8 304:
Que brandos vos mostreis ja vos não peço;
Mas que poder-vos ver paga me seja,{286}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/360]]==
<poem>
Se por tamanho amor tanto mereço:
Armados d'esquivança então vos veja
Linha 7 412 ⟶ 8 336:
Me deixa ver, por mais que a veja crua;
A vista tanto em mi vejo a diante,
Que não he muito, não, que m'attribua{287}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/361]]==
<poem>
287}
A soberba de ser hum'aguia nova,
Que do ceo no ôlho claro a vista prova.
Linha 7 435 ⟶ 8 363:
E ambos d'Apollo os mereceis maiores.
  Recolhamos o gado; que anoitece.{288}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/362]]==
<poem>
ECLOGA XV.
INTERLOCUTORES.
Linha 7 461 ⟶ 8 393:
Esquecido do gado, valle e serra.
  Lembre-te que perdi a confiança
De ver os olhos teus, e juntamente{289}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/363]]==
<poem>
, e juntamente{289}
De todo o bem d'Amor toda a esperança.
  Lembre-te que por ti de mi ausente
Linha 7 492 ⟶ 8 428:
  Agora que me falta a claridade,
Que de ver-te a minha alma recebia,
Ficando-me só della a saudade;{290}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/364]]==
<poem>
 
  Qual ficará hum'alma, que sabía
Somente desta gloria contentar-se?
Linha 7 523 ⟶ 8 463:
  O manso gado vejo, que contente
Buscando hia nos campos a verdura,
E dos rios a limpida corrente:{291}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/365]]==
<poem>
 
Agora triste errar pola espessura,
Alheio d'herva verde e d'ágoa fria;
Linha 7 555 ⟶ 8 499:
Não traz a origem de commum respeito.
  Mas, por entre a confusa claridade,{292}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/366]]==
<poem>
Lá vejo vir Soliso com seu gado:
Delle espero entender toda a verdade.
Linha 7 585 ⟶ 8 532:
Se gôsto sentirp óde, então o sente.
  Neste bosque huma Nympha se aposenta,
Por quem elle na vida anda morrendo;{293}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/367]]==
<poem>
293}
E he causa desta dor que lhe contenta.
  E segundo o que delle agora entendo,
Linha 7 618 ⟶ 8 569:
E entenderei por ti taes accidentes.{294}
            SOLISO.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/368]]==
<poem>
  N'outro tempo me fôra deleitoso
Por extremo, Sylvano, gôsto dar-te;
Linha 7 648 ⟶ 8 602:
Quão conforme he teu nome á natureza.
  Porque se o meu tormento t'alcançára,{295}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/369]]==
<poem>
O mor bem para ti o mor mal fôra;
E todo o mal maior te contentára.
Linha 7 679 ⟶ 8 636:
Onde chega tamanho sentimento!
  A gloria qu'eu perdi não me consente{296}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/370]]==
<poem>
Palavras naturaes, razões expertas,
Que possão declarar a dor presente.
Linha 7 709 ⟶ 8 669:
Se corre risco, dá-me delle parte.
            SOLISO.
  De todo a sinto ja desfallecida{297}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/371]]==
<poem>
297}
Nas lembranças daquella breve historia,
Que foi para meus males tão comprida.
Linha 7 741 ⟶ 8 705:
  Dizer-te o mais não posso, porque sente
Est'alma no que disse tal tormento,{298}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/372]]==
<poem>
Qu'esta memoria apenas me consente.
  O espirito ja debil, sem alento,
Linha 7 771 ⟶ 8 738:
  Deixae, deixae, pastores, a verdura;
As frautas deixae ja, e os mansos gados;
E chorae todos vossa desventura.{299}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/373]]==
<poem>
299}
  E vós, sylvestres Faunos namorados,
Tambem chorar podeis, pois ja perdêrão
Linha 7 801 ⟶ 8 772:
  Mas se dellas morreis, morro contente.{300}
CANÇÕES.
CANÇÃO I.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/374]]==
<poem>
I.
Formosa e gentil Dama, quando vejo
A testa d'ouro e neve, o lindo aspeito,
Linha 7 822 ⟶ 8 797:
Que zombo dos tormentos que passei.
De quem me queixarei,
Se vós me dais a vida deste geito{301}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/375]]==
<poem>
301}
Nos males que padeço,
Senão de meu sogeito,
Linha 7 854 ⟶ 8 833:
E as armas com que mata são de sorte,
Que ainda lhe ficais devendo a morte.{302}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/376]]==
<poem>
  Lagrimas, e suspiros, pensamentos,
Quem delles se queixar, formosa Dama,
Linha 7 882 ⟶ 8 864:
  Se com razões escuso meu remedio,
Sabe, Canção, que só porque o não vejo,
Engano com palavras o desejo.{303}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/377]]==
<poem>
 
CANÇÃO II.
A instabilidade da fortuna,
Linha 7 910 ⟶ 8 896:
Que para derribar-me
A este abysmo infernal de meu tormento,
Nunca soberbo foi meu pensamento,{304}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/378]]==
<poem>
 
Nem pretendeo mais alto levantar-me
D'aquillo qu'elle quiz; e s'elle ordena
Linha 7 941 ⟶ 8 931:
De conseguir hum bem de tanto preço;
Além do que padeço,
Atado em huma roda estou penando,{305}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/379]]==
<poem>
305}
Qu'em mil mudanças me anda rodeando;
Onde, se a algum bem subo, logo deço.
Linha 7 973 ⟶ 8 967:
O vingativo Amor me fez sentir,
Fazendo-me subir{306}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/380]]==
<poem>
Ao monte da aspereza qu'em vós vejo,
Co'o pezado penedo do desejo,
Linha 7 999 ⟶ 8 996:
Mas, porque a dor me seja menos forte,
Diga o pregão a causa desta morte.{307}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/381]]==
<poem>
CANÇÃO III.
Ja a roxa manhãa clara
Linha 8 027 ⟶ 9 027:
De tanto bem dá graças á ventura,
Pois as foi pôr em ti tão excellentes,
Que representes tanta formosura.{308}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/382]]==
<poem>
 
  A luz suave e leda
A meus olhos me mostra por quem mouro,
Linha 8 058 ⟶ 9 062:
  Porém a natureza,
Que nesta pura vista se mantinha,
Me falta tão asinha,{309}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/383]]==
<poem>
309}
Como o sol faltar soe á redondeza.
Se houverdes qu'he fraqueza
Linha 8 085 ⟶ 9 093:
Neste lugar ameno,
Em qu'inda agora mouro,{310}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/384]]==
<poem>
Testa de neve e d'ouro;
Riso brando e suave; olhar sereno;
Linha 8 116 ⟶ 9 127:
Até no derradeiro despedir-me.
  Mas a mor alegria{311}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/385]]==
<poem>
Que daqui levar posso,
E com que defender-me triste espero,
Linha 8 142 ⟶ 9 156:
Mostrando seu tormento
Cruel, aspero e grave,{312}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/386]]==
<poem>
Diante de vós só, minha Senhora;
Pudera ser que agora
Linha 8 172 ⟶ 9 189:
Mas eu, de gente em gente,
Trouxera trasladada
Em meu tormento vossa gentileza;{313}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/387]]==
<poem>
313}
E somente a aspereza
De vossa condição,
Linha 8 204 ⟶ 9 225:
O fallar e esquecer-me do que digo;
Hum pelejar comigo,{314}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/388]]==
<poem>
E logo desculpar-me;
Hum recear ousando;
Linha 8 229 ⟶ 9 253:
  Canção, não digas mais; e se teus versos
Á pena vem pequenos,
Não queirão de ti mais; que dirás menos.{315}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/389]]==
<poem>
315}
CANÇÃO VI.
Com força desusada
Linha 8 258 ⟶ 9 286:
Por tão doce memoria trocaria.
  Mas este fingimento,{316}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/390]]==
<poem>
Por minha dura sórte,
Com falsas esperanças me convida.
Linha 8 288 ⟶ 9 319:
Senhora, a culpa he vossa,
Que para me matar
Bastára hum'hora só de vos não ver.{317}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/391]]==
<poem>
317}
Puzestes-me em poder
De falsas esperanças:
Linha 8 320 ⟶ 9 355:
Não vêdes que he onzena?
Mas se tão longo e misero destêrro{318}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/392]]==
<poem>
Vos dá contentamento,
Nunca m'acabe nelle o meu tormento.
Linha 8 345 ⟶ 9 383:
Diz que o ser de tão lindos olhos preso,
Cantá-lo bastaria a contentar-me.
Este excellente modo d'enganar-me{319}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/393]]==
<poem>
319}
Tomára eu só d'Amor por interêsse,
Se não s'arrependesse,
Linha 8 377 ⟶ 9 419:
As fontes crystallinas não corrião,
D'inflammadas na vista linda e pura;{320}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/394]]==
<poem>
Florecia a verdura,
Que andando co'os divinos pés tocava;
Linha 8 408 ⟶ 9 453:
A mesma perdição a restaurava:
E em mansa paz estava{321}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/395]]==
<poem>
Cada hum com seu contrário em hum sogeito.
Oh grão concêrto este!
Linha 8 436 ⟶ 9 484:
Senão hum pensamento
Que a falta suppra a fé do entendimento.{322}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/396]]==
<poem>
CANÇÃO VIII.[3]
Manda-me Amor que cante o qu'a alma sente,
Linha 8 446 ⟶ 9 497:
Mas he tamanho o gôsto de louvar-me,
E de manifestar-me
Por captivo de gesto tão formoso,{323}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/397]]==
<poem>
323}
Que todo o impedimento
Rompe e desfaz a gloria do tormento
Linha 8 478 ⟶ 9 533:
Que, andando, co'os ditosos pés tocava;
As ramas se baixavão,{324}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/398]]==
<poem>
Ou d'inveja das hervas que pizavão,
Ou porque tudo ant'elles se baixava:
Linha 8 509 ⟶ 9 567:
Oh caso estranho e novo!
Por alta e grande certamente approvo{325}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/399]]==
<poem>
A causa, donde vem tamanho effeito,
Que faz n'hum coração
Linha 8 534 ⟶ 9 595:
Senão hum pensamento,
Que a falta suppra a fé do entendimento.{326}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/400]]==
<poem>
CANÇÃO IX.
Tomei a triste pena
Linha 8 561 ⟶ 9 625:
Renovão a memoria;
Pois com a ter de vós só tenho gloria.
  E s'isto conhecesseis{327}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/401]]==
<poem>
327}
Ser verdade mais pura
Do que d'Arabia o ouro reluzente;
Linha 8 593 ⟶ 9 661:
Ou seja tarde, ou cedo,
Com pena de penar-me, me despene.{328}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/402]]==
<poem>
E quando me condene
(Qu'he o que mais espero)
Linha 8 619 ⟶ 9 691:
Ficando á parte, donde
O sol, que nella ferve, se lh'esconde;{329}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/403]]==
<poem>
  O cabo se descobre, com que a costa
Africana, que do Austro vem correndo,
Linha 8 650 ⟶ 9 725:
No mundo muitas horas d'alegria.
  Aqui'stive eu com estes pensamentos{330}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/404]]==
<poem>
Gastando tempo e vida; os quaes tão alto
Me subião nas asas, que cahia
Linha 8 680 ⟶ 9 758:
Bicho da terra vil e tão pequeno.
  Se de tantos trabalhos só tirasse
Saber inda por certo que algum'hora{331}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/405]]==
<poem>
331}
Lembrava a huns claros olhos que ja vi;
E s'esta triste voz, rompendo fóra,
Linha 8 712 ⟶ 9 794:
Aos ventos amorosos, que respirão
Da parte donde estais, por vós Senhora;{332}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/406]]==
<poem>
Ás aves qu'alli voão, se vos virão,
Que fazieis, qu'estaveis praticando;
Linha 8 737 ⟶ 9 822:
Accenda-se com gritos hum tormento,
Que a todas as memorias seja estranho.
Digamos mal tamanho{333}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/407]]==
<poem>
333}
A Deos, ao mundo, á gente e, emfim, ao vento,
A quem ja muitas vezes o contei,
Linha 8 768 ⟶ 9 857:
De lhes deixar poder para entenderem
Á medida dos males que tiverem.
  Quando vim da materna sepultura{334}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/408]]==
<poem>
 
De novo ao mundo, logo me fizerão
Estrellas infelices obrigado:
Linha 8 799 ⟶ 9 892:
Suave e venenosa,
Que me criou aos peitos da esperança;
De quem eu vi despois o original,{335}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/409]]==
<poem>
 
Que de todos os grandes desatinos
Faz a culpa soberba e soberana.
Linha 8 831 ⟶ 9 928:
Co'os raios as entranhas, que fugião
Par'ella por os olhos subtilmente!{336}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/410]]==
<poem>
Pouco a pouco invisiveis me sahião;
Bem como do véo humido exhalando
Linha 8 861 ⟶ 9 961:
Agora co'o furor da mágoa irado,
Querer, e não querer deixar de amar;
E mudar n'outra parte, por vingança,{337}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/411]]==
<poem>
337}
O desejo privado d'esperança,
Que tão mal se podia ja mudar?
Linha 8 893 ⟶ 9 997:
Fez-me deixar o patrio ninho amado,
Passando o longo mar, que ameaçando{338}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/412]]==
<poem>
Tantas vezes m'esteve a vida chara.
Agora exprimentando a furia rara
Linha 8 923 ⟶ 10 030:
Injustiças daquelles que o confuso
Regimento do mundo, antigo abuso,
Faz sôbre os outros homens poderosos,{339}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/413]]==
<poem>
339}
Qu'eu não passasse, atado á fiel coluna
Do soffrimento meu, que a importuna
Linha 8 954 ⟶ 10 065:
De meus doces errores, me levasse
Por as flores que vi da mocidade;
E a lembrança da longa saudade{340}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/414]]==
<poem>
 
Então fosse maior contentamento,
Vendo a conversação leda e suave,
Linha 8 980 ⟶ 10 095:
Nem roxa flor de Abril,
Pintor do campo ameno e da verdura,
Colhida entre outras mil,{341}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/415]]==
<poem>
341}
Foi nunca assi agradavel á donzella
Cortez, alegre e bella,
Linha 9 012 ⟶ 10 131:
Que faz a luz dos vossos olhos bellos
A quem os vê tão puros e singelos;{342}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/416]]==
<poem>
E esse innocente riso,
Por quem Apollo o Tejo torna Amphriso.
Linha 9 043 ⟶ 10 165:
  A tal luz (ó Canção, que ousaste vella!)
Vendo estás ja prostrado{343}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/417]]==
<poem>
Saturno triste, Jupiter irado,
Bravo Marte, aureo Apollo, Venus bella,
Linha 9 070 ⟶ 10 195:
Enigmas intricados,
E myrtos animados{344}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/418]]==
<poem>
Vemos, que o proprio Escopas não fizera;
Em ti, co'a paz interna,
Linha 9 101 ⟶ 10 229:
  Por tanto da ventura,
Para ti reservada,{345}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/419]]==
<poem>
Te deixe o Ceo gozar perpetuamente;
Porque sejas figura
Linha 9 132 ⟶ 10 263:
Que aquelle que os teus numeros governa,
Por querê-las cantar te faça eterna.{346}
CANÇÃO XIV.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/420]]==
<poem>
XIV.
Quem com sólido intento
Os segredos buscar da natureza,
Linha 9 159 ⟶ 10 294:
  Da vista Amor sohia
Abrir ao coração segura entrada:
Lei he ja profanada;{347}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/421]]==
<poem>
347}
Que quando a luz d'huns olhos me fería,
Amando o que não via,
Linha 9 191 ⟶ 10 330:
Com ser neve, do fogo s'assegura:
Donde infiro por certo (e cesse a fama{348}
Vãa, mentirosa e leve)
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/422]]==
<poem>
mentirosa e leve)
Que não desfaz a neve ardente chama.
  Bem no effeito se sente
Linha 9 222 ⟶ 10 365:
O pensamento, a côr, o riso, o gesto;
E, tendo todo o resto{349}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/423]]==
<poem>
Da vida ja perdido
Neste tormento meu tão duro e esquivo,
Linha 9 247 ⟶ 10 393:
Que ha tanto que por este mar navego
(Sem ver meu claro Polo) escuro e cego.{350}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/424]]==
<poem>
  Nesses formosos olhos, d'enlevada,
Minh'alma se escondeo,
Linha 9 277 ⟶ 10 426:
Do que na selva umbrosa
Cerva d'aguda setta vai ferida?
Se para tal partida,{351}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/425]]==
<poem>
351}
Meus olhos, vos abristes,
Cerrára-vos o somno eternamente,
Linha 9 303 ⟶ 10 456:
Qual flor de chuva, em breve consumida,
Verás desfeita em lagrimas a vida.{352}
CANÇÃO XVI.
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/426]]==
<poem>
XVI.
Por meio d'humas serras mui fragosas,
Cercadas de sylvestres arvoredos,
Linha 9 331 ⟶ 10 488:
E d'outro o pintasirgo lhe responde;
A perdiz d'entre a mata, em que s'esconde,{353}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/427]]==
<poem>
O caçador sentindo, se levanta:
Voando vai ligeira mais que o vento;
Linha 9 361 ⟶ 10 522:
Fresco e frio
Por o prado
D'herva ornado,{354}or
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/428]]==
<poem>
nado,{354}
Com que o aureo licor fazem, que deo
Á humana gente a indústria d'Aristeo.
Linha 9 392 ⟶ 10 557:
O formoso jacintho alli não falta,
Lembrado dos antiguos seus amores.
Inda na flor se mostrão esculpidos{355}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/429]]==
<poem>
esculpidos{355}
Os gemidos:
Aqui Flora
Linha 9 423 ⟶ 10 592:
Escolhendo,
Para fazer preciosas mil capellas,
E dar por grão penhor a Nymphas bellas.{356}b
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/430]]==
<poem>
ellas.{356}
  Eu dellas, por penhor de meus amores,
Huma capella á minha deosa dava:
Linha 9 449 ⟶ 10 622:
Não sinto por qual arte
Me vejo entregue a elle de tal sorte,
Qu'em quanto tarda a morte,{357}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/431]]==
<poem>
a morte,{357}
A esperança do bem tenho perdida.
Ai quão devagar passa a triste vida!
Linha 9 480 ⟶ 10 657:
Então desejas mais d'atormentar-me;
E não queres matar-me{358}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/432]]==
<poem>
Porque este mal de mi se não despida.
Ai quão devagar passa a triste vida!
Linha 9 509 ⟶ 10 689:
Mas quando (ai triste!) quando
D'hum dia hum'hora me virá contente,
Qu'eu te veja presente,{359}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/433]]==
<poem>
359}
Pastor meu, e comtigo est'alma unida?
Ai quão devagar passa a triste vida!
Linha 9 527 ⟶ 10 711:
A hum'alma que lhe he pouco agradecida.
Ai quão devagar passa a triste vida!{360}
 
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/434]]==
<poem>
ODES.
ODE I.
Linha 9 551 ⟶ 10 739:
O teu celeste humor na primavera:
  Para ti guarda o sítio fresco d'Ilio{361}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/435]]==
<poem>
Suas sombras formosas;
Para ti o Erymantho e o lindo Pylio
Linha 9 582 ⟶ 10 773:
Só de seu pensamento acompanhado,
Conversa as alimarias,{362}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/436]]==
<poem>
De todo Amor contrárias,
Mas não como ti duras,
Linha 9 612 ⟶ 10 806:
Não fujo o desvario;
Porque este em que me vejo
Engana co'a esperança o meu desejo.{363}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/437]]==
<poem>
363}
  Oh quanto melhor fôra que dormissem
Hum somno perennal
Linha 9 639 ⟶ 10 837:
A Aurora no princípio do verão,
Ás flores dando a graça costumada,{364}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/438]]==
<poem>
Como a formosa mansa fera, quando
Hum pensamento vivo m'inspirou,
Linha 9 670 ⟶ 10 871:
Entendimento e engenho me cegou
Luz de tão alto preço.{365}
  Naquella alta pureza deleitosa
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/439]]==
<poem>
alta pureza deleitosa
Que ao mundo s'encobrio;
E nos olhos Angelicos, que são
Linha 9 697 ⟶ 10 902:
Com tanta desventura,
Tão rouca, tão pezada, nem tão dura.{366}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/440]]==
<poem>
  A ser como sohia,
Pudera levantar vossos louvores;
Linha 9 727 ⟶ 10 935:
Do fero Rhadamante,
E co'os teus olhos ver a doce amante!
  As infernaes figuras{367}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/441]]==
<poem>
367}
Moveste com teu canto docemente;
As tres Furias escuras,
Linha 9 759 ⟶ 10 971:
  Mas que digo, coitado!
E de quem fio em vão minhas querellas?{368}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/442]]==
<poem>
Só vós, ó do salgado,
Humido Reino bellas
Linha 9 784 ⟶ 10 999:
As pontas amoladas
De quantas settas tinha t~ee quebradas:
  Amada Circe minha,{369}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/443]]==
<poem>
369}
Postoque minha não, com tudo amada;
A quem hum bem que tinha
Linha 9 815 ⟶ 11 034:
E contra ti se accenda o fero Amor?
  Ólha a formosa Flora;
De despojos de mil suspiros rica,{370}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/444]]==
<poem>
 
Por o Capitão chora,
Que lá em Thessalia, emfim, vencido fica,
Linha 9 846 ⟶ 11 069:
  Toma-a nas azas tuas,
Menino pio, illesa e sem perigo,
Antes que nestas cruas{371}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/445]]==
<poem>
371}
Ágoas cahindo apague o fogo antigo.
He digno amor tamanho
Linha 9 872 ⟶ 11 099:
Me desfazem a nuvem da tristeza.
  O meu peito, onde estais,
He para tanto bem pequeno vaso;{372}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/446]]==
<poem>
 
Quando acaso virais
Os olhos, que de mi não fazem caso,
Linha 9 898 ⟶ 11 129:
Para que a dor de sua ardente flama
Comvosco tanto possa,
Que não queirais ver cinza hum'alma vossa.{373}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/447]]==
<poem>
373}
ODE VI.
Póde hum desejo immenso
Linha 9 926 ⟶ 11 161:
De pureza e vergonha he variada;
Da qual a Poesia, que cantou{374}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/448]]==
<poem>
Atéqui só pinturas
Com mortaes formosuras igualou;
Linha 9 956 ⟶ 11 194:
Das quaes o movimento
Fara deter o vento e as altas aves:
  Dos olhos o virar{375}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/449]]==
<poem>
375}
Que torna tudo raso,
Do qual não sabe o engenho divisar
Linha 9 987 ⟶ 11 229:
Flores, mas só abrolhos
O fazem feio; e cuido que lhe faltão
Ouvidos para mi, para vós olhos.{376}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/450]]==
<poem>
 
Mas faça o que quizer o vil costume;
Que o sol, qu'em vós está,
Linha 10 013 ⟶ 11 259:
A honra e gloria igual,
Senhor Dom Manoel de Portugal?
  Imitando os espritos ja passados,{377}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/451]]==
<poem>
377}
Gentis, altos, Reais,
Honra benigna dais
Linha 10 044 ⟶ 11 294:
Que vencem a Fortuna,
Forão sempre coluna
Da sciencia gentil: Octaviano,{378}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/452]]==
<poem>
 
Scipião, Alexandre e Graciano,
Que vemos immortais;
Linha 10 070 ⟶ 11 324:
  E não se desprezou
Aquelle fero e indomito mancebo
Das Artes qu'ensinou{379}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/453]]==
<poem>
379}
Para o languido corpo o intonso Phebo;
Que se o temido Heitor matar podia,
Linha 10 102 ⟶ 11 360:
Nos campos Indianos,
As quaes aquellas doctas e protervas,{380}
Medêa e Circe, nunca conhecêrão,
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/454]]==
<poem>
nunca conhecêrão,
Postoque a lei da Magica excedêrão.
  E vêde carregado
Linha 10 127 ⟶ 11 389:
As árvores sombrias;
As verdes hervas crecem,
E o prado ameno de mil côres tecem.{381}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/455]]==
<poem>
381}
  Zephyro brando espíra;
Suas settas Amor afia agora;
Linha 10 158 ⟶ 11 424:
Temerá o marinheiro a Orionte.
  Porque, emfim, tudo passa;{382}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/456]]==
<poem>
Não sabe o Tempo ter firmeza em nada;
E a nossa vida escassa
Linha 10 186 ⟶ 11 455:
Livrar póde o ousado
Perithoo da espantosa
Prisão Lethêa escura e tenebrosa.{383}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/457]]==
<poem>
 
ODE X.
Aquelle moço fero
Linha 10 214 ⟶ 11 487:
Porque de seu senhor a vê senhora.
  Ja toma a branda lyra{384}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/458]]==
<poem>
Na mão que a dura Pelias meneára;
Alli canta e suspira,
Linha 10 245 ⟶ 11 521:
  Aquelles, cujos peitos
Ornou d'altas sciencias o destino.{385}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/459]]==
<poem>
Se vírão mais sujeitos
Ao cego e vão menino,
Linha 10 273 ⟶ 11 552:
E conforme sogeito,
Onde s'imprima o brando e doce affeito.{386}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/460]]==
<poem>
ODE XI.
Naquelle tempo brando
Linha 10 301 ⟶ 11 583:
Os amorosos corpos despertava
Á cega idolatria,
Que ao peito mais contenta e mais aggrava;{387}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/461]]==
<poem>
387}
Onde o cego menino
Faz que os humanos crêão que he divino:
Linha 10 333 ⟶ 11 619:
Os corações humanos traz e atiça,
E donde com desejo{388}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/462]]==
<poem>
Mais ardente começa a ser sobejo.
  O mancebo Peleo,
Linha 10 363 ⟶ 11 652:
Destruição do Phrygio pensamento;
Que, por não ser ferido,
Foi nas ágoas Estygias submergido.{389}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/463]]==
<poem>
389}
ODE XII.
Ja a calma nos deixou
Linha 10 392 ⟶ 11 685:
Que a Jupiter por a aguia foi levado,
No cêrco crystallino{390}
</poem>
==[[Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/464]]==
<poem>
For do amante de Clicie visitado;
O bosque chorará, chorará a fonte,
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Qu'em matar-me ella só mostre firmeza,
Se não achára agora
Tambem em mi mudada a natureza;{391}
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Pois sempre o coração tenho turbado,
Sempre d'escuras nuvens rodeado.