As Asas de um Anjo/Prólogo: diferenças entre revisões

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Em casa de Antônio. Sala pobre.
 
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MARGARIDA (erguendo a cabeça.) – Tu és sempre bonita; mas realmente essas fitas nos cabelos dão-te uma graça!... Pareces um daqueles anjinhos de Nossa Senhora da Conceição.
 
CAROLINA – É o que disse Luís,
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quando as trouxe da loja. Tínhamos ido na véspera à missa e ele viu lá um anjinho que tinha as asas tão azuis, cor do céu! Então lembrou-se de dar-me estes laços... Assentam-me tão bem; não é verdade?
 
MARGARIDA – Sim; mas não sei para que te foste vestir e pentear à esta hora; já está escuro para chegares à janela.
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MARGARIDA – Não sei o que tem esta nossa filha! Às vezes anda tão distraída...
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ANTÔNIO (erguendo a cabeça.) – Quantos são hoje do mês, Margarida?
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ANTÔNIO – Ora Deus! Quem te fala agora em vinho? Não é para ti, nem para mim, que preciso de dinheiro. (Margarida acende a vela com fósforos.)
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MARGARIDA – Para quem é então, homem?
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ANTÔNIO – Nos modos de Luís para a pequena. Como ele a trata?
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MARGARIDA – Com seriedade; não brinca com ela.
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ANTÔNIO – Oh! se descobri! Um companheiro lá da tipografia muito seu amigo me contou que ele tinha uma paixão forte por uma moça que se chama Carolina.
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MARGARIDA – Ah! Anda espalhando!...
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MARGARIDA – Psiu!... Aí vem ela.
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ANTÔNIO – Melhor! Acaba-se com isto logo de uma vez.
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CAROLINA – Ah! Quer ralhar comigo, não é?
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ANTÔNIO – E muito, muito; porque ainda hoje não te vieste sentar perto de mim como é teu costume para me contares uma dessas histórias bonitas que lês no jornal de Luís.
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CAROLINA – Casamento!... Eu, meu pai?... Nunca!
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ANTÔNIO – Então hás de ficar sempre solteira?
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MARGARIDA – Tu não podes achar um moço mais bem comportado e trabalhador.
 
ANTÔNIO (levantando-
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se.) – E que há de ser alguma cousa, porque tem vontade, e quando se mete em qualquer negócio vai adiante. Pobre como é, estuda mais do que muito doutor.
 
CAROLINA – Eu sei, meu pai. Tenho-lhe amizade, mas amor... não!
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ANTÔNIO – Não quero ouvir nada. (Luís entra pela porta do fundo e para) Domingo... está decidido.
 
CAROLINA – Ah! mãezinha, defenda sua filha!
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sua filha!
 
MARGARIDA – Que posso eu fazer, Carolina? Tu não conheces o gênio de teu pai! Quando teima...
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MARGARIDA – Ele não aceita.
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ANTÔNIO – Espera, Margarida!... Fala, Luís.
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CAROLINA (com altivez.) – Não me queixo, Luís.
 
LUÍS – Creio, minha prima; e se falo nisto é para mostrar que seu pai se iludiu;
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nunca tive a ideia de que um dia viesse a ser seu marido.
 
ANTÔNIO – Mas então explica-me essa história dos tipos.
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MARGARIDA – Com efeito quem traz assim a lembrança de um nome sempre na ideia...
 
LUÍS – Que fazer, Margarida? Por mais vontade e prudência que se tenha, ninguém pode arrancar o coração; e nos dias em que a dor o comprime, o nome que dorme dentro dele vem aos lábios, e nos trai, Tive naquele dia esse momento de fraqueza; felizmente não perturbou o sossego daquela (
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olha Carolina) que podia acusar-me. Agora mesmo ela ignora que era o seu nome...
 
ANTÔNIO – À vista disto decididamente não queres casar com tua prima?
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CAROLINA (à meia voz.) – Obrigada, Luís; sei que não mereço o seu amor.
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LUÍS (com expressão.) – Tem razão, Carolina; deve agradecer-me.
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ANTÔNIO – O motivo? Tu és quem podes dizer. (Vai a sair.)
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CAROLINA – Eu?...
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HELENA (entrando.) – Adeus, menina. (Para Margarida) Boa-noite.
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MARGARIDA – Boa-noite.
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HELENA – Bem cosidos estão eles; assim me assentem.
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MARGARIDA – Hão de assentar. Carolina cortou-os pelo molde da francesa.
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MARGARIDA – Não queres a minha?
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CAROLINA – Não; está muito cega.
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CAROLINA – Para quê?
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HELENA – Está apaixonado loucamente por você; quer falar-lhe; e não há senão este meio.
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===CENA VIII===
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AS MESMAS, MARGARIDA E ARAÚJO.
 
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MARGARIDA – Lavar e engomar hoje mesmo!
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ARAÚJO – Para as oito horas. Não quero perder nem uma quadrilha. As valsas pouco me importam...
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ARAÚJO – Então já não gosta das modistas francesas?
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HELENA – Cosem muito mal.
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HELENA (dando-lhe as costas.) – Ora, que me importa isto?
 
ARAÚJO – Separam-se das outras, para que não passe o mofo.
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se das outras, para que não passe o mofo.
 
HELENA – Que quer o senhor dizer?
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HELENA (à Carolina.) – Adeus, (Baixo) Veja lá! Oito horas já deram.
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CAROLINA – Sim!
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LUÍS – Não sai; quero te dar uma palavra.
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ARAÚJO – Depressa, que tenho hoje um baile.
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CAROLINA – Não me ofendi com a sua franqueza, Luís. (Com ironia) Reconheci apenas que não era digna de pertencer-lhe; outra merece o seu amor!
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LUÍS – Esse amor que eu confessei era uma mentira.
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CAROLINA – Mas eu não amo. (Com vivacidade.)
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LUÍS (sorrindo com tristeza.) – Seja franca!
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ARAÚJO (a Luís.) – Sabes quem é?
 
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===CENA XII===
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CAROLINA – Adeus.
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MARGARIDA – Tu não vens Carolina? (Sai.)
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RIBEIRO (tomando-lhe as mãos.) – Tu não me amas, Carolina! senão havias de ter confiança em mim; havias de sentir-te feliz como eu.
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CAROLINA – E o meu silêncio aqui não diz tudo? Não engano meu pai para falar-lhe?
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RIBEIRO – Sempre! sempre juntos!
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CAROLINA – Como?
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RIBEIRO – Adeus.
 
CAROLINA (suplicante.) – Até amanhã: Sim?
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Até amanhã: Sim?
 
RIBEIRO – Para sempre.
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CAROLINA (sorrindo.) – Eu?
 
RIBEIRO – Sim! Tu não nasceste para viver escondida nesta casa, espiando pelas frestas da rótula, e cosendo para a Cruz. Estas mãos não foram feitas para o trabalho, mas para serem beijadas como as mãos de uma rainha. (Beija-
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lhe as mãos.) Estes cabelos não devem ser presos por laços de fitas, mas por flores de diamantes (Tira os laços de fita e joga-os fora.) Só a cambraia e a seda podem roçar sem ofender-te essa pele acetinada.
 
CAROLINA (com faceirice.) – Mas eu sou pobre!
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RIREIRO – Para voltar no dia seguinte, no outro, e sempre.
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CAROLINA – Eu também tenho meus sonhos; mas não acredito neles.
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CAROLINA – Meu Deus!... E minha mãe!
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RIBEIRO (abraçando-a.) – Vem, Carolina!
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LUÍS (interrompendo-o.) – Está enganado! Se quisesse um escândalo e também uma vingança bastava-me uma palavra; bastava chamar seu pai. Mas eu sei que não é a força que dobra o coração; e temo que minha prima odeie algum dia em mim o homem que ela julgará autor de sua desgraça.
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RIBEIRO – O que deseja então?
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CAROLINA – Por piedade; cale-se meu primo!
 
LUÍS – Depois a beleza passará, porque a beleza passa depressa no meio das vigílias; então ficará só, sem amigos,
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sem amor, sem ilusões, sem esperanças: não terá para acompanhá-la, senão o remorso do passado.
 
RIBEIRO – Tu sabes que eu te amo, Carolina.
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RIBEIRO – Negar em tais casos é um dever. (À Carolina.) Adeus, seja feliz com ele.
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CAROLINA – Com ele!... Mas eu não o amo!
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(Vai à porta da esquerda. Ribeiro aproveita-se desse momento e sai levando Carolina nos braços. Luís volta-se com o rumor antes de fechar a porta, e vê a sala deserta.)
 
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===CENA XV===