As Asas de um Anjo/I: diferenças entre revisões

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Salão de um hotel. Pequenas mesas com toalhas e talheres à direita e à esquerda; no centro uma mesa redonda preparada para quatro pessoas. É cerca de meia-noite.
 
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PINHEIRO – Os melhores.
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HELENA – Eu cá não bebo senão champagne.
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===CENA II===
PINHEIRO E HELENA.
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HELENA – Como esteve maçante o teatro hoje!
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HELENA – Foi feliz; eu conheci o caixeiro de armarinho. (Pequena pausa.)
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PINHEIRO – Escuta, Helena; tenho uma cousa a dizer-te.
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PINHEIRO – Ora, deixa-te disso! Queres fazer de ciumenta! Que lembrança!...
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HELENA – Não julgue os outros por si.
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HELENA – Ah! nunca lhe falaste?
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PINHEIRO – Nunca; o Ribeiro não a deixa!
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PINHEIRO – Não sejas injusta!
 
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===CENA III===
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RIBEIRO – Alguma; mas além disso preciso recolher-me cedo.
 
CAROLINA – Pois eu previno-te que enquanto houver uma luz sobre a mesa e uma gota de vinho nos copos, não saio daqui. Tenho tantas vezes sonhado uma noite como esta, tenho esperado tanto por estas horas de prazer, que
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pretendo gozá-las até o último momento. Quero ver se a realidade corresponde à imaginação.
 
RIBEIRO – Está bem, Carolina; podes ficar o tempo que quiseres. Não te zangues por isso.
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RIBEIRO – Mas, Carolina, tu bem sabes que se eu te guardo para mim somente, se tenho ciúme do mundo, é porque te amo; sou avaro, confesso; sou avaro de um tesouro.
 
CAROLINA – Não entendo esses amores ocultos, que tem vergonha de se mostrarem; isto é bom para os velhos e os hipócritas. Amar é gozar da existência, a dois, é partilhar seus prazeres, sua felicidade. Que prazeres temos nós
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que vivemos aborrecidos um do outro? Que felicidade sentimos para darmo-nos mutuamente?
 
RIBEIRO – Estás hoje de mau humor.
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HELENA – Depois; não percas tempo.
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CAROLINA (suspirando.) – Já perdi dois anos!
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PINHEIRO – Faça antes outra cousa.
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CAROLINA – O quê?
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PINHEIRO – Me daria a ventura!
 
CAROLINA – Sim,
CAROLINA – Sim, mas ficaria o que sou. No momento em que lhe pertencesse, tornar-me-ia um traste, um objeto de luxo; em vez de viver para mim, seria eu que viveria para obedecer às suas vontades. Não no dia em que a escrava deixar o seu primeiro senhor, será para reaver a liberdade perdida.
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CAROLINA – Sim, mas ficaria o que sou. No momento em que lhe pertencesse, tornar-me-ia um traste, um objeto de luxo; em vez de viver para mim, seria eu que viveria para obedecer às suas vontades. Não no dia em que a escrava deixar o seu primeiro senhor, será para reaver a liberdade perdida.
 
PINHEIRO – Não é livre então? Não pode amar aquele que preferir?
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CAROLINA – Não prometo nada. Vamos cear. (Erguendo-se.) Anda Helena! Ribeiro!... Deixem-se de conversar agora.
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PINHEIRO – José, serve-nos.
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PINHEIRO – Não faças cerimônia.
 
MENESES – Tu é que estás usando de etiquetas. Onde viste convidar
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um quinto parceiro para jogar uma partida de voltarete?
 
RIBEIRO – Ah! É por isso que não aceitas?
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LUÍS – Alguma tua apaixonada.
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ARAÚJO – Não tenho... Uma pessoa que te fez bastante mal...
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ARAÚJO – Estive?
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MENESES – Que tal correu a Favorita?
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CAROLINA – Não me despreze, Luís!
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LUÍS – Não a conheço.
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JOSÉ – O que há de ser?
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ARAÚJO – O que vier mais depressa.
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ARAÚJO – Amarela!
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(Entra Vieirinha.)
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VIEIRINHA (alisando o bigode.) – És curioso!
 
PINHEIRO – Vieirinha! (Araújo escolhe um jornal no aparador.)
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escolhe um jornal no aparador.)
 
VIEIRINHA – Adeus, Pinheiro!... Mas como está isto florido!
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ARAÚJO – Então é um fátuo?
 
MENESES – Pois não! É um homem feliz; vai a um teatro e a um baile; acha bonita uma mulher, solteira, viúva, ou
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casada; persuade-se que ela o ama; e no dia seguinte com a maior boa fé revela esse segredo a alguns amigos bastante discretos para só contarem aos seus conhecidos.
 
ARAÚJO – E é nisso que se ocupam?
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MENESES – Qual é a saúde?
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CAROLINA – À mulher que ama o prazer.
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MENESES – Se for uma história de amor, está visto que hás de ser tu o meu herói.
 
LUÍS – É uma história de amor. Passou-se à dois anos.
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de amor. Passou-se à dois anos.
 
PINHEIRO – Aqui na Corte?
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VIEIRINHA – Com hipes e hurras.
 
CAROLINA – Por quê?... A história do senhor é tão bonita.
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A história do senhor é tão bonita.
 
VIEIRINHA – Lá isso, não se pode negar! É um perfeito romance.
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LUÍS – Ele amava essa moça, mas não era amado; nunca obteria dela o menor favor e respeitava-a muito para pedi-lo. Lembrou-se que deixando-a fugir, chegaria o dia em que com algumas notas do banco compraria a afeição que não pôde alcançar em troca da sua vida.
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ARAÚJO – Como podes mentir assim!
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CAROLINA – Mas falta-lhe o fim.
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MENESES – Ah! tem um fim.
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MENESES – Não.
 
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===CENA VIII===
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CAROLINA – Deixe-o entrar; talvez nos divirta um pouco. Estou triste!
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JOSÉ – Mas é capaz de quebrar-me a louça.
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MENESES – Achar o quê?
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ANTÔNIO – Não sabe? Upa!... Pois não sabe?... Eu não bebo porque goste do vinho... Já me enjoa.
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ANTÔNIO – Hein?...
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MENESES – A virtude...
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MENESES – Então sua filha...
 
ANTÔNIO – Roubaram
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e nem ao menos me deram o que ela valia! Velhacos... Os sujeitinhos hoje estão espertos!
 
MENESES – Pobre homem!
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CAROLINA – Não!
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ANTÔNIO – Tu és minha filha!
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ANTÔNIO – Esqueceste até o nome de tua mãe?
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CAROLINA – Esqueci tudo.
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ARAÚJO – Nem lhe responde!
 
ANTÔNIO – Pois sim, fica; se algum dia me encontrares no teu caminho, se o teu carro atirar-me lama à cara, se os teus cavalos
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me pisarem, não me olhes, não me reconheças. Vê o que tu és, que um miserável bêbado, que anda caindo pelas ruas, tem vergonha de passar por teu pai!
 
LUÍS – Espera, Antônio! Talvez ainda não esteja tudo perdido! Um último esforço! Abre os braços à tua filha!... Olha! Olha! Não vês que ela chora?