As Asas de um Anjo/II: diferenças entre revisões

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Sala em casa de Helena.
 
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MENESES – Como muitas famílias não a tem; mas assim deve ser quando os maridos roubam à suas mulheres, e os pais a seus filhos para alimentarem essas parasitas da sociedade.
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LUÍS – Diz bem: a culpa não é delas.
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LUÍS – Por que não confessas a verdadeira causa? O Sr. Meneses é teu amigo, e embora só há pouco tempo tivesse o prazer de conhecê-lo, confio bastante no seu caráter para falar-lhe com franqueza.
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ARAÚJO – É o melhor; assim me poupas o descrédito de inventar uma paixão bem extravagante.
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MENESES – Pensa bem, Sr. Viana.
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LUÍS – Para isso porém é preciso encontrá-la só um instante; soube que costuma vir à casa desta mulher que a perdeu e de quem é amiga. Araújo disse-me que o senhor a conhecia; e fomos imediatamente procurá-lo. Eis o verdadeiro motivo do incômodo que lhe demos; o Sr. Meneses é homem para o compreender e apreciar.
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LUÍS – Que miséria, meu Deus!
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MENESES – Quem vê de longe este mundo não compreende o que se passa nele, e não sabe até onde chega a degeneração da raça humana. O oriente desses astros opacos é o luxo; e o ocaso é a miséria. Começam vendendo a virtude; vendem depois a sua beleza, a sua mocidade, a sua alma; quando o vício lhes traz a velhice prematura, não tendo já que vender, vendem o mesmo vício e fazem-se instrumentos de corrupção. Quantas não acabam vendendo suas filhas para se alimentarem na desgraça!
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MENESES – Adeus. Como vais?
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VIEIRINHA – Bem, obrigado.
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LUÍS – Sim, senhora.
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HELENA – Pois quando quiser...
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ARAÚJO – O Vieirinha pertence a esta última classe.
 
MENESES – É o tipo
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mais perfeito. Em todas estas casas encontra-se uma variedade do gênero Vieirinha.
 
ARAÚJO – Mas por que razão suportam elas esse animal? Será por amor?...
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ARAÚJO – Ah! De amante passou a confidente?
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MENESES – É verdade. (Acende um charuto com fósforos que encontra no aparador.) Tu ficas?
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HELENA – Era uma cousa tão simples!
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MENESES – Fico bastante satisfeito; é sinal de que a minha apresentação valeu um pouco.
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===CENA IV===
HELENA E VIEIRINHA.
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VIEIRINHA – Almocei bem! O Meneses já foi?
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VIEIRINHA – Por quê?
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HELENA – Não são horas de dormir.
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HELENA – Conto contigo.
 
VIEIRINHA – Vai só.
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só.
 
HELENA – Não tem graça!
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VIEIRINHA – Nem o último. Mas esse tem uma irmã feia e rica, que pode ser um excelente casamento. Se não lhe pago fico desacreditado na família.
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HELENA – Bem feito! Só assim deixarás o maldito vício do jogo.
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VIEIRINHA (abraçando-a.) – Está dito!... Tu és uma flor, Helena.
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HELENA – Sim! Nem a tempo os teus cumprimentos; nem fazes caso de mim.
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CAROLINA – Hesitei antes de dar este passo; não sei que pressentimento me apertava o coração, e me dizia que eu procedia mal. Foi o primeiro homem a quem amei neste mundo; é o pai de minha filhinha. Parecia-me que devia acompanhá-lo sempre!
 
HELENA – Se ele não te abandonasse mais dia, menos dia.
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não te abandonasse mais dia, menos dia.
 
CAROLINA – Não há de ter este trabalho; hoje resolvi-me; esta existência pesa-me. A que horas vem o Pinheiro?
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CAROLINA – São brilhantes?...
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HELENA – Verdadeiros... Mas, Carolina, tenho uma notícia a dar-te.
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HELENA – Cuidas que por uma mulher preferir outro homem, aquele que ela desprezou deixa de amá-la? Como te enganas!
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CAROLINA – Então acreditas?...
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HELENA – Que mal faz que tu lhe fales? Se ele te ofender entra para dentro; se quiser amar-te faz o que entenderes; mas não esqueças o Pinheiro.
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CAROLINA – Sei o que devo fazer.
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LUÍS – A repreensão é justa, eu a mereço. Mas não creia que venho ainda lembrar-lhe um passado que todos devemos esquecer, e acusá-la de uma falta de que outros talvez sejam mais culpados. Venho falar-lhe como um irmão; quer-me ouvir?
 
CAROLINA – Fale; não tenha receio.
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receio.
 
LUÍS – Todos nós, Carolina, homens ou mulheres, velhos ou moços, todos, sem exceção, temos faltas em nossa vida; todos estamos sujeitos a cometer um erro e a praticar uma ação má. Uns porém cegam-se ao ponto de não verem o caminho que seguem; outros arrependem-se a tempo. Para estes o mal não é senão um exemplo e uma lição; ensina a apreciar a virtude que se desprezou em um momento de desvario. Estes merecem, não só o perdão, porém muitas vezes a admiração que excita a sua coragem.
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LUÍS – Ao contrário, será uma regeneração. Em vez dessa paixão criminosa que a roubou a seus pais, ela pode achar no seio da sua família o amor calmo que purifique o passado e lhe faça esquecer a sua falta.
 
CAROLINA – É verdade então, Luís?... Helena não me enganou!
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então, Luís?... Helena não me enganou!
 
LUÍS – O quê?... Não sei!...
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CAROLINA – Há de saber.
 
LUÍS – Carolina, eu lhe peço, não dê semelhante passo; ele é ainda mais grave do que o primeiro. Compreendo que
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uma menina inexperiente, sacrifique-se à afeição de um homem; mas nada justifica a mulher que renega aquele a quem deu a sua vida.
 
CAROLINA – Então não posso deixá-lo!
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LUÍS – Diga, Carolina! Eu farei tudo...
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CAROLINA – Tudo!...
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CAROLINA – Não é de bom gosto?
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LUÍS – Muito lindo!
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CAROLINA – Eu o espero.
 
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===CENA VIII===
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CAROLINA – Sei que incomoda a falta de um objeto com o qual estamos habituados! Mas paciência... Nem sempre a moça tímida havia de sujeitar-se ao jugo que lhe impuseram.
 
RIBEIRO – É a segunda vez que me fazes esta exprobação. Não me compreendes! Se eu não te amasse, teria realizado os teus sonhos; gozaria um momento contigo dessa vida
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louca e extravagante que te fascina, e depois te abandonaria ao acaso. Mas Deus puniu-me com a minha própria falta; quis seduzir-te e amei-te. Não sabes o que tenho sofrido... em que luta vivo com minha família!
 
CAROLINA – Neste ponto me parece que se algum de nós deve ao outro, não é decerto aquela que sacrificou a sua existência. Mas não cuide que me queixo; aceito o meu destino! Fui eu que assim o quis...
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RIBEIRO – Uma palavra, Carolina!...
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CAROLINA – Que quer ainda, senhor?
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LUÍS – Carolina!...
 
CAROLINA – Já que o amor não é possível para mim, prefiro a liberdade!... Quero ver à meus pés um por um todos esses homens orgulhosos que tanto blasonam de probos e honestos!... Aí curvando a fronte ao vício, o marido trairá
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sua esposa, o filho abandonará sua família, o pai esquecerá os seus deveres para mendigar um sorriso. Porque no fim de contas, virtude, honra, glória, tudo se abate com um olhar, e roja diante de um vestido. (A Pinheiro.) Meu carro?...
 
PINHEIRO – Está na porta.
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HELENA – Sr. Ribeiro, seja prudente!
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PINHEIRO – É o que me faltava ver! Que o senhor queira levar o ridículo a este ponto! Tem algum direito sobre ela?
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LUÍS – Cala-te!
 
MARGARIDA – Carolina!... Não falas à tua mãe?... Não me queres
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conhecer?... Depois de tanto tempo!... (Pausa) Tens medo de mim?... Não penses que vim repreender-te... acusar-te! Já não tenho forças!... Vim pedir-te que me restituas a filha que perdi! Queria ver-te antes de morrer... Eu te perdoo tudo... Não tenho que perdoar... Mas fala-me... Olha-me ao menos!... (Carolina volta-se involuntariamente e confusa) Mais perto! Quase não te vejo!... As lágrimas cegam... e tenho chorado tanto!...
 
CAROLINA – Minha mãe!...
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MARGARIDA – Para a nossa casa; hás de achá-la bem mudada. Mas tudo voltará ao que era. Estando tu lá, a alegria entrará de novo; seremos muito felizes, eu te prometo.
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CAROLINA – Está tão fraca!
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CAROLINA (no espelho.) – Não! Não tenho coragem!
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MARGARIDA – Que dizes?...