O Coruja/I/IV: diferenças entre revisões

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Não lhe perdoavam ser ao mesmo tempo tão rico, tão formoso, tão inteligente e tão gentilmente vadio. Além de tudo isso, como se tanto já não bastava, havia ainda para o fazer malquisto dos companheiros aquela escandalosa proteção que lhe votavam os professores, apesar da formidável impertinência do rapaz.
 
Em verdade a todos falava. Teobaldo com uma sobranceria ofensiva e provocadora. No seu modo de olhar, no tom da sua voz, no desdém de seus gestos, sentia-se a uma légua de distância o hábito de mandar e ser obedecido.
 
Esta constante arrogância, levava ao supremo grau, afastou de junto dele todos os seus condiscípulos. Mas o orgulhoso não parecia impressionar-se com o isolamento a que o condenavam as suas maneiras, e, se o sentia, não deixava transparecer em nenhum dos gestos a menor sombra de desgosto.
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André fez um gesto com a cabeça, equivalente a estas palavras: "Não tem que agradecer, porque o mesmo faria por qualquer criatura".
 
— Se o senhor fazia parte do grupo que insultei, volveu Teobaldo, peço-lhe desculpa.
 
— Não fazia, respondeu o outro, dispondo-se a entregar-se de corpo e alma à sua ingrata flauta.
Linha 78:
Teobaldo correu a receber quem batia, e soltou logo uma exclamação de prazer:
 
— Oh! Você, Caetano! Como estão todos lá eem casa? Mamãe está melhor? E papai, papai que faz que não vem me ver, como prometeu?
 
Caetano, em vez de responder, pousou no chão uma cesta que trazia, e abriu os braços para o menino, deixa dodeixando correr pelo sorriso de seu rosto duas lágrimas de ternura que se lhe escapavam dos olhos.
 
Era um homem de meia idade, alto, magro, de cabelos grisalhos, à escovinha, cara toda raspada; e tão simpático, tão bom de fisionomia, que a gente gostava dele à primeira vista.
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Caetano entrara muito criança para o serviço do avô de Teobaldo, pouco antes do nascimento do pai deste, nunca mais abandonou essa família, da qual mais adiante teremos de falar, e por onde se poderão avaliar os laços de velha amizade que ligavam aquele respeitoso criado ao neto de seu primeiro amo.
 
Por enquanto diremos apenas que o bom Caetano. viu crescer ao seu lado o pai de Teobaldo; que o acompanhou tanto nas suas primeiras correrias de rapaz, como mais tarde nas suas aventuras políticas durante as revoluções de Minas; e que a intimidade entre esses dois companheiros por tal forma os identificou, que afinal criado era já consultado e ouvido como um verdadeiro membro e amigo da família a que se dedicara.
 
— Mas, Caetano, que diabo veio você fazer aqui? perguntou Teobaldo. Há novidade lá por casa? Fale; Mamãe piorou?
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Quando Salustiano veio abrir-lhes a porta à hora do jantar, encontrou Teobaldo de pé, a discursar em voz alta, a gesticular vivamente, defronte do outro que, estendido na cadeira, toscanejava meio tonto.
 
— Então? exclamou o homem das barbas longas. -— Que significa isto?
 
— Isto quê, ó meu cara de quebra-nozes? interrogou Teobaldo soltando-lhe uma palmada na barriga.
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E Teobaldo, com sua própria mão, meteu-lhe um doce na boca.
 
— Você é o diabo! considerou Salustiano, já sem nenhum sinal de austeridade. E, erguendo a garrafa à altura dos olhos: -— Pois os senhores dois beberam mais de meia garrafa de vinho? !.
 
André ao ouvir isto, começou a rir a bandeiras despregadas, o que fazia talvez pela vez primeira em sua vida.
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Pelo menos, o fato era tão estranho que tanto Salustiano como Teobaldo caíram também na gargalhada.
 
— E não é que estão ambos no gole?... disse o homem, a cheirar a boca da garrafa e, sem lhe resistir ao bom cheiro, despejou na própria o vinho que restava.
 
— Que tal a pinga? perguntou Teobaldo.