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Pelo corredor viam-se entrar e sair negros e galegos carregados de móveis; ao passo que um formigar de homens sem bigode, cabelo curto, de jaqueta, sem gravata e sem colete, enchia todos os aposentos da casa.
— Vinte mil réis pelo espelho! É de graça, meus senhores! Vinte e cinco mil réis! Ninguém dá mais?
Teobaldo, com esta música a perseguir-lhe os ouvidos, atravessou a sala e depois os quartos, até encontrar o criado que o recebera naquela noite do Lírico.
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Não parecia a mesma, tal era a transformarão porque passara; até a sua própria fisionomia parecia outra.
Trazia um singelo vestidinho de chita, apertado à cintura, que mal deixava perceber uma pequena parte do colo; os braços, porém, mostravam-se livres por entre a largura das mangas e o cabelo, enrodilhado sobre a nuca e seguro por um simples pente de tartaruga, já lhe não caía na testa como dantes, mas ao contrário dividia-se-lhe em dois bandós naturais fazendo ver uma fronte cor de mármore, cujos sutis reflexos de ouro mais pálida a
Por únicas jóias trazia ao pescoço a medalha que lhe dera Teobaldo e no dedo anular da mão esquerda uma aliança de casamento; em vez de caprichosos sapatos de peito aberto e grande salto, que ela até aí usava, tinha agora uma honesta botina, preta, de duraque, apenas guarnecida por um laço de fita da mesma cor.
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Teobaldo olhava para tudo aquilo, como se assistisse à representação de uma comédia; afigurava-se-lhe que, uma vez caído o pano do teatro, Leonília tornaria logo ao primitivo estado.
— Então? perguntou esta,
— É que ainda não voltei a mim, filha. Estou pasmo!
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— É admirável! respondeu o rapaz.
— Ora, prosseguiu Leonília, o Gabardan há muito que me fala em entrar para a casa dele; hoje lhe mandei dizer que aceito e, do princípio do mês que vem
— De sorte que tencionas fazer uma completa regeneração...
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— Não me conheces!
— Oh! se conheço!... Vocês, pobres filhas do
— Cala-te!
— Ah! bem sabes, minha Leonília, que as recaídas são sempre muito mais perigosas do que a própria moléstia!...
— És cruel!
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— Nem no meu amor?
— Nesse acredito. Não que ele dure muito tempo, mas acredito que ele exista agora. Toda a mulher ama sempre; algumas dedicam-se a um só homem durante a vida
— Pois então no amor que te consagro, cujas provas reais acabo de dar-te,
— Não digo isso, filha! há um mérito relativo no que acabas de fazer; apenas sustento que o amor, qualquer que ele seja, não me causa entusiasmo nem admiração de nenhuma espécie. Se não me amasses, amarias a outro; amas-me, não porque eu seja forte, inteligente ou bom
— Enganas-te! Amo-te, não pelo simples fato de ser mulher
— Logo, se eu fosse feio, estúpido e fraco, não me amarias?
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— Não, decerto.
— E é esse amor que entendes tu, deve me entusiasmar?... Tem graça
— Por que?
— Nada conheço mais egoístico, mais buxo e mesquinho do que semelhante amor! No fim de contas não é a mim que amas, é a ti própria; não é a mim a quem pretendes contentar, é ao teu próprio gosto, e ao teu próprio coração! Se te sacrificas por mim, se me preferes a tudo e a todos, não é porque eu goze muito com isso, mas sim porque tudo isso é necessário para a tua felicidade; e se me desejas o bem, é ainda para que a minha ventura se reflita sobre ti; é para que tu a possas desfrutar, para que a possas saborear com delícia!
— E conheces porventura algum amor que não esteja nessas condições? perguntou Leonília. Olha em
— O amor materno... respondeu Teobaldo, transpondo com a amante o portão da chácara e indo assentar
— Mas só ama o próprio, o seu,
— E o amor filial?
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