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Aguiar estendeu as mãos uma contra a outra, em sinal de casamento e fez um trejeito com os olhos.
Casar? ele? exclamou Leonília empalidecendo repentinamente.
— Está tratando disso e é natural que a consiga se lhe não cortarem os planos..
— Eu?! disse ela, afetando indiferença.
Mas puxou logo o lenço da algibeira, escondeu os olhos e atirou-se depois sobre o divã, soluçando aflita.
— Bom, bom! pensou o rapaz
E foi assentar-se ao lado da cortesã, para lhe expor o caso minuciosamente. Soprou-lhe em voz baixa o nome da noiva, o número da casa do tio, falou sobre este e sobre Mme. de Nangis e terminou dando parte do novo emprego de Teobaldo.
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— Se aquele patife continuar mais algum tempo no escritório, segredou ele, estará tudo perdido! É preciso antes de mais nada arrancá-lo dali. Conheço-lhe as manhas, é capaz de enfiar um camelo pelo ouvido de uma agulha!... Trata de evitar o casamento e podes, além do resto, contar com uma boa recompensa de minha parte. Adeus.
Leonília deixou-o sair, sem lhe voltar o rosto, nem lhe dar uma palavra. Só alguns minutos depois, ergueu
— Miserável! balbuciou ela depois de longa concentração.
E desde então principiou Leonília a fazer planos de vingança, a imaginar maldades e represálias contra o amante, disposta a não lhe deixar transparecer o menor indício das suas intenções; mas, na primeira ocasião em que Teobaldo esteve ao seu lado, ela não se pode conter e, entre soluços, deixou rolar contra ele a formidável tempestade de ciúmes que a tanto custo reprimia.
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— Mas, filha, é preciso ser razoável!... Querias então que eu fosse eternamente o teu amant de coeur?... querias que eu não tivesse outras aspirações, outros ideais, senão representar a indigna e falsa posição que represento aqui nesta casa, que não é paga só por mim?...
Oh! Já tive ocasião de provar-te que não ligo importância a tudo isto
— Sim, mas não compreendes que tenho aspirações e prezo o meu futuro? não vês que seria loucura de tua parte contar comigo para toda a vida?... Oh! às vezes nem me pareces uma mulher de espírito!
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— Dize antes que lhe cobiças o dote; serias, ao menos, mais delicado para comigo.
— Bem sabes que eu não minto...
— Quando não te faz conta!...
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— Não! Isso seria falta de franqueza, mas nunca mentira.
—
— Eu nunca fiz semelhante coisa! Não fui eu quem te iludiu, foste tu própria!
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— É porque és um cínico!
— Não, é porque "amor" nada exprime, é um palavrão sem sentido; fala-me em simpatia, em gostar de ver alguém e senti-lo ao seu lado; fala-me na estima e no apreço em que temos
— Vais me oferecer a tua amizade. Aposto.
— Não te posso oferecer uma coisa que dispões há muito tempo... O que eu desejo é apelar justamente para essa amizade e pedir-te em nome dela que não sejas um obstáculo ao meu futuro e
— Não te compreendo.
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— Então, que temos? perguntou logo que se viu a sós com Teobaldo na rua.
— André, preciso que me prestes um serviço, um verdadeiro serviço de amigo: Leonília quer desmanchar o meu casamento; é necessário
— Ela ameaçou-te de fazer qualquer coisa?
— Nem só ameaçou, como até já foi ao escritório do comendador procurá-lo!
— Falou-lhe?
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— Não porque felizmente ele não estava em casa, mas volta amanhã sem dúvida ou talvez ainda hoje mesmo, e tu bem sabes que, se ela fala ao comendador, estou perdido! e adeus casamento, adeus futuro, adeus tudo!
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— Sim, imediatamente! Olha! mete-te no tílburi e vai, anda!
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Coruja fez ainda algumas perguntas, tomou certas informações e afinal seguiu para a casa de Leonília.
Veio ela própria
Só então o pobre André avaliou o alcance do seu compromisso; achou a comissão mais difícil do que julgara e a si próprio mais fraco do que supunha; mas vencendo o acanhamento, principiou sem transição:
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— Ora!
— E que talvez a senhora não esteja bem informada, as coisas nunca se acharam para ele tão ruins! Teobaldo está em uma situação crítica, muito
— Outro tanto não faz ele a meu respeito.
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O Coruja principiava a comover-se.
— Mas... prosseguiu Leonília, o senhor no fim de contas tem toda a razão: meu amor não é como o amor das outras pessoas, o meu amor, em vez de elevar, humilha e rebaixa! Quanto mais delicada, quanto mais escrava e amiga me fizer de Teobaldo, tanto mais o prejudico! Tem toda a razão!
E Leonília rompeu em soluços.
— Não se mortifique... aconselhou o Coruja, sem achar o que dizer.
— Ah! sou muito, muito desgraçada! Ninguém poderá calcular o quanto sofre uma mulher nas minhas condições, quando ela não sabe ser quem é e quer se dar à fantasia de revoltar-se contra o seu próprio meio! Por todos os lados sempre a mesma lama: o que se come, o que se veste, o que se gasta, é tudo prostituição; nada que não tenha a mancha de podre! E no entanto uma coisa boa e pura me restava ainda no meio de tanta imundícia: era o meu amor por Teobaldo; esse não tinha sido contaminado pelo resto... Quando eu me sentia aviltada por tudo e por todos, refugiava-me nele, lembrava-me de que o amo sem interesses mesquinhos, sem hipocrisias, nem baixezas; e esta idéia me fazia por instantes esquecer de mim mesma, esta idéia como que me transformava aos meus próprios olhos, e eu me supunha menos só no mundo e menos prostituta! Agora, querem arrebatá-lo; querem tomar-me o único pretexto que eu tinha para viver... pois levem-no! Mas, oh! por quem são! deixem-me morrer primeiro! Não há de custar tanto!
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— Não pense nisso!
— E do que me serve a vida sem Teobaldo?...
— E quem lhe disse que ele não olhará pela senhora?... Por que o há de supor tão mau?
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— Sim, creio, e é justamente por esse motivo que eu nada esperarei dele depois do casamento. Uma mulher aceita a compaixão seja de quem for e pelo que for, menos do seu amado, em substituição da ternura.
— Pois se lhe repugna aceitá-la das mãos dele, pode
Leonília, ao ouvir isto, voltou-se de todo para o Coruja e mediu-o em
— O senhor tenciona tomar-me à sua conta?... perguntou ela surpresa. Tenciona fazer-se meu amante?
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Leonília foi acompanhá-lo até à porta e o Coruja saiu para ir ter com Teobaldo.
— Bonito! exclamou este, quando o amigo lhe prestou contas da sua comissão
— Como assim?
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— Há de se lhe dar um jeito! Não te aflijas.
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— Arranja-se...
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