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Fazia dolorosa impressão ver sair todas as manhãs, pelos fundos da chácara de Teobaldo, aquele vulto sombrio todo envolvido em um velho sobretudo, a tossir esfalfado de trabalho e sem querer incomodar com a sua tosse os criados que ainda dormiam.
A nova existência do amigo como que o fizera ainda mais triste e mais só. Dantes tinham os dois sobeja ocasião para estar juntos, para se falarem, para trocarem entre si as suas
Demais, para que iludir-se? Teobaldo não fazia grande empenho em apresentá-lo aos seus amigos, chegava até em presença destes a tratá-lo com uma certa frieza.
Isto não quer dizer que Teobaldo agora estimava menos o Coruja; ao contrário
A borboleta, desde que lhe saem as asas, não gosta de ir ter com as antigas companheiras que se arrastam no chão.
— Não é dele a culpa... considerava André, sempre disposto a perdoar.
E, a contragosto, fazia-se mais e mais retirado e macambúzio.
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— É uma imagem... respondeu André.
— Entretanto, ela se queixa de ti...
— De mim?
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— Sim, mas o que eu não admito justamente é que, para ti, minha mulher faça parte de todo o mundo! Quero que ela participe da exceção aberta para mim, que a trates pelo modo por que me tratas.
— Não é por falta de vontade, crê; mas não está em minhas mãos!
— És um tipo!
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— Não, seria ao menos compreendido; porque não sei que diabo tenho eu comigo, que ninguém além de ti percebe as minhas intenções ou acredita nos meus atos. Às vezes, quero ser meigo, quero mostrar que não estou contrariado, quero manifestar a minha simpatia ou o meu entusiasmo por alguém ou por alguma coisa e, em vez disso, consigo apenas convencer a todos de que estou aborrecido e que só desejo que ninguém se aproxime de mim, que não me fale, que não me incomode! E, todavia, não sou mau e todo o meu empenho é ser melhor do que sou.
— Ser melhor do que és?... Oh! então é que serias deveras um tipo insuportável! Acredita, meu bom Coruja, que o teu defeito capital é a tua extrema bondade. A maior parte dos homens não te pode tomar a sério, porque não te compreende e porque te supõe um louco. Tens atravessado a existência a espalhar pelo chão, à toa, sem contar as sementes, punhados e punhados de boas ações. Pois hein! Qual foi de todas essas sementes a que vingou?
— Oh! não me pareces o mesmo; nem acredito que abraces tão cínicas teorias; são falsas, nunca te pertenceram!
— Enganas-te, meu visionário, essas teorias foram sempre as minhas e nunca me conheceste outra, desde que caminhamos juntos por entre a enorme corja de nossos semelhantes; a diferença única é que dantes elas se manifestavam por outro modo, visto que eu me achava ainda no período da vida em que todo o homem, por pior que seja, tem no coração uma grande dose de altruísmo e belas aspirações... Eram efeitos dos vinte anos! Acredita, porém, que todas as aparentes generosidades que me viste praticar, todo o meu desprendimento por umas tantas coisas, todas as minhas abnegações, todas as minhas boas obras, todos os meus atos de heroísmo, e tudo que fiz e faço de nobre, de superior e digno, tudo foi e é feito para que eu melhor viva entre os meus semelhantes, a quem detesto, à exceção de ti e de Branca. Detesto-os, mas faço-me amar por eles; sei que me humilhando serei pisado; então, nem só me humilho, como ainda os rebaixo quanto posso! E contigo sucede justamente o contrário: amas todo o mundo e não consegues te fazer amar por ninguém. Humilhas-te por bondade; e eles respondem a isso
Coruja ficou a refletir por alguns instantes, e depois disse:
— Estava bem longe de esperar de tua boca tais
— E sou efetivamente; mas tu, repito, não és um homem e nem eu te falaria com toda esta franqueza se tivesses alguma coisa de comum com eles. Não me arrependo de haver aceitado os muitos obséquios que recebi de tuas mãos; juro-te, porém, que jamais terias ocasião de os praticar se eu em qualquer tempo chegasse a descobrir em ti a intenção de me fazeres grato ou reconhecido. Aceitava-os, confesso, porque tu, pela tua excepcional bondade, entendias que eu, só com
— E era.
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— Não, em verdade não era; mas era como se assim fosse, porque tu assim o entendias.
— E o que não serei eu capaz de fazer para continuar a ser teu amigo?... Só a
— Exageras! respondeu Teobaldo. E para o que, vais ver!
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— Verás, disse o outro, e acrescentou para um criado que entrava:
— Pergunte
— Não faças semelhante coisa... exclamou André, entre suplicante e repreensivo, e muito sobressaltado:
— Suporá que endoideceste se continuas a fazer esses trejeitos e esses gatimanhos.
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Branca obedeceu e ele acrescentou:
— Muito bem. Agora tu, Coruja, senta-te deste outro lado.
Coruja adiantou-se muito vermelho procurando sorrir.
— Ora muito bem! repetiu aquele dirigindo-se à esposa; sabes para que te chamei? Para acabarmos por uma vez com
— Ora! sempre tens umas brincadeiras!... resmungou André, muito atrapalhado; isto é coisa que se faça?...
— Pois eu, atalhou Branca sorrindo, não desgostei da brincadeira, porque receava, com efeito, que o Sr. Miranda...
— Chama-lhe Coruja, interrompeu o marido.
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— Que o Sr. Miranda, continuou Branca, houvesse antipatizado comigo.
— Oh! minha senhora ... Por amor de Deus... Longe de mim semelhante
— Então! fez Teobaldo.
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