O Coruja/III/XX: diferenças entre revisões

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Se em casa de Teobaldo corriam as coisas deste modo, em casa de D. Margarida elas não iam melhor. Inez tinha agora um filhínhofilhinho, e o alferes, depois do casamento, piorara de gênio e de costumes.
 
Se ele até aí era já despejado de maneiras, era agora nada menos do que brutal, e, se dantes costumava beber nos dias de folga, agora se emborrachava toda a vez em que se lhe oferecia ocasião.
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E o demônio do homem, quando se punha no gole, ficava que ninguém podia com ele: muito grosseiro, muito exigente, tanto com a mulher como com a sogra, e por tal forma ameaçador que fazia tremer as duas míseras criaturas.
 
Nos sábados à noite era certo o chinfrim em casa de D. Margarida e, como por experiência já sabiam que o Picuinha, quando entrava bêbado, reduzia a cacos quanta loucalouça lhe caía nas mãos, mal o pressentiam de longe, tratavam de esconder às pressas nos armários tudo o que fosse de quebrar.
 
Ele chegava resmungando e pedia logo alguma coisa para beber; elas negavam, e principiava então a grande luta, cujo desfecho era muita bordoada e uma berraria dos diabos, porque tanto a velha praguejava, como chorava Inez e berrava o pequeno.
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E, quando Inez fazia recriminações ao marido, este lhe atirava logo em rosto com o nome do outro:
 
— E, dizia ele, com a sua voz cavernosa de ébrio, você nunca devia ter-se casado senão com aquele coxo! Estavam mesmo talhados um para o outro! Asno fui eu em meter-me neste inferno e ligar-me a semelhante gentinha! Não solto um espirro, que logo não me queiram tomar contas porque espirrei - é o que se pode chamar "não ser senhor do seu nariz!" Aqui todos querem mandar sobre mim - é mulher, é sogra, é o diabo! Ah! mas um dia cismo deveras e vai tudo raso, faço uma tal estralada que vai tudo de pernas para o ar! Mexam muito comigo e verão!
 
E, depois de sacudir os braços e repelir do pulmão o ar alcoolizado:
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Picuinha ficou muito impressionado com o que ouviu do médico, e parecia seriamente resolvido a mudar de vida.
 
Principiou arranjando mês e meio de licença e durante este tempo submeteu-se ao mais rigoroso tratamento; logo, porém, que se achou com a saúde mais garantida, foi aos poucos recaindo nos seus antigos hábitos; e então, de cada bebedeira que apanhava, era--lhe preciso ficar em casa dois, três dias, prostrado, muito irascível, muito nervoso, a beber caldos, sem poder suportar no estômago um bocado de pão.
 
Por estas crises tornava-se tão insuportável à mulher e à sogra, que as duas já pediam a Deus que o levasse por uma vez.
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Também, agora não precisava de mais para aprontar-se; uma dose pela manhã, antes de entrar no serviço; outra à tarde, ao deixá-lo, e ninguém o via senão ébrio.
 
Os superiores começaram, pois, a repreendê-lo com mais freqüênciafrequência e já o ameaçavam com uma queixa ao chefe; na repartição diziam todos que, se ele há muito não estava na rua, era simplesmente porque o comandante tinha pena de deixar aos paus um pobre diabo com a mulher e filhos.
 
Não obstante, depois de mais algumas crises como a que o tomou pela primeira vez, o Picuinha ficou irremediavelmente perdido e incapaz de todo e qualquer serviço. Estava até meio idiota e o corpo tremia-lhe todo como o de um velho de cem anos.