Espumas Flutuantes (1913)/Quem dá aos pobres, empresta a Deus: diferenças entre revisões

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|obra = Quem dá aos pobres, empresta a Deus
|autor = Castro Alves
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Eu, Que a pobreza de meus pobres cantos
Dei aos heróis-aos miseráveis grandes&mdash;
Eu, que sou cego, &mdash; mas só peço luzes...
Que sou pequeno, &mdash; mas só fito os Andes....
Canto nest'hora, como o bardo antigo
 
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Das priscas eras, que bem longe vão,
O grande nada dos heróis, que dormem
Do vasto pampa no funéreo chão...
Duas grandezas neste instante cruzam-se!
Duas realezas hoje aqui se abraçam!...
Uma-é um livro laureado em luzes...
 
== Notas ==
Outra&mdash; uma espada, onde os lauréis se enlaçam.
<references/>
Nem cora o livro de ombrear coto sabre...
Nem cora o sabre de chamá-lo irmão...
Quando em loureiros se biparte o gládio
Do vasto pampa no funéreo chão.
E foram grandes teus heróis, ó pátria,
 
&mdash; Mulher fecunda, que não cria escravos &mdash;
Que ao trom da guerra soluçaste aos filhos:
"Parti &mdash; soldados, mas voltei-me &mdash; bravos!
E qual Moema desgrenhada, altiva,
Eis tua prole, que se arroja então,
De um mar de glórias apartando as vagas
 
Do vasto pampa no funéreo chão.
E esses Leandros do Helesponto novo
Se resvalaram &mdash; foi no chão da história...
Se tropeçaram &mdash; foi na eternidade...
Se naufragaram-foi no mar da glória...
E hoje o que resta dos heróis gigantes?...
 
Aqui &mdash; os filhos que vos pedem pão...
Além &mdash; a ossada, que branqueia a lua,
Do vasto pampa no funéreo chão.
Ai! quantas vezes a criança loura
Seu pai procura pequenina e nua,
E vai, brincando co'o vetusto sabre,
 
Sentar-se à espera no portal da rua...
Mísera mãe, sobre teu peito aquece
Esta avezinha, que não tem mais pão!...
Seu pai descansa &mdash; fulminado cedro &mdash;
Do vasto pampa no funéreo chão.
Mas, já que as águias lá no sul tombaram
 
E os filhos d'águias o Poder esquece...
"'E grande, é nobre, é gigantesco, é santo!...
 
Lançai&mdash; a esmola, e colhereis-a prece!.
Oh! dai a esmola... que do infante lindo
Por entre os dedos da pequena mão,
Ela transborda... e vai cair nas tumbas
 
Do vasto pampa no funéreo chão.
Há duas cousas neste mundo santas:
&mdash; O rir do infante, &mdash; o descansar do morto..
O berço-é a barca, que encalhou na vida,
A cova &mdash; é a barca do sidéreo porto...
 
E vós dissestes para o berço-Avante!&mdash;
Enquanto os nautas, que ao Eterno vão,
Os ossos deixam, qual na praia as ancoras,
Do vasto pampa no funéreo chão.
É santo o laço, em qu'hoje aqui s'estreitam
De heróicos troncos-os rebentos novos-!
 
É que são gêmeos dos heróis os filhos,
Inda que filhos de diversos povos!
Sim! me parece que nest'hora augusta
Os mortos saltam da feral mansão...
E um "bravo!" altivo de além-mar partindo
Rola do pampa no funéreo chão!...
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