O Velho Namorado: diferenças entre revisões

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|obra = O Velho Namorado
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Pobre velho! Estás perdido
Se nesse couro tão duro,
Pôde ainda fazer-te um furo
Uma seta de Cupido!
Desse mal acometido,
Remédio te não darão;
Que nessa idade a paixão,
Bem que assim te não pareça,
É moléstia da cabeça,
Que não sente o coração.
 
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Faustino Xavier de Novais}}
 
Um velho demente,
Mimoso ratão,
Fiado em Cupido,
Quis ser ''Maganão''.
 
Janeiros sessenta,
Contava o patola,
Com rugas na cara,
Com ar de façola.
 
Gorducho e roliço,
Qual porco cacete;
Cabeça de coco,
Nariz de pivete.
 
De pança crescida,
Andar de garoto,
Franzindo sobrolho,
Olhar de maroto.
 
Cedendo à loucura,
Que dele zombava,
A barba e cabelo
Cuidoso pintava.
 
Brunia os sapatos,
O fato escovava;
Na destra grosseira
Bengala empunhava.
 
Se via à janela,
Mocinha dengosa;
De lindo semblante
E lábios de rosa:
 
Então, derretido,
O velho lapuz,
Saltava, gingava,
Qual jovem de truz.
 
Se a bela formosa,
Por mofa, sorria,
O pobre do ''punga''
Alentos bebia.
 
Assim pretendia
Esposa encontrar,
Que a sua rabuge
Quisesse aturar
 
Eis chega-se o dia
De amor inspirado;
Enfeita-se o asno,
Assim preparado.
 
Da cara deidade
Trepando as escadas,
Com fúria de bravo,
Dá quatro palmadas!
 
Lá corre a criada,
Mulata faceira,
De porte agradável,
Nos modos brejeira;
 
E vendo o basbaque
A moda vestido,
Exclama, sorrindo:
&mdash; “Que lindo Cupido!.
 
“Bonita casaca,
“Colete bordado;
“Chapéu de patente,
“Cabelo ''pintado''!...
 
“Vem tão bonitinho!...
“A quem quer falar?”
&mdash; “Co’a dona da casa
“Desejo tratar.”
 
Escanc’ram-se as portas,
Lá entra o velhote,
De negra azeitona
Redondo ancorote.
 
Eis chega a matrona,
Que a casa dirige;
Daquela visita,
A dona se aflige.
 
Também vem com ela
Formosa menina,
De louros cabelos
E face divina.
 
&mdash; “Que ordenas, pergunta,
“Ilustre ''mancebo''?”
Estufa-se o lorpa,
Cupido de sebo!
 
Prepara a garganta,
Tomando postura,
À frente se põe
Da prenda futura.
 
E qual orador
Em pleno auditório,
O gebas começa
O seu palanfrório:
 
Ó Venus pudibunda, sem igual,
A teus pés aqui tens este animal,
Que vencido de amor pelos teus gestos,
Curvado te apresenta os seus protestos!
Vencestes do bigode &mdash; autoridade,
Do soldado a cruel severidade!
Este todo que vês tão rijo e duro,
Em borra ficará para o futuro;
Este peito que bate só por ti,
Já rendido e quebrado o tens aqui.
Guerreiro das campanhas ''cupidárias'',
Dos mercúrios, jalapas e fumárias.
Sou velho, mas em tudo tão perfeito,
Que não conto, sequer um só defeito!
 
Agora tu, matrona ajuizada,
Que pariste esta prenda delicada,
Consente no casório desejado,
&mdash; Não faças do ''velhote'' um desgraçado!
 
Notando a donzela,
Que o peco farfante,
Vencido de amores,
Se fez um pedante;
 
A ele se chega,
Com ar sedutor,
Que os peitos encanta
Que mata de amor;
 
Com gesto femíneo
Que a mente não trai,
Sorrindo, lhe disse:
“A bênção, papai!...”
 
Depois, prazenteira,
A face voltando,
Com garbo de fada
Se foi retirando!...
 
E com esta chalaça tão picante
O avô de Saturno, delirante,
''Não ficou homem, não,'' mas ''mudo e quedo''
''Qual junto de um penedo outro penedo!''
E, depois que sentiu-se codilhado,
Pela porta tomou, muito enfiado.
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[[Categoria:Primeiras Trovas Burlescas de Getulino]]
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