No País dos Ianques/V: diferenças entre revisões

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|seção=Capítulo V
|obra=[[No País dos Ianques]]
|autor=Adolfo Caminha
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Ninguém pode imaginar o que é a chegada de um navio de guerra a porto estrangeiro depois de uma tempestade ou mesmo depois duma ameaça de temporal. A faina torna-se geral e o ruído inevitável. É de ver-se a prontidão, a rapidez com que se executam as ordens. Como que há mais vontade para o trabalho, desenvolve-se logo um contagioso bem-estar, ninguém foge ao serviço.
 
Tesar cabos de laborar, baldear o convés a ficar alvo e polido como uma sala de visitas, limpar, arcar os metais amarelos até ficarem reluzentes como ouro de lei, ferrar o pano a capricho, cuidadosamente, de modo a confundi-lo com as vergas e os mastros, preparar os escaleres -— tudo isso é coisa dum abrir e fechar de olhos.
 
A guarnição do Almirante Barroso, disciplinada e obediente como todas as que serviam sob as ordens do comandante Saldanha, primava pelo asseio, pela ordem, pela destreza e pela atividade. Não se lhe pode fazer maior elogio. Cada marinheiro era como uma máquina pronta sempre ao menor impulso.
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Quem já assistiu a uma dessas pavorosas cenas do eito, magistralmente descritas por Júlio Ribeiro na sua obra A Carne, pode fazer idéia do que seja o castigo da chibata.
 
Despir-se a meio corpo um pobre homem, um servidor da pátria, pés e mãos algemados, muita vez depois de três dias de solitária a pão e água, e descarregar-se-lhe sobre a espinha, sobre as espáduas, sobre o peito, sobre o ventre, na cara mesmo, em todo o corpo cinqüenta, cem, duzentas chibatadas, em presença de todos os seus companheiros, me parece indigno duma geração que se preza, de uma sociedade de homens civilizados, de cidadãos, de cavalheiros que ostentam triunfalmente galões dourados na farda -— na farda, que significa a nobreza, a coragem, o patriotismo e a honra duma nação.
 
Revoltei-me contra semelhante barbaridade inquisitorial, como quem tem consciência de que está praticando uma ação justa e honrosa. Doía-me por um lado pertencer a uma classe nobre por tantos títulos, é certo, mas em cujo seio era permitido a chibata e, o que é mais, o seu abuso.
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Dei parabéns à pátria e à humanidade.
 
[[Categoria:AdolfoNo CaminhaPaís dos Ianques]]