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{{navegar
|obra = Pacotilha
|autor = Luís da Gama
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{{d|Não ralhem, não façam bulha,
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Que eu não sei se isto é pulha.
 
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Polka}}
 
Se vive à janela
Moçoila gorducha,
Qual freira capucha,
Mirando o janota;
Fazendo trejeitos,
De lenço abanando,
O olho piscando &mdash;
É tola, idiota.
 
Se meiga donzela,
D’amor delirante,
Em lábias de amante
Segura se faz;
Põe fé no magano,
Lá cede um beijinho,
Mais outro abracinho &mdash;
Está no carcás...
 
Se velha caduca,
De face rugosa,
Pretende ansiosa
Gentil namorado;
Com feias caretas
O dente arreganha,
Suspira, por manha &mdash;
É triste pecado.
 
E tendo na boca
''Postiço teclado'',
Com cera pegado,
Que joga e chocalha,
Das moças critica,
Com sanha de fúria,
Banindo a luxúria &mdash;
Não passa de gralha.
 
Se tolo basbaque,
Em prosa maçante
Julgando-se um Dante,
Se torna ''poeta'';
Sem estro e sem tino,
De amor em furores,
Só fala das flores &mdash;
Precisa dieta.
 
E tendo na cara
Trombudo focinho,
Qual porco de espinho,
Se faz namorado;
Metido em funduras
Lá geme, e suspira,
Qual fero Timbira &mdash;
É asno chapado.
 
Se guapo marido,
Rapaz de bom gosto,
Vai pelo sol posto
Jogar seu pacau;
Deixando a metade,
Contente, alegrinho,
Não vê que o vizinho...
Coitado, é patau!
 
Mas sendo avezado
À tal brincadeira,
Quindim, frioleira,
Lhe chama &mdash; brejeiro &mdash;
Na frase, do mundo
Não passa por tolo;
Tem fronte, e miolo
De manso Cordeiro.
 
Se trôpego velho,
De queixo caído,
Dengoso e rendido,
Com moça se liga:
Lá quando mal cuida
Na fronte lhe saltam,
Relevos que esmaltam,
Em forma de espiga.
 
Se ''rapa'' o que pode
Finório empregado,
Campando de honrado,
Cuidando que brilha;
Em dia aziago
Tropeça, baqueia,
E vai, na cadeia,
Juntar-se à quadrilha.
 
Se impinge nobreza
Brutal ''vendilhão'',
Que sendo ''Barão''
Já pensa que é gente;
Aqueles que o viram
Cebolas vendendo,
Vão sempre dizendo
Que o lorpa é demente.
 
Se em peitos que fervem
Infâmias tremendas,
Avultam comendas
E prêmios de honor;
É que, com dinheiro,
Os rudes cambetas
Se levam das tretas
E mudam de ''cor''.
 
Se fino larápio
De vícios coberto,
Com foros d’esperto,
De honrado se aclama;
É que a ladroeira,
Banindo o critério,
Firmou seu império
''C’o gente de fama''.
 
Se audaz rapinante,
''Fidalgo ou Barão'',
Por ser figurão,
Triunfa da Lei;
É que há Magistrados
Que empolgam presentes,
Fazendo inocentes
''Os manos da grei''.
 
Mulato ''esfolado'',
Que diz-se fidalgo,
Porque tem de galgo
O longo focinho;
Não perde a ''catinga'',
De cheiro falace,
Ainda que passe
Por bráseo cadinho.
 
E se eu que ''pretecio''.
D’Angola oriundo,
Alegre, jucundo,
Nos meus vou cortando;
É que não tolero
Falsários parentes,
Ferrem-me os dentes,
Por brancos passando.
</poem>
 
[[Categoria:Luís da Gama]]
[[Categoria:Primeiras Trovas Burlescas de Getulino]]
[[Categoria:Poesia brasileira]]