Caramuru/IV: diferenças entre revisões

Recostava-se a bela sobre um posto,

Que, encobrindo-lhe o mais, descobre o rosto.

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;III

Respira tão tranqüila, tão serena,

Ela,absorta no sono em que pegara,

Ele, encantado, a contemplar-lhe a cara.

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;VI

Quisera bem falar, mas não acerta,

Convêm todos; mas ela não consente,

Porque a mais aguardava o Céu potente.

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;IX

Ardendo, parte o bravo Jararaca

E, excitando na plebe a voraz sanha,

Cobre de legiões toda a campanha.

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;XII

Em seis brigadas vanguardas armados,

Por timbre nacional cada pessoa

Rapa no meio do cabelo a coroa

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;XV

Cupaíba que empunha a feral maça

Mordendo investem os que incautos foram,

E a carne crua, crua lhes devoram.

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;XVIII

Sambambaia outra turma conduzia,

Que do férreo madeiro usando o estoque,

Disparavam com balas o bodoque.

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;XXI

Nem tu faltaste ali, grão-Pecicava

Passaram desde o mar às minas de ouro.

 

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Quanto no aspecto feio, e em trajo horrendo,

Um que com fogo sobre o torpe busto

Sobre os ombros a rede, à cinta as cuias,

Tal era a imagem dos cruéis Tapuias.

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;XXVII

Quarenta mil de cor todos vermelha

De retorcidos paus são as cornetas,

De ossos humanos frautas e trombetas.

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;XXX

Com batalhões e espaços separados,

Um imboaba, que do mar viera,

Por um pouco de fogo que acendera.

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;XXXIII

Prostrado o vil aos pés desse estrangeiro,

Poderemos sofrer, Paiaiás bravos,

Ver filhos, mães e pais feitos escravos?

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;XXXVI

Mas teme o seu trovão: e tanto oprime

Se for mortal quem causa tanto abalo,

Por meio ao próprio raio irei matá-lo.

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;XXXIX

Su, valentes! Su, bravos companheiros!

E o espírito de força lhes deseja.

 

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Vestígio nacional da antiga idade,

Que acaso corrompeu mágico abuso,

E em vários fogos, que arrojou volantes

Imita o raio em bombas fulminantes.

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;XLV

Era a Bahia então, donde imperava

Tupinaquis, Viatanos, Poquiguaras,

Tuminvis, Tanviás, Canucajaras.

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;XLVIII

Não mais de duas léguas adiantando,

Marcha a ganhar o alto, e, posto à fronte,

Deu à tropa em cordão por centro o monte.

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;LI

Já se avistava o bárbaro tumulto

Que tanto estrago faz, que qualquer fera

Maior entre cordeiros não fizera.

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;LIV

Mas, quando tudo com terror fugia

Olham lutando os dois no fero abraço,

Pé com pé, mão com mão, braço com braço.

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;LVII

Porém, enquanto a luta persistia,

Nem um momento a fraca gente aguarda,

Vendo a brandir a lúcida alabarda.

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==[[Página:Caramuru 1781.djvu/137]]==

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;LX

O membrudo pai com três potentes

Onde quer que os contrários se apresentam,

Acometem, degolam, e afugentam.

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==[[Página:Caramuru 1781.djvu/138]]==

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;LXIII

Por outro lado, o valoroso Diogo

Tremula ao golpe a vacilar começa,

Salta-lhe em cima e corta-lhe a cabeça.

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==[[Página:Caramuru 1781.djvu/139]]==

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;LXVI

Ao estrépito, ao fogo, ao golpe horrendo,

Saem de toda a parte a acometê-lo.

 

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De imortais arvoredos rodeada,

Foi Jararaca, que a cuidou segura,

Por ter a vida e liberdade franca,

Deixa parte do pé e a seta arranca.

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;LXXII

Nos braços vai dos seus mal defendido;

Ficou, falta de alento e semi-viva

Nas mãos do cruel bárbaro cativa.

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;LXXV

Corre a turba feroz contra a donzela,

Choram muito e depois assam-no e comem.

 

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Se a bela Mangarita, que isto via

Desde o mato escondida, o não frechara,

Nos antros retumbar te faz no averno

Melodia que é digna só do inferno.

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;LXXXI

Tudo cede à amazona, e já salvava

Arroja penha e monte, e o que tem diante,

Tal se envia em furor o aflito amante.

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;LXXXIV

Tinha afogado Pessicava entanto