Correspondência ativa de Euclides da Cunha em 1895: diferenças entre revisões

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:Euclides
 
[carimbo: EuclydesM. R. Pimenta da Cunha. Fazenda da Trindade. Belém do Descalvado]
 
Fazenda Trindade
Belém== B. do Descalvado], 3 de maio de 1895 ==
 
:Porchat
Saúde e felicidades. Recomenda-nos à Exma. família. Chegamos sem novidades. Escrevo-te esta para comunicar-te isto. Tenho que escrever não sei quantas cartas ainda, de sorte que não tenho remédio senão apelar para uma concisão espartana. Amanhã ou depois serei mais longo.
 
Desculpa-me, pois; recomenda-me aos amigos daí e aceite um abraço do am. e obr.
 
:Euclides
 
[carimbo: M. R. Pimenta da Cunha. Fazenda da Trindade. Belém do Descalvado]
 
== B. do Descalvado, 12 de maio de 1895 ==
 
:Porchat
 
Saúdo-te assim como a Exma. família. Logo que cheguei escrevi-te – até hoje porém não tive resposta alguma.
 
Nós vamos indo bem.
 
Escrevi hoje mais uma vez ao meu procurador em Ouro Preto – a fim de mandar para aí, a teu cuidado, a minha caderneta. Logo que ela aí chegar, comunica-me. Sem mais assunto – desejo muito que estejas no melhor dos melhores mundos possíveis nessa boa terra – e que na próxima carta digas alguma coisa do que vai por aí ao velho amigo
 
:Euclides
 
Endereço:
Belém do Descalvado
(Estação da Aurora)
E. S. Paulo
 
[timbre: M. R. Pimenta da Cunha. Fazenda da Trindade. Belém do Descalvado]
 
== B. do Descalvado, 15 de maio de 1895 ==
 
:Porchat
 
Saúde e felicidades. Recomenda-nos à Exma. família. Recebi a tua carta e respondo-a. A caderneta ficará contigo até ulterior deliberação. Talvez, tenha de ir breve até aí porque o ministro até hoje não deu solução ao parecer da junta médica que me inspecionou – julgando-me ''incapaz'' para a vida civil. Li na tua carta o que não escreveste acerca das festas que aí se fizeram. A tua maneira de ver está afinada pela minha… Estranhas, como eu, tanta alegria numa época tão triste ante um futuro tão ameaçador. O fato é, porém, explicável… Recordo-me, a propósito, de uma cena que vi não sei mais em que opereta fantástica: um sujeito medroso que atravessava uma estrada sinistra, povoada de fantasmas – para iludir o terror, o pobre diabo tangia nervosamente um cavaquinho e cantava, cantava com uma voz esfarrapada, rouquenha, soluçante… A nossa gente, meu amigo, vai como o Vasquez naquela opereta fantástica.
 
É bem possível, porém, que estejamos em erro e que tenham razão os que ainda sabem rir ou então quem sabe se eles riem por isto mesmo que a situação é lamentável, aceitando o conselho do Hamleto:
 
<blockquote>What should a man do but be merry?</blockquote> [William Shakespeare, Act 3, Scene 2]
 
Talvez a explicação do enigma esteja justamente neste verso do poeta mais filósofo que tem havido.
 
Adeus, Porchat. Dê paertado abraço no Bellegarde, Gabriel e [...] de Rezende – aos quais já escrevi. Escreva sempre ao velho companheiro
 
:Euclides da Cunha
 
P.S. – Não terás por aí qualquer folheto, qualquer velho alfarrábio, que trate da épopca colonial, de 1640 até 1715; qualquer coisa sobre a antiga S. Vicente, princípios de S. Paulo, excursões dos ''bandeirantes'' etc.? Tenho grande necessidade de qualquer escrito sobre isto; mais tarde saberás porque. Mandando-os farás extraordinário favor ao teu menor amigo e maior cacete
 
:Euclides
 
[timbre: M. R. Pimenta da Cunha. Fazenda da Trindade. Belém do Descalvado]
 
== S. Paulo, 9 de outubro de 1895 ==