Correspondência ativa de Euclides da Cunha em 1895: diferenças entre revisões

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:João Luís
 
Desejo-te muitas felicidades, assim como a toda a família. Tenho-te escrito todas as vezes que posso abrir um parêntesis na minha vida atarefada. Firme no meu propósito continuo a escrever, embora os amigos daí: você, o dr. Brandão, B. Veiga e outros – respondam-me com um silêncio extraordinário. Estarão mal comigo? Agito às vezes este ponto de interrogação sinistro como o Hamlet nas malhas do ''ser ou não ser'' e como herói Shakesperiano deixo-me dominar pelas mais dolorosas dúvidas. Enfim é possível se hajam perdidos as cartas que tenho escrito. Vou, por isto, heroicamente, insistir na correspondência.
 
Tenho-me dado perfeitamente na vida estudiosa que levo – muito contraposta à existência tranquila demais da roça. A vida ativa de engenheiro, mas de engenheiro a braços com questões sérias e não cuidando de emboços e reboços em velhos pardieiros – veio convencer-me que tinha muito ainda a aprender e que não estava sequer no primeiro degrau de minha profissão. Por aí já vês que a minha atividade intelectual agora converge toda para os livros práticos – deixando provisoriamente de lado os filósofos, o Comte, o Spencer, o Huxley etc. – magníficos amigos por certo mas que afinal não nos ajudam eficazmente a atravessar esta vida cheia de tropeços e dominada quase exclusivamente pelo mais ferrenho empirismo. Infelizmente é uma verdade: as páginas ásperas dos ''Aide-Mémoires'' ou dos ''Engineer's pocket books'' são mais eloquentes, neste fim de século, do que a mais luminosa página do mais admirado pensador. Imagina, se podes, a imensa tristeza que sinto ao escrever isto.
 
Não prolonguemos, porém, divagações inúteis. Amanhã escreverei a outros amigos daí. Recomende-me muito ao cel. Faria, dr. Brandão, B. Veiga – enfim aos que aí me estimam tanto quanto eu acredito.