Correspondência ativa de Euclides da Cunha em 1895: diferenças entre revisões

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Linha 19:
<p>Escreva-me sempre. Dê apertado abraço nos amigos; recomenda-me a teu sogro e a toda família.</p>
 
<p>Saudade do am.º velho</p>
 
<p>:Euclides</p>
Linha 40:
<p>Mande-nos dizer que tal tem achado tudo isto por aí; mas escreva-me – não creio que o comando do Distrito abosorva-lhe todo o tempo. Os meus amigos vão ficando escassos – só falta agora que o velho amigo imite-os. Também a Saninha queixa-se da falta de cartas… neste andar a nossa sociedade estará em breve reduzida aos dois filhinhos.</p>
<p>Esteve aqui o Ferraz e trouxe uns presentes que agradecemos. O coronel Noronha, um bom e digno amigo seu manda muitas lembranças.</p>
<p>Recomende-me a todoso. Aí vai grande abraço e grandes saudações do genro e am.º obrmo.</p>
 
:Euclides da Cunha
Linha 55:
<p>Eu lamento o fato; S. Paulo é digno de outros homens, é digno de outro destino.</p>
<p>Escreva-me sempre, todos daqui muito se recomendam aos teus.</p>
<p>Aceita um abraço do am.º obrdo.</p>
 
:Euclides
Linha 66:
<p>Admitindo, porém, esta última solução que é a mais fácil do problema, surgem outros : deverei permanecer como empregado público? Resolvo igualmente pela negativa. De sorte que terei de ligar-me às grandes agitações da minha carreira, a a toda uma grande cópia de incômodos. Assim é que talvez seja para a construção de uma nova estrada de ferro entre Araraquara e Ribeirãozinho e etc. Tudo isto, como vês, seria coisa fácil se não fosse a família – daí as preocupações a que acima me referi, as quais ocupando todo o tempo em que por acaso esteja desocupado, impedem-me conversar um pouco, à distância, com os amigos ausentes. Além disto, como sabes, eu tinha a ideia de dar um passeio até aí e agora vejo que é preciso demorar a viagem até que se resolva a situação atual em que estou.</p>
<p>Vou indo, entretanto, perfeitamente bem – e acho-me perfeitamente animado, encarando com firmeza o futuro. Creio mesmo que muito breve realizarei o meu grande sonho, a única aspiração constante que de há muito tenho: tirar, por concurso, uma cadeira na Escola de Engenharia daqui. Logo que abrirem as inscrições avisar-te-ei – e fique já certo de que não dispensarei, absolutamente não dispensarei, a tua presença no dia em que tiver de defender a tese que apresentar. Dizer-te isto é dizer-te que tenho estudado alguma coisa. Ficas assim formando perfeita ideia de uma das existências mais agitadas de nossa terra (salvo os coeficientes de redução que a minha modéstia determina que sejam antepostos a tal expressão).</p>
<p>Dê apertado abraço em cada um dos bons amigos daí e acredita sempre na afeição do am.º e admdor.</p>
 
:Euclides
Linha 118:
Saúde e felicidades. Recomenda-nos à Exma. família. Chegamos sem novidades. Escrevo-te esta para comunicar-te isto. Tenho que escrever não sei quantas cartas ainda, de sorte que não tenho remédio senão apelar para uma concisão espartana. Amanhã ou depois serei mais longo.
 
Desculpa-me, pois; recomenda-me aos amigos daí e aceite um abraço do am.º e obr.
 
:Euclides
Linha 199:
Desejo-te saúde e felicidades. Somente hoje estou completamente restabelecido de complicada moléstia – durante a qual não tive uma só carta do ilustre companheiro.
 
Escreva-me, pois, dando notícias tuas ao am.º e adm.
 
:Euclides
Linha 223:
Recomenda-me muito a todos. A Saninha envia muitas saudades a d. Fernandina, d. Lalica, d. Maria Antonia, d. Zoraide e meninas. Abraço por mim no dr. Brandão e cel. Faria.
 
Disponha de quem é e será sempre am.º e adm.
 
:Euclides da Cunha
Linha 231:
:Porchat
 
Desejo-te saúde e felicidades, assim como a toda a família. Ainda hoje não poderei mandar a carta que juntamente com a caderneta que aí está deverá ser enviada ao […]. Estou muito atarefado nessa faina da roça – da qual me quero ver livre o mais breve possível. Gorou a minha pretensão? Diga-me alguma coisa: caso haja naufragado mais uma vez, envia-me lá um pouco da tua adorável filosofia, consoladora e amiga. Infelizmente não me posso alongar mais. Amanhã ou depois, escrever-te-ei. Adeus. Dê apertado abraço nos amigos e disponha do verdadeiro am.º e humílimo crdo.
 
:Euclides
Linha 240:
:Meu ilustre amigo dr. Brandão
 
Saúde e felicidades. Recomendai-nos muito a toda a Exma. família. Lamento ser obrigado a responder a vossa belíssima carta que só agora recebi, ao voltar de S. Paulo, num simples cartão de visita. É que não tenho aqui papel de carta e o mal é irremediável, na roça. Estou cansado, meu distinto amigo, desta vida de roceiro; espero que termine a quadra trabalhosa da colheita para procurar outro rumo. Felizmente, o meu pai resolveu que é impossível o adaptar-me a semelhante meio. Irei para S. Paulo ou para o Rio; participar-vos-ei com antecedência. De qualquer modo quase posso afirmar que no fim deste ano, em novembro ou dezembro, irei com Saninha até aí – abraçar as pessoas que tanto nos distinguiram. Amanhã escreverei ao João Luís, em quem, peço dê por mim grande abraço. O meu Euclidinho já está andando e já conhece pelo retrato a sua madrinha – infelizmente, não tenho aqui a do padrinho, ingrato compadre que nem notícias pede ao afilhado. Adeus, meu ilustre amigo – recomendai-vos a toda a família – abraçai aos bons amigos daí e acreditai na estima e consideração do am.º e admor.
 
:Euclides
Linha 260:
Mandai-nos notícias de todos, da nossa digna e respeitável comadre d. Maria, do ingratíssimo compadre Chiquito, enfim de todos.
 
E sempre às vossas ordens – envia-vos apertado abraço o am.º e admor.
 
:Euclides da Cunha
Linha 284:
Estou certo que ainda este ano iremos até aí; para mim fazer uma viagem à Campanha – terra de tantos bons e leais amigos – é fazer uma romaria, é procurá-la com a mesma devoção religiosa que leva os Muçulmanos à Meca. Não acredites que seja isto um exagero: os homens daqui poder-te-ão dizer talvez melhor do que eu toda a imensa afeição que dedico à tua, à nossa boa cidade.
 
Adeus, meu caro amigo, recomenda-nos muito a toda a família – abraça por mim aos bons amigos daí e não esqueça nunca o am.º e admor.
 
:Euclides
Linha 300:
Não prolonguemos, porém, divagações inúteis. Amanhã escreverei a outros amigos daí. Recomende-me muito ao cel. Faria, dr. Brandão, B. Veiga – enfim aos que aí me estimam tanto quanto eu acredito.
 
Recomenda-nos, a mim e a Saninha a toda a família. Aceita apertado abraço do am.º e abrdo.
 
:Euclides da Cunha
Linha 335:
 
<p>Euclides da Cunha
 
== S. Paulo, 6 de novembro de 1895 ==
 
:Ilustre amigo dr. Brandão
 
Saúde e felicidades é o que vos desejo assim como a toda a Exma. família – a quem nos recomendamos muito, eu e a Saninha.
 
A ausência das minhas cartas não provém do fato de não receber eu as do distinto amigo e sim das grandes ocupações que me assoberbam.
 
Nas horas de trabalho entretanto faço ligeiras pausas, durante as quais recordo-me sempre dos bons amigos da Campanha, muitos dos quais constituem para mim fonte de perene saudade. Peço-vos dizer isto ao nosso velho (velho vai escrito como o melhor eufemismo que achei para dizer a um tempo ''bom e respeitável'') amigo Bernardo Veiga e outros.
 
O meu Solon faz hoje uma visita à vossa digna família. Este retrato dirá, no seu silêncio, muito mais do que eu agora poderia dizer.
 
Não tenho estado com o dr. Carlos; duas ou três vezes nos encontramos e ofereci-lhe a minha casa; creio, porém, que ele sofre do mesmo mal que me assaltou: trabalho e trabalhos – de modo que não tem tempo de visitar-me.
 
O que me diz, o meu digno amigo das coisas da nossa terra? O que diz acerca dessa aura de esperança que agita as cabeças brancas dos velhos fiéis, caducos cavalheiros andantes da Restauração?
 
A História tem também seus absurdos; talvez tenhamos que lhe fornecer mais um. Confesso-vos que a coisa será interessante e – porque não levar ao extremo a confissão? – asseguro-vos que intensa curiosidade dá-me alguma vontade de que o absurdo se realize. Tenho saudades daquela minoria altiva anterior ao 15 de novembro… há tanto republicano hoje… Para mim Restauração teria o valor de fazer ressurgir a legião sagrada mais enérgica e mais orientada, capaz de vencer com mais dignidade e com mais brilho. Com certeza, porém, esta linguagem não está agradando ao meu digno amigo e torno a outro assunto.
 
Não sei se poderei ir este ano aí – farei entretanto todos os esforços neste sentido.
 
Estou em falta com muitos amigos pelo silêncio que para com eles tenho mantido – peço-vos desculpar-me com eles – em breve escreverei a todos.
 
A minha família vai bem; os meninos continuam fortes e sadios. A Saninha envia muitas recomendações à sua digna e respeitável comadre e eu enviando saudades a todos peço que acredite na estima e consideração do amº e admor.
 
:Euclides
 
== S. Paulo, 19 de novembro de 1895 ==
 
:João Luís
 
Saúdo-te, desejando felicidades.
 
Depois de desastrosa viagem a Lorena e sofrendo as consequências do impaludismo, adquirido num banho forçado do insidioso Paraíba, aqui cheguei.
 
A vista do que disse estou certo que me desculparás o levar tanto tempo silencioso. Ao chegar aqui não pude de pronto satisfazer o pedido da tua última carta: a capital paulista na ebriez das festas republicanas impediu-mo. Como encontrar em tais dias o tranquilo pensador Manzoni?
 
Deixei passar a onda e hoje dirigi-me ao Garraux. Infelizmente não encontrei o livro; esperam-no, porém, muito breve.
 
Enquanto não chega, pois, peço-te um esclarecimento: Qual das obras de Manzoni queres? Há duas, tratando ambas do direito Civil Italiano – uma, completa, com comentários, constando de 15 volumes e outra, menor (7 volumes) tratando exclusivamente do Direito Civil.
 
É bom esclareceres neste ponto o teu pedido.
 
O Garraux espera breve as duas obras citadas.
 
Ando meio adoentado: não é debalde que se atravessam os pantanais de S. Paulo. Se o mau estado de saúde continuar tomarei outra vez o velho cajado de peregrino e procurarei outras terras. É destino. Às vezes, chego a acreditar que tenho a vida mais incômoda ainda que a de Ashverus – porque afinal aquele pobre diabo não tinha mulher e filhos.
 
Pergunte ao dr. Brandão se não recebeu uma carta minha e um retrato do Solon. Por que não me escreve nosso distintíssimo amigo?
 
A Saninha manda muitas saudades à d. Fernandina e a toda a sua família.
 
Envia-te apertado abraço o amº e velho companheiro
 
:Euclides
 
== S. Paulo, 8 de dezembro de 1895 ==
 
:João Luís
 
Saúde, paz e felicidades.
 
Já deves ter em mãos os cartões que encomendaste e com certeza aplaudiste já o sentimento estético que revelei, porque foram calcados sobre desenho meu.
 
Quanto ao Borges Carneiro – como já te participei é preciso esperar alguns dias. É verdade que encontrei um exemplar no Garraux – mas em que estado! Cheio de traça, corroído em mil partes, poeirento, imundo, quase ilegível; não tive a coragem de comprá-lo, embora o dessem por baixo preço. Espero assim os exemplares que segundo me diz o Ferreira estão a chegar.
 
As coisas por aqui vão na mesma, sem interesse algum. Eu continuo na vida transitória de empregado público ''dilettanti'' – porque afinal de contas devo-te dizer que a acho simplesmente detestável e cheia de velhos vícios repugnantes. Já estou quase engenheiro – graças às peregrinações pelo sertão e um trabalho intensivo de três meses. Paguei para isto um duro imposto: uma intermitente que creio haver conseguido debelar porque há dois dias que se não manifesta. O meu velho foi dar uma volta ao Rio da Prata, espero a volta dele, a fim de orientar novamente a vida. Sou incorrigível, meu caro João Luís: Não sei quando acabarei de iniciar e destruir carreiras. Já estou cansado entretanto desta tarefa de Sísifo: os trinta anos aí vêm, perto, ameaçadores, trinta anos de agitação nervosa que já são quase velhice. É preciso parar.
 
Estou com uns retratos do meu filhinho mais moço para mandar; esqueci-os porém, em casa – amanhã ou depois irão. Já não espero cartas do nosso amigo dr. Brandão; substituo-as, porém, às vezes – recordando as antigas palestras, iluminadas sempre pela grande lucidez de um dos espíritos mais robustos que conheço. És mais feliz neste posto do que eu: há homens que valem uma sociedade numerosa. Ele que não me escreva mas que não se esqueça do antigo discípulo.
 
Vou encerrar esta. Insistente, terrivelmente cacete, aqui, a meu lado, um empreiteiro – uma sanguessuga qualquer, pede-me por todos os medalhões do Céu, de S. Benedito e S. Pedro, que lhe passe um atestado. Vou satisfazê-lo.
 
Adeus – Recomendações a toda a família – apertado abraço em todos os amigos.
 
Escreva sempre ao amº e admor.
 
:Euclides da Cunha