A Linha da Cor: diferenças entre revisões

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concluído, enfim... traduzir Douglass não é fácil, mas Robert Burns é... soda!
uma notinha mais...
 
Linha 10:
O preconceito de raça tem, em algum momento da sua história, afligido todas as nações. "Eu sou mais santo que tu" se vangloriam as raças, como faziam os fariseus. Muito tempo depois da invasão normanda, e do declínio do poder normando, muito depois que os resistentes saxões tinham sacudido a poeira de sua humilhação e de forma grandiosa afirmou suas qualidades por todas as direções, os descendentes dos invasores continuam a considerar seus irmãos saxões como feitos de uma argila mais grosseira do que a deles mesmos, e não ficaram satisfeitos quando alguém da raça anterior veio junto deles ao sol e sua nobreza. Habituados a ver o saxão como um criado, um cavalariço, e um trabalhador braçal comum, oprimido e subalterno por séculos, foi fácil investi-lo com todos os tipos de peculiaridades odiosas, e negar-lhe todos os predicados viris. Apesar de oitocentos anos se passarem desde que o poder normando entrou na Inglaterra, os saxões durante séculos terem oferecido sua educação, sua literatura, sua linguagem e as suas leis ao mundo mais do que qualquer outro povo no planeta, os homens naquele país ainda se vangloriam de sua origem e perfeição normandas. Esta superstição da antiga grandeza serve para preencher os lados definhados de um orgulho racial sem sentido que se manteve quando o seu poder desapareceu. Com uma lição muito diferente daquela que este artigo foi concebido para impressionar, o grande Daniel Webster certa vez disse do povo de Massachusetts (cujos preconceitos neste caso específico eram corretos) que eles "tinham conquistado o mar, e tinham conquistado a terra" mas que "lhes restava conquistar seus preconceitos". E uma vez fomos informados que as pessoas de algumas vilas de Yorkshire alimentavam um preconceito tão forte e violento contra estrangeiros e forasteiros que se um deles se aventurasse a cruzar suas ruas seria apedrejado.
 
De todas as raças e variedades de homens que penaram com esse sentimento, as pessoas de cor deste país são as que mais o têm sofrido. Eles não podem recorrer a disfarces que lhes permitam escapar ao seu destino fatal. Eles carregam diante de si a evidência que os marca para a perseguição. Estão no ponto extremo de diferença com a raça caucasiana, e sua origem africana pode ser instantaneamente reconhecida, mesmo que esteja bem distante da raça africana típica. Eles podem até protestar, como Shylock<ref>Shylock, o judeu personagem central da peça de Shakespeare, "O Mercador de Veneza".</ref> — "Não têm os olhos como um judeu? Como um judeu, não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, afetos, paixões? Não se alimentam com a mesma comida, são feridos com as mesmas armas, sujeitos às mesmas doenças, e são curados pelos mesmos meios, aquecidos e resfriados pelos mesmos verão e inverno, que os cristãos?" — mas tal eloquência é inútil. Eles são negros — e isso é suficiente, na ótica desse preconceito irracional, para justificar a indignidade e violência. Quase todos os setores da vida estadunidense estão impregnados por essa influência insidiosa. Ela enche o ar. Os espera nas oficinas e nas fábricas, quando se candidatam ao trabalho. Ela os aguarda na igreja, na hospedaria, nas urnas e, o pior de tudo, ela os espera na bancada do júri. Sem crime ou ofensa contra a lei ou contra os evangelhos, o homem de cor é o Jean Valjean<ref>Jean Valjean: personagem simplório e injustiçado que é retratado na obra "Os Miseráveis", de Victor Hugo.</ref> da sociedade estadunidense. Ele saiu das galés e, portanto, todas as presunções são contra ele. O mercado lhe nega trabalho, a pousada lhe nega abrigo; a urna não lhes dá votação justa, nem os jurados um julgamento justo. Ele deixou de ser escravo da sociedade. Ele agora não pode mais ser comprado e vendido como um animal na feira, mas ele é a constrangida vítima do preconceito, bem calculado para reprimir sua ambição viril, para refrear suas energias, e fazer dele um homem abatido e sem espírito, ou então um intratável inimigo da sociedade, apto a depredar a vida e a propriedade e para criar problemas em geral.
 
Quando este espírito maligno é o juiz, o júri e o promotor, nada menos do que a evidência esmagadora é suficiente para superar a força de presunções desfavoráveis.