Correspondência ativa de Euclides da Cunha em 1903: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Sem resumo de edição
Sem resumo de edição
Linha 107:
 
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 30 de março de 1903==
Linha 123 ⟶ 122:
Aí está, para citar só um exemplo, esta arrebatadora figura de d. Pedro I, lindíssimo tipo de um rei-cortesão da liberdade, ─ a desafiar os mais ardentes artistas. E deixamo-lo na eterna mudez da estátua do Rocio… Iria longe se lhe dissesse quanto pretendia dizer, tomando-lhe pecaminosamente o tempo precioso. Lá para abril pretendo ir até aí. Hei de procurá-lo e conversaremos melhor. Aqui fico sempre ao seu dispor, como discípulo muito amigo e admirador.
 
:Euclides da Cunha
 
==Lorena, 12 de junho de 1903==
:Meu Pai
<p>Desejo que esta o encontre de boa saúde. Não lhe tenho escrito porque desde o dia 28 do mês passado ando em constantes viagens. Tenho mandado, logo que aqui chegam, as ''Lectures pour Tours'', e ontem um ''Comércio de S. Paulo''. O Laemmert propôs comprar-me desde já por 1:600$000 a 2ª edição dos ''Sertões'' que saiu há 3 dias. Aceitei porque preciso de uma entrada do seguro de vida que fiz, e com o que anteriormente recebi paguei as dívidas que tinha.</p>
<p>Além disto, nada perco porque num primeiro livro só se aspira um lucro de ordem moral, e este eu o tive de sobra.</p>
<p>Infelizmente me obrigaram a ser candidato à Academia de Letras com a infelicidade de ter, entre outros antagonistas, o velho autor dos ''Mineiros da Desgraça'', Quintino Bocaiúva, que me derrotará pela certa ─ porque leva para a ação a própria influência política, e levantou-lhe a candidatura o ''primus inter pares'' da nossa gente, o barão do Rio Branco. Os poucos votos que eu terei, porém, valerão pela qualidade.</p>
<p>Peço-lhe que dê lembranças nossas a Adélia e Otaviano e abençoe ao seu filho e amº</p>
:Euclides
<p>P.S. ─ Além daquela quantia dão-me, os editores, 45 livros o que eleva a importância da venda que fiz.</p>
 
==Lorena, 12 de junho de 1903==
:Dr. José Veríssimo
<p>Cumprimento-o, desejando-lhe felicidades e à Exma. família.</p>
<p>A notícia que hoje li, ao voltar de viagem, num ''Correio da Manhã'' sobre vários candidatos à Academia, é antes de tudo uma indiscrição de jornalista. Mas tem o valor de libertar-me da vacilação que me tolhia no concorrer àquele lugar. Não posso mais recuar. E sem temer o insucesso inevitável ─ porque o simples fato de ser admitido à concorrência basta a enobrecer-me consideravelmente ─ cumpro o dever de lhe comunicar a minha candidatura, antes mesmo de me dirigir ao presidente da Academia, porque ao sr. devo o favor da apresentação do meu nome, então obscuro, à sociedade inteligente da nossa terra, amparando-o com extraordinária generosidade. (Não veja aí lisonjaria vã; nunca consegui deixar de escrever o que sinto).</p>
<p>Continuo na minha engenharia fatigada e errante ─ e, agora, com a sobrecarga de uma monografia sobre o Duque de Caxias. Felizmente me habituei a estudar nos trens de ferro, nos troles, e até a cavalo! É o único meio que tenho de levar por diante esta atividade dupla de chefe de operários e de homens de letras, visando quase o ideal dessa ''vida intensa'', da qual tratou superiormente o extraordinário Roosevelt no seu último livro.</p>
<p>Sem mais, queira sempre dispor de quem é com muita consideração seu amº atº e adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 18 de junho de 1903==
:Meu caro Max Fleiuss
<p>Cumprimento-o e desejo-lhe felicidades. Há dias enviei ao comendador Raffard dois ofícios em resposta aos que ele mandou sobre a minha entrada para o Instituto e sobre a honrosa missão de que o mesmo me encarregou. Enderecei-os para o Instituto, e, como não designei o local nessa cidade onde é a sede do mesmo, renovo por seu intermédio o aviso temendo que por qualquer circunstância se tenham extraviado. Já estou, nas minhas raras horas de folga, estudando a vida do Duque de Caxias; e como não tenha prazo prefixado para levar adiante a missão penso poder realizá-la satisfatoriamente. Prometi-lhe um exemplar da segunda edição dos ''Sertões'' e tenho o maior prazer em oferecer-lho. Não tendo, porém, nenhum aqui, e não querendo demorar-me no cumprimento da promessa, peço-lhe o favor de entregar aos srs. Laemmert & cia. a inclusa carta. </p>
<p>Mando-a certo de que me desculpará a inconveniência do pedido, atendendo à circunstância de me achar longe dessa capital e não saber quando poderei ir até lá. Sem mais, disponha sempre de quem é m<sup>to</sup>. adm<sup>or</sup>. e amº.<p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 20 de junho de 1903==
:Dr. Lúcio de Mendonça
<p>Saúdo-o</p>
<p>Recebi as suas interessantes notas sobre alguns sucessos da ''Revista''. Já estou às voltas com este assunto, mas nunca imaginei que fosse tão sério e tão difícil. Será certamente demasiado o livro que vou escrever. Sobretudo o que vai tornando-se cada vez mais enigmático à medida que o examino é o seu singular protagonista. Que homem! Às vezes figura-se-me um Luís XI, outras um cardeal d. Henrique; ora um gênio mau, ora um tonto que os acontecimentos transfiguram. Afinal hei de o conhecer. E se o sr. tiver quaisquer indicações (mesmo incidentes, que valem muito) dê-mas, com absoluta confiança, se é que terei a felicidade de lhe despertar a mesma simpatia que me inspirou desde o nosso primeiro encontro.</p>
<p>Passando a outro assunto: mantenho a minha candidatura à Academia apesar da derrota inevitável. Hoje respondendo uma carta de Coelho Neto a este respeito perguntei se ele não se recordava de uma sanguinolenta comédia vulgar nos anfiteatros romanos, em que o patrício desfibrado e trôpego, vestindo a armadura e armado até os dentes ia garbosamente se bater com o gaulês desnudo e empunhando uma espada de pau. Serei o gaulês. E será para mim um belo triunfo a derrota em que me ampararão Lúcio de Mendonça, José Veríssimo, Araripe, João Ribeiro, Coelho Neto e Arinos.</p>
<p>Creia na verdadeira estima e elevada consideração do amº atº obr<sup>do</sup>. adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
==Lorena, 21 de junho de 1903==
:Exmo. sr. Machado de Assis
<p>Tenho a honra de solicitar a V. Exa. A minha inclusão entre os candidatos à vaga existente na Academia de Letras. Certo de uma aquiescência, que por si valerá para mim como o melhor dos títulos, subscrevo-me com a mais elevada consideração.</p>
<p>De V. Exa. ─ crº mº atº e adm<sup>or,</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==S. Paulo, 4 de julho de 1903==
:Dr. José Veríssimo
<p>Desejo-lhe felicidades e a todos os seus. Recebi ontem uma carta do nosso amigo João Ribeiro, mais animadora quanto ao sucesso da minha candidatura, que já supunha morta. Vou agora escrever aos acadêmicos. Peço-lhe, porém, (e estendendo o pedido aos drs. J. Ribeiro, Araripe e Lúcio de Mendonça) que se recorde da minha situação de engenheiro errante, preso pelos empreiteiros e absorvido em orçamentos, quase sem tempo para curar dos meus próprios interesses. Os outros candidatos, mais folgados e num outro meio, têm elementos práticos de sucesso que eu não posso ter. Aqui, em S. Paulo, ninguém acredita que eles triunfem, ─ mas eu estou convencido do contrário, se me desampararem os bons amigos com que conto.</p>
<p>Aqui cheguei ontem impressionadíssimo com a notícia de estar doente o meu pai; felizmente encontrei novas mais animadoras e penso que não terei de fazer longa viagem ao interior, voltando dentro de dois dias para a minha tranquila Lorena.</p>
<p>Creia sempre na consideração e estima do</p>
:Euclides da Cunha
P.S. ─ Já tinha recebido, enviado pelo próprio Instituto, a revista a que o sr. se referiu na sua carta. Realmente lá encontrei valiosos documentos.
 
 
==Lorena, 6 de julho de 1903==
:Exmo. sr. Artur Azevedo
<p>Saúdo-o cordialmente. Não sei se chego tarde para pedir o seu voto, que muito valerá à minha candidatura ao lugar atualmente vago na Academia de Letras. Mas faço [o] pedido porque para mim ele significa, sobretudo, o muito apreço que há muito lhe tributo, antes que me cativasse o seu generosíssimo juízo sobre os ''Sertões''.<p>
<p>Creia que sou com toda a consideração seu amº crº atº e adm<sup>or</sup>.<p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 7 de julho de 1903==
:Exmo. sr. dr. Afonso Celso Júnior
<p>Cumprimento-o desejando-lhe felicidades.</p>
<p>Venho não por obedecer a uma formalidade, mas espontaneamente e com a maior satisfação, solicitar o seu voto à minha candidatura à Academia de Letras, ─ porque o considero entre os que maior brilho darão à minha investidura.</p>
<p>Peço-lhe que creia sempre na elevada consideração do seu compatriota, atº crº e adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 9 de julho de 1903==
:Exmo. sr. dr. Oliveira Lima
<p>Candidato à cadeira que vagou na Academia de Letras em virtude do lamentável falecimento de Valentim Magalhães, venho solicitar o seu voto, e assim procedo não só por obedecer a praxe estabelecida como pelo reconhecimento do alto valor que o sufrágio de V. Exa. dará à minha investidura.</p>
<p>Sou, com a maior consideração,</p>
<p>de V. Exa. crº obrº e adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 9 de julho de 1903==
:Exmo. sr. barão do Rio Branco
<p>Saudando respeitosamente a V. Exa. tenho a honra de solicita[r] o seu voto na próxima eleição que se realizará na Academia de Letras, para o preenchimento da vaga originada pelo lamentável passamento do nosso distinto compatriota Valentim Magalhães.</p>
<p>Subscrevo-me com a mais elevada consideração.</p>
<p>De v. Exa. Compatriota crº atº e verdº</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 10 de julho de 1903==
:Exmo. sr. Machado de Assis
<p>Tendo tido a felicidade de ser incluído por V. Exa. entre os concorrentes à cadeira que vagou na Academia de Letras em virtude do lamentável falecimento de Valentim Magalhães, e recordando-me das animadoras palavras que me dispensou, e que foram para mim uma grande honra e um grande estímulo, ─ venho solicitar o seu voto em prol da minha candidatura.</p>
<p>Peço-lhe que acredite sempre na mais elevada consideração do seu</p>
<p>Compatriota crº atº e muito adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 10 de julho de 1903==
:Exmo. sr. dr. Salvador de Mendonça
<p>Saudando a V. Exa. tenho a grande honra de solicitar o seu voto à minha candidatura à Academia de Letras.</p>
<p>Não o faço apenas por obedecer à praxe estabelecida, mas principalmente porque reconheço o alto valor que dará à minha investidura o sufrágio de V. Exa.</p>
<p>Acreditai na elevada consideração que lhe tributa o seu comp. crº atº e adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Rio, […] julho de 1903==
:Luar [Raul Pederneiras]
<p>manda-me, pelo palafreneiro, portador deste retângulo, o original da minha fealdade favorecida pelo teu lápis zenital</p>
:Euclides
 
==Lorena, 17 de julho de 1903==
:Exmo. sr. barão do Rio Branco
<p>Apresso-me em responder a carta em que V. Exa. tão generosamente me oferece o honrosíssimo amparo de seu sufrágio à minha candidatura à Academia Brasileira de Letras. E com a mais completa franqueza declaro a V. Exa. que se por acaso eu desejasse qualquer recompensa pelos serviços que tentei prestar à nossa terra, escrevendo ''Os Sertões'', não poderia tê-la maior, mais valiosa e mais digna do que aquela carta, que hei de sempre guardar como um verdadeiro prêmio.<p>
<p>Creia o meu venerando compatriota na elevada consideração e decidido apreço de seu cr<sup>do</sup>. at<sup>o</sup>. obr<sup>do</sup>. e muito adm<sup>or</sup>.<p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 17 de julho de 1903==
:Dr. Afonso Celso
<p>Saúdo-o e a toda a Exma. família.</p>
<p>Nem sei como responder ao seu delicadíssimo cartão de 10 do corrente. Afirmo-lhe, porém, que ele não me surpreendeu. Ali está, integral, na concisão expressiva do seu cavalheirismo, a nossa antiga generosidade brasileira.</p>
<p>Aceito com verdadeira ufania, na minha rude mão de engenheiro, a sua mão fidalga e imaculada. Somos dois homens igualmente conscientes dos princípios que adotam; e embora estes nos separem, ligamo-nos num plano mais alto: o mesmo amor à nossa terra. E como, ambos, não temos partidos ─ porque o sr., dignamente abraçado aos antigos ideais, foge ao resvaladio das agitações inconscientes que por aí lavram, e eu, ─ abraçado aos princípios republicanos, sou repelido pelos singulares correligionários que da República não querem nem mesmo a rudeza puritana dos ''yeomen'' de Cromwell, ─ penso que este apego ao Brasil nos fraterniza na única política séria destes tempos. De sorte que é com legítima satisfação e a mais franca simpatia que me assino ─ confrade am<sup>o</sup>. at<sup>o</sup>. e muito adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 24 de julho de 1903==
:Exmo sr. Artur Azevedo
<p>Saúdo-o desejando-lhe felicidades. Recebi, entregue pelo nosso distinto amigo, cel. Barreiros, a sua gentilíssima carta de 16 do corrente e apresso-me em agradecer-lhe o seu honroso sufrágio. Creia que ele me honra muito, e que é um dos melhores estímulos para que eu persista no aproveitar os momentos de folga de minha engenharia estudando as coisas de nossa terra. Obrigadíssimo.</p>
<p>Já tracei nas primeiras linhas sobre a revolta de setembro, e julgo que não chegarei rapidamente ao fim. (Embora com verdadeira surpresa tenha lido no ''Correio da Manhã'', que o livro já vai para o prelo!)</p>
<p>O assunto, a começar pelo homem extraordinário que inteiramente o domina, é complexo: exige grande serenidade de observação; crítica segura; e permanentes resguardos no acompanhar o curso dos acontecimentos, que as paixões baralharam e perturbaram. Digo-lhe isto porque da bondosa referência que o sr. fez em seus artigos no ''País'', se conclui que também acredita no próximo aparecimento do trabalho. Mas a rapidez seria prejudicial.</p>
<p>Suponho que em princípios de agosto estarei aí. Conversaremos melhor.</p>
<p>Creia sempre na grande estima e maior consideração do seu am<sup>o</sup>. e adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 24 de julho de 1903==
:Escobar
<p>Desejo-te felicidades e aos teus.</p>
<p>Recebi a tua carta; e fico certo de encontrar-te em S. Paulo. Lá chegarei no dia 4 pela manhã. Se não puderes ir à estação do Norte, procura-me na Repartição ao meio dia. Procurar-te-ei no Hotel Bela Vista. Irei provavelmente para o Hotel de França. Quanto à Academia tenho, certos, os seguintes votos: Rio Branco, Machado de Assis, Artur Azevedo, João Ribeiro, Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Afonso Celso, Coelho Neto, Filinto, Araripe, Raimundo Côrrea, Garcia Redondo e provavelmente, Oliveira Lima, Laet e alguns outros. Dois, Arinos e Augusto de Lima, que eram certíssimos, ainda não tomaram posse. Como vês ─ se não triunfar tenho em compensação a elite dos nossos homens de talento ao meu lado. Nem quero outra vitória. ─ Sei que os outros concorrentes ''cavam'' danadamente, e é possível que algum deles triunfe. Mas… o grande Paul Louis também foi derrotado. Em S. Paulo conversaremos melhor.</p>
<p>Responda-me ─ duas linhas ─ dizendo o dia certo da tua ida ao am<sup>o</sup>.</p>
:Euclides
 
 
==Lorena, 26 de julho de 1903==
:Exmo. sr. Machado de Assis,
<p>Cumprimentando-o respeitosamente à Exma. Senhora, apresso-me em agradecer a grande distinção de sua carta de 20 do corrente que hoje li, ao voltar de viagem. Ela não me surpreendeu. Desde o primeiro dia em que tive a felicidade de conhecer pessoalmente a V. Exa. ─ o que para mim foi o complemento de relações bem antigas ─ fiquei sob a impressão de um deslumbramento, ao notar a incomparável bondade e a rara superioridade de coração com que me revestiu a sua nobilitadora estima. O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
Subscrevo-me, com a mais profunda estima e elevado apreço, seu am<sup>o</sup>. e cr<sup>do</sup>. ato. e adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 22 de agosto de 1903==
:Escobar
<p>A tua carta de ontem deixou-me triste. Vejo-te desalentado ─ como se fosses um ''velho'', melancólica palavra que não devias ter escrito ─ porque afinal és tudo menos um decadente ao qual se aplique o termo. Velhos andam por aí muitos ─ alguns de 20 anos! ─ mas não te vejo entre eles.</p>
<p>''Sursum corda!'' Meu bravo companheiro… É até um desaforo esse desânimo. Hás de ir para Santos e hás de lutar, ali, com a mesma nobreza de sempre. Tenha certeza disto. Mas para tal é necessário que vejas as coisas claras e azuis; nada de abatimentos. Tens uma fortuna que não se perde ─ alguns bons amigos. Sou o último deles, mas aqui estou absolutamente ao teu dispor. As cartas, hei de entregar-tas pessoalmente, na ''Civilização''.</p>
<p>Pretendo chegar a S. Paulo no dia 4 de setembro, à noite. Quero encontrar-te na estação do Norte. Não faltes. E escreva-me antes.
Recomenda a todos os teus o am<sup>o</sup>. firme e de sempre</p>
:Euclides
<p>P.S. ─ O diabo é que vou apresentar-te a concorrentes: o Vicente, o Urbano Neves etc. ─ mas neles terás magníficos companheiros. Alguma coisa me diz (e os meus pressentimentos de caboclo numca me enganam!) que serás extraordinariamente feliz em Santos. Verás…
Para aproveitar o papel aí vão os meus votos seguríssimos para a próxima eleição da Academia: Laet, Lúcio e Salvador de Mendonça, Veríssimo, João Ribeiro, Araripe, Machado, Rio Branco, Silva Ramos, Inglês de Sousa, Artur Azevedo, C. Neto, G. Redondo, Filinto, Luiz Murat, Raimundo Corrêa, e Afonso Celso (17) ─ e Arinos, Augusto de Lima e Martins Jº, estes se tomarem posse antes da eleição.</p>
<p>Como vês se os homens mantiverem o prometido é inevitável a vitória.</p>
Euclides
<p>[À margem]</p>
<p>2º P.S. ─ Antes de vir dê um passeio à ponte para me dar notícias dela.</p>
 
 
==Lorena, 10 de setembro de 1903==
:Coelho Neto
<p>o vento sul que aí está destocando as roseiras de Campinas, sacode, neste momento, as palmeiras imperiais da minha melancólica Lorena… e é uma lufada apenas, um fragmento do sudoeste bravo que, a estas horas, se estira e tumultua precipitado nas planuras dos pampas e dos chacos!… O diabo é que ele também me bate nos nervos; e aqui estou doente, a vibrar, a vibrar, à toa como aquelas harpas da gongórica peroração de Mont’Alverne. Isto não me impede, porém, de te responder logo, ─ ainda que o faça impelido por um interesse. De fato, sendo a eleição da Academia no dia 15 (disse-me isto Machado de Assis, quando estive no Rio), temo que alguns imortais não votem, distraídos pelos acontecimentos; e como não ficaria bem lembrar-lhes tal coisa, peço-te que escrevas a respeito aos que forem mais íntimos. Estou longe, a braços com esta profissão, e a minha candidatura ainda pode soçobrar. Mando-te a lista dos votos com que conto com absoluta confiança: o teu e os do Lúcio, Salvador, Araripe, Machado, Rio Branco, Afonso Celso, Inglês de Sousa, Silva Ramos, Artur, Veríssimo, João Ribeiro, Garcia, Filinto, Raimundo, Murat e Arinos (se tomar posse).</p>
<p>Jás vês que há desgraçadamente nesta carta um móvel de egoístico. Contingência humana.</p>
<p>Adeus; até breve. Recomenda-me a todos os teus.</p>
<p>Abraça-te fraternalmente</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 10 de setembro de 1903==
:Dr. Afonso Arinos
<p>Saúdo-o e Exma. sra.</p>
<p>Hoje ao chegar de viagem li no Correio da Manhã que se vai marcar o dia para a sua posse, e eleição da Academia. Lembrei-me então da minha candidatura, da qual me tenho descuidado para atender às exigências da profissão. Peço-lhe, por isto, que me ajude a levá-la por diante ─ para o que basta que não faltem os que prometeram o voto. Infelizmente não posso ir até aí para isto, e principalmente, para ouvir o seu discurso. <p>Partirei amanhã em nova viagem. Mas sigo tranquilo confiando no sr. e nos outros bons amigos que aí estão.</p>
<p>Até breve; creia sempre no</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 19 de setembro de 1903==
:Escobar
<p>Aqui recebi a tua carta de ontem.</p>
<p>Ontem chegou o Bormann. Obrigadíssimo.</p>
<p>Responda-me dizendo quando, provavelmente, podes vir. Não tens por aí notícias da minha candidatura?</p>
<p>Não sou mais extenso porque vou seguir já para Lambari onde voltarei hoje mesmo.</p>
<p>Até breve ─ Abraça-te o am<sup>o</sup>.</p>
:Euclides
<p>P.S. ─ Não recebi ainda o Senna Madureira ─ e o outro. Talvez venham à tarde.</p>
:Euclides
 
 
==Lorena, 22 de setembro de 1903==
:Meu Pai
<p>Desejo que esta o encontre bem de saúde.</p>
<p>Apresso-me em comunicar-lhe que fui eleito ontem para a Academia de Letras ─ para a cadeira do seu grande patrício, Castro Alves. Assim, o desvio que abri nesta minha engenharia obscura, alongou-se mais do que eu julgava. É ao menos um consolo nestes tempos de filhotismo absoluto, verdadeira idade de ouro dos medíocres. Tive eleitores como Rio Branco e Machado de Assis. Mas não tenho vaidades: tudo isto me revela a boa linha reta que o sr. me ensinou desde pequeno. Hei de continuar nela. Mande sempre notícias.</p>
<p>Filho e am<sup>o</sup>.</p>
:Euclides
<p>P.S. ─ Nomeu discurso de posse hei de recitar alguns versos de um velho poeta M. R. P. C. ─ que acompanharam as primeiras edições das ''Espumas Flutuantes''.</p>
 
 
==Lorena, 22 de setembro de 1903==
:Exmo. sr. Machado de Assis
<p>Cumprimentando-o e à Exma. família, apresso-me em lhe agradecer a extrema gentileza de seu telegrama de ontem, dando-me a mais agradável das notícias. Creia o meu distintíssimo patrício que no novo posto a que fui elevado (e não sei de nenhum outro mais elevado, neste país) me encontrará sempre assistido de uma boa vontade sem limites para obedecer à lúcida direção que está imprimindo ao movimento intelectual da nossa pátria. ─ Sempre com a mais alta consideração e maior estima, sou seu am<sup>o</sup>. cr<sup>do</sup>. muito adm<sup>or</sup>. </p>
:E. da Cunha
 
 
==Lorena, 23 de setembro de 1903==
:Escobar
<p>Saúdo-te. Recebi a tua carta e o telegrama. Obrigadíssimo. Surpreendeu-me o triunfo! E aqui estou cheio de gratidão pelos nossos dignos compatriotas que tão generosamente levantaram o meu nome obscuro. Recebi os livros. Quando vens? Não posso ir lá agora. Só em princípios do mês. Leste o belo artigo da ''Gazeta'' sobre os ''Sertões''? Não diria nada a ''Tribuna'', de Alcindo Guanabara? No caso afirmativo peço-te a envies. Escrevo atrapalhadamente, tendo que responder a não sei quantas cartas e telegramas.</p>
<p>Um embrulho…</p>
<p>Responda ao velho am<sup>o</sup>. obr<sup>mo</sup>.</p>
:Euclides
 
 
==Lorena, 23 de setembro de 1903==
:Meu caro Borba
<p>nas aperturas da ''crise'' não tenho remédio senão te incomodar pedindo-te que me mandes logo as diárias de Agosto.</p>
<p>Perdoa-me, meu velho amigo; lembra-te da minha profunda ''anemia algibeiral''…</p>
<p>E adeus.</p>
<p>Responda ao</p>
:Euclides
 
 
==Rio, 10 de outubro de 1903==
<p>Exmo. sr. dr. Rodrigo Otávio, dmo. 1º Secretário da Academia Brasileira de Letras. ─ Agradecendo a V. Exa. a honrosa comunicação que me fez em data de 25 de setembro p. findo, relativamente à minha eleição de membro dessa ilustre corporação, para a cadeira de Castro Alves, vaga pela morte de Valentim Magalhães, declaro que a recebi com a maior satisfação, ficando inteiramente ciente dos grandes e nobilíssimos deveres imanentes a tão elevado cargo.</p>
<p>Aproveito a oportunidade para apresentar a V. Exa. os protestos da maior estima e consideração, subscrevendo-me ─ confrade obr<sup>do</sup>. e muito adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
==Lorena, 14 de outubro de 1903==
:Max Fleiuss
<p>Saúdo-o e desejo-lhe felicidades.</p>
<p>Não tendo tido o prazer de o encontrar outra vez, antes de partir para aqui ─ renovo por meio desta o pedido que aí lhe fiz para enviar-me os documentos que puder dispensar relativos ao nosso saudoso Valentim Magalhães.</p>
<p>Terei com eles os cuidados que se têm com as verdadeiras relíquias; pode confiar-mos certo da restituição, que farei pessoalmente, quando aí estiver em novembro, para tomar posse do meu lugar no Instituto.</p>
<p>Quanto a este último ponto, peço-lhe, igualmente, que me diga qual o dia da sessão em que se realizará aquele ato.
<p>Sem mais, creia-me sempre com a maior consideração ─ amo. obr<sup>do</sup>. ato. adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
==Lorena, 18 de outubro de 1903==
:Amigo dr. José Veríssimo
<p>Saúdo-o e a todaa Exma. família. ─ Tem esta por fim solicitar-lhe dois grandes favores: 1º endereçar a inclusa carta para o dr. Joaquim Nabuco, porque não sei que destino lhe devo dar com segurança. Tracei-a à carreira, num intervalo desta minha vida trabalhosa. Subordino-a à sua censura. O 2º favor consistirá em aceitar um desgracioso presente: o rosto do caboclo que aí vai. Para isto não considere as suas linhas desengraçadas; considere a minha boa intenção.</p>
<p>E creia sempre na admiração e estima de quem é, muito cordialmente,</p>
:Euclides da Cunha
 
Linha 132 ⟶ 368:
<p>Não me demorarei neste assunto, para não me delongar. Basta-me assegurar-lhe que nenhum de nós, rapazes daquele tempo, traiu aquela admiração antiga para que o sr. aquilate bem a verdadeira ufania com que recebi as suas letras.</p>
<p>Quanto aos ''Sertões'' ― aguardo tranquilo o resultado de sua leitura. Os deslizes na forma que o inquinam (o José Veríssimo inflexivelmente os denunciou) empalidecerão na escala de sinceridade com que esboço as suas páginas. Aí está o seu único valor, mas este é desmesura. Releve-me esta verdade, o Dante, para zurzir os desmandos de Florença idealizou o inferno; eu, não, para bater de frente alguns vícios do no singular momento histórico, copiei, copiei apenas, incorruptivelmente um dos seus aspectos… e não tive um Virgílio a amparar-me ante o furor dos condenados!
<p>Não lhe devo tomar mais seu tempo que nesta ocasião pertence todo à nossa terra. Termino assegurando-lhe o meu maior apreço, a certeza e crescente admiração como comp. atº e amº.</p>
 
<p>Euclides da Cunha</p>
 
==Lorena, 22 de outubro de 1903==
:Max Fleiuss
<p>Diante do que me expôs com tanta franqueza na sua carta de 18, renuncio ao desejo de conhecer os documentos que aí tem sobre V. Magalhães.</p>
<p>Tratarei apenas do escritor. Em todo o caso agradeço muito a boa vontade com que acolheu meu pedido.</p>
<p>Nesta data envio ao dr. Marques Pinheiro a importância da jóia e mesalidade. Enderecei para o Instituto.</p>
<p>Quanto à posse também penso que será a 6; e havendo algum contratempo, a 20.</p>
<p>Cuide de preveni-lo com dois dias de antecedência.</p>
<p>Até breve, pois, e disponha sempre de quem é com muita consideração amo. obr<sup>do</sup>. e adm<sup>or</sup>.</p>
:Euclides da Cunha
 
==Lorena, 26 de outubro de 1903==
<p>[Anverso de cartão postal:]</p>
<p>São Paulo ─ Figueira Brava (Lorena) [Foto]</p>
<p>[Reverso:]</p>
:Dr. Lúcio de Mendonça
<p>Travessa do Marquês do Paraná, 6 ─ Rio de Janeiro</p>
<p>Esta figueira é minha vizinha aqui, em Lorena. Não é admirável?</p>
<p>Pelo menos, um esplêndido pretexto para que lhe mande minhas saudades e cumprimentos, ─ quem é, cordialmente,
<p>Lorena, 26 de outubro de 1903</p>
:Euclides da Cunha
 
 
==Lorena, 2 de novembro de 1903==
:Escobar
<p>Recebi a tua carta, a respondo logo — 5 minutos antes de partir para S. Paulo.</p>
<p>Não vou também ao Rio — mas às cabeceiras do Tietê, num serviço urgente. Tomarei posse no dia 20 deste.</p>
<p>Até breve.</p>
<p>Abraça-te o am<sup>o</sup>.
:Euclides
<p>Diga ao Valdomiro que breve responderei a última carta dele; logo que me desembaraçar da enormidade de trabalhos que aqui estão, esmagando-me.</p>
 
==Lorena, 16 de novembro de 1903==
:Coelho Neto
<p>Venho das cabeceiras do Tietê, depois de longa e penosa viagem, e contava encontrar, ao chegar, notícias tuas. Nem uma carta, porém. Por quê? Esta é a segunda ou terceira interrogativa que te faço profundamente surpreendido. Mas como, felizmente, estas coisas não têm força para a minha sólida estima, renovo-a sem mágoa, e já que não me dás notícias tuas, dou-tas minhas.</p>
<p>Graças à minha rigidez nativa de caboclo, continuo bem nos ''steeple-chases'' desta profissão errante; e neste momento, ao meu lado, três pequenos titãs de um côvado de alto — toda a minha prole — perturbam-me consideravelmente com as suas risadas triunfais, cheias de vida.</p>
<p>Em resumo, — tudo bem aqui. E lá? Vou propositadamente fazer ponto nesta pergunta, sem alongar esta, para não lhe desvirtuar o fim único de saber notícias tuas e dos teus.</p>
<p>Adeus. Dá um pouco mais de atenção ao teu</p>
:Euclides
<p>Recomenda-nos muito à Exma. senhora.</p>
 
==Lorena, 22 de novembro de 1903==