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Revisão das 23h37min de 5 de fevereiro de 2018

Argumento
O Mar Jónio Ulisses dividia,
E rendido ao furor do bravo vento,
Amparo e porto a Júpiter pedia,
Que os deuses convocou do etéreo assento:
De Atlante o neto as naus ao porto guia,
Onde achando suave acolhimento,
Circe, de ver Ulisses obrigada,
Porto e descanso dava à Grega armada.

1
As armas e o varão que os mal seguros
Campos cortou do Egeu e do oceano,
Que por perigos e trabalhos duros
Eternizou seu nome soberano:
A grã Lisboa e seus primeiros muros
(De Europa, e largo império lusitano
Alta cabeça), se eu pudesse tanto,
À pátria, ao mundo, à Eternidade canto.

2
Lembra-me, Musa, as causas, e me inspira
Como por tantos mares o prudente
Grego, vencendo de Neptuno a ira,
Chegou do Tejo à túmida corrente:
Ouvirá o som da lusitana lira
O negro ocaso e lúcido oriente,
Se tu dás ser a meu sujeito falto,
Para que caiba em mim furor tão alto.

3
Vós, grão senhor, com quem o céu reparte
Dons que o poder excedem da ventura,
Que, armado, filho pareceis de Marte,
E Adónis, desarmado, em formosura,
Em quem se uniu por natureza e arte
Co' a mor severidade a mor brandura,
Que em vossa altiva fronte o peso grave
Amor excita com temor suave:

4
Vós, que nos tenros anos um gigante
Representais, e como forte Godo
Novas esferas que não soube Atlante
Sustentais por mais alto e raro modo:
Que com ombros armados de diamante,
Sem c' o peso inclinar do mundo todo,
Dais santas leis às terras mais estranhas
De ambas as Índias, de ambas as Espanhas:

5
Vós, Alcides hespério, a quem não cansa
Vencer monstros do pólo congelado,
Qu' inda de sangue seu por vossa lança
Seu plaustro as Ursas hão-de ver banhado:
Por vós, que encheis de medo e de esperança
O mundo, quando entrais no campo armado,
De que o grito imortal da fama corre,
D' onde o sol nasce, às ondas, onde morre:

6
Vós, águia imperial, a que o otomano
Falcão temendo as livres asas cerra,
A quem não hão-de ser pelo oceano
As Órcades, ou Thule, última terra:
Vós, açoite do torpe luterano,
Que buscando alta fama em dura guerra,
Penetrareis as grandes serras, onde
A famosa cabeça o Nilo esconde:

7
Vós, que humildes fareis os empolados
Mares, não sendo navegados dantes,
E os campos de Ampelusa subjugados
Vereis, pisando as luas arrogantes;
E a vossos pés rendidos e prostrados,
O dragão frio, os pérsicos turbantes,
E tudo o que há do antártico a Calisto,
Té o grão sepulcro libertar de Cristo:

8
Suspendei por um pouco do áureo ceptro
A régia majestade soberana,
Ouvi cantar ao som do grego plectro,
Com grave acento a Musa lusitana:
E enquanto dais a mais sonoro metro
Obras dignas de glória mais que humana,
Dai-me vosso favor, que nele espero
Cantar de Ulisses, imitando a Homero.