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nova página: <poem> ::::Argumento ''O Mar Jónio Ulisses dividia, ''E rendido ao furor do bravo vento, ''Amparo e porto a Júpiter pedia, ''Que os deuses convocou do etéreo as...
 
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Sem resumo de edição
Linha 8:
''Onde achando suave acolhimento,
''Circe, de ver Ulisses obrigada,
''Porto e descanso dava à Gregagrega armada.''
 
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Linha 18:
(De Europa, e largo império lusitano
Alta cabeça), se eu pudesse tanto,
À pátria, ao mundo, à Eternidadeeternidade canto.
 
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Linha 52:
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Vós, Alcides hespério, a quem não cansa
Vencer monstros do pólopolo congelado,
Qu' inda de sangue seu por vossa lança
Seu plaustro as Ursas hão-de ver banhado:
Linha 81:
 
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Suspendei por um pouco do áureo ceptrocetro
A régia majestade soberana,
Ouvi cantar ao som do grego plectro,
Linha 89:
Dai-me vosso favor, que nele espero
Cantar de Ulisses, imitando a Homero.
 
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Cortando o golfo Jónio prosseguia
Seu curso a grega armada, quando irado
Bóreas as negras asas sacudia,
Sobre o mar todo em serras levantado:
Euro bramindo o centro revolvia,
Via-se o ar de nuvens coroado,
E o fogo e confusão que o Inferno imita,
Mostra que o céu no mar se precipita.
 
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Ao longe o mar bramia horrendamente,
Quebrando as ondas que c' o vento crescem,
Vão-se os ares cerrando, em continente
Da vista o mar e o céu desaparecem:
Encanece Neptuno, que o valente
Austro as ondas levanta, e quando decem
Deixam-se ver as grutas e as montanhas
Que esconde o mar nas húmidas entranhas.
 
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Em braços da tormenta embravecida,
Que às naus último estrago ameaçava,
Corria a armada grega dividida,
Que já apenas as ondas contrastava:
Vendo-a o Dulíquio quase submergida,
Porque do porto o vento a desviava,
Co' a confusão do esp'rito aos céus erguia
A lagrimosa voz, e assim dizia:
 
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"Ó grande Ámon, que a terra rodeaste
Dessas figuras belas e prestantes,
E esta lustrosa máquina abraçaste
Co' as luzes das esferas rutilantes:
Que o destino das coisas que criaste
Escreves nesses lúcidos diamantes,
Sendo divinas letras as estrelas,
Porque teu grão poder leiamos nelas:
 
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"As fúrias doma de Neptuno irado,
E aplaca as iras do soberbo vento,
Pois das estrelas e do mar inchado
Só podes alterar o movimento:
Tu, que ordenas repouso ao sol dourado
No grande leito do húmido elemento,
Fazendo com justíssima balança
Seguir à tempestade a mor bonança:
 
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“Não permitas, senhor, que este desterro,
Que há tantos anos temo, há tantos sigo,
Dilatando-se vá de erro em erro,
Que menos temo a morte que o perigo:
Permite-me lançar seguro ferro
Naquela doce praia e porto amigo,
E que possa gozar alegre porto,
Quando não seja vivo, ao menos morto."
 
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Ouviu o grão Tonante o afligido
Coração com que Ulisses se queixava,
E nas entranhas paternais movido,
Dar-lhe porto e descanso desejava:
E para ser de todos entendido
O que do forte Ulisses se ordenava,
Conselho quer fazer no céu superno,
Onde declare este decreto eterno.
 
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Ao grande Olimpo tinha convocado
Dos deuses a divina companhia,
Os que na zona ardente e congelado
Polo gozam do largo e breve dia:
Já para a hora e tempo limitado
Chamados de Cilénio a láctea via
Pisando vêm, e as deusas da prestante
Filha da bela Electra e de Taumante.
 
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Nos quícios d' ouro sólido e seguro
Geme a porta do Olimpo omnipatente,
Treme dos claros céus o cristal puro
Ao aceno de Júpiter potente:
De balais e safira o sólio duro
Formava um jaspeado transparente,
E Júpiter, envolto em claridade,
Tinha ante o rosto um véu de majestade.
 
::::18
Nova luz de seu rosto recebendo
Com Júpiter assiste a cara esposa,
Ele os raios depõe, de quem tremendo
Está do mundo a máquina lustrosa:
O alígero Cilénio recolhendo
Os deuses na alta sala e luminosa,
Nela lugar lhes dava, qual convinha,
Seguindo a ordem que de Jove tinha.
 
::::19
Vê-se o intonso Apolo, e junto dele
Mavorte altivo armado de diamante;
Cobrindo os membros nus d' uma áurea pele
Vulcano, deus do fogo rutilante:
O rubicundo filho de Semele,
E o da formosa Acesta, a quem diante,
Dando co' as asas brandos movimentos,
Vão como pajens os menores ventos.
 
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Palas, armada, valerosa entrava,
E logo a bela deusa, que em Citera
Pafos e Gnido reina, e se mostrava
Belona no semblante irada e fera:
Nenhum dos altos deuses se assentava,
Que sinal da tranquila mão se espera
De Júpiter, que inclina a luz serena,
E que se assentem gravemente acena.
 
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Resplandecia Jove no alto assento,
A que suavemente se subia
Por degraus de cristal, cujo ornamento
De prata e d' ouro o resplandor vencia:
E no dossel, que iguala o firmamento,
Brilhava a radiante pedraria,
Que a clara luz do sol e sua beleza
Vence na graça, excede na pureza.
 
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O estrado de matéria era mais fina
Que a massa das puríssimas estrelas;
Um arco vario forma Íris divina
D' outras cores mais finas e mais belas:
O tempo, fim das coisas, se reclina
A seus pés, como autor de todas elas,
E os esp'ritos, que em roda lhe assistiam,
Como átomos da luz, voando ardiam.
 
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Abaixo os semideuses preeminente
Assento tinham de cristal lavrado,
E o rio de mor fama e mor corrente
Está sobre urnas de ouro reclinado:
Treme a parte do céu mais eminente,
Um lume arcano as portas tem guardado:
Silencio dá com tom de voz suave,
E das palavras segue o peso grave:
 
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“Vistes como de Troia debelada
Saiu Ulisses? Como o mar undoso
Do Helesponto passou e da encurvada
Cicónia costa o porto perigoso?
As tormentosas sirtes e a abrasada
Praia africana? Como ao temeroso
Ciclope a luz da carregada fronte
Nas entranhas rompeu de um grave monte?
 
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“Pois agora obediente às leis dos fados,
A lusitana costa vai buscando,
Por força e arte mares empolados,
Duros ventos vencendo e contrastando:
Por mitigar trabalhos tão pesados,
Quero que Circe com repouso brando,
Apesar de Neptuno e bravo vento,
Dê à cansada armada acolhimento.
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