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Linha 241:
 
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“Vistes"Vistes como de Troia debelada
Saiu Ulisses? Como o mar undoso
Do Helesponto passou e da encurvada
Linha 251:
 
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“Pois"Pois agora, obediente às leis dos fados,
A lusitana costa vai buscando,
Por força e arte mares empolados,
Linha 259:
Apesar de Neptuno e bravo vento,
Dê à cansada armada acolhimento.
 
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"Por este capitão, por esta gente
A eterna lei do imóbil Fado ordena
Se funde uma cidade onde a corrente
Do Tejo se dilata mais amena:
A quem o Gange e o Indo do oriente
As leis virão pedir e paz serena,
Fazendo obedecer-se a grã Lisboa
Do tardio Boote à tocha Eoa.
 
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"E pois o fado assim o determina,
Quero, sagrados deuses, que o facundo
Ulisses veja as partes donde inclina
Seu áureo coche o sol ao mar profundo;
Levante uma cidade peregrina,
Cabeça alta do mundo, um breve mundo,
Que ocupe com eterna monarquia
Té os horizontes últimos do dia."
 
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Disse; e qual nos primeiros resplandores
As abelhas solicitas, levando
O rocio subtil das puras flores,
Na conhecida casa vão entrando,
Adonde os suavíssimos licores
Com estranho artifício dilatando,
Se ouve um leve sussurro: assim soava
O rumor que entre os deuses se formava.
 
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Já cessara de todo o rumor leve;
Porém, Marte, que o caso mal sofria,
Mil pensamentos neste espaço breve
Na soberana mente revolvia:
Até que, c' o respeito que se deve
Do lugar que ocupava, em pé se erguia,
Dando dois passos pela régia sala,
E desta sorte airoso a Jove fala:
 
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"Júpiter poderoso e sempiterno,
A quem só foi o Olimpo em sorte dado,
Que deste alcáçar o caminho eterno
Tens de estrelas luzentes adornado:
Que os diáfanos céus e escuro inferno
Vês a teu grão poder ajoelhado,
E os montes que co' as nuvens se terminam,
A teu nome a cerviz tremendo inclinam:
 
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"Tu, que ao celeste globo, a esta dourada
Máquina deste luz, deste beleza,
E na terra dos homens habitada
Dás vida e leis à mesma natureza:
Que o sol pisas e a lua prateada,
E os elementos desta redondeza
Concertas, dando aos peixes as suaves
Ondas, ao monte as feras, ao ar as aves:
 
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"Coisa parece, grão senhor, estranha
Que venha a ocupar o sólio hespério
Um enganoso grego, que por manha
Trocou de Troia em cinza o antigo império:
A fama que hoje a Alcides rende Espanha,
E ao padre Baco o índico hemisfério,
Em grande opróbrio seu por esta via
Na memória dos homens ficaria.
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