Correspondência ativa de Euclides da Cunha em 1904: diferenças entre revisões

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Não vá zangar!
 
Mande os fascículos da ''Revista Enciclopédica'' e venha até cá.
 
[Cartão de visita. Impresso: Euclides da Cunha]
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:[A Lúcio de Mendonça, 1904]
 
Li com o máximo interesse a sua carta de 22 onde estão alguns apontamentos sobre o ''nosso homem''. Não se surpreenda com o desejo de conhecer tais pormenores, por parte de quem, (estudante militar e formando-se precisamente na época em que ― em pleno poder ― nos colocava acima de todos os homens deste país) devia-os conhecer perfeitamente. Explico: naquela quadra não calculei bem a situação; vi no homem apenas um dos muitos ''soldats heureux'' que entram estonteadamente na história. Além fui sempre um tímido; nunca perdi esse traço de filho da roça que me desequilibra intimamente ao tratar com quem quer que seja. Daí o ter perdido.
 
Aqui tenho um convite que leio hoje com tristeza e que na ocasião recebi com indiferença. “29 de janeiro de 1893. Euclides ― o marechal precisa lhe falar hoje. Pinto Peixoto”.
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E o grande dominador abriu-me a apertadíssima pasta da sua intimidade: Veio em ar de guerra… não precisava fardar-se. Vocês aqui entram como amigos e nunca como soldados.
 
Decorei textualmente. Agora meu caro dr. Lúcio, vá preparando o mais fulminante alexandrino das ''Vergastas'' para fulminar a minha horrorosa ''inaptidão''. O grande doador de posições, referindo-se à minha recente formatura e ao meu entusiasmo pela República, declarou-me que tendo eu direito a escolher por mim mesmo uma posição, ''não se julgava'' competente para indicá-la… Que perspectiva! Basta dizer-lhe que estávamos em pleno despencar dos governadores estaduais!…
 
E eu (nesta época sob o domínio cativante de Augusto Comte, e que isto vá como recurso absolutório) ― declarei-lhe ingenuamente que desejava o que previa a lei para os engenheiros recém-formados: um ano de prática na E. F. C. do Brasil!
 
Não lhe conto o resto. Quando me despedi pareceu-me que no olhar mortiço do interlocutor estava escrito: ''nada vales''.
 
E tive ainda a inexplicável satisfação de descer orgulhosamente as escadas do Itamaraty, atravessar alegremente o saguão, embaixo, e sair agitando não sei quantos sonhos de futuro… um futuro que desastradamente eu tinha destruído.
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==Santos, 13 de janeiro de 1904==
 
:Meu caro coronel Borba
 
Saúdo-te — e não preciso dizer-te que aqui estou às tuas ordens.
 
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:Ao Exmo. sr. Machado de Assis
[Cartão de visita. Impresso: Euclides da Cunha]
 
Euclides da Cunha [impresso]
 
Saúda; e comunica-lhe que na sua nova residência, em Santos, onde veio dirigir uma das seções do Saneamento, está inteiramente ao dispor do distinto mestre e amigo.
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==Santos, 5 de março de 1904==
 
:[AMeu ilustre mestre e amº [Machado de Assis]
 
Meu ilustre mestre e amº
 
Saúdo-te e à Exma. família.
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:Coelho Neto
 
Tens razão. Li a tua carta, e para logo, rompendo com um propósito que me parecia inflexível, procurei o Lauro Müller e pedi um emprego. Aquele velho companheiro, com enorme surpresa minha, ― tão destemperados andam os homens e os tempos! ― recebeu-me admiravelmente. Não era o ministro, era o antigo companheiro de ideal, o sócio daqueles estupendos sonhos de mocidade (ó República!…) que não sei mais onde existem. Mas antepõe-se um obstáculo grave: a legião inumerável de engenheiros desempregados, que entope as escadas das secretarias. Não imaginas o que eu vi… Vê se concebes, de momento, com o melhor da sua fantasia, o quadro de uma espécie de ''Encilhamento da Miséria''. Há em cada caracol das escadas que levam aos gabinetes dos ministros urna espiral de Dante. Considera agora isto: eu entrei por uma delas; ninguém me conhecia; esquecera-me a preliminar de um cartão, de um empenho; de sorte que, a breve trecho, no apertão dos candidatos afoitos, capazes de pagarem com dois anos de vida cada degrau da subida, me vi frechado de olhares rancorosos… Estaquei, arfando, espetado, em pleno peito, por um cotovelo rígido e duro, de concorrente indomável; não ouvi o trágico ranger de dentes; ouvi grunhidos. Quis voltar; impossível: não havia romper-se a falange que se unia, em baixo, inteiriça, ombros colados como os dos suíços medievais na hora da batalha. Tirei desesperadamente o lenço amaldiçoei-te, ó homem, que, a cem léguas de distância, com um movimento da pena e um bater do coração, me atiravas naquela ciscalhagem de almas, de músculos e de nervos! Mas naquele instante alvorou um rosto amigo e desconhecido e, logo após, sacudida por um gesto, que roçou um impertinente cavanhaque vizinho, como a asa de um pássaro num capão de mato, uma pergunta: ― É o sr…? O cavanhaque contemplou-me curioso, um sujeito gordo e tressuante por sua vez recuou, e na face cheia espalmou-se-lhe um sorriso; um outro, também gordo (a que mais podem aspirar estes homens? Noto que na sua maioria os candidatos são repletos de carnes) fez o milagre de afastar-se um pouco… e num minuto, nem sei como isso foi, estava lá em cima. E lá em cima empolgou-me a vaidade, porque, em verdade, quem me levara até lá, com tanta felicidade, fora o Euclides da Cunha!
 
Estas tolices escandalosas só se dizem aos irmãos.
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==Guarujá, 27 de abril de 1904==
 
:Vicente
 
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Mas passou…
 
Estive no Rio. Fui cativantemente recebido pelo Lauro Müller; e voltei cheio de esperanças. Considerando, porém, o doloroso estado em que encontrei ali a pobre engenharia — torpemente jogada na calaçaria estéril da rua do Ouvidor ou entupindo as escadas das Secretarias — creio bem que todas as esperanças são vãs. Que podem arranjar-me? Imagina, portanto, quanta vacilação e quanto agitar ''o ser e o não ser'', me lavram devastadoramente o espírito… Espero muita coisa; alimento projetos vários todos mais ou menos viáveis; imagino outras, que se esvaem logo; e neste tumulto, vou-me agitando no estonteamento de quem segue tateando entre miragens.
 
Doloroso é isto: tenho doze anos de carreira fatigante, abnegada, honestíssima, elogiada, traçada retilineamente; passei-os como um asceta, com a máxima parcimônia, sem uma hora de festa dispendiosa, e chego ao fim desta reta tão firme, inteiramente desaparelhado!
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Endereço: Santos (Guarujá)
 
==Hotel de França — Quarto nº 8 — São Paulo==
Ilmo sr. Francisco de Escobar
Espero-te domingo, sem falta, em Guarujá. Conversaremos melhor e talvez eu te possa guiar melhor quanto à tua pretensão.
Recado do amo. Obrmo.
Euclides
[Carimbo postal: 10 de junho de 1904]
 
:Ilmo sr. Francisco de Escobar
 
Espero-te domingo, sem falta, em Guarujá. Conversaremos melhor e talvez eu te possa guiar melhor quanto à tua pretensão.
 
Recado do am<sup>o</sup>. Obr<sup>mo</sup>.
 
:Euclides
 
==São Paulo, 13 de junho de 1904==
 
:Ilustre colega e amo. dr. José Veríssimo
 
Saúdo-o desejando-lhe felicidades. Breve pretendo ir até aí, e então darei melhores notícias minhas. O objetivo único desta carta é enviar-lhe um número do ''Estado'', onde se lê um artigo de Henrique Coelho, um magnífico companheiro e uma esperança. Sei da grande inclinação que o sr. tem pelo grande problema social; e desejo saber qual a sua opinião sobre o artigo do Henrique, que é um convencido e um dos poucos que no nosso reduzidíssimo meio intelectual se preocupa com estas questões.
 
Continuo ainda em Guarujá (Santos), para onde voltarei amanhã. Lá estou inteiramente ao seu dispor, e lá aguardo a sua resposta.
 
Creia sempre na maior consideração do seu am<sup>o</sup>. muito adm<sup>or</sup>.
 
:Euclides da Cunha
 
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==Guarujá, 20 de junho de 1904==
[Bilhete postal]
 
Hotel de França — S. Paulo
 
:Ilmo. Sr. Francisco de Escobar
 
Seguirei S. Paulo logo que fique melhor filhinho menor gravemente queimado num pé. Falarei diretamente sobre o teu negócio. A carta não terá valor nenhum. Há tempo: ontem o Carlos Guimarães me disse que não é para já; depende da reforma judiciária; coisa de 4 ou 5 meses. Fiquei descansando.
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==Guarujá (Santos), 24 de junho de 1904==
 
:Meu ilustre confrade e am<sup>o</sup>. dr. José Veríssimo
 
Saúdo-o, desejando-lhe felicidades.
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:Euclides da Cunha
 
P.S. — Não há temer-se a oposição de um espectro, o Exército, por causa dos ''Sertões''. Tenho lá, mesmo naqueles lugares, amigos — bastando citar o nome de Siqueira de Menezes. Além disto, o rancor despertado pelo livro vai muito atenuado…
 
==Guarujá, 26 de junho de 1904==
 
:Escobar
 
Conversei ontem com o Henrique Coelho a teu respeito. Disse o que és. Ele ficou extremamente desejoso de te conhecer; e é escusado dizer-te que ampara francamente a tua candidatura. Podes escrever-lhe, baseado no que te digo. Satisfaz, assim, o que desejavas.
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:Euclides
 
 
[Carimbo postal:]
==Santos, 2 de julho de 1904==
[Carimbo postal]
 
:Plínio
 
Seguiu hoje, registrado, o primeiro artigo para o ''Comércio''.
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Redação do ''Estado de S. Paulo''
 
S. Paulo
 
:Plínio
 
Escreveu-me anteontem o Oliveira Lima pedindo-me dois números do Estado de 25 (não sei se é a data do que traz a “Comédia Histórica”) — e eu imediatamente transmiti o recado ao Carlos Ferreira para enviá-los diretamente daí — para o Hotel dos Estrangeiros — Rio. Agora desconfio que pus o endereço errado. Verifica-me isto — porque me parece que mandei a carta para o ''Comércio'', com o artigo que ontem seguiu.
Escreveu-me anteontem o Oliveira Lima pedindo-me dois números do ''Estado'' de 25 (não sei se é a data do que traz a “Comédia Histórica”) — e eu imediatamente transmiti o recado ao Carlos Ferreira para enviá-los diretamente daí — para o Hotel dos Estrangeiros — Rio. Agora desconfio que pus o endereço errado. Verifica-me isto — porque me parece que mandei a carta para o ''Comércio'', com o artigo que ontem seguiu.
 
Diga ao Laerte para transcrever o “Ideal da América” do ''País'' de ontem. Façamos a propaganda do magnífico Roosevelt, o grande evangelizador.
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==Guarujá, 7 de julho de 1904==
 
:Meu ilustre amo. dr. José Veríssimo
 
Recebi a sua prezada carta e fiquei satisfeitíssimo com o seu valioso juízo relativamente ao meu “Marechal de Ferro”. Também transmiti ao Henrique Coelho a sua opinião sobre o trabalho dele.
 
Quanto ao outro assunto — ela fortaleceu as esperanças na realização do meu ideal de bandeirante. Estou cada vez mais animado em levá-lo por diante. Que melhor serviço poderei prestar à nossa terra? Além disto, não desejo Europa, o ''boulevard'', os brilhos de uma posição, desejo o sertão, a picada malgradada, e a vida afanosa e triste de pioneiro. Nestes tempos de fragilidade já não é pouco.
 
Ampare por isto, com o inegável prestígio do seu nome, a minha pretensão. E diga-me sempre uma palavra a respeito dela. Aguardo ansiosamente uma decisão.
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P.S. — Antes de partir tomarei posse da cadeira na Academia. Mas não poderei sair daqui sem uma decisão clara.
 
 
[Bilhete postal]
==Guarujá, 18 de julho de 1904==
[Bilhete postal]
 
Exmo. sr. dr. Plínio Barreto
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S. Paulo
 
:Plínio
 
Saúdo-te. Estou intrigadíssimo. Escrevi há dias um cartão ao Laerte pedindo-lhe que me mandasse o ''Comércio'' — (que não assinei, até por um pacto vulgar de delicadeza pessoal) e não obtive resposta. O caso é aparentemente sem importância. Mas considerando a minha situação de colaborador recente, ali, essa desatenção pode ser uma revelação de desagrado. Concluo: talvez não tenham agradado os meus artigos. É exato? Diga-me francamente. Estou na mais completa impossibilidade de escrever uma linha para o ''Comércio'' enquanto persistir esta dúvida. E como foi por instâncias tuas que atendi aos pedidos do Laerte — peço-te esta explicação que se dirige sobretudo a um amigo.
 
É escusado dizer-te que de modo algum desejo que me mandem mais aquele jornal — gratuitamente — mesmo que a colaboração continue.
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==Guarujá, 25 de julho de 1904==
 
:Ilmo. sr. dr. Plínio Barreto
 
Redação do ''Estado de S. Paulo''
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==Guarujá, 27 de julho de 1904==
 
:Plínio
 
Ontem respondi a tua carta — de acordo com o que disseste. Espero-te sem falta com o Valdomiro e o Breno. Não faltem. Estou a procurar assunto para escrever. Há muitos nesta terra… mas tão […] que a escolha é dificílima. Mandei para o ''País'' um com o título “Vida das Estátuas” — Pelo título poderás calcular o que é. Talvez o ''País'' não o publique. Se o fizer peço que seja transcrito no ''Comércio''. Talvez valha a pena. É uma ferroada política… através de um temperamento.
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Ilmo. sr. Plínio Barreto
 
Redação do ''Estado de S. Paulo''
S. Paulo
 
:Plínio
 
Hoje aconteceu-me uma única. Escrevi para o ''Comércio''… e mandei o artigo para o ''País''! Vejo pelo recibo do registro! É que estava sob a impressão de uma carta do Lage, pedindo-me para não interromper a colaboração naquele. Expliquei o caso ao Laerte. Vou emendar a mão.
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==[Santos, 1904]==
 
:Plínio
 
Recebi o teu cartão. Conversaremos depois sobre o Transiberiano. Por que não me mandam o ''Comércio''?
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==[Guarujá]==
:Plínio
 
Escrevi-te hoje. Lembrei-te a transcrição do artigo “Vida das Estátuas” no ''Comércio''. Nunca!!! O ''País'' estropiou todo o artigo. Um horror! Que revisão!
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==Guarujá, 7 de agosto de 1904==
 
:Coelho Neto
 
Cheguei neste momento da ilha dos Búzios, onde estive com o Cardoso de Almeida. Encontrei a tua carta e leio-a, de pé, de mala a tiracolo e de botas, sem mesmo sentar-me, tal o desejo que tinha de notícias tuas. Obrigadíssimo. Vejo que estás bom e com a melhor coragem para a luta, embora digas o contrário. Impressionou-me apenas pouco agradavelmente o fato de não ires mais para a Europa. Por que? Conta-me isto. Egoisticamente folguei com a nova, mas, como amigo, lamento o caso, prevendo-lhe causas que sejam para você um desgosto. Conta-me isto. Quanto a mim estou entre miragens, tendo milhões de promessas, milhões de esperanças e creio mesmo que, amanhã hei de ver-me atrapalhado para escolher os empregos. Enquanto isto não acontece caio na engenharia a retalho das vistorias.
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==Guarujá, 8 de agosto de 1904==
:Meu Pai
 
Acabo de receber do dr. Oliveira Lima um telegrama noticiando a minha próxima nomeação para a comissão de engenheiros para os limites do Peru. Não sei ainda em que cargo. De qualquer modo devo aceitar. Só terei a lucrar — como brasileiro que vai prestar um serviço à sua terra, como engenheiro que não pode ter um trabalho mais digno, e como escritor que não poderá ter melhor assunto.
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P.S. — Como já viu pelos jornais fui há dias à ilha dos Búzios, com o Cardoso de Almeida — que verificou em todos os pontos a exatidão do meu relatório anterior.
 
[Bilhete postal]
==Guarujá, 8 de agosto de 1904==
[Bilhete postal]
Ilmo. sr. dr. Plínio Barreto
 
Redação do Estado de S. Paulo
:Ilmo. sr. dr. Plínio Barreto
 
Redação do ''Estado de S. Paulo''
S. Paulo
 
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==[Guarujá, 1904]==
:Escobar
 
Desejo-te felicidades — e, principalmente, que encontres toda a família boa e feliz.
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==Guarujá, 22 de agosto de 1904==
:Meu ilustre confrade e amo. Domício da Gama
 
Saúdo-o, desejando-lhe felicidades.
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==Guarujá, 23 de agosto de 1904==
:Plínio
 
Recebi a tua carta. Obrigadíssimo. Quanto ao célebre ''escangalhador'', já lhe sabia da capoeiragem — a que não devemos dar nenhuma importância. Em todo o caso agradeço muito o teu interesse e as tuas palavras.
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==Guarujá, 25 de agosto de 1904==
:Meu Pai
 
Recebi a sua carta — e fico ciente do que nela me diz. Creio — mas há muita certeza — que os vencimentos são de 3:000$000 mensais.
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==Guarujá, 27 de agosto de 1904==
:Meu ilustre amo. dr. Domício da Gama
 
Saúdo-o. Escrevi-lhe há dias comunicando haver recebido a monografia de Chandless e agradecendo-lha.
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==Guarujá, 31 de agosto de 1904==
:Meu ilustre amo. dr. Oliveira Lima
 
Felicidades. Aqui o esperei longos dias para a peregrinação à lendária Bertioga. Afinal, não obtendo resposta às cartas que escrevi, para lá segui, sentindo sinceramente não ter ao meu lado quem tanto se devota ao nosso passado interessantíssimo. Como lembrança da romaria aí vai esta estampa, que não mandei cartonar, para facilitar a remessa pelo correio. Mais tarde lhe darei outras.
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==Guarujá, 31 de agosto de 1904==
:Meu ilustre amo. dr. José Veríssimo
 
Tenho-lhe falado tanto na ''minha'' ilha dos Búzios que não resisto à ideia de mandar-lhe uma amostra desse belo recanto da nossa terra. Veja como é caprichosa a nossa natureza: ocultar no mar alto uma de suas faces mais belas! Como o sr. talvez queira conhecer alguns dos do grupo que lá está, numerei-os: 1 — Benedito Calixto, talentoso pintor vicentista; 2 — Cardoso de Almeida, ministro da Justiça do Estado; 3 — Antonio de Godoy, chefe de polícia; 4 — um engenheiro cujo nome não me ocorre; e 5 — Alberto Souza, escritor paulista. No extrermoextremo do cartão, muito afastado, e em destaque, está um animal bem superiora todos os outros, um pescador da ilha, rija e empertigada figura de piraguara robusto.
 
Desculpe-me mandar a estampa sem cartão — é o melhor meio para o transporte no correio. — Até breve. Se souber alguma coisa sobre o dia provável da nossa partida, peço dizer-me logo — porque aqui estou na mais absoluta insciência das coisas. Queira abraçar por mim ao Veríssimo Filho; recomendar-me a todos os seus e dispor sempre do am<sup>o</sup>. at<sup>o</sup>. e adm<sup>or</sup>.
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P.S. — Faço votos para que já esteja inteiramente restabelecida a sua filhinha.
 
==Guarujá, 1º de setembro de 1904==
:Meu ilustre amo. dr. Oliveira Lima
 
Ontem, depois que lhe escrevi e mandei registrada uma fotografia da nossa velha Bertioga — recebi a sua carta. Veio, ela, tirar-me de grande vacilação porque afastado, como estou, não sabia se estava ou não, próxima a época da partida para o Purus. Vejo que talvez ainda se demore. Em todo o caso renovo o pedido anterior, isto é, avisar-me com uns 8 dias de antecedência (se for possível) a fim de que eu siga para aí — o que não faço já para não expor a família à virulência da varíola. Penso que com certeza ainda aqui estarei até o dia 10. Revive assim, inesperadamente, o belo plano de um passeio a Bertioga. Espero que desta vez não surjam obstáculos que no-lo impeçam.
 
Fiquei satisfeitíssimo com a digna solução da sua ''crise''. Bem lhe disse aí, que do barão do R. Branco o sr. só poderia esperar as maiores atenções e fidalga gentileza. Afinal a Venezuela é talvez a parte mais intelectual de toda a América Latina. Há, pelo menos, ali, uns poetas extraordinários, e de um, Estrada Palma, conservo ainda a impressão dos versos maravilhosos. De lá virão as suas cartas para o ''Estado'', que as receberá festivamente. Peço-lhe que me recomende a todos os seus. Creia sempre no am<sup>o</sup>. at<sup>o</sup>. e adm<sup>or</sup>.
 
:Euclides da Cunha
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==Guarujá, 5 de setembro de 1904==
:Plínio
 
Recebi a tua carta — mas como o Mesquita dentro de 8 ou dez dias irá definitivamente para aí — não tratei com ele sobre o assunto de que trataste. Tenho passado muito mal! Imagine — uma nevralgia por dia! Não sei a que atribuir semelhante tortura, agravada neste momento pela necessidade urgente de recordar quase toda a astronomia. Aí está a razão porque não tenho escrito. Ainda hoje, a pedido do Mesquita, procurei traçar um ligeiro esboço da agitação da Independência — mas nada consegui escrever, sob a angústia desse parafuso sem fim que me atravessa a cabeça de lado a lado. Por outro lado uma sobrecarga intelectual assombrosa! Só respiro senos, cossenos, tangentes e tudo quanto há de seco e brutalmente insípido em matemática. Estou vendo que um dia acordo desfeito em raiz quadrada… extraída pelo célebre ''escangalhador das dúzias''.
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P.S. — No dia 10 ou 11 chegará aí o Oliveira Lima (se vier por terra) e como não posso ir lá agora, telegrafar-te-ei — para que recebas o distintíssimo patrício. Ele deve seguir logo para aqui, onde o espero. Desculpa-me esta maçada, mas eu não poderia encontrar quem melhor, e até com vantagem, me substituísse.
 
:Euclides
 
==Guarujá, 5 de setembro de 1904==
:Meu ilustre amo. dr. Oliveira Lima
 
Recebi a sua carta dando a boa notícia da sua próxima vinda. Peço-lhe dizer-me se vem por terra ou por mar — sendo o último caso, a meu ver, muito melhor.
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==Guarujá (Santos), 6 de setembro de 1904==
:Meu ilustre mestre dr. Luís Cruls
 
Saúdo-o. Antes de vir para cá deixei no Laemmert, com uma dedicatória para o sr., um exemplar dos ''Sertões''. Recebeu-o?
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Realmente, como diz bem o sr., seria lamentável, seria até desastroso, que eu escorregasse por esse plano inclinado do engrossamento abaixo, que os homens de hoje armaram… para subirem! Não — ainda estou, com o sr., ao lado da exígua minoria dos que entendem que o melhor serviço a prestar-se nesta terra, no atual momento, consiste sobretudo na seriedade, que é uma forma superior do heroísmo no meio deste enorme desabamento… Peço-lhe muito e muito que me esclareça; estamos enleados num ''mal entendu'' bem desagradável, mas que será desfeito.
 
Quanto à notícia do ''Jornal do Brasil'' — falsíssima. Veja por aí como andam esses homens! Não os conheço, nunca os conversei — e no entanto de julgam habilitados a afirmativas de tal porte!
 
Fez bem em não lhes dar o menor crédito: a partida para o Alto Purus é ainda o meu maior, o meu mais belo e arrojado ideal. Estou pronto à primeira voz. Partirei sem temores; e nada absolutamente (a não ser um desastre de ordem física, que me invalide), nada absolutamente me demoverá de um tal propósito. Já abri mão de outros interesses que aqui me ofereceram, de sorte que, até sob o ponto de vista material, a minha renúncia seria inexplicável. Além disto, eu teria o cuidado de notificá-la para logo ao barão do Rio Branco, ao sr. e ao Oliveira Lima. Assim, sobre este ponto — estamos entendidos.
 
Quanto ao ''Cubatão'', dentro de dois dias (depois de consultar um velho conhecedor do assunto que assiste em Santos) dir-lhe-ei algo a respeito. Por ora o que sei é isto: ''Cubatões'' (e não ''Cubatão'') chamam-se em geral os pequenos morros nas vertentes ou melhor, no sopé das cordilheiras. É o significado popular; talvez o melhor.
 
Mando-lhe nova fotografia com os sujeitos cujos nomes mandei na minha carta última. Muitas recomendações a todos os seus, e creia no seu am<sup>o</sup>. e at<sup>o</sup>. e adm<sup>or</sup>.
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==Guarujá, 9 de setembro de 1904==
:Henrique Coelho
 
Ontem, quando aí estive, na Secretaria, não pude dizer-te o que sentia, na ocasião. Impediu-me a presença perturbadora de dois estranhos — embora o quer tivesse a fazer fosse bem simples. Isto: dar-te um grande abraço e dizer-te que o insucesso da minha velha pretensão eu o abençôo — e largamente compensado. Procurava, ansiosamente, uma cadeira, uma prosaica posição de lente — e encontrei dois corações. Francamente, prefiro os últimos. Sou um eterno idealista. Nem esta vida pode ter encantos sem esta forma superior e incompreensível à grande maioria dos vivedores. A tua estima e a desse Bento Bueno tão gentilmente grande no sentir e na nobreza incomparável com que espontaneamente se colocou ao meu lado — dizem que triunfei.
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==Guarujá, 9 de setembro de 1904==
:Vicente
 
Felicidades. Recebi a tua carta de 5, e de acordo com ela esperei o ''Selvagem'' — que ainda não chegou. Escrevo-te atrapalhadamente no tumulto da arrumação da minha papelada, para a próxima mudança. Pretendo seguir depois do dia 22 para S. Paulo, e de lá para o Rio — devendo a partida para o Purus realizar-se na 1ª quinzena de outubro. Assim, tenho tempo de trabalhar um pouco em prol da tua candidatura. Afirmo-te que agirei fortemente. Escrevi ao Neto para que ele por sua vez a agitasse e estou bem convencido de que o pedido será satisfeito. Amanhã espero aqui o Oliveira Lima e vou atacá-lo diretamente. Depois — no Rio — espero conseguir algum resultado.
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==[S.l. setembro de 1904]==
:Plínio
 
Dolorosa, a tua carta de 8. Bem se vê que os tempos vão maus, campeando, impunes, todas as iniquidades. Se a desordem anda nos nossos próprios órgãos, que esperar do resto desta vida? As tuas pernas bailam, agitam-se, deslizam e revoluteiam sobre os patins, atiram-se em curas coreográficas a desenharem volutas pelo espaço em fora — e num belo (seria mesmo belo?) num belo momento, perturbam-se, atrapalham-se, escorregam, caem escandalosamente… e ficam intactas, e sofre todas as consequências da troça o pobre do teu braço esquerdo! O braço esquerdo! O braço morto do escritor, o braço que não atacou ''Pedrão'', o braço que não assina ''Pistol'', o braço inofensivo (embora segundo a gíria popular talvez não fosse outrora inocente!) Talvez ele esteja pagando velhas ''dívidas'', mal veladas na maldade daquele parêntesis…
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Ainda não recebi o telegrama do Oliveira Lima.
 
Aí estive — sempre de relance, como verdadeiro meteoro, rápido e instantâneo — um clarão repentino entre a estação da Luz e a livraria do Melo Abreu. Voltei; e aqui estou arrumando a papelada — preparando-me para a romaria de 1500 léguas ao Purus. Quase escrevi Paris. Realmente penso que nenhum ''rastaquera'' arranja as ''valises'' para a patuscada reles dos ''boulevares'' com entusiasmo maior do que este meu entusiasmo no avançar para o deserto.
 
E lá alijaram o pobre do Neto! Não quis insistir mais com o Mesquita. Tu não calculas, porém, como a coisa me doeu!
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==22 de setembro de 1904==
[Bilhete postal]
 
:D. Gabriela Sena
Rua da Luz, nº 5 — Rio de Janeiro
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[Retrato]
 
Escrever num cartão-postal!… Aí está um repto que eu não aceito. Fujo. E creiam: não me adapto à moda para a qual me sinto tão inapto.
 
Tão plenamente inepto…
 
Linha 807 ⟶ 823:
 
:E.
 
==Rio, 22 de outubro de 1904==
 
:Meu caro Plínio Barreto
 
Aqui recebi a tua culinária — justíssima e enérgica — e ao mesmo passo que te vi cheio de razões para fazê-la, vi-me cheio de motivos absolutórios. É que não podes imaginar os contratempos em que me acho envolvido. Há mais de um mês que me agito e trabalho — de graça — num país em que se inventam os empregos para a vadiagem remunerada.
 
Felizmente está próximo um desenlace: deve votar-se hoje o decantado crédito para a expedição. Graças aos deuses! Enfim — creio que faltam bem poucos dias para que se torne efetiva essa minha trágica candidatura ao impaludismo, ao beribéri, à filária, e, talvez, à morte.
 
E dizem que não há mais sonhadores!
 
Conheces acaso algum da minha têmpera? Já lucrei com tudo isto: a maior intimidade com o Rio Branco é uma coisa enobrecedora. Ali está um espírito encantador e forte, que nem toda a gente compreende. Digo-te isto porque são expansões confiadas a um amigo. Em público não se pode elogiar ninguém neste país.
 
Antes que me esqueça: mudei outra vez de casa. Um varioloso nas vizinhanças espalhou o terror no meu pequeno lar. Estou agora na rua do senador Francisco Otaviano, nº 91 (Cosme Velho) — no mesmo bairro das Laranjeiras. Quer isto dizer que terás nova maçada de alterar os endereços do ''Comércio'' e do ''Estado''. Desculpa-me tanta maçada. Dou-te também procuração plena para abraçares a todos os bons companheiros das duas redações — pedindo a todos desculpas pelo meu silêncio. Só escreverei depois de partir. Neste tumulto não há burilar-se uma frase, nem o mais ligeiro período. Além disto o Observatório Astronômico, onde atravesso os dias, absorve-me muito tempo.
 
E o Valdoro? Zangado ainda? Dẽ-lhe, em troca, dois abraços.
 
Escrevi ao Mesquita. Não me respondeu. Velho e magnífico costume.
 
Por que não vens até cá? Conversaríamos longamente e teria o prazer (doce pungir…) de dar-te o abraço da despedida o velho companheiro
 
:Euclides da Cunha
 
P. S. — O Manuelzinho às vezes recorda-se do admirador e amigo — Causaram bom efeito os artigos do Oliveira Lima?
 
==Rio, 1 de dezembro de 1904==
 
:Meu caro am<sup>o</sup>. dr. Catunda
 
Felicidades. Hoje porém, finalmente!, feitas as nomeações. Assim a nossa partida não se demorará. Esteja, por isto, prevenido. Hei de telegrafar-lhe e escrever quando julgar necessária a sua vinda, para receber a ajuda de custo e preparar-se. Creio que este aviso não demorará pois a viagem está marcada para o dia 15, mais ou menos, deste.
 
Recomenda-me a todos os seus; abrace os amigos, mande-me notícias do Vicente, e creia sempre em quem é seu, muito cordialmente,
 
:Euclides da Cunha
 
==Rio, 10 de dezembro de 1904==
[cartão pessoal]
 
:Porchat
 
Envio-te o meu abraço de despedida. Sigo no dia 13 para Manaus de onde abalarei para as nascentes do Purus. Não te escrevi nos últimos tempos por ter de atender a toda ordem de trabalhos — e este cartão mesmo faço-o a correr, entre as atrapalhações dos últimos aprestos para a partida. Melhor: não agravarei as minhas saudades numa longa carta a um verdadeiro amigo.
 
A minha família fica residindo aqui, à rua Cosme Velho 91 (Laranjeiras). Escreva-me para Manaus. Endereço:
 
[...]
Chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus
Manaus.
 
E até breve, meu bom amigo. Dentro de uns dez meses te apertará num longo abraço o teu
 
:Euclides
 
==Rio, 11 de dezembro de 1904==
[cartão pessoal]
 
:Escobar
 
Recebi a tua carta no meio dos precipitados aprestos para a partida. Mal posso respondê-la.
 
Adeus. Até a volta. Escreva-me para Manaus onde nos demoraremos uns 20 dias para regularizar os cronômetros. Endereço: [...] Chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus-Manaus. Estado do Amazonas.
 
Levo uma enorme boa vontade e disposição franca para os máximos sacrifícios.
 
De lá te escreverei. Muitas recomendações e saudades aos amigos daí.
 
Recomendações aos teus. E um abraço, um grande abraço de despedida do
 
:Euclides
 
==[Rio, dezembro de 1904]
 
:[A Plínio Barreto]
 
Plínio, adeus! Sigo no dia 13 (dia 13, terça-feira!) para a Amazônia — mais um longo capítulo nesta minha vida trabalhosa. Não preciso dizer-te que me acompanham as imagens sagradas dos meus amigos, e entre elas a tua. Propositadamente te escrevo num cartão, de abalada, como quem foge: fora intolerável alongar pelas quatro páginas de uma carta a saudade irremediável. Adeus, recomendações a todos. Creia sempre no
 
:Euclides
 
E. T.: Manda-me notícias tuas. Endereço: [...] Chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus-Manaus. — Mesmo depois de partir desta última cidade, servirá aquela indicação.
 
==Rio, dezembro de 1904==
 
Ao presidente da Academia Brasileira de Letras
 
Exmo. sr. presidente da Academia Brasileira de Letras, / Impossibilitado de tomar posse, em sessão solene, do meu lugar nessa Academia, pelos motivos que V. Exa. conhece, faço-o, de acordo com o artigo 22 do Regimento Interno, por meio deste ofício.
 
Apresentando a V. Exa. os protestos da minha mais elevada consideração, subscrevo-me,
 
Confrade at<sup>o</sup>. obrsup>do</sup>. e admsup>or</sup>.
 
:Euclides da Cunha
 
==Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1904==
 
:Graça Aranha
 
Conto com a tua presença na terça-feira à noite, na Academia. Preciso mostrar outra carta do Assis Brasil, que requer resolução urgente.
 
Recado do confrade am<sup>o</sup>. e adm<sup>or</sup>.
 
:Euclides da Cunha
 
==Recife, 19 de dezembro de 1904==
[cartão postal]
(Pernambuco — Ponte Buarque de Macedo)
 
:[A Machado de Assis]
 
Saudades e lembranças — Sigo hoje Paraíba.
 
:E. Cunha
 
==Recife, 19 de dezembro de 1904==
[Bilhete postal]
 
:Exmo. sr. dr. Rodrigo Otávio
Rua da Quitanda, 47 — Rio de Janeiro
 
Anverso: Pernambuco. Vista geral do bairro do Recife (foto)
Reverso: Boa viagem até aqui. Saudades… Lembranças aos teus.
 
:Euclides
 
==Recife, 19 de dezembro de 1904==
[Bilhete postal]
 
:Exmo. sr. dr. Henrique Coelho
Secretaria da Justiça — São Paulo
 
Anverso: Beberibe. Arrebalde do Recife (foto)
Reverso: Saudades…
 
:Euclides
 
==Fortaleza, 22 de dezembro de 1904==
[Bilhete postal]
 
:Exmo. sr. dr. Rodrigo Otávio
Rua da Quitanda 47 — Rio de Janeiro
 
[verso]
Estação Central — E. F. Central
Minha jangada de vela
Que vento queres levar
— De dia vento de terra
— De noite vento de mar!
 
Não resisto ao desejo de transmitir-te esta belíssima quadra, que neste momento ressoa ao meu lado, na boca de um rude filho deste Ceará admirável…
 
Felicidades. Lembranças a todos
 
:Euclides
 
==Belém, 26 de dezembro de 1904==
[Cartão de visita. Impresso: Euclides da Cunha]
 
:Am<sup>o</sup>. dr. Oliveira lima
 
Desejo-lhe muitas felicidades e a todos os seus.
 
Encontrando entre os números da ''Revista do Instituto'' daí, que me foram oferecidos, muitas duplicatas e conjeturando que possam pertencer-lhe, remeto-as hoje, registradas. Se entre os restantes números ainda existirem outras que sejam suas, queira dizer-me logo que as mandarei.
 
Até aqui continuamos com boa viagem. Seguiremos hoje mesmo para Manaus.
 
Muitas recomendações a todos: creia sempre no seu, muito cordialmente,
 
:Euclides da Cunha
==Manaus, 30 de dezembro de 1904==