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Revisão das 13h59min de 24 de abril de 2019

O JARDINEIRO TIMOTHEO 91

Timotheo, tremulo, mal pôde engrolar uma palavra :

— Eu ?...

— Sim, tu ! Por que não ?

O velho jardineiro, atarantado e fóra de si, repetiu a pergunta :

— Eu ? Eu, arrazar o jardim ?

O fazendeiro encarou-o, espantado da sua audacia, sem nada comprehender daquella resistencia.

— Eu? Pois me acha com cara de criminoso?

E, não podendo mais conter-se, explodiu, num assomo estupendo de colera, o primeiro e o unico da sua vida:

— Eu vou, mas é embora daqui, morrer lá na porteira, como um cachorro fiel. Mas olhe, moço, que hei de rogar tanta praga que isto ha de virar uma tapera de lacraias ! A geada ha de torrar o café. A peste ha de levar até as vaccas de leite ! Não ha de ficar nem uma gallinha, nem um pé de vassoura ! E a familia amaldiçoada, coberta de lepra, ha de comer na gamel-