Espumas Flutuantes (1913)/Sub Tegmine Fagi: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Retirada uma crase inexistente da dedicatória.
Sem resumo de edição
Linha 1:
{{navegar
|obra = Sub Tegmine Fagi
|autor = Castro Alves
|notas={{integra|poemaanterior = [[Espumas Flutuantes (1913)/O Gondoleiro do Amor|O Gondoleiro do Amor]]}}
|posterior = [[Espumas Flutuantes (1913)/As Três Irmãs do Poeta|As Três Irmãs do Poeta]]
}}<poem>
|seção =
{{d|A Melo Morais
|notas = {{integra|poema=[[Espumas Flutuantes (1913)]].}}
|edição_override = {{edição/originais}}
}}
 
<pages index="Espumas fluctuantes (corr. e augm.).djvu" from=65 to=69 />
''Dieu parle dans le calme plus
haur que dans la tempête''.
{{sb|MICKIEWIKCZ}}
 
''Deus nobis haec otia fecit''.
[[Autor:Virgílio|VÍRGILIO]]}}
 
Amigo! O campo é o ninho do poeta...
Deus fala, quando a turba está quieta,
As campinas em flor.
&mdash; Noivo &mdash; Ele espera que os convivas saiam...
E n'alcova onde as lâmpadas desmaiam
Então murmura &mdash; amor &mdash;
 
Vem comigo cismar risonho e grave...
A poesia-é uma luz... e a alma-uma ave...
Querem &mdash; trevas e ar.
A andorinha, que é a alma &mdash; pede o campo.
A poesia quer sombra-é o pirilampo...
P'ra voar... p'ra brilhar.
 
Meu Deus! Quanta beleza nessas trilhas...
Que perfume nas doces maravilhas,
Onde o vento gemeu!...
Que flores d'ouro pelas veigas belas!
...Foi um anjo co'a mão cheia de estrelas
Que na terra as perdeu.
 
Aqui o éter puro se adelgaça...
Não sobe esta blasfêmia de fumaça
Das cidades p'ra o céu
E a Terra é como o inseto friorento
Dentro da flor azul do firmamento.
Cujo cálix pendeu!...
 
Qual no fluxo e refluxo, o mar em vagas
Leva a concha dourada... e traz das plagas
Corais em turbilhão,
A mente leva a prece a Deus-por pérolas
E traz, volvendo após das praias cérulas,
&mdash; Um brilhante &mdash; o perdão!
 
A alma fica melhor no descampado...
O pensamento indômito, arrojado
Galopa no sertão,
Qual nos estepes o corcel fogoso
Relincha e parte turbulento, estoso,
Solta a crina ao tufão.
 
Vem! Nós iremos na floresta densa,
Onde na arcada gótica e suspensa
Reza o vento fetal.
Enorme sombra cai da enorme rama...
É o Pagode fantástico de Brama
Ou velha catedral.
 
Irei contigo pelos ermos, lento,
Cismando, ao pôr do sol, num pensamento
Do nosso velho Hugo.
&mdash; Mestre do mundo! Sol da eternidade!...
Para ter por planeta a humanidade,
Deus num cerro o fixou.
 
Ao longe, na quebrada da colina,
Enlaça a trepadeira purpurina
O negro mangueira!!...
Como no Dante a pálida Francesca
Mostra o sorriso rubro e a face fresca
Na estrofe sepulcral.
 
O povo das formosas amarílis
Embala-se nas balsas, como as Willis
Que o Norte imaginou.
O antro-fala... o ninho s'estremece...
A dríade entre as folhas aparece...
Pã na flauta soprou!...
 
Mundo estranho e bizarro da quimera,
A fantasia desvairada gera
Um paganismo aqui.
Melhor eu compreendo então Virgílio...
E vendo os Faunos lhe dançar no idílio,
Murmuro crente: &mdash; eu vi!&mdash;
 
Quando penetro na floresta triste,
Qual pela ogiva gótica o antiste,
Que procura o Senhor,
Como bebem as aves peregrinas
Nas ânforas de orvalho das boninas,
Eu bebo crença e amor!...
 
E à tarde, quando o sol &mdash; condor sangrento &mdash;
No ocidente se aninha sonolento,
Como a abelha na flor...
E a luz da estrela trêmula se irmana
Co'a fogueira noturna da cabana,
Que acendera o pastor,
 
A lua &mdash; traz um raio para os mares...
A abelha traz o mel... um treno aos lares
Traz a rola a carpir...
Também deixa o poeta a selva escura
E traz alguma estrofe, que fulgura,
P'ra legar ao porvir!...
 
Vem! Do mundo leremos o problema
Nas folhas da floresta, ou do poema,
Nas trevas ou na luz...
Não vês?... Do céu a cúpula azulada,
Como uma taça sobre nós voltada,
Lança a poesia a flux!...
</poem>
 
{{DEFAULTSORT:Sub Tegmine Fagi}}
[[Categoria:Castro Alves]]
[[Categoria:Espumas Flutuantes]]
[[Categoria:Poesia brasileira]]
[[Categoria:Romantismo brasileiro]]
[[Categoria:Texto rubricado pelo autor em 1867]]