Poesias (Bernardo Guimarães, 1865)/Cantos da solidão/Hino à aurora: diferenças entre revisões

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E já no campo azul do firmamento
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A noite extingue os círios palejantes,
E em silêncio arrastando a fímbria escura
Do tenebroso manto
Transpõe do ocaso os montes derradeiros.
A terra, de entre as sombras ressurgindo
Do mole sono lânguida desperta,
E qual noiva gentil, que o esposo aguarda,
De galas se adereça.
 
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Rósea filha do sol, eu te saúdo!
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Formosa virgem de cabelos d'ouro,
Que prazenteira os passos antecedes
Do rei do firmamento,
Em seus caminhos flores despargindo!
Salve, aurora! - quão donosa surges
Nos azulados topes do oriente
Desfraldando o teu manto aurirrosado!
Qual cândida princesa
Que em desalinho lânguida se erguera
Do brando leito, em que sonhou venturas,
Tu lá no etéreo trono vaporoso
Entre cantos e aromas festejada,
Sorrindo escutas os melífluos quebros
Das mil canções com que saúda a terra
O teu raiar sereno.
 
[[Categoria:Cantos da Solidão|C 05]]
Também tu choras, pois em minha fronte
[[Categoria:Poesias (Bernardo Guimarães, 1865)]]
Sinto teu pranto, e o vejo em gotas límpidas
A cintilar na tremula folhagem:
Assim no rosto da formosa virgem
- Efeito às vezes de amoroso enleio -
Brilha através das lágrimas o riso.
 
Bendiz o viajor extraviado
Tua luz benigna que a vereda aclara,
E mostra ao longe fumegando os tectos
De alvergue hospitaleiro.
Pobre colono alegre te saúda,
Por ver em torno do singelo colmo
Sorrir-se vicejante a natureza,
Manso rebanho retouçar contente,
Crescer a messe, as flores desbrocharem;
E unindo a voz aos cânticos da terra,
Aos céus envia sua humilde prece.
E o desditoso, que entre angústias vela
No inquieto leito sôfrego volvendo-se,
Espia ansioso o teu fulgor primeiro,
Que lhe derrama nas feridas d'alma
Celeste refrigério.
 
A ave canora para ti reserva
De seu cantar as mais suaves notas;
E a flor, que expande o cálix orvalhado
As estremes primícias te consagra
De seu brando perfume...
Vem, casta virgem, vem com teu sorriso,
Teus perfumes, teu hálito amoroso,
Esta cuidosa fronte bafejar-me;
Orvalho e fresquidão piedosa verte
Nos ardentes delírios de minh'alma,
E desvanece estas visões sombrias,
Funestos sonhos da penada noite!
Vem, ó formosa... Mas que é feito dela?..
O sol já mostra na brilhante esfera
O disco ardente - e a linda moça etérea
Que inda há pouco entre flores reclinada
Sorria-se amorosa no horizonte,
Enquanto a saíldava com meus hinos,
- Imagem do prazer, que breve dura, -
Se esvaeceu nos ares......
Adeus, esquiva ninfa,
Fugitiva ilusão, aérea fada!
Adeus também, canções enamoradas,
Adeus, rosas de amor, adeus, sorrisos.....
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[[Categoria:Cantos da Solidão|C 05]]