Os Trabalhadores do Mar/Parte I/Livro I/II: diferenças entre revisões

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Gilliatt residia na paróquia de Saint-Sampson, onde não era estimado, e havia razões para isso.
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Em primeiro lugar, morava em uma casa mal-assombrada.
 
Acontece algumas vezes em Jersey e Guernesey, no campo e até na cidade, que, ao passar por um lugar deserto ou por uma rua muito habitada, vê-se uma casa cuja entrada está obstruída. O azevinho cresce à porta, as janelas do rés do chão estão fechadas por feios emplastros de tábuas pregadas; as dos andares superiores estão fechadas e abertas ao mesmo tempo: há ferrolhos, mas não há vidros. No pátio, se o há, alastra-se a erva e caem os muros; se há jardim, nascem a urtiga, o espinheiro, a cicuta; raros insetos esvoaçam. Racham-se as chaminés, o teto
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se abate; o que se vê dos quartos está arruinado, a madeira podre, a pedra carcomida; cai o papel das paredes. Podem-se estudar aí os antigos gostos do papel pintado, os grifos do Império, as sanefas em forma de crescente do Diretório, os balaústres e cipos de Luis XVI. A espessura das teias de aranha, cheias de moscas, indica a profunda tranqüilidade em que vivem aqueles insetos. Algumas vezes vê-se um púcaro quebrado sobre uma tábua.
 
É uma casa mal-assombrada. O diabo aparece lá durante a noite.
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Wierus, homem de ciência, bom estrigólogo e demonógrafo distinto, chama Nybbas - o grande parodista.
 
Os pescadores normandos da Mancha precisam aprecatar-se quando andam no mar, por causa das artes do
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diabo. Por muito tempo acreditou-se que São Maclou habitava o grande rochedo quadrado Ortach, situado ao largo entre Aurigny e Casquets, e muitos velhos marinheiros de outros tempos afirmavam tê-lo visto não poucas vezes sentado e lendo um livro. Por isso os marítimos, quando passavam, ajoelhavam-se muitas vezes diante do rochedo Ortach, até que um dia dissipou-se a fábula e esclareceu-se a verdade. Descobriu-se e sabe-se hoje que quem habita aquele rochedo não é um santo, mas sim um diabo, chamado Jochmus, que por muitos séculos teve a malícia de fazer-se passar por São Maclou. Demais, a própria Igreja cai em tais enganos. Os diabos Raguhel, Oribel. e Tobiel foram santos, até que em 745 o Papa Zacarias, tendo-lhes tomado o faro, deitou-os fora. Para fazer tais expulsões, que são muito úteis, é necessário ser muito conhecedor de diabos.
 
Conta a gente velha da terra, mas estes casos pertencem ao século passado, que a população católica do arquipélago normando estivera outrora, bem a seu pesar, mais em comunicação com o diabo do que a população huguenote. Ignoramos a razão, mas a verdade é que a minoria católica andou outrora muito incomodada por ele.
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Afeiçoara-se aos católicos e procurava freqüentá-los, o que leva a crer que o diabo é antes católico que protestante.
 
Uma de suas mais insuportáveis liberdades era visitar à noite os leitos conjugais católicos, quando os maridos dormiam de todo, e as mulheres, a meio. Disto resultavam equívocos. Patouillet pensava que Voltaire nascera assim. Não é inverossímil. É caso
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perfeitamente conhecido e descrito nos formulários de exorcismo sob o título de erroribus nocturnis et de semine diabolorum.
 
O diabo fez violências destas especialmente em Saint-Hélier, em fins do século passado: é provável que para punição dos crimes da revolução. As conseqüências dos excessos revolucionários são incalculáveis. Fosse como fosse, essa aparição possível do demônio durante a noite, quando reina a escuridão e todos dormem, inquietava muitas mulheres ortodoxas.
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Chamava-se a casa O Tutu. da Rua. Era situada na ponta de uma língua de terra, ou antes, de rochedo que formava uma pequena angra de bastante profundidade na enseada de Houmet Paradis. A casa estava sozinha nessa ponta, quase fora da ilha, tendo apenas a terra suficiente para um pequeno jardim, às vezes inundado por ocasião das marés altas.
 
Entre o porto de Saint-Sampson e a enseada de Houmet Paradis há uma grande colina, sobre a qual
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levanta-se um amontoado de torres e de hera chamado o Castelo do Vale ou do Arcanjo, de sorte que de Saint-Sampson não se via O Tutu da Rua.
 
Não são raros os feiticeiros em Guernesey. Exercem a procissão em certas paróquias, apesar de vivermos no século XIX. Praticam ações verdadeiramente criminosas. Fazem ferver ouro. Colhem ervas à meia-noite. Olham de través para o gado. Consultam-nos; eles mandam buscar em garrafas A água dos doentes, e dizem em voz baixa: a água parece bem triste. Afirmou um feiticeiro, em março de 1857, que na água de um doente havia sete diabos. São temidos e temíveis. Há pouco tempo um deles enfeitiçou um padeiro e mais o forno. Outro tem a perversidade de fechar e lacrar uma porção de sobrecartas, sem haver nada dentro. Outro chega ao ponto de ter em casa, em cima de uma tábua, três garrafas com um B em cada uma. Estes fatos monstruosos são conhecidos.
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No século passado o tribunal real de - Guernesey colocava-os sobre uma porção de achas de lenha e queimava-os vivos. Presentemente condena-os a oito semanas de prisão, quatro a pão e água e quatro no segredo, alternando. Amant alterna catenoe.
 
A última queima de feiticeiros em Guernesey foi
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em 1747, sendo - teatro do espetáculo a praça de Bordage, que, de 1565 a 1700, viu queimarem-se onze feiticeiros. Em geral esses culpados confessavam seus crimes: eram para isso ajudados pela tortura.
 
A praça Bordage prestou serviços à sociedade e à religião. Queimaram-se aí os heréticos. No tempo de Maria Tudor, entre outros huguenotes, queimou-se uma mãe e duas filhas: a mãe chamava-se Perrotine Massy. Uma das filhas estava grávida e teve o sucesso sobre o braseiro.