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Mas não ... fingida Sombra é que eu amei!»


E a nitida e real visão das cousas,
Em seus olhos ardia, irradiando
Mais noite do que luz! E o doido vento,
Pelos soturnos píncaros miando,
Era outra alma penada ... E o Cavaleiro,
Ainda d'essa Sombra enamorado:


«Quando a vida nos foge, pelo menos,
Que sintamos a morte ao nosso lado!
Para sentir-se a morte é necessário
Ter-se vivido, sim; isto que sou,
Esta pedra e terreno de Calvario,
Sustenta ainda a cruz do meu Espirito...
Mas vós, quem sois? Dizei! É bem estranha
A vida que levaes! ... Eu comprehendo
Que a vida só é bela na Montanha,
Ou então sobre o Mar ou no Deserto!»


E falando depois para a Saudade:


«É muito raro vêr em sitio ermo
Donzela como vós, de tal piedade
E tão subidas formas femininas!
Meu olhar adivinha em vosso rosto,
Signaes de Divindade ... Por ventura
Sereis alguma Deusa que um desgosto
Trouxe do céu ao mundo? ... Érma Donzela,
Ao vêr-vos, eu invoco o meu Passado!
Minhas luctas heroicas, meu retiro

N'um monte, como este, alevantado