Faróis (Cruz e Sousa): diferenças entre revisões

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* [[Recolta de Estrelas]]
* [[Recorda!]]
* [[Canção do Bêbado]]
* [[A Flor do Diabo]]
* [[As Estrelas (Cruz e Sousa)|As Estrelas]]
* [[Pandemonium]]
* [[Envelhecer]]
* [[Flores da Lua]]
* [[Tédio (Cruz e Sousa)|Tédio]]
* [[Lírio Astral]]
* [[Sem Esperança]]
* [[Caveira]]
* [[Réquiem do Sol]]
* [[Esquecimento]]
* [[Violões Que Choram...]]
* [[Olhos do Sonho]]
* [[Enclausurada]]
* [[Música da Morte...]]
* [[Monja Negra]]
* [[Inexorável]]
* [[Réquiem]]
* [[Visão (Cruz e Sousa)|Visão]]
* [[Pressago]]
* [[Ressurreição (Cruz e Sousa)|Ressurreição]]
* [[Enlevo]]
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* [[Piedosa]]
* [[Ausência Misteriosa]]
* [[Meu Filho]]
* [[Visão Guiadora]]
* [[Litania dos Pobres]]
* [[Spleen de Deuses]]
* [[Divina]]
** [[Cabelos]]
** [[Olhos]]
** [[Boca]]
** [[Seios]]
** [[Mãos (Cruz e Sousa)|Mãos]]
** [[Pés]]
** [[Corpo]]
* [[Canção Negra]]
* [[A Ironia dos Vermes]]
* [[Inês]]
* [[Humildade Secreta]]
* [[Flor Perigosa]]
* [[Metempsicose]]
* [[Os Monges]]
* [[Tristeza do Infinito]]
* [[Luar de Lágrimas]]
* [[Ébrios e Cegos]]
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[[Categoria:1900]]
==RECOLTA DE ESTRELAS==
''(1 out. 1895)''
 
A Tibúrcio de Freitas
 
 
: Filho meu, de nome escrito
: Da minh’alma no Infinito.
 
: Escrito a estrelas e sangue
: No farol da lua langue...
 
:Das tuas asas serenas
:Faz manto para estas penes.
<BR>&nbsp;
 
<P>D&aacute;-me a esmola de um carinho
<BR>Como a luz de um claro vinho.
<BR>&nbsp;
 
<P>Com tua m&atilde;o pequenina
<BR>Caminhos em flor me ensina.
<BR>&nbsp;
 
<P>Com teu riso fresco e suave
 
<BR>Oh! D&aacute;-me do encanto a chave.
<BR>&nbsp;
 
<P>Do teu flor&atilde;o de Inoc&ecirc;ncia
<BR>D&aacute;-me as roses da Clem&ecirc;ncia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como outro Jesus bambino,
<BR>Esclarece-me o Destino.
<BR>&nbsp;
 
<P>Traz luz ao mundano pego
 
<BR>Onde sigo, mudo e cego...
<BR>&nbsp;
 
<P>Com teus enleios e gra&ccedil;a
<BR>Nos meus cuidados perpassa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Este peito acende, inflama
<BR>Na mais sacrossanta chama.
<BR>&nbsp;
 
<P>Faz brotar nevados l&iacute;rios
<BR>Das cruzes dos meus mart&iacute;rios.
<BR>&nbsp;
 
<P>D&aacute;-me um sol de estranho brilho,
<BR>Flor das l&aacute;grimas, meu filho.
<BR>&nbsp;
 
<P>Rebento triste, orvalhado
<BR>&nbsp;
 
<P>Com tanto pranto chorado.
<BR>&nbsp;
 
<P>Filho das &acirc;nsias, das &acirc;nsias,
<BR>Das misteriosas fragr&acirc;ncias,
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Filho de aromas secretos
<BR>E de desejos inquietos.
<BR>&nbsp;
 
<P>De suspiros anelantes
<BR>E impaci&ecirc;ncias clamantes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Filho meu, tesouro mago
<BR>De todo esse afeto vago...
<BR>&nbsp;
 
<P>Filho meu, torre mais alta
<BR>De onde o meu amor se exalta.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&Acirc;nfora azul, de onde o incenso
<BR>dos sonhos se eleva denso.
<BR>&nbsp;
 
<P>Constela&ccedil;&atilde;o flamejada
<BR>De toda esta vida ansiada.
<BR>&nbsp;
 
<P>Crisol onde lento, lento
<BR>Purifico o Sentimento.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Iacute;ris curioso onde giro
<BR>E alucinado deliro.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Signo dos signos extremos
<BR>Destes tormentos supremos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Orbita de astros onde pairo
<BR>E em febre de luz desvairo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vertigem, vertigem viva
<BR>Da paix&atilde;o mais convulsiva.
<BR>&nbsp;
 
<P>Traz-me un&ccedil;&atilde;o, traz-me conc&oacute;rdia
 
<BR>E paz e miseric&oacute;rdia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Do teu sorriso a frescura
<BR>Rios de ouro abra, na Altura.
<BR>&nbsp;
 
<P>Abra, acenda labaredas,
<BR>Iluminando-me as quedas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Flor noturna da lux&uacute;ria
<BR>Brotada de haste purp&uacute;rea.
<BR>&nbsp;
 
<P>Dos teus olhos dadivosos
<BR>Escorram &oacute;leos preciosos...
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute;leos c&acirc;ndidos, dos mundos
<BR>Maravilhosos, profundos.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute;leos virgens se derramem
<BR>E o meu viver embalsamem.
<BR>&nbsp;
 
<P>Embalsamem de eloq&uuml;entes,
 
<BR>Celestes dons prefulgentes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Para que eu possa com calma
<BR>Erguer os castelos da alma.
<BR>&nbsp;
 
<P>Para que eu durma tranq&uuml;ilo
<BR>L&aacute; no sepulcral Sigilo.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; meu Filho, &oacute; meu eleito
 
<BR>Deslumbramento perfeito.
<BR>&nbsp;
 
<P>Traz novo esplendor ao facho
<BR>Com que altos Mist&eacute;rios acho
<BR>&nbsp;
 
<P>Meu Filho, fr&aacute;gil e terno,
<BR>Socorre-me do atro Inferno.
<BR>&nbsp;
 
<P>Onde vibram gl&aacute;dios duros
<BR>Por erg&aacute;stulos escuros.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>E cruzam flam&iacute;neas, fortes,
<BR>Negras vidas, negras mortes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Onde tecem Satanases
<BR>Sete c&iacute;rculos vorazes...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>RECORDA!
<BR>&nbsp;
 
<P>Quando a onda dos desejos inquietantes,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que do peito transborda,
<BR>Morrer, enfim, nas amplid&otilde;es distantes,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Recorda-te, recorda...
<BR>&nbsp;
 
<P>Revive dessa m&uacute;sica j&aacute; finda
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que nas estrelas dorme.
<BR>Volta-te ao mundo sedutor ainda
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Da ilus&atilde;o multiforme!
<BR>&nbsp;
 
<P>Volta, recorda eternamente, volta
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Aos far&oacute;is
da Esperan&ccedil;a,
<BR>Do Sonho estranho as grandes asas solta
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Agrave; celeste Bonan&ccedil;a.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Recorda m&aacute;goas, l&aacute;grimas e risos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E solu&ccedil;os e
anseios...
<BR>Revive dos nevoeiros indecisos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E dos v&atilde;os
devaneios.
<BR>&nbsp;
 
<P>Revive! Goza! Desolado, embora,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Sorrindo e solu&ccedil;ando,
 
<BR>Erguendo os v&eacute;us de j&aacute; passada aurora,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Recordando e sonhando...
<BR>&nbsp;
 
<P>Cada alma tem seu &iacute;ntimo recato
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Numa estrela perdida
<BR>E cada cora&ccedil;&atilde;o intemerato
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Tem na estrela uma
vida.
<BR>&nbsp;
 
<P>Aplica o ouvido a correnteza fria
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos golf&otilde;es
da mat&eacute;ria
<BR>E recorda de que lama sombria
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E composta a mis&eacute;ria.
<BR>&nbsp;
 
<P>Recorda! Sonha! Nas estrelas erra,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Bedu&iacute;no do
Espa&ccedil;o
 
<BR>Aos sonhos brancos, que n&atilde;o s&atilde;o da Terra,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; D&aacute;, sorrindo,
o teu bra&ccedil;o...
<BR>&nbsp;
 
<P>D&aacute; o teu bra&ccedil;o, pelos c&eacute;us sorrindo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E recordando parte
<BR>E h&aacute;s de entender os claros c&eacute;us, sentindo
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que andas a recordar-te.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;Bate a porta dos Astros solit&aacute;rios
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos eternos Fulgores,
<BR>Em busca desses mortos vision&aacute;rios,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Almas de sonhadores.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! volta a inf&acirc;ncia dos primeiros beijos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos momentos sid&eacute;reos,
 
<BR>Volta a sede dos &uacute;ltimos desejos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos primeiros mist&eacute;rios!
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! volta aos desenganos primitivos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Volta a ess&ecirc;ncia
dos anos,
<BR>Volta aos espectros tristemente vivos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ah! volta aos desenganos!
<BR>&nbsp;
 
<P>Volta aos serenos, fl&oacute;ridos o&aacute;sis,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Volta aos hinos profundos,
<BR>Volta as efloresc&ecirc;ncias dos Lilazes,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Volta, volta a esses
mundos!
<BR>&nbsp;
 
<P>Fique na Sombra e no Sil&ecirc;ncio d'alma
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Todo o teu ser dolente,
<BR>Para tranq&uuml;ilo, com ternura e calma,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Recordar docemente...
<BR>&nbsp;
 
<P>Na Sombra ent&atilde;o e no Sil&ecirc;ncio denso,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como em m&aacute;gicas
plagas,
<BR>Faz acender o alampad&aacute;rio imenso
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Das recorda&ccedil;&otilde;es
vagas...
<BR>&nbsp;
 
<P>Pousa a cabe&ccedil;a, meigamente pousa
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nesse augusto Quebranto
 
<BR>E nem da Terra a mais ligeira cousa
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Te desperte do Encanto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Para o Amor, para a Dor e para o Sonho
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nas Esferas transborda...
<BR>E entre um solu&ccedil;o e um segredo risonho
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Recorda-te, recorda...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>CAN&Ccedil;&Atilde;O DO B&Ecirc;BADO
<BR>&nbsp;
 
<P>Na lama e na noite triste
<BR>Aquele b&ecirc;bado ri!
<BR>Tu’alma velha onde existe?
<BR>Quem se recorda de ti?
<BR>&nbsp;
 
<P>Por onde andam teus gemidos,
 
<BR>Os teus noct&acirc;mbulos ais?
<BR>Entre os b&ecirc;bados perdidos
<BR>Quem sabe do teu -- jamais?
<BR>&nbsp;
 
<P>Por que &eacute; que ficas &agrave; lua
<BR>Contemplativo, a vagar?
<BR>Onde a tua noiva nua
<BR>Foi t&atilde;o depressa a enterrar?
<BR>&nbsp;
 
<P>Que flores de gra&ccedil;a doente
<BR>Tua fronte vem florir
<BR>Que ficas amargamente
<BR>B&ecirc;bado, b&ecirc;bado a rir?
<BR>&nbsp;
 
<P>Que v&ecirc;s tu nessas jornadas?
<BR>Onde est&aacute; o teu jardim
<BR>E o teu pal&aacute;cio de fadas,
 
<BR>Meu son&acirc;mbulo arlequim?
<BR>&nbsp;
 
<P>De onde trazes essa bruma,
<BR>Toda essa n&eacute;voa glacial
<BR>De flor de l&acirc;nguida espuma,
<BR>Regada de &oacute;leo mortal?
<BR>&nbsp;
 
<P>Que solu&ccedil;o extravagante,
<BR>Que negro, soturno fel
<BR>P&otilde;e no teu ser doudejante
 
<BR>A confus&atilde;o da Babel?
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! das l&aacute;grimas insanas
<BR>Que ao vinho misturas bem,
<BR>Que de vis&otilde;es sobre-humanas
<BR>Tu'alma e teus olhos tem!
<BR>&nbsp;
 
<P>Boca abismada de vinho,
<BR>Olhos de pranto a correr,
<BR>Bendito seja o carinho
<BR>Que j&aacute; te fa&ccedil;a morrer!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Sim! Bendita a cova estreita
<BR>Mais larga que o mundo v&atilde;o,
<BR>Que possa conter direita
<BR>A noite do teu caix&atilde;o!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>A FLOR DO DIABO
<BR>&nbsp;
 
<P>Branca e floral como um jasmim-do-Cabo
<BR>Maravilhosa ressurgiu um dia
<BR>A fatal Cria&ccedil;&atilde;o do fuIvo Diabo,
<BR>Eleita do pecado e da Harmonia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mais do que tudo tinha um ar funesto,
<BR>Embora t&atilde;o radiante e fabulosa.
<BR>Havia sutilezas no seu gesto
<BR>De recordar uma serpente airosa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Branca, surgindo das vermelhas chamas
<BR>Do Inferno inquisitor, corrupto e langue,
<BR>Ela lembrava, Flor de excelsas famas,
<BR>A Via-L&aacute;ctea sobre um mar de sangue.
<BR>&nbsp;
 
<P>Foi num momento de saudade e t&eacute;dio,
<BR>De grande t&eacute;dio e singular Saudade,
<BR>Que o Diabo, j&aacute; das culpas sem rem&eacute;dio,
<BR>Para formar a egr&eacute;gia majestade,
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Gerou, da poeira quente das areias
<BR>Das praias infinitas do Desejo,
<BR>Essa langue sereia das sereias,
<BR>Desencantada com o calor de um beijo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sobre galp&otilde;es de sonho os seus pal&aacute;cios
<BR>Tinham bizarros e galhardos luxos.
<BR>Mais grave de eloq&uuml;&ecirc;ncia que os Hor&aacute;cios,
<BR>Vivia a vida dos perfeitos bruxos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sono e pregui&ccedil;a, mais pregui&ccedil;a e sono,
<BR>Lux&uacute;rias de nababo e mais lux&uacute;rias,
<BR>Moles coxins de l&acirc;nguido abandono
<BR>Por entre estranhas flora&ccedil;&otilde;es purp&uacute;reas.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Agrave;s vezes, sob o luar, nos rios mortos,
<BR>Na vaga ondula&ccedil;&atilde;o dos lagos frios,
 
<BR>Boiavam diabos de chavelhos tortos,
<BR>E de vultos macabros, fugidios.
<BR>&nbsp;
 
<P>A lua dava sensa&ccedil;&otilde;es inquietas
<BR>As paisagens av&eacute;rnicas em torno
<BR>E alguns dem&ocirc;nios com perfis de ascetas
<BR>Dormiam no luar um sono morno...
<BR>&nbsp;
 
<P>Foi por horas de Cisma, horas et&eacute;reas
<BR>De magia secreta e triste, quando
<BR>Nas lagoas let&iacute;ficas, sid&eacute;reas,
 
<BR>O cad&aacute;ver da lua vai boiando...
<BR>&nbsp;
 
<P>Foi numa dessas noites taciturnas
<BR>Que o velho Diabo, s&aacute;bio dentre os s&aacute;bios,
<BR>Desencantado o seu poder das furnas,
<BR>Com o riso augusto a flamejar nos l&aacute;bios,
<BR>&nbsp;
 
<P>Formou a flor de encantos esquisitos
<BR>E de ess&ecirc;ncias esdr&uacute;xulas e finas,
 
<BR>Pondo nela oscilantes infinitos
<BR>De vaidades e gra&ccedil;as femininas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E deu-lhe a quint'ess&ecirc;ncia dos aromas,
<BR>Sonoras harpas de alma, extravagancias,
<BR>Pureza hostial e p&uacute;bere de pomas,
<BR>Toda a melancolia das distancias...
<BR>&nbsp;
 
<P>Para haver mais requinte e haver mais viva,
<BR>Doce beleza e original car&iacute;cia,
<BR>Deu-lhe uns toques ligeiros de ave esquiva
 
<BR>E uma aur&eacute;ola secreta de mal&iacute;cia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas hoje o Diabo j&aacute; senil, j&aacute; f&oacute;ssil,
<BR>Da sua Cria&ccedil;&atilde;o desiludido,
<BR>Perdida a antiga ingenuidade d&oacute;cil,
<BR>Chora um pranto noturno de Vencido.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como do fundo de vitrais, de frescos
<BR>De g&oacute;ticas capelas isoladas,
<BR>Chora e sonha com mundos pitorescos,
<BR>Na nostalgia das Regi&otilde;es Sonhadas.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>AS ESTRELAS
<BR>&nbsp;
 
<P>L&aacute;, nas celestes regi&otilde;es distantes,
<BR>No fundo melanc&oacute;lico da Esfera,
<BR>Nos caminhos da eterna Primavera
<BR>Do amor, eis as estrelas palpitantes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Quantos mist&eacute;rios andar&atilde;o errantes,
<BR>Quantas almas em busca da Quimera,
<BR>L&aacute;, das estrelas nessa paz austera
 
<BR>Solu&ccedil;ar&atilde;o, nos altos c&eacute;us radiantes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Finas flores de p&eacute;rolas e prata,
<BR>Das estrelas serenas se desata
<BR>Toda a caudal das ilus&otilde;es insanas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Quem sabe, pelos tempos esquecidos,
<BR>Se as estrelas n&atilde;o s&atilde;o os ais perdidos
 
<BR>Das primitivas legi&otilde;es humanas?!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P><I>PANDEMONIUM</I>
<BR>A Maur&iacute;cio Jubim
<BR>&nbsp;
 
<P>Em fundo de tristeza e de agonia
<BR>O teu perfil passa-me noite e dia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Aflito, aflito, amargamente aflito,
<BR>Num gesto estranho que parece um grito.
<BR>&nbsp;
 
<P>E ondula e ondula e palpitando vaga,
<BR>Como profunda, como velha chaga.
<BR>&nbsp;
 
<P>E paira sobre erg&aacute;stulos e abismos
<BR>Que abrem as bocas cheias de exorcismos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Com os olhos vesgos, a flutuar de esguelha,
<BR>Segue-te atr&aacute;s uma vis&atilde;o vermelha.
<BR>&nbsp;
 
<P>Uma vis&atilde;o gerada do teu sangue
<BR>Quando no Horror te debateste exangue,
<BR>&nbsp;
 
<P>Uma vis&atilde;o que &eacute; tua sombra pura
<BR>rodando na mais tr&aacute;gica tortura.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>A sombra dos supremos sofrimentos
<BR>Que te abalaram como negros ventos.
<BR>&nbsp;
 
<P>E a sombra as tuas voltas acompanha
<BR>Sangrenta, horr&iacute;vel, assombrosa, estranha.
<BR>&nbsp;
 
<P>E o teu perfil no v&aacute;cuo perpassando
<BR>V&ecirc; rubros caracteres flamejando.
<BR>&nbsp;
 
<P>V&ecirc; rubros caracteres singulares
<BR>De todos os festins de Baltazares.
<BR>&nbsp;
 
<P>Por toda a parte escrito em fogo eterno:
<BR>Inferno! Inferno! Inferno! Inferno! Inferno!
<BR>&nbsp;
 
<P>E os emiss&aacute;rios espectrais das mortes
<BR>Abrindo as grandes asas flamifortes...
<BR>&nbsp;
 
<P>E o teu perfil oscila, treme, ondula,
 
<BR>Pelos abismos eternais circula...
<BR>&nbsp;
 
<P>Circula e vai gemendo e vai gemendo
<BR>E suspirando outro suspiro horrendo.
<BR>&nbsp;
 
<P>E a sombra rubra que te vai seguindo
<BR>Tamb&eacute;m parece ir solu&ccedil;ando e rindo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ir solu&ccedil;ando, de um solu&ccedil;o cavo
<BR>Que dos venenos traz o torvo travo.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Ir solu&ccedil;ando e rindo entre vorazes
<BR>Satanismos diab&oacute;licos, mordazes.
<BR>&nbsp;
 
<P>E eu j&aacute; nem sei se e realidade ou sonho
<BR>Do teu perfil o divagar medonho.
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o sei se e sonho ou realidade todo
<BR>Esse acordar de chamas e de lodo.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Tal &eacute; a poeira extrema confundida
<BR>Da morte a raios de ouro de outra Vida.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tais s&atilde;o as convuls&otilde;es do &uacute;ltimo arranco
<BR>Presas a um sonho celestial e branco.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tais s&atilde;o os vagos c&iacute;rculos inquietos
 
<BR>Dos teus giros de l&aacute;grimas secretos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas, de repente, eis que te reconhe&ccedil;o,
<BR>Sinto da tua vida o amargo pre&ccedil;o.
<BR>&nbsp;
 
<P>Eis que te reconhe&ccedil;o escravizada,
<BR>Divina M&atilde;e, na Dor acorrentada.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que reconhe&ccedil;o a tua boca presa
 
<BR>Pela morda&ccedil;a de uma sede acesa
<BR>&nbsp;
 
<P>Presa, fechada pela atroz morda&ccedil;a
<BR>Dos fundos desesperos da Desgra&ccedil;a.
<BR>&nbsp;
 
<P>Eis que lembro os teus olhos vision&aacute;rios
<BR>Cheios do fel de b&aacute;rbaros Calv&aacute;rios.
<BR>&nbsp;
 
<P>E o teu perfil asas abrir parece
<BR>Para outra Luz onde ningu&eacute;m padece...
<BR>&nbsp;
 
<P>Com do&ccedil;uras fe&eacute;ricas e meigas
<BR>De Sat&atilde;s juvenis, ao luar, nas veigas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E o teu perfil forma um saudoso vulto
<BR>Como de Santa sem altar, sem culto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Forma um vulto saudoso e peregrino
 
<BR>De for&ccedil;a que voltou ao seu destino.
<BR>&nbsp;
 
<P>De ser humano que sofrendo tanto
<BR>Purificou-se nos Azuis do Encanto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Subiu, subiu e mergulhou sozinho,
<BR>Desamparado, no fetal caminho.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que l&aacute; chegou transfigurado e a&eacute;reo,
<BR>Com os aromas das flores do Mist&eacute;rio.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Que l&aacute; chegou e as mortas portas mudas
<BR>Fez abalar de impreca&ccedil;&otilde;es agudas...
<BR>&nbsp;
 
<P>E vai e vai o teu perfil ansioso,
<BR>De ondula&ccedil;&otilde;es fant&aacute;sticas, brumoso.
<BR>&nbsp;
 
<P>E vai perdido e vai perdido, errante,
<BR>Tr&ecirc;mulo, triste, vaporoso, ondeante.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Vai suspirando, num suspiro vivo
<BR>Que palpita nas sombras incisivo...
<BR>&nbsp;
 
<P>Um suspiro profundo, t&atilde;o profundo
<BR>Que arrasta em si toda a paix&atilde;o do mundo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Suspiro de mart&iacute;rio, de ansiedade,
<BR>De al&iacute;vio, de mist&eacute;rio, de saudade.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Suspiro imenso, aterrador e que erra
<BR>Por tudo e tudo eternamente aterra...
<BR>&nbsp;
 
<P>O pandemonium de suspiros soltos
<BR>Dos condenados cora&ccedil;&otilde;es revoltos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Suspiro dos suspiros ansiados
<BR>Que rasgam peitos de dilacerados.
<BR>&nbsp;
 
<P>E mudo e pasmo e compungido e absorto,
<BR>Vendo o teu lento e doloroso giro,
 
<BR>Fico a cismar qual &eacute; o rio morto
<BR>Onde vai divagar esse suspiro.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>ENVELHECER
<BR>&nbsp;
 
<P>Flor de indol&ecirc;ncia, fina e melindrosa,
<BR>Cativante sereia da esperan&ccedil;a,
<BR>Cedo tiveste a cren&ccedil;a dolorosa
<BR>De quanto a vida &eacute; velha e como cansa...
<BR>&nbsp;
 
<P>Na l&acirc;nguida, na morna morbideza
<BR>Do teu amargo e triste celibato,
<BR>Tu te fechaste para a Natureza
<BR>Como a lua no c&eacute;lico recato.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>No fundo delicado dos teus seios
<BR>Foste esconder os sentimentos vagos,
<BR>E todos os dolentes devaneios
<BR>Das estrelas sonhando a flor dos lagos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Todas as altas celas de ouro e prata
<BR>De teu claustro de Virgem sem afeto
<BR>Fecharam sobre tu'alma timorata
<BR>Austeras portas, com fragor secreto.
<BR>&nbsp;
 
<P>No entanto, havia no teu corpo ondeante
<BR>As del&iacute;cias sutis de um c&eacute;u fugace...
 
<BR>E era talvez o encanto mais picante
<BR>A gra&ccedil;a alde&atilde; do teu nariz rapace.
<BR>&nbsp;
 
<P>Teus olhos tinham certa magoa nobre
<BR>E certo fundo de doirado abismo
<BR>E a mal&iacute;cia que logo se descobre
<BR>Em olhos de felino narcotismo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas na boca trazias todo o oculto
<BR>Toque sombrio de ironia grave...
<BR>E como que as belezas do teu vulto
 
<BR>Abriam asas peregrinas de ave.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tinhas na boca esse elixir ardente
<BR>Da vol&uacute;pia mortal dos gozos e essa
<BR>Chama de boca, feita unicamente
<BR>Para no gozo envelhecer depressa.
<BR>&nbsp;
 
<P>E envelheceste tanto, muito cedo,
<BR>Sumiu-se t&atilde;o depressa o teu encanto,
<BR>Foi t&atilde;o falaz o sedutor segredo
<BR>Do teu carnal e l&acirc;nguido quebranto!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Envelheceste para os v&atilde;os id&iacute;lios,
<BR>Para os estranhos estremecimentos,
<BR>Para os brilhos iriantes dos teus c&iacute;lios
<BR>E para os sepulcrais esquecimentos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Envelheceste para os v&atilde;os amores,
<BR>E para os olhos, para as m&atilde;os que abrias
<BR>Como dois talism&atilde;s de brancas flores
 
<BR>E de leves e doces harmonias...
<BR>&nbsp;
 
<P>Presa, sem ar, sem sol, crepusculada
<BR>No celibato que n&atilde;o tem perfume
<BR>De todo envelheceste abandonada,
<BR>J&aacute; como um ser que n&atilde;o provoca ci&uacute;me.
<BR>&nbsp;
 
<P>Envelhecer &eacute; reduzir a vida
 
<BR>A sentimentos de tristeza austera,
<BR>Enclausur&aacute;-la numa grave ermida
<BR>De luto e de sil&ecirc;ncio sem quimera.
<BR>&nbsp;
 
<P>E envelhecer na juventude fl&oacute;rea,
<BR>Do celibato emurchecido l&iacute;rio
<BR>E ficar sob os p&aacute;lios da ilus&oacute;ria
<BR>Melancolia, como a luz de um c&iacute;rio...
<BR>&nbsp;
 
<P>Envelhecer assim, virgem e forte,
<BR>E cerrar contra o mundo a r&oacute;sea porta
<BR>Do Amor e apenas esperar a Morte,
<BR>A alma j&aacute; muda, h&aacute; muito tempo morta.
<BR>&nbsp;
 
<P>Envelheces de t&eacute;dio, de cansa&ccedil;o,
<BR>D'ilus&otilde;es e de cismas e de penes,
 
<BR>Como envelhece no celeste espa&ccedil;o
<BR>O turbilh&atilde;o das estrelas serenas.
<BR>&nbsp;
 
<P>O Amor os cora&ccedil;&otilde;es fez interditos
<BR>Ao teu magoado cora&ccedil;&atilde;o cativo
<BR>E apagou-te os sublimes infinitos
<BR>Do seu clar&atilde;o fecundador e vivo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Hoje envelheces na clausura imensa,
<BR>Dentro de um sonho p&aacute;lido feneces.
 
<BR>Tua beleza veste n&eacute;voa densa,
<BR>Em surdinas e sombras envelheces.
<BR>&nbsp;
 
<P>De pranto e luar, num desolado misto,
<BR>Cai a noite na tua puberdade
<BR>E como a Rediviva do Imprevisto,
<BR>Erras e sonhas pela Eternidade!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
 
<BR>&nbsp;
 
<P>FLORES DA LUA
<BR>&nbsp;
 
<P>Brancuras imortais da Lua Nova
<BR>Frios de nostalgia e sonol&ecirc;ncia...
<BR>Sonhos brancos da Lua e viva ess&ecirc;ncia
<BR>Dos fantasmas noct&iacute;vagos da Cova.
<BR>&nbsp;
 
<P>Da noite a tarda e taciturna trova
<BR>Solu&ccedil;a, numa tremula dorm&ecirc;ncia...
 
<BR>Na mais branda, mais leve floresc&ecirc;ncia
<BR>Tudo em Vis&otilde;es e Imagens se renova.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mist&eacute;rios virginais dormem no Espa&ccedil;o,
<BR>Dormem o sono das profundas seivas,
<BR>Mon&oacute;tono, infinito, estranho e lasso...
<BR>&nbsp;
 
<P>E das Origens na lux&uacute;ria forte
<BR>Abrem nos astros, nas sid&eacute;reas leivas
 
<BR>Flores amargas do palor da Morte.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>T&Eacute;DIO
<BR>&nbsp;
 
<P>Vala comum de corpos que apodrecem,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E esverdeada gangrene
 
<BR>Cobrindo vastid&otilde;es que fosforescem
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Sobre a esfera terrena.
<BR>&nbsp;
 
<P>Bocejo torvo de desejos turvos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Languescente bocejo
<BR>De velhos diabos de chavelhos curvos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Rugindo de desejo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sangue coalhado, congelado, frio,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Espasmado nas veias...
 
<BR>Pesadelo sinistro de algum rio
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De sinistras sereias...
<BR>&nbsp;
 
<P>Alma sem rumo, a modorrar de sono,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mole, t&uacute;rbida,
lassa...
<BR>Monotonias l&uacute;bricas de um mono
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dan&ccedil;ando numa
pra&ccedil;a...
<BR>&nbsp;
 
<P>Mudas epilepsias, mudas, mudas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mudas epilepsias,
<BR>Masturba&ccedil;&otilde;es mentais, fundas, agudas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Negras nevrostenias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Flores sangrentas do soturno v&iacute;cio
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que as almas queima
e morde...
<BR>M&uacute;sica estranha de fetal supl&iacute;cio,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Vago, m&oacute;rbido
acorde...
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Noite cerrada para o Pensamento
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nebuloso degredo
<BR>Onde em cavo clangor surdo do vento
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Rouco pragueja o medo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Plaga vencida por tremendas pragas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Devorada por pestes,
<BR>Esboroada pelas rubras chagas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos inc&ecirc;ndios
celestes.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Sabor de sangue, L&aacute;grimas e terra
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Revolvida de fresco,
<BR>Guerra sombria dos sentidos, guerra,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Tantalismo dantesco.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sil&ecirc;ncio carregado e fundo e denso
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como um po&ccedil;o
secreto,
<BR>Dobre pesado, carrilh&atilde;o imenso
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do segredo inquieto...
<BR>&nbsp;
 
<P>Floresc&ecirc;ncia do Mal, hediondo parto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Tenebroso do crime,
<BR>Pandemonium feral de ventre farto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do Nirvana sublime.
<BR>&nbsp;
 
<P>Del&iacute;rio contorcido, convulsivo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De felinas serpentes,
 
<BR>No silamento e no mover lascivo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Das caudas e dos dentes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Porco l&uacute;gubre, l&uacute;brico, trevoso
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do t&aacute;bido pecado,
<BR>Fu&ccedil;ando colossal, formidoloso
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nos lodos do passado.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ritmos de for&ccedil;as e de gra&ccedil;as mortas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Melanc&oacute;lico
ex&iacute;lio,
<BR>Difus&atilde;o de um mist&eacute;rio que abre portas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Para um secreto id&iacute;lio...
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute;cio das almas ou requinte delas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Quint'ess&ecirc;ncias,
velhices
 
<BR>De luas de nevroses amarelas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Venenosas meiguices.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ins&ocirc;nia morna e doente dos Espa&ccedil;os,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Letargia fun&eacute;rea,
<BR>Vermes, abutres a correr peda&ccedil;os
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Da carne delet&eacute;ria.
<BR>&nbsp;
 
<P>Um misto de saudade e de tortura,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De lama, de &Oacute;dio
e de asco,
<BR>Carnaval infernal da Sepultura,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Risada do carrasco.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; t&eacute;dio amargo, &oacute; t&eacute;dio dos suspiros,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; t&eacute;dio
d'ansiedades!
 
<BR>Quanta vez eu n&atilde;o subo nos teus giros
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Fundas eternidades!
<BR>&nbsp;
 
<P>Quanta vez envolvido do teu luto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nos sud&aacute;rios
profundos
<BR>Eu, calado, a tremer, ao longe, escuto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Desmoronarem mundos!
<BR>&nbsp;
 
<P>Os teus solu&ccedil;os, todo o grande pranto,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Taciturnos gemidos,
<BR>Fazem gerar flores de amargo encanto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nos cora&ccedil;&otilde;es
doridos.
<BR>&nbsp;
 
<P>T&eacute;dio! que p&otilde;es nas almas olvidadas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ondula&ccedil;&otilde;es
de abismo
<BR>E sombras vesgas, l&iacute;vidas, paradas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; No mais feroz mutismo!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>T&eacute;dio do R&eacute;quiem do Universo inteiro,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Morbus negro, nefando,
<BR>Sentimento fatal e derradeiro
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Das estrelas gelando...
<BR>&nbsp;
 
<P>O T&eacute;dio! Rei da Morte! Rei bo&ecirc;mio!
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; Fantasma
enfadonho!
 
<BR>&Eacute;s o sol negro, o criador, o g&ecirc;meo,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Velho irm&atilde;o
do meu sonho!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>L&Iacute;RIO ASTRAL
 
<BR>&nbsp;
 
<P>L&iacute;rio astral, &oacute; l&iacute;rio branco
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral,
<BR>No meu derradeiro arranco
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; S&ecirc; cordial!
<BR>&nbsp;
 
<P>Perfuma de gra&ccedil;a leve
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O meu final
<BR>Com o doce perfume breve,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>D&aacute;-me esse &oacute;leo sacrossanto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Toda a caudal
 
<BR>Do &oacute;leo casto do teu pranto,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Traz-me o alivio dos al&iacute;vios,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; virginal,
<BR>&Oacute; l&iacute;rio dos l&iacute;rios n&iacute;veos,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; L&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Dentre as sonatas da lua
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Celestial,
<BR>L&iacute;rio, vem, L&iacute;rio, flutua,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; L&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Dos raios das noites de ouro,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do Roseiral,
<BR>Do constelado tesouro,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Desprende o fino perfume
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Etereal
<BR>E vem do celeste fume,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Da maviosa suavidade
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do c&eacute;u floral
<BR>Traz a meiga claridade,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que bendita e sempre pura
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E divinal
<BR>Seja-me a tua frescura,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que ela, enfim, me transfigure,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Na hora fatal
<BR>E os meus sentidos apure,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que tudo que me &eacute; avaro
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De luz vital,
<BR>Nessa hora se tome claro,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que portas de astros, rasgadas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Num c&eacute;u lirial,
<BR>Eu veja desassombradas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Que eu possa, tranq&uuml;ilo, v&ecirc;-las,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Limpo do mal,
<BR>Essas mil portas de estrelas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>E penetrar nelas, calmo,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Na paz mortal,
 
<BR>Como um dav&iacute;dico salmo,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O l&iacute;rio astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Vento velho que solu&ccedil;a
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Meu Sonho ideal,
<BR>No Infinito se debru&ccedil;a,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Por isso, l&aacute;, no Momento,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Na hora fetal,
<BR>Perfuma esse velho vento
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Traz a gra&ccedil;a do Infinito,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Gra&ccedil;a imortal,
 
<BR>Ao velho Sonho proscrito,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Ado&ccedil;a-me o derradeiro
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Sonho feral
<BR>O l&iacute;rio do astral Cruzeiro
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Se, o L&iacute;rio, &oacute; doce L&iacute;rio
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De luz boreal
<BR>Na morte o meu claro c&iacute;rio,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Perfuma, L&iacute;rio, perfume,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Na hora glacial,
<BR>Meu Sonho de Sol, de Bruma,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que eu suba na tua ess&ecirc;ncia
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Sacramental
<BR>Para a excelsa Transcend&ecirc;ncia,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
 
<P>E l&aacute;, nas Messes divinas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Paire, eternal,
<BR>Nas Esferas cristalinas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; l&iacute;rio
astral!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>SEM ESPERAN&Ccedil;A
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; c&acirc;ndidos fantasmas da Esperan&ccedil;a,
<BR>Meigos espectros do meu v&atilde;o Destino,
 
<BR>Volvei a mim nas leves ondas do Hino
<BR>Sacramental de Bem-aventuran&ccedil;a.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nas veredas da vida a alma n&atilde;o cansa
<BR>De vos buscar pelo Vergel divino
<BR>Do c&eacute;u sempre estrelado e diamantino
<BR>Onde toda a alma no Perd&atilde;o descansa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Na vol&uacute;pia da dor que me transporta,
<BR>Que este meu ser transfunde nos Espa&ccedil;os,
 
<BR>Sinto-te longe, &oacute; Esperan&ccedil;a morta.
<BR>&nbsp;
 
<P>E em v&atilde;o alongo os vacilantes passos
<BR>&Agrave; procura febril da tua porta,
<BR>Da ventura celeste dos teus bra&ccedil;os.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>CAVEIRA
 
<P>I
<BR>Olhos que foram olhos, dois buracos
<BR>Agora, fundos, no ondular da poeira...
<BR>Nem negros, nem azuis e nem opacos.
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Caveira!
<BR>&nbsp;
 
<P>II
<BR>Nariz de linhas, corre&ccedil;&otilde;es audazes,
<BR>De express&atilde;o aquilina e feiticeira,
 
<BR>Onde os olfatos virginais, falazes?!
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Caveira! Caveira!!
<BR>&nbsp;
 
<P>III
<BR>Boca de dentes l&iacute;mpidos e finos,
<BR>De curve leve, original, ligeira,
<BR>Que &eacute; feito dos teus risos cristalinos?!
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Caveira! Caveira!!
Caveira!!!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>R&Eacute;QUIEM DO SOL
<BR>&nbsp;
 
<P>&Aacute;guia triste do T&eacute;dio, sol cansado,
<BR>Velho guerreiro das batalhas fortes!
<BR>Das ilus&otilde;es as tr&ecirc;mulas coortes
 
<BR>Buscam a luz do teu clar&atilde;o magoado...
<BR>&nbsp;
 
<P>A tremenda avalanche do Passado
<BR>Que arrebatou tantos milh&otilde;es de mortes
<BR>Passa em tropel de tr&aacute;gicos Mavortes
<BR>Sobre o teu cora&ccedil;&atilde;o ensang&uuml;entado...
<BR>&nbsp;
 
<P>Do alto dominas vastid&otilde;es supremas
<BR>&Aacute;guia do T&eacute;dio presa nas algemas
 
<BR>Da Legenda imortal que tudo engelha...
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas l&aacute;, na Eternidade, de onde habitas,
<BR>Vagam finas tristezas infinitas,
<BR>Todo o mist&eacute;rio da beleza velha!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>ESQUECIMENTO
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; Estrelas tranq&uuml;ilas, esquecidas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; No seio das Esferas,
<BR>Velhos bilh&otilde;es de l&aacute;grimas, de vidas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Refulgentes Quimeras.
<BR>&nbsp;
 
<P>Astros que recordais inf&acirc;ncias de ouro,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Castidades serenas,
<BR>Irradia&ccedil;&otilde;es de m&aacute;gico tesouro,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Aromas de a&ccedil;ucenas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Rosas de luz do c&eacute;u resplandecente
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; Estrelas
divinas,
<BR>Sereias brancas da regi&atilde;o do Oriente
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &Oacute; Vis&otilde;es
peregrinas!
<BR>&nbsp;
 
<P>Aves de ninhos de froux&eacute;is de prata
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que cantais no Infinito
<BR>As Letras da Can&ccedil;&atilde;o intemerata
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do Mist&eacute;rio
bendito.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tur&iacute;bulos de gra&ccedil;a e encantamento
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Das sid&eacute;rias umbelas,
<BR>Desvendai-me as Mans&otilde;es do Esquecimento
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Radiantes sentinelas.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;Dizei que palidez de mortos l&iacute;rios
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; H&aacute; por estas estradas
 
<BR>E se terminam todos os mart&iacute;rios
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nas brumas encantadas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Se nessas brumas encantadas choram
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os anseios da Terra,
<BR>Se os l&iacute;rios mortos que h&aacute; por l&aacute; se auroram
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De p&uacute;rpuras
de guerra.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Se as que h&aacute; por c&aacute; tit&acirc;nicas cegueiras,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Atordoadas vit&oacute;rias
<BR>Embebedam os seres nas poncheiras
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E no gozo das gl&oacute;rias!
<BR>&nbsp;
 
<P>O c&eacute;u &eacute; o ber&ccedil;o das estrelas brancas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que dormem de cansa&ccedil;o...
<BR>E das almas ol&iacute;mpicas e francas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O ridente rega&ccedil;o...
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; ele sabe, o claro c&eacute;u tranq&uuml;ilo
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos grandes resplendores,
<BR>Qual &eacute; das almas o eternal sigilo,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Qual o cunho das cores.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; ele sabe, o c&eacute;u das quint'ess&ecirc;ncias,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O Esquecimento ignoto
<BR>Que tudo envolve nas letais dilu&ecirc;ncias
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De um ocaso remoto...
<BR>&nbsp;
 
<P>O Esquecimento &eacute; flor, sutil, celeste,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De palidez risonha.
<BR>A alma das coisas languemente veste
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De um v&eacute;u,
como quem sonha.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo no esquecimento se adelga&ccedil;a...
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E nas zonas de tudo
<BR>Na candura de tudo, extremo, passa
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Certo mist&eacute;rio
mudo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como que o cora&ccedil;&atilde;o fica cantando
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Porque, tr&ecirc;mulo,
esquece,
<BR>Vivendo a vida de quem vai sonhando
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E no sonho estremece...
<BR>&nbsp;
 
<P>Como que o cora&ccedil;&atilde;o fica sorrindo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De um modo grave e
triste,
<BR>Languidamente a meditar, sentindo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que o esquecimento
existe.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sentindo que um encanto et&eacute;reo e mago,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mas um l&iacute;vido
encanto,
<BR>P&otilde;e nos semblantes um luar mais vago,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Enche tudo de pranto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que um concerto de suplicas de magoa,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De mart&iacute;rios
secretos,
<BR>Vai os olhos tornando rasos d’&aacute;gua
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E turvando os objetos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Que um solu&ccedil;o cruel, desesperado
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Na garganta rebenta...
 
<BR>Enquanto o Esquecimento alucinado
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Move a sombra nevoenta!
<BR>&nbsp;
 
<P>O rio roxo e triste, &Oacute; rio morto,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O rio roxo, amargo...
<BR>Rio de v&atilde;s melancolias de Horto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ca&iacute;das do c&eacute;u
largo!
<BR>&nbsp;
 
<P>Rio do esquecimento tenebroso,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Amargamente frio,
<BR>Amargamente sepulcral, lutuoso,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Amargamente rio!
<BR>&nbsp;
 
<P>Quanta dor nessas ondas que tu levas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nessas ondas que arrastas,
<BR>Quanto supl&iacute;cio nessas tuas trevas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Quantas l&aacute;grimas
castas!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; meu verso, &oacute; meu verso, &oacute; meu orgulho,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Meu tormento e meu
vinho,
<BR>Minha sagrada embriaguez e arrulho
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De aves formando ninho.
<BR>&nbsp;
 
<P>Verso que me acompanhas no Perigo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como lan&ccedil;a
preclara,
 
<BR>Que este peito defende do inimigo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Por estrada t&atilde;o
rara!
<BR>&nbsp;
 
<P>O meu verso, &oacute; meu verso solu&ccedil;ante,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Meu segredo e meu
guia,
<BR>Tem d&oacute; de mim l&aacute; no supremo instante
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Da suprema agonia.
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o te esque&ccedil;as de mim, meu verso insano,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Meu verso solit&aacute;rio,
<BR>Minha terra, meu c&eacute;u, meu vasto oceano,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Meu templo, meu sacr&aacute;rio.
<BR>&nbsp;
 
<P>Embora o esquecimento v&atilde;o dissolva
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Tudo, sempre, no mundo,
<BR>Verso! que ao menos o meu ser se envolva
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; No teu amor profundo!
<BR>&nbsp;
 
<P>Esquecer e andar entre destro&ccedil;os
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que al&eacute;m se
multiplicam,
<BR>Sem reparar na lividez dos ossos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nem nas cinzas que
ficam...
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute; caminhar por entre pesadelos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Son&acirc;mbulo perfeito,
<BR>Coberto de nevoeiros e de gelos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Com certa &acirc;nsia
no peito.
<BR>&nbsp;
 
<P>Esquecer &eacute; n&atilde;o ter l&aacute;grimas puras,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nem asas para beijos
<BR>Que voem procurando sepulturas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E queixas e desejos!
<BR>&nbsp;
 
<P>Esquecimento! eclipse de horas mortas.
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Rel&oacute;gio mudo,
incerto,
<BR>Casa vazia... de cerradas portas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Grande v&aacute;cuo,
deserto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Cinza que cai nas almas, que as consome,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que apaga toda a flama,
<BR>Infinito crep&uacute;sculo sem nome,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Voz morta a voz que
a chama.
<BR>&nbsp;
 
<P>Harpa da noite, irm&atilde; do Imponder&aacute;vel,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De sons langues e
enfermos,
<BR>Que Deus com o seu mist&eacute;rio formid&aacute;vel
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Faz calar pelos ermos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Solid&atilde;o de uma plaga extrema e nua,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Onde tr&aacute;gica
e densa
<BR>Chora seus l&iacute;rios virginais a lua
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Lividamente imensa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sil&ecirc;ncio dos sil&ecirc;ncios sugestivos,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Grito sem eco, eterno
<BR>Sud&aacute;rio dos Azuis contemplativos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Floresc&ecirc;ncia
do Inferno.
<BR>&nbsp;
 
<P>Esquecimento! Fluido estranho, de &acirc;nsias,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De negra majestade,
<BR>Solu&ccedil;o nebuloso das Distancias
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Enchendo a Eternidade!
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>VIOL&Otilde;ES QUE CHORAM...
<BR>(jan. I897)
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! plangentes viol&otilde;es dormentes, mornos,
 
<BR>Solu&ccedil;os ao luar, choros ao vento...
<BR>Tristes perfis, os mais vagos contornos,
<BR>Bocas murmurejantes de lamento.
<BR>&nbsp;
 
<P>Noites de al&eacute;m, remotas, que eu recordo,
<BR>Noites da solid&atilde;o, noites remotas
<BR>Que nos azuis da Fantasia bordo,
<BR>Vou constelando de vis&otilde;es ignotas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sutis palpita&ccedil;&otilde;es a luz da lua,
 
<BR>Anseio dos momentos mais saudosos,
<BR>Quando l&aacute; choram na deserta rua
<BR>As cordas vivas dos viol&otilde;es chorosos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Quando os sons dos viol&otilde;es v&atilde;o solu&ccedil;ando,
<BR>Quando os sons dos viol&otilde;es nas cordas gemem,
<BR>E v&atilde;o dilacerando e deliciando,
<BR>Rasgando as almas que nas sombras tremem.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Harmonias que pungem, que laceram,
<BR>Dedos Nervosos e &aacute;geis que percorrem
<BR>Cordas e um mundo de dol&ecirc;ncias geram,
<BR>Gemidos, prantos, que no espa&ccedil;o morrem...
<BR>&nbsp;
 
<P>E sons soturnos, suspiradas magoas,
<BR>M&aacute;goas amargas e melancolias,
<BR>No sussurro mon&oacute;tono das &aacute;guas,
 
<BR>Noturnamente, entre ramagens frias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vozes veladas, veludosas vozes,
<BR>Vol&uacute;pias dos viol&otilde;es, vozes veladas,
<BR>Vagam nos velhos v&oacute;rtices velozes
<BR>Dos ventos, vivas, v&atilde;s, vulcanizadas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo nas cordas dos viol&otilde;es ecoa
<BR>E vibra e se contorce no ar, convulso...
<BR>Tudo na noite, tudo clama e voa
 
<BR>Sob a febril agita&ccedil;&atilde;o de um pulso.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que esses viol&otilde;es nevoentos e tristonhos
<BR>S&atilde;o ilhas de degredo atroz, fun&eacute;reo,
<BR>Para onde v&atilde;o, fatigadas do sonho
<BR>Almas que se abismaram no mist&eacute;rio.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sons perdidos, nost&aacute;lgicos, secretos,
 
<BR>Finas, dilu&iacute;das, vaporosas brumas,
<BR>Longo desolamento dos inquietos
<BR>Navios a vagar a flor de espumas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Oh! languidez, languidez infinita,
<BR>Nebulosas de sons e de queixumes,
<BR>Vibrado cora&ccedil;&atilde;o de &acirc;nsia esquisita
<BR>E de gritos felinos de ci&uacute;mes!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que encantos acres nos vadios rotos
<BR>Quando em toscos viol&otilde;es, por lentas horas,
 
<BR>Vibram, com a gra&ccedil;a virgem dos garotos,
<BR>Um concerto de l&aacute;grimas sonoras!
<BR>&nbsp;
 
<P>Quando uma voz, em tr&ecirc;molos, incerta,
<BR>Palpitando no espa&ccedil;o, ondula, ondeia,
<BR>E o canto sobe para a flor deserta
<BR>Soturna e singular da lua cheia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Quando as estrelas m&aacute;gicas florescem,
<BR>E no sil&ecirc;ncio astral da Imensidade
 
<BR>Por lagos encantados adormecem
<BR>As p&aacute;lidas ninf&eacute;ias da Saudade!
<BR>&nbsp;
 
<P>Como me embala toda essa pung&ecirc;ncia,
<BR>Essas lacera&ccedil;&otilde;es como me embalam,
<BR>Como abrem asas brancas de clem&ecirc;ncia
<BR>As harmonias dos Viol&otilde;es que falam!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que gra&ccedil;a ideal, amargamente triste,
 
<BR>Nos l&acirc;nguidos bord&otilde;es plangendo passa...
<BR>Quanta melancolia de anjo existe
<BR>Nas vis&otilde;es melodiosas dessa gra&ccedil;a.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que c&eacute;u, que inferno, que profundo inferno,
<BR>Que ouros, que azuis, que l&aacute;grimas, que risos,
<BR>Quanto magoado sentimento eterno
<BR>Nesses ritmos tr&ecirc;mulos e indecisos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Que anelos sexuais de monjas belas
<BR>Nas ciliciadas carnes tentadoras,
<BR>Vagando no rec&ocirc;ndito das celas,
<BR>Por entre as &acirc;nsias dilaceradoras...
<BR>&nbsp;
 
<P>Quanta pleb&eacute;ia castidade obscura
<BR>Vegetando e morrendo sobre a lama,
<BR>Proliferando sobre a lama impura,
<BR>Como em perp&eacute;tuos turbilh&otilde;es de chama.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que prociss&atilde;o sinistra de caveiras,
<BR>De espectros, pelas sombras mortas, mudas.
<BR>Que montanhas de dor, que cordilheiras
<BR>De agonias asp&eacute;rrimas e agudas.
<BR>&nbsp;
 
<P>V&eacute;us neblinosos, longos v&eacute;us de vi&uacute;vas
<BR>Enclausuradas nos ferais desterros
<BR>Errando aos s&oacute;is, aos vendavais e &agrave;s chuvas,
 
<BR>Sob ab&oacute;badas l&uacute;gubres de enterros;
<BR>&nbsp;
 
<P>Velhinhas quedas e velhinhos quedos
<BR>Cegas, cegos, velhinhas e velhinhos
<BR>Sepulcros vivos de senis segredos,
<BR>Eternamente a caminhar sozinhos;
<BR>&nbsp;
 
<P>E na express&atilde;o de quem se vai sorrindo,
<BR>Com as m&atilde;os bem juntas e com os p&eacute;s bem juntos
<BR>E um len&ccedil;o preto o queixo comprimindo,
 
<BR>Passam todos os l&iacute;vidos defuntos...
<BR>&nbsp;
 
<P>E como que h&aacute; hist&eacute;ricos espasmos
<BR>na m&atilde;o que esses viol&otilde;es agita, largos...
<BR>E o som sombrio &eacute; feito de sarcasmos
<BR>E de Sonambulismos e letargos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Fantasmas de gal&eacute;s de anos profundos
<BR>Na pris&atilde;o celular atormentados,
<BR>Sentindo nos viol&otilde;es os velhos mundos
<BR>Da lembran&ccedil;a fiel de &aacute;ureos passados;
<BR>&nbsp;
 
<P>Meigos perfis de t&iacute;sicos dolentes
<BR>Que eu vi dentre os vil&otilde;es errar gemendo,
<BR>Prostitu&iacute;dos de outrora, nas serpentes
 
<BR>Dos v&iacute;cios infernais desfalecendo;
<BR>&nbsp;
 
<P>Tipos intonsos, esgrouviados, tortos,
<BR>Das luas tardas sob o beijo n&iacute;veo,
<BR>Para os enterros dos seus sonhos mortos
<BR>Nas queixas dos viol&otilde;es buscando alivio;
<BR>&nbsp;
 
<P>Corpos fr&aacute;geis, quebrados, doloridos,
<BR>Frouxos, dormentes, adormidos, langues
<BR>Na degeneresc&ecirc;ncia dos vencidos
 
<BR>De toda a gera&ccedil;&atilde;o, todos os sangues;
<BR>&nbsp;
 
<P>Marinheiros que o mar tornou mais fortes,
<BR>Como que feitos de um poder extremo
<BR>Para vencer a convuls&atilde;o das mortes,
<BR>Dos temporais o temporal supremo;
<BR>&nbsp;
 
<P>Veteranos de todas as campanhas,
<BR>Enrugados por fundas cicatrizes,
<BR>Procuram nos viol&otilde;es horas estranhas,
<BR>Vagos aromas, c&acirc;ndidos, felizes.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;brios antigos, vagabundos velhos,
<BR>Torvos despojos da mis&eacute;ria humana,
<BR>T&ecirc;m nos viol&otilde;es secretos Evangelhos,
<BR>Toda a B&iacute;blia fatal da dor insana.
<BR>&nbsp;
 
<P>Enxovalhados, t&aacute;bidos palha&ccedil;os
<BR>De carapu&ccedil;as, m&aacute;scaras e gestos
 
<BR>Lentos e lassos, l&uacute;bricos, devassos,
<BR>Lembrando a floresc&ecirc;ncia dos incestos;
<BR>&nbsp;
 
<P>Todas as ironias suspirantes
<BR>Que ondulam no rid&iacute;culo das vidas,
<BR>Caricaturas t&eacute;tricas e errantes
<BR>Dos malditos, dos r&eacute;us, dos suicidas;
<BR>&nbsp;
 
<P>Toda essa labir&iacute;ntica nevrose
 
<BR>Das virgens nos rom&acirc;nticos enleios;
<BR>Os ocasos do Amor, toda a clorose
<BR>Que ocultamente lhes lacera os seios;
<BR>&nbsp;
 
<P>Toda a m&oacute;rbida m&uacute;sica pleb&eacute;ia
<BR>De requebros de faunos e ondas lascivas;
<BR>A langue, mole e morna melop&eacute;ia
<BR>Das valsas alanceadas, convulsivas;
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo isso, num grotesco desconforme,
 
<BR>Em ais de dor, em contors&otilde;es de a&ccedil;oites,
<BR>Revive nos viol&otilde;es, acorda e dorme
<BR>Atrav&eacute;s do luar das meias noites!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>OLHOS DO SONHO
<BR>(jan. 1897)
<BR>&nbsp;
 
<P>Certa noite soturna, solit&aacute;ria,
<BR>Vi uns olhos estranhos que surgiam
<BR>Do fundo horror da terra funer&aacute;ria
<BR>Onde as vis&otilde;es son&acirc;mbulas dormiam...
<BR>&nbsp;
 
<P>Nunca da terra neste leito raso
<BR>Com meus olhos mortais, alucinados...
<BR>Nunca tais olhos divisei acaso
 
<BR>Outros olhos eu vi transfigurados.
<BR>&nbsp;
 
<P>A luz que os revestia e alimentava
<BR>Tinha o fulgor das ardentias vagas,
<BR>Um dem&ocirc;nio noct&acirc;mbulo espiava
<BR>De dentro deles como de &iacute;gneas plagas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E os olhos caminhavam pela treva
<BR>Maravilhosos e fosforescentes...
<BR>Enquanto eu ia como um ser que leva
<BR>Pesadelos fant&aacute;sticos, trementes.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Na treva s&oacute; os olhos, muito abertos,
<BR>Seguiam para mim com majestade,
<BR>Um sentimento de cru&eacute;is desertos
<BR>Me apunhalava com atrocidade.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; os olhos eu via, s&oacute; os olhos
<BR>Nas cavernas da treva destacando:
 
<BR>Far&oacute;is de aug&uacute;rio nos ferais escolhos,
<BR>Sempre, tenazes, para mim olhando...
<BR>&nbsp;
 
<P>Sempre tenazes para mim, tenazes,
<BR>Sem pavor e sem medo, resolutos,
<BR>Olhos de tigres e chacais vorazes
<BR>No instante dos assaltos mais astutos.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; os olhos eu via! -- o corpo todo
<BR>Se confundia com o negror em volta...
<BR>&Oacute; alucina&ccedil;&otilde;es fundas do lodo
 
<BR>Carnal, surgindo em tenebrosa escolta!
<BR>&nbsp;
 
<P>E os olhos me seguiam sem descanso,
<BR>Suma persegui&ccedil;&atilde;o de atras voragens,
<BR>Nos narcotismos dos venenos mansos,
<BR>Como dois mudos e sinistros pajens.
<BR>&nbsp;
 
<P>E nessa noite, em todo meu percurso,
<BR>Nas voltas vagas, v&atilde;s e vacilantes
<BR>Do meu caminho, esses dois olhos de urso
<BR>L&aacute; estavam tenazes e constantes.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>L&aacute; estavam eles, fixamente eles,
<BR>Quietos, tranq&uuml;ilos, calmos e medonhos...
<BR>Ah! quem jamais penetrar&aacute; naqueles
<BR>Olhos estranhos dos eternos sonhos!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>ENCLAUSURADA
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; Monja dos estranhos sacrif&iacute;cios,
<BR>Meu amor imortal, Ave de garras
<BR>E asas gloriosas, triunfais, bizarras,
<BR>Alquebradas ao peso dos cil&iacute;cios.
<BR>&nbsp;
 
<P>Reclusa flor que os mais rev&eacute;is flag&iacute;cios
 
<BR>Abalaram com as tr&aacute;gicas fanfarras,
<BR>Quando em formas ex&oacute;ticas de jarras
<BR>Teu corpo tinha a embriaguez dos v&iacute;cios.
<BR>&nbsp;
 
<P>Para onde foste, &oacute; gra&ccedil;a das mulheres,
<BR>Gra&ccedil;a vi&ccedil;osa dos verg&eacute;is de Ceres
<BR>Sem que o meu pensamento te persiga?!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Por onde eternamente enclausuraste
<BR>Aquela ideal delicadeza de haste,
<BR>De esbelta e fina ateniense antiga?!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>M&Uacute;SICA DA MORTE...
 
<BR>&nbsp;
 
<P>A musica da Morte, a nebulosa,
<BR>Estranha, imensa musica sombria,
<BR>Passa a tremer pela minh’alma e fria
<BR>Gela, fica a tremer, maravilhosa...
<BR>&nbsp;
 
<P>Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
<BR>Letes sinistro e torvo da agonia,
<BR>Recresce a lancinante sinfonia,
<BR>Sobe, numa vol&uacute;pia dolorosa...
<BR>&nbsp;
 
<P>Sobe, recresce, tumultuando e amarga,
<BR>Tremenda, absurda, imponderada e larga,
 
<BR>De pavores e trevas alucina...
<BR>&nbsp;
 
<P>E alucinando e em trevas delirando,
<BR>Como um &Oacute;pio letal, vertiginando,
<BR>Os meus nervos, let&aacute;rgica, fascina...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>MONJA NEGRA
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute; teu esse espa&ccedil;o, e teu todo o Infinito
<BR>Transcendente Vis&atilde;o das l&aacute;grimas nascida,
<BR>Bendito o teu sentir, para sempre bendito
<BR>Todo o teu divagar na Esfera indefinida!
<BR>&nbsp;
 
<P>Atrav&eacute;s de teu luto as estrelas meditam
<BR>Maravilhosamente e vaporosamente;
 
<BR>Como olhos celestiais dos Arcanjos nos fitam
<BR>L&aacute; do fundo negror do teu luto plangente.
<BR>&nbsp;
 
<P>Almas sem rumo j&aacute;, cora&ccedil;&otilde;es sem destino
<BR>V&atilde;o em busca de ti, por vastid&otilde;es incertas...
<BR>E no teu sonho astral, mago e luciferino,
<BR>Encontram para o amor grandes portas abertas.
<BR>&nbsp;
 
<P>C&acirc;ndida Flor que aroma e tudo purifica,
 
<BR>Trazes sempre contigo as sutis virgindades
<BR>E uma caudal preciosa, intermin&aacute;vel, rica,
<BR>De raras sugest&otilde;es e curiosidades.
<BR>&nbsp;
 
<P>As belezas do mito, as grinaldas de louro,
<BR>Os priscos ourop&eacute;is, os s&iacute;mbolos j&aacute; vagos,
<BR>Tudo forma o painel de um velho fundo de ouro
<BR>De onde surges enfim como as vis&otilde;es dos lagos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Certa gra&ccedil;a crist&atilde;, certo excelso abandono
<BR>De Deusa que emigrou de regi&otilde;es de outrora,
<BR>Certo a&eacute;reo sentir de esquecimento e outono,
<BR>Trazem-te as emo&ccedil;&otilde;es de quem medita e chora.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;s o imenso crisol, &eacute;s o crisol profundo
<BR>Onde se cristalizam todas as belezas,
<BR>&Eacute;s o n&eacute;ctar da F&eacute;, de que eu melhor me inundo.
 
<BR>&Oacute; n&eacute;ctar divinal das m&iacute;sticas purezas.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; Monja solu&ccedil;ante! &Oacute; Monja solu&ccedil;ante,
<BR>&Oacute; Monja do Perd&atilde;o, da paz e da clem&ecirc;ncia,
<BR>Leva para bem longe este Desejo errante,
 
<BR>Desta febre letal toda secreta ess&ecirc;ncia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nos teus golfos de Al&eacute;m, nos lagos taciturnos,
<BR>Nos p&eacute;lagos sem fim, vorazes e medonhos,
<BR>Abafa para sempre os solu&ccedil;os noturnos,
<BR>E as dilacera&ccedil;&otilde;es dos formid&aacute;veis Sonhos!
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o sei que Anjo fatal, que Sat&atilde; fugitivo,
 
<BR>Que g&ecirc;nios infernais, magn&eacute;ticos, sombrios,
<BR>Deram-te as amplid&otilde;es e o sentimento vivo
<BR>Do mist&eacute;rio com todos os seus calafrios...
<BR>&nbsp;
 
<P>A lua vem te dar mais tr&aacute;gica amargura,
<BR>E mais desola&ccedil;&atilde;o e mais melancolia,
<BR>E as estrelas, do c&eacute;u na Eucaristia pura,
<BR>T&ecirc;m a m&aacute;goa velada da Virgem Maria.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! Noite original, noite desconsolada
<BR>Monja da solid&atilde;o, espiritual e augusta,
<BR>Onde fica o teu reino, a regi&atilde;o vedada,
<BR>A regi&atilde;o secreta, a regi&atilde;o vetusta?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Almas dos que n&atilde;o tem o Ref&uacute;gio supremo
<BR>De altas contempla&ccedil;&otilde;es, dos mais altos mist&eacute;rios,
 
<BR>Vinde sentir da Noite o Isolamento extremo,
<BR>Os fluidos imortais, angelicais, et&eacute;reos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vinde ver como s&atilde;o mais castos e mais belos,
<BR>Mais puros que os do dia os noturnos vapores:
<BR>Por toda a parte no ar levantam-se castelos
<BR>E nos parques do c&eacute;u h&aacute; quermesses de amores.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vol&uacute;pias, sedu&ccedil;&otilde;es, encantos feiticeiros
 
<BR>Andam a embalsamar teu seio tenebroso
<BR>E as &aacute;guias da Ilus&atilde;o, de v&ocirc;os altaneiros,
<BR>Crivam de asas triunfais o horizonte onduloso.
<BR>&nbsp;
 
<P>Cavaleiros do Ideal, de erguida lan&ccedil;a em riste,
<BR>Sonham, a percorrer teus velhos Pa&ccedil;os cavos...
<BR>E esse nobre esplendor de majestade triste
<BR>Recebe outros laur&eacute;is mais bizarros e bravos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Convulsivas paix&otilde;es, convulsivas nevroses,
<BR>Recorda&ccedil;&otilde;es senis nos teus aspectos vagam,
<BR>Mil alucina&ccedil;&otilde;es, mortas apoteoses
<BR>E mil filtros sutis que mornamente embriagam.
<BR>&nbsp;
 
<P>O grande Monja negra e transfiguradora,
<BR>Magia sem igual dos paramos eternos,
<BR>Quem assim te criou, selvagem Sonhadora,
<BR>Da car&iacute;cia de c&eacute;us e do negror d’infernos?
<BR>&nbsp;
 
<P>Quem aur&eacute;olas te deu assim miraculosas
<BR>E todo o estranho assombro e todo o estranho medo,
<BR>Quem p&ocirc;s na tua treva ondula&ccedil;&otilde;es nervosas,
<BR>E mudez e sil&ecirc;ncio e sombras e segredo?
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas ah! quanto consolo andar errando, errando,
<BR>Perdido no teu Bem, perdido nos teus bra&ccedil;os,
<BR>Nos noivados da Morte andar al&eacute;m sonhando,
<BR>Na un&ccedil;&atilde;o sacramental dos teus negros Espa&ccedil;os!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Que glorioso trof&eacute;u andar assim perdido
<BR>Na larga vastid&atilde;o do mudo firmamento,
<BR>Na noite virginal ocultamente ungido,
<BR>Nas transfigura&ccedil;&otilde;es do humano sentimento!
<BR>&nbsp;
 
<P>Faz descer sobre mim os brandos v&eacute;us da calma,
<BR>Sinfonia da Dor, &oacute; Sinfonia muda,
<BR>Voz de todo o meu Sonho, &oacute; noiva da minh’alma,
 
<BR>Fantasma inspirador das Religi&otilde;es de Buda.
<BR>&nbsp;
 
<P>O negra Monja triste, &oacute; grande Soberana,
<BR>Tentadora Vis&atilde;o que me seduzes tanto,
<BR>Aben&ccedil;oa meu ser no teu doce Nirvana,
<BR>No teu Sepulcro ideal de desolado encanto!
<BR>&nbsp;
 
<P>H&oacute;stia negra e feral da comunh&atilde;o dos mortos,
 
<BR>Noite criadora, m&atilde;e dos gnomos, dos vampiros,
<BR>Passageira senil dos encantados portos,
<BR>&Oacute; cego sem bord&atilde;o da torre dos suspiros...
<BR>&nbsp;
 
<P>Aben&ccedil;oa meu ser, unge-o dos &oacute;leos castos,
<BR>Enche-o de turbilh&otilde;es de son&acirc;mbulas aves,
<BR>Para eu me difundir nos teus Sacr&aacute;rios vastos,
<BR>Para me consolar com os teus Sil&ecirc;ncios graves.
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>INEXOR&Aacute;VEL
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; meu Amor, que j&aacute; morreste,
 
<BR>&Oacute; meu Amor, que morta estas!
<BR>L&aacute; nessa cova a que desceste,
<BR>&Oacute; meu Amor, que j&aacute; morreste,
<BR>Ah! nunca mais floresceras?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Ao teu esqu&aacute;lido esqueleto,
<BR>Que tinha outrora de uma flor
<BR>A gra&ccedil;a e o encanto do amuleto;
 
<BR>Ao teu esqu&aacute;lido esqueleto
<BR>N&atilde;o voltar&aacute; novo esplendor?!
<BR>&nbsp;
 
<P>E ah! o teu cr&acirc;nio sem cabelos,
<BR>Sinistro, seco, est&eacute;ril, nu...
<BR>(Belas madeixas dos meus zelos!)
<BR>E ah! o teu cr&acirc;nio sem cabelos
<BR>H&aacute; de ficar como est&aacute;s tu?!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>O teu nariz de asa redonda,
<BR>De linhas l&iacute;mpidas, sutis
<BR>Oh! h&aacute; de ser na lama hedionda
<BR>O teu nariz de asa redonda
<BR>Comido pelos vermes vis?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Os teus dois olhos -- dois encantos --
<BR>De tudo, enfim, maravilhar,
<BR>Sacr&aacute;rio augusto dos teus prantos,
<BR>Os teus dois olhos -- dois encantos --
 
<BR>Em dois buracos v&atilde;o ficar?!
<BR>&nbsp;
 
<P>A tua boca perfumosa
<BR>O c&eacute;u do n&eacute;ctar sensual
<BR>&nbsp;T&atilde;o casta, fresca e luminosa,
<BR>A tua boca perfumosa
<BR>Vai ter o cancro sepulcral?!
<BR>&nbsp;
 
<P>As tuas m&atilde;os de n&iacute;vea seda,
 
<BR>De veias c&acirc;ndidas e azuis
<BR>V&atilde;o se extinguir na noite treda
<BR>As tuas m&atilde;os de n&iacute;vea seda,
<BR>L&aacute; nesses l&uacute;gubres pauis?!
<BR>&nbsp;
 
<P>As tuas tentadoras pomas
<BR>Cheias de um magn&iacute;fico elixir
<BR>De quentes, c&aacute;lidos aromas
 
<BR>As tuas tentadoras pomas
<BR>Ah! nunca mais h&atilde;o de florir?!
<BR>&nbsp;
 
<P>A ess&ecirc;ncia virgem da beleza,
<BR>O gesto, o andar, o sol da voz
<BR>Que Iluminava de pureza,
<BR>A ess&ecirc;ncia virgem da beleza
<BR>&nbsp;Tudo acabou no horror atroz?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Na funda treva dessa cova,
<BR>Na inexor&aacute;vel podrid&atilde;o
 
<BR>J&aacute; te apagaste, Estrela nova,
<BR>Na funda treva dessa cova
<BR>Na negra Transfigura&ccedil;&atilde;o!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>R&Eacute;QUIEM
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Como os salmos dos Evangelhos celestiais,
<BR>Os sonhos que eu amei h&atilde;o de acabar,
<BR>Quando o meu corpo, tr&ecirc;mulo, dos velhos
<BR>Nos gelados outonos penetrar.
<BR>&nbsp;
 
<P>O rosto encarquilhado e as m&atilde;os j&aacute; frias,
<BR>Engelhadas, convulsas, a tremer,
<BR>Apenas viverei das nostalgias
<BR>Que fazem para sempre envelhecer.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Por meus olhos sem brilho e fatigados
<BR>Como sombras de outrora, passar&atilde;o
<BR>As ilus&otilde;es de uns olhos constelados
<BR>Que da Vida dourar&atilde;o-me a Ilus&atilde;o.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas tudo, enfim, as bocas perfumosas,
<BR>O mar, o campo e tudo quanto amei,
<BR>As auroras, o sol, p&aacute;ssaros, rosas,
<BR>Tudo rir&aacute; do estado a que cheguei.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Do brilho das estrelas cristalinas
<BR>Vir&aacute; um riso ir&ocirc;nico de dor,
<BR>E da minh’alma subir&atilde;o neblinas,
<BR>Incensos vagos, c&acirc;nticos de amor.
<BR>&nbsp;
 
<P>Por toda parte o amargo esc&aacute;rnio fundo,
<BR>Sem j&aacute; mais nada para mim florir,
 
<BR>As risadas vand&aacute;licas do mundo
<BR>Secos desd&eacute;ns por toda a parte a rir.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que h&atilde;o de ser v&atilde;os esfor&ccedil;os da mem&oacute;ria
<BR>Para lembrar os tempos virginais,
<BR>As rugas da mat&eacute;ria transit&oacute;ria
<BR>H&atilde;o de 1&aacute; estar como a dizer: -- jamais!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>E hei de subir transfigurado e lento
<BR>Altas montanhas cheias de vis&otilde;es,
<BR>Onde gelaram, num luar, nevoento,
<BR>Tantos e solit&aacute;rios cora&ccedil;&otilde;es.
<BR>&nbsp;
 
<P>Recordarei as &iacute;ntimas ternuras,
<BR>De seres raros, por&eacute;m mortos j&aacute;,
<BR>E de mim, do que fui, pelas torturas
 
<BR>Deste viver pouco me lembrar&aacute;.
<BR>&nbsp;
 
<P>O mundo clamar&aacute; sinistramente
<BR>Daquele que a velhice alquebra e alui...
<BR>Mas ah! por mais que clame toda a gente
<BR>Nunca dir&aacute; o que de certo eu fui.
<BR>&nbsp;
 
<P>E os dias frios e ermos da Exist&ecirc;ncia
<BR>Cair&atilde;o num crep&uacute;sculo mortal,
 
<BR>Na solu&ccedil;ante, m&iacute;stica plang&ecirc;ncia
<BR>Dos &oacute;rg&atilde;os de uma estranha catedral.
<BR>&nbsp;
 
<P>Para me ungir no derradeiro e ansioso
<BR>Olhar que a extrema como&ccedil;&atilde;o traduz,
<BR>Sob o celeste p&aacute;lio majestoso
<BR>H&atilde;o de passar os Vi&aacute;ticos da luz.
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>VIS&Atilde;O
<BR>&nbsp;
 
<P>Noiva de Satan&aacute;s, Arte maldita,
<BR>Mago Fruto letal e proibido,
 
<BR>Son&acirc;mbula do Al&eacute;m, do Indefinido
<BR>Das profundas paix&otilde;es, Dor infinita.
<BR>&nbsp;
 
<P>Astro sombrio, luz amarga e aflita,
<BR>Das Ilus&otilde;es tant&aacute;lico gemido,
<BR>Virgem da Noite, do luar dorido,
<BR>Com toda a tua Dor oh! s&ecirc; bendita!
<BR>&nbsp;
 
<P>Seja bendito esse clar&atilde;o eterno
<BR>De sol, de sangue, de veneno e inferno,
<BR>De guerra e amor e ocasos de saudade...
<BR>&nbsp;
 
<P>Sejam benditas, imortalizadas
<BR>As almas castamente amortalhadas
<BR>Na tua estranha e branca Majestade!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
 
<BR>&nbsp;
 
<P>PRESSAGO
<BR>&nbsp;
 
<P>Nas &aacute;guas daquele lago
<BR>Dormita a sombra de Iago...
<BR>&nbsp;
 
<P>Um v&eacute;u de luar fun&eacute;reo
<BR>Cobre tudo de mist&eacute;rio...
<BR>&nbsp;
 
<P>H&aacute; um l&iacute;vido abandono
<BR>Do luar no estranho sono.
<BR>&nbsp;
 
<P>Transfigura&ccedil;&atilde;o enorme
<BR>Encobre o luar que dorme...
<BR>&nbsp;
 
<P>D&aacute; meia-noite na ermida,
<BR>Como o &uacute;ltimo ai de uma vida.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o badaladas nevoentas,
<BR>Sonolentas, sonolentas...
<BR>&nbsp;
 
<P>Do c&eacute;u no estrelado luxo
<BR>Passa o fantasma de um bruxo.
<BR>&nbsp;
 
<P>No mar tenebroso e tetro
<BR>Vaga de um naufrago o espectro.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como fant&aacute;sticos signos,
 
<BR>Erram dem&ocirc;nios malignos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Na brancura das ossadas
<BR>Gemem as almas penadas
<BR>&nbsp;
 
<P>Lobisomens, feiticeiras
<BR>Gargalham no luar das eiras.
<BR>&nbsp;
 
<P>Os vultos dos enforcados
<BR>Uivam nos ventos irados.
<BR>&nbsp;
 
<P>Os sinos das torres frias
 
<BR>Solu&ccedil;am hipocondrias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Lux&uacute;rias de virgens mortas
<BR>Das tumbas rasgam as portas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Andam torvos pesadelos
<BR>Arrepiando os cabelos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Coalha nos lodos abjetos
<BR>O sangue roxo dos fetos.
<BR>&nbsp;
 
<P>H&aacute; rios maus, amarelos
<BR>De press&aacute;gio de flagelos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Das vesgas concupisc&ecirc;ncias
<BR>Saem vis fosforesc&ecirc;ncias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Os remorsos contorcidos
<BR>Mordem os ares pungidos.
<BR>&nbsp;
 
<P>A alma cobarde de Judas
<BR>Recebe express&otilde;es comudas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Negras aves de rapina
<BR>Mostram a garra assassina.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sob o c&eacute;u que nos oprime
<BR>Languescem formas de crime.
<BR>&nbsp;
 
<P>Com os mais sinistros furores,
<BR>Saem gemidos das flores.
<BR>&nbsp;
 
<P>Caveiras! Que horror medonho!
<BR>Parecem vis&otilde;es de um sonho!
<BR>&nbsp;
 
<P>A morte com Sancho Panca,
<BR>Grotesca e tr&aacute;gica dan&ccedil;a.
<BR>&nbsp;
 
<P>E como um s&iacute;mbolo eterno,
<BR>Ritmos dos Ritmos do inferno.
<BR>&nbsp;
 
<P>No lago morto, ondulando,
<BR>Dentre o luar noctivagando,
<BR>&nbsp;
 
<P>O corvo hediondo crocita
<BR>Da sombra d’Iago maldita!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>RESSURREI&Ccedil;&Atilde;O
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Alma! Que tu n&atilde;o chores e n&atilde;o gemas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Teu amor voltou agora.
<BR>Ei-lo que chega das mans&otilde;es extremas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; L&aacute; onde a loucura
mora!
<BR>&nbsp;
 
<P>Veio mesmo mais belo e estranho, acaso,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Desses l&iacute;vidos pa&iacute;ses,
 
<BR>M&aacute;gica flor a rebentar de um vaso
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Com prodigiosas ra&iacute;zes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Veio transfigurada e mais formosa
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Essa ing&ecirc;nua natureza,
<BR>Mais &aacute;gil, mais delgada, mais nervosa,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Das ess&ecirc;ncias
da Beleza.
<BR>&nbsp;
 
<P>Certo neblinamento de saudade
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; M&oacute;rbida envolve-a
de leve...
<BR>E essa diluente espiritualidade
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Certos mist&eacute;rios
descreve.
<BR>&nbsp;
 
<P>O meu Amor voltou de a&eacute;reas curvas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Das paragens mais funestas...
<BR>Veio de percorrer torvas e turvas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E funambulescas festas.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>As festas turvas e funambulescas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Da ex&oacute;tica
Fantasia,
<BR>Por plagas cabal&iacute;sticas, dantescas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
De estranha selvageria.
<BR>&nbsp;
 
<P>Onde carrascos de tremendo aspecto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como astros monstros
circulam
<BR>E as meigas almas de sonhar inquieto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Barbaramente estrangulam.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Ele andou pelas plagas da loucura,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O meu Amor aben&ccedil;oado,
<BR>Banhado na poesia da Ternura,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; No meu Afeto banhado.
<BR>&nbsp;
 
<P>Andou! Mas afinal de tudo veio
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mais transfigurado
e belo,
<BR>Repousar no meu seio o pr&oacute;prio seio
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que eu de l&aacute;grimas
estr&eacute;io.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>De l&aacute;grimas de encanto e ardentes beijos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Para matar, triunfante,
<BR>A sede ideal de m&iacute;stico desejo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De quando ele andou
errante.
<BR>&nbsp;
 
<P>E l&aacute;grimas, que enfim, caem ainda
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Com os mais acres
dos sabores
<BR>E se transformam (maravilha infinda!)
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Em maravilhas de flores!
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! que feliz um cora&ccedil;&atilde;o que escuta
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; As origens de que
&eacute; feito!
<BR>E que n&atilde;o &eacute; nenhuma pedra bruta
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mumificada no peito!
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! que feliz um cora&ccedil;&atilde;o que sente
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ah! tudo vivendo intenso
<BR>No mais profundo borbulhar latente
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do seu fundo foco
imenso!
<BR>&nbsp;
 
<P>Sim! eu agora posso ter deveras
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ironias sacrossantas...
<BR>Posso os bra&ccedil;os te abrir, Luz das esferas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que das trevas te
levantas.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Posso mesmo j&aacute; rir de tudo, tudo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que me devora e me
oprime.
<BR>Voltou-me o antigo sentimento mudo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do teu olhar que redime.
<BR>&nbsp;
 
<P>J&aacute; n&atilde;o te sinto morta na minh'alma
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como em c&acirc;mara
mortu&aacute;ria,
 
<BR>Naquela estranha e tenebrosa calma
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De solid&atilde;o
funer&aacute;ria.
<BR>&nbsp;
 
<P>J&aacute; n&atilde;o te sinto mais embalsamada
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; No meu carinho profundo,
<BR>Nas mortalhas da Gra&ccedil;a amortalhada,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como ave voando do
mundo.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o! n&atilde;o te sinto mortalmente envolta
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Na n&eacute;voa que
tudo encerra...
<BR>Doce espectro do p&oacute;, da poeira solta
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Deflorada pela terra.
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o sinto mais o teu sorrir macabro
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De desdenhosa caveira.
 
<BR>Agora o cora&ccedil;&atilde;o e os olhos abro
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Para a Natureza inteira!
<BR>&nbsp;
 
<P>Negros pavores sepulcrais e frios
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Al&eacute;m morreram
com o vento...
<BR>Ah! como estou desafogado em rios
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De rejuvenescimento!
<BR>&nbsp;
 
<P>Deus existe no esplendor d’algum Sonho,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; L&aacute; em alguma
estrela esquiva.
 
<BR>S&oacute; ele escuta o solu&ccedil;ar medonho
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E torna a Dor menos
viva.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! foi com Deus que tu chegaste, &eacute; certo,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Com a sua gra&ccedil;a
espont&acirc;nea
<BR>Que emigraste das plagas do Deserto
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nu, sem sombra e sol,
da Ins&acirc;nia!
 
<BR>&nbsp;
 
<P>No entanto como que vol&uacute;pias vagas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Desses horrores amargos,
<BR>Talvez recorda&ccedil;&atilde;o daquelas plagas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; D&atilde;o-te esquisitos
letargos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Por&eacute;m tu, afinal, ressuscitaste
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E tudo em mim ressuscita.
 
<BR>E o meu Amor, que repurificaste,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Canta na paz infinita!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>ENLEVO
<BR>&nbsp;
 
<P>Da do&ccedil;ura da Noite, da do&ccedil;ura
 
<BR>De um tenro cora&ccedil;&atilde;o que vem sorrindo,
<BR>Seus segredos rec&ocirc;nditos abrindo
<BR>Pela primeira vez, a luz mais pura.
<BR>&nbsp;
 
<P>Da do&ccedil;ura celeste, da ternura
<BR>De um Bem consolador que vai fugindo
<BR>Pelos extremos do horizonte infindo,
<BR>Deixando-nos somente a Desventura.
<BR>&nbsp;
 
<P>Da do&ccedil;ura inocente, imaculada
<BR>De uma car&iacute;cia virginal da Inf&acirc;ncia,
 
<BR>Nessa de rosas fresca madrugada.
<BR>&nbsp;
 
<P>Era assim tua c&acirc;ndida fragr&acirc;ncia,
<BR>Arcanjo ideal de aur&eacute;ola delicada,
<BR>Vis&atilde;o consoladora da Dist&acirc;ncia...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>PIEDOSA
<BR>A Nestor Vitor
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o sei por que, magoada Flor sem gl&oacute;ria,
<BR>A tua voz de tr&ecirc;mula meiguice
<BR>Desperta em mim a mocidade fl&oacute;rea
<BR>De sentimentos que n&atilde;o tem velhice.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Guslas de um c&eacute;u remotamente mudo
<BR>Gemem plangentes nessa voz que voa
<BR>E atrav&eacute;s dela, aben&ccedil;oando tudo,
<BR>Um luar de perd&otilde;es desabotoa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vejo-te ent&atilde;o sublimemente triste
<BR>E excelsa e doce, num anseio lento,
<BR>Vagando como um ser que n&atilde;o existe,
 
<BR>Transfigurada pelo Sofrimento.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas, n&atilde;o sei como, vejo-te por brumas,
<BR>Al&eacute;m da de ouro constelada Porta,
<BR>Na ondula&ccedil;&atilde;o das l&iacute;vidas espumas,
<BR>Morta, j&aacute; morta, muito morta, morta...
<BR>&nbsp;
 
<P>E sinto logo esse supremo e s&aacute;bio
 
<BR>Travo da dor, se morta te antevejo,
<BR>Essa macabra contra&ccedil;&atilde;o de l&aacute;bio
<BR>Que morde e tantaliza o meu desejo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Fico sempre a cismar, se tu morresses
<BR>Que angustia fina me laceraria,
<BR>Que m&uacute;sicas de c&eacute;us saudosos, desses
<BR>C&eacute;us infinitos sobre mim fluiria...
<BR>&nbsp;
 
<P>Que anjos brancos soberbos, deslumbrantes,
 
<BR>Resplandecentes nos broqueis das vestes,
<BR>Claros e altos voariam flamejantes
<BR>Para buscar-te, dos Azuis Celestes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sim! Sim! Pois ent&atilde;o tanta e atroz fadiga,
<BR>Tanta e tamanha dor convulsa e cega
<BR>H&aacute; de ficar sem doce luz amiga,
<BR>Da l&aacute;grima dos c&eacute;us, que tudo rega?!
<BR>&nbsp;
 
<P>As batalhas cru&eacute;is do sacrif&iacute;cio,
 
<BR>As transfigura&ccedil;&otilde;es dos teus calv&aacute;rios,
<BR>Essas virtudes, rolar&atilde;o com o v&iacute;cio
<BR>Pelos mesmos abismos tumultu&aacute;rios?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Toda a obscura pureza dos teus feitos,
<BR>A tua alma mais simples do que a &aacute;gua,
<BR>Essa bondade, todos os eleitos
<BR>Sentimentos que tens de flor da M&aacute;goa;
<BR>&nbsp;
 
<P>Nada se salvar&aacute; jamais, mais nada
<BR>Se salvar&aacute;, no instante derradeiro?!
<BR>&Oacute; interroga&ccedil;&atilde;o desesperada,
<BR>Errante, errante pelo mundo inteiro!
<BR>&nbsp;
 
<P>Nada se salvar&aacute; da ess&ecirc;ncia viva
<BR>Que tudo purifica e refloresce;
 
<BR>De tanta f&eacute;, de tanta luz altiva
<BR>De tanta abnega&ccedil;&atilde;o, de tanta prece?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Nada se salvar&aacute;, piedosa e pobre
<BR>Flor desdenhada pelo Mal ufano,
<BR>S&oacute; o meu cora&ccedil;&atilde;o e verso nobre
<BR>H&atilde;o de abrigar-te do desprezo humano.
<BR>&nbsp;
 
<P>Na transcend&ecirc;ncia do teu ser, t&atilde;o alta,
<BR>Vejo dos c&eacute;us como que os dons, a esmola,
<BR>O indefinido que de ti ressalta
<BR>Me prende, me arrebata e me consola.
<BR>&nbsp;
 
<P>E sinto que a tua alma desprendida
<BR>Do terrestre, do negro labirinto
<BR>Melhor h&aacute; de adorar-me na outra
<BR>Vida Melhor sentindo tudo quanto eu sinto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Porque n&atilde;o &eacute; por sentimento vago,
<BR>Nem por simples e v&atilde; literatura,
<BR>Nem por caprichos de um estilo mago
<BR>Que sinto tanto a tua ess&ecirc;ncia pura.
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o &eacute; por transit&oacute;ria veleidade
 
<BR>E para que o mundo reconhe&ccedil;a,
<BR>Que sinto a tua c&acirc;ndida Piedade,
<BR>As aur&eacute;olas de Luz dessa cabe&ccedil;a.
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o &eacute; para que o mundo te proclame
<BR>Maravilha das m&aacute;rtires, das santas
<BR>Que eu digo sempre ao meu Amor que te ame
<BR>Mesmo atrav&eacute;s de tantas &acirc;nsias, tantas.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Nem &eacute; tamb&eacute;m para que o mundo creia
<BR>Na humilde limpidez da tua alma justa,
<BR>Que o mundo, vil e v&atilde;o, desdenha e odeia
<BR>Toda a humildade, toda a cren&ccedil;a augusta.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas sinto porque te amo e te acompanho
<BR>Pelas montanhas de onde s&oacute;is saudosos
<BR>Clar&otilde;es e sombras de um mist&eacute;rio estranho
 
<BR>Espalham, como adeuses carinhosos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto que te acompanho, que te sigo
<BR>Tranq&uuml;ilo, calmo desses v&atilde;os rumores
<BR>E que tu vais embalada comigo,
<BR>Na mesma rede de carinho e dores.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto os segredos do teu corpo amado,
<BR>Toda a gra&ccedil;a floral, a gra&ccedil;a breve,
<BR>Todo o composto l&acirc;nguido, alquebrado
 
<BR>Do teu perfil de &aacute;ureo crescente leve.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto-te as linhas imortais do flanco,
<BR>E as ondas vaporosas dos teus passos
<BR>E todo o sonho castamente branco
<BR>Da vol&uacute;pia celeste desses bra&ccedil;os.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto a muda express&atilde;o da tua boca
<BR>Feita num doce e doloroso corte
<BR>De beijo dado na veem&ecirc;ncia louca
 
<BR>Dos c&eacute;us do gozo entre o estertor da morte.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto-te as nobres m&atilde;os afagadoras,
<BR>Riquezas raras de um valor secreto
<BR>E m&atilde;os cujas car&iacute;cias redentoras
<BR>S&atilde;o as car&iacute;cias do supremo Afeto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto os teus olhos fluidos, de onde emerge
<BR>Uma gra&ccedil;a, uma paz, tamanho encanto,
 
<BR>T&atilde;o brando e triste, que a minha alma asperge
<BR>Em suav&iacute;ssimos b&aacute;lsamos de pranto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Uns olhos t&atilde;o et&eacute;reos, t&atilde;o profundos,
<BR>De tanta e t&atilde;o sutil delicadeza
<BR>Que parecem viver l&aacute; n’outros mundos,
<BR>Longe da contingente Natureza.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Olhos que sempre no tremendo choque
<BR>Dos sofrimentos &iacute;ntimos, latentes,
<BR>Tem esse toque amigo, o velho toque
<BR>Original das l&aacute;grimas ardentes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! s&Oacute; eu vejo e sinto esse desvelo
<BR>Que transfigura e faz o teu mart&iacute;rio,
<BR>O sentimento amargurado e belo
<BR>Que e j&aacute;, talvez, quase mortal del&iacute;rio...
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto que a mesma chama nos abra&ccedil;a,
<BR>Que um perfume eternal, casto, esquisito,
<BR>Circula e vive com divina gra&ccedil;a
<BR>Dentro do nosso tr&ecirc;mulo Infinito.
<BR>&nbsp;
 
<P>E tudo quanto me sensibiliza,
<BR>Fere, magoa, dilacera, punge,
<BR>Tudo no teu olhar se cristaliza,
<BR>No teu olhar, no teu olhar que unge.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sinto por ti o mais febril e intenso
<BR>Carinho quase louco, doentio...
<BR>Carinho singular, curioso, imenso,
<BR>Que deixa na alma um resplendor sombrio.
<BR>&nbsp;
 
<P>E e de tal forma esse carinho raro,
<BR>De tal encanto e t&atilde;o sagrada ess&ecirc;ncia,
<BR>De tal Piedade e tal Perd&atilde;o preclaro,
<BR>Que canta na estrelada Refulg&ecirc;ncia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! nunca saber&aacute;s quanto exotismo
 
<BR>De sentimento me alanceia e pulsa,
<BR>Vibra violinos de sonambulismo
<BR>Nest'alma ora serena, ora convulsa!
<BR>&nbsp;
 
<P>Tens luz de lua e tens gorjeios de ave
<BR>No mundo virginal dos meus sentidos,
<BR>E &eacute;s sonho, sombra de Angelus suave
<BR>Nos nossos m&uacute;tuos e comuns gemidos.
<BR>&nbsp;
 
<P>E sonho, sombra de Angelus, t&atilde;o brandos,
<BR>Imortalmente t&atilde;o indefin&iacute;veis
 
<BR>Que todos os terrores execrandos
<BR>Cobrem-se para n&oacute;s de &iacute;ris sens&iacute;veis.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute; assim que eu te sinto, erma, sozinha,
<BR>Fr&aacute;gil, piedosa, nos singelos brilhos
<BR>Erguendo aos bra&ccedil;os, nobremente minha,
<BR>Os dolentes trof&eacute;us dos nossos filhos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Erguendo-os como c&aacute;lices amargos
<BR>De um vinho ideal de j&aacute; mortas quimeras,
<BR>Para al&eacute;m destes c&eacute;us mudos e largos
<BR>Na ampla miseric&oacute;rdia das Esferas!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>AUS&Ecirc;NCIA MISTERIOSA
<BR>&nbsp;
 
<P>Uma hora s&oacute; que o teu perfil se afasta,
<BR>Um instante sequer, um s&oacute; minuto
<BR>Desta casa que amo -- vago luto
<BR>Envolve logo esta morada casta.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tua presen&ccedil;a delicada basta
<BR>Para tudo tornar claro e impoluto...
<BR>Na tua aus&ecirc;ncia, da Saudade escuto
<BR>O pranto que me prende e que me arrasta...
<BR>&nbsp;
 
<P>Secretas e sutis melancolias
<BR>Recuadas na Noite dos meus dias
<BR>V&ecirc;m para mim, lentas, se aproximando.
<BR>&nbsp;
 
<P>E em toda casa, nos objetos, erra
<BR>Um sentimento que n&atilde;o &eacute; da Terra
 
<BR>E que eu mudo e sozinho vou sonhando...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>MEU FILHO
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! quanto sentimento! ah! quanto sentimento!
<BR>Sob a guarda piedosa e muda das Esferas
<BR>Dorme, calmo, embalado pela voz do vento,
 
<BR>Fr&aacute;gil e pequenino e tenro como as heras.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ao mesmo tempo suave e ao mesmo tempo estranho
<BR>O aspecto do meu fiIho assim meigo dormindo...
<BR>Vem dele tal frescura e tal sonho tamanho
<BR>Que eu nem mesmo j&aacute; sei tudo que vou sentindo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Minh’alma fica presa e se debate ansiosa,
<BR>Em v&atilde;o solu&ccedil;a e clama, eternamente presa
<BR>No segredo fatal dessa flor caprichosa,
 
<BR>Do meu filho, a dormir, na paz da Natureza.
<BR>&nbsp;
 
<P>Minh’alma se debate e vai gemendo aflita
<BR>No fundo turbilh&atilde;o de grandes &acirc;nsias mudas:
<BR>Que esse t&atilde;o pobre ser, de ternura infinita,
<BR>Mais tarde ir&aacute; tragar os venenos de Judas!
<BR>&nbsp;
 
<P>Dar-lhe eu beijos, apenas, dar-lhe, apenas, beijos,
<BR>Carinhos dar-lhe sempre, ef&ecirc;meros, a&eacute;reos,
 
<BR>O que vale tudo isso para outros desejos,
<BR>O que vale tudo isso para outros mist&eacute;rios?!
<BR>&nbsp;
 
<P>De sua doce m&atilde;e que em prantos o aben&ccedil;oa
<BR>Com o mais profundo amor, arcangelicamente,
<BR>De sua doce m&atilde;e, t&atilde;o l&iacute;mpida, t&atilde;o boa,
<BR>O que vale esse amor, todo esse amor veemente?!
<BR>&nbsp;
 
<P>O longo sacrif&iacute;cio extremo que ela fa&ccedil;a,
<BR>As vig&iacute;lias sem nome, as ora&ccedil;&otilde;es sem termo,
<BR>Quando as garras cru&eacute;is e horr&iacute;veis da Desgra&ccedil;a
<BR>De sadio que ele &eacute;, fazem-no fraco e enfermo?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo isso, ah! Tudo isso, ah! quanto vale tudo isso
<BR>Se outras preocupa&ccedil;&otilde;es mais fundas me laceram,
 
<BR>Se a gra&ccedil;a de seu riso e a gra&ccedil;a do seu vi&ccedil;o
<BR>S&atilde;o as flores mortais que meu tormento geram?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Por que tantas pris&otilde;es, por que tantas cadeias
<BR>Quando a alma quer voar nos paramos liberta?
<BR>Ah! C&eacute;us! Quem me revela essas Origens cheias
<BR>De tanto desespero e tanta luz incerta!
<BR>&nbsp;
 
<P>Quem me revela, pois, todo o tesouro imenso
 
<BR>Desse imenso Aspirar tio entranhado, extremo!
<BR>Quem descobre, afinal, as causas do que eu penso,
<BR>As causas do que eu sofro, as causas do que eu gemo!
<BR>&nbsp;
 
<P>Pois ent&atilde;o hei de ter um afeto profundo,
<BR>Um grande sentimento, um sentimento insano
<BR>E hei de v&ecirc;-lo rolar, nos turbilh&otilde;es do mundo,
<BR>Para a vala comum do eterno Desengano?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Pois esse filho meu que ali no ber&ccedil;o dorme,
<BR>Ele mesmo t&atilde;o casto e t&atilde;o sereno e doce
 
<BR>Vem para ser na Vida o v&atilde;o fantasma enorme
<BR>Das dilacera&ccedil;&otilde;es que eu na minh’alma trouxe?!
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! Vida! Vida! Vida! Incendiada trag&eacute;dia,
<BR>Transfigurado Horror, Sonho transfigurado,
<BR>Macabras contor&ccedil;&otilde;es de l&uacute;gubre com&eacute;dia
<BR>Que um c&eacute;rebro de louco houvesse imaginado!
<BR>&nbsp;
 
<P>Meu filho que eu adoro e cubro de carinhos,
<BR>Que do mundo vil&atilde;o ternamente defendo,
<BR>H&aacute; de mais tarde errar por tremedais e espinhos
<BR>Sem que o possa acudir no suplicio tremendo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que eu vagarei por fim nos mundos invis&iacute;veis,
<BR>Nas diluentes vis&otilde;es dos largos Infinitos,
<BR>Sem nunca mais ouvir os clamores horr&iacute;veis,
<BR>A m&aacute;goa dos seus ais e os ecos dos seus gritos.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Vendo-o no ber&ccedil;o assim, sinto muda agonia,
<BR>Um misto de ansiedade, um misto de tortura.
<BR>Subo e pairo dos c&eacute;us na estrelada harmonia
<BR>E des&ccedil;o e entro do Inferno a furna h&oacute;rrida, escura.
<BR>&nbsp;
 
<P>E sinto sede intensa e intensa febre, tanto,
<BR>Tanto Azul, tanto abismo atroz que me deslumbra.
<BR>Velha saudade ideal, monja de amargo Encanto,
<BR>Desce por sobre mim sua estranha penumbra.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tu n&atilde;o sabes, jamais, tu nada sabes, filho,
<BR>Do tormentoso Horror, tu nada sabes, nada...
<BR>O teu caminho e claro, &eacute; matinal de brilho,
<BR>N&atilde;o conheces a sombra e os golpes da emboscada.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nesse ambiente de amor onde dormes teu sono
<BR>N&atilde;o sentes nem sequer o mais ligeiro espectro...
<BR>Mas, ah! eu vejo bem, sinistra, sobre o trono,
<BR>A Dor, a eterna Dor, agitando o seu cetro!
<BR>&nbsp;
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>VIS&Atilde;O GUIADORA
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; alma silenciosa e compassiva
<BR>Que conversas com os Anjos da Tristeza,
<BR>&Oacute; delicada e l&acirc;nguida beleza
 
<BR>Nas cadeias das l&aacute;grimas cativa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Fr&aacute;gil, nervosa timidez lasciva,
<BR>Gra&ccedil;a magoada, doce sutileza
<BR>De sombra e luz e da delicadeza
<BR>Dolorosa de m&uacute;sica aflitiva.
<BR>&nbsp;
 
<P>Alma de acerbo, amargurado ex&iacute;lio,
<BR>Perdida pelos c&eacute;us num vago id&iacute;lio
 
<BR>Com as almas e vis&otilde;es dos desolados.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; tu que &eacute;s boa e porque &eacute;s boa &eacute;s bela,
<BR>Da F&eacute; e da Esperan&ccedil;a eterna estrela
<BR>Todo o caminho dos desamparados.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>LITANIA DOS POBRES
<BR>&nbsp;
 
<P>Os miser&aacute;veis, os rotos
<BR>S&atilde;o as flores dos esgotos.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o espectros implac&aacute;veis
 
<BR>Os rotos, os miser&aacute;veis.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o prantos negros de furnas
<BR>Caladas, mudas, soturnas.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o os grandes vision&aacute;rios
<BR>Dos abismos tumultu&aacute;rios.
<BR>&nbsp;
 
<P>As sombras das sombras mortas,
 
<BR>Cegos, a tatear nas portas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Procurando o c&eacute;u, aflitos
<BR>E varando o c&eacute;u de gritos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Far&oacute;is a noite apagados
<BR>Por ventos desesperados.
<BR>&nbsp;
 
<P>In&uacute;teis, cansados bra&ccedil;os
 
<BR>Pedindo amor aos Espa&ccedil;os.
<BR>&nbsp;
 
<P>M&atilde;os inquietas, estendidas
<BR>Ao v&atilde;o deserto das vidas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Figuras que o Santo Of&iacute;cio
<BR>Condena a feroz supl&iacute;cio.
<BR>&nbsp;
 
<P>Arcas soltas ao nevoento
 
<BR>Dil&uacute;vio do Esquecimento.
<BR>&nbsp;
 
<P>Perdidas na correnteza
<BR>Das culpas da Natureza.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; pobres! Solu&ccedil;os feitos
<BR>Dos pecados imperfeitos!
<BR>&nbsp;
 
<P>Arrancadas amarguras
<BR>Do fundo das sepulturas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Imagens dos delet&eacute;rios,
<BR>Imponder&aacute;veis mist&eacute;rios.
<BR>&nbsp;
 
<P>Bandeiras rotas, sem nome,
<BR>Das barricadas da fome.
<BR>&nbsp;
 
<P>Bandeiras estra&ccedil;alhadas
<BR>Das sangrentas barricadas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Fantasmas v&atilde;os, sibilinos
<BR>Da caverna dos Destinos!
<BR>&nbsp;
 
<P>O pobres! o vosso bando
<BR>&Eacute; tremendo, &eacute; formidando!
<BR>&nbsp;
 
<P>Ele j&aacute; marcha crescendo,
<BR>O vosso bando tremendo...
<BR>&nbsp;
 
<P>Ele marcha por colinas,
<BR>Por montes e por campinas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nos areiais e nas serras
<BR>Em hostes como as de guerras.
<BR>&nbsp;
 
<P>Cerradas legi&otilde;es estranhas
<BR>A subir, descer montanhas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como avalanches terr&iacute;veis
<BR>Enchendo plagas incr&iacute;veis.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Atravessa j&aacute; os mares,
<BR>Com aspectos singulares.
<BR>&nbsp;
 
<P>Perde-se al&eacute;m nas dist&acirc;ncias
<BR>A caravana das &acirc;nsias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Perde-se al&eacute;m na poeira,
 
<BR>Das Esferas na cegueira.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vai enchendo o estranho mundo
<BR>Com o seu solu&ccedil;ar profundo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como torres formidandas
<BR>De torturas miserandas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E de tal forma no imenso
<BR>Mundo ele se torna denso.
<BR>&nbsp;
 
<P>E de tal forma se arrasta
 
<BR>Por toda a regi&atilde;o mais vasta.
<BR>&nbsp;
 
<P>E de tal forma um encanto
<BR>Secreto vos veste tanto.
<BR>&nbsp;
 
<P>E de tal forma j&aacute; cresce
<BR>O bando, que em v&oacute;s parece.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; Pobres de ocultas chagas
 
<BR>L&aacute; das mais long&iacute;nquas plagas!
<BR>&nbsp;
 
<P>Parece que em v&oacute;s h&aacute; sonho
<BR>E o vosso bando &eacute; risonho.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que atrav&eacute;s das rotas vestes
 
<BR>Trazeis del&iacute;cias celestes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que as vossas bocas, de um vinho
<BR>Prelibam todo o carinho...
<BR>&nbsp;
 
<P>Que os vossos olhos sombrios
<BR>Trazem raros amavios.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que as vossas almas trevosas
<BR>V&ecirc;m cheias de odor das rosas.
<BR>&nbsp;
 
<P>De torpores, d’indol&ecirc;ncias
<BR>E gra&ccedil;as e quint’ess&ecirc;ncias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que j&aacute; livres de mart&iacute;rios
<BR>V&ecirc;m festonadas de l&iacute;rios.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vem nimbadas de magia,
 
<BR>De morna melancolia!
<BR>&nbsp;
 
<P>Que essas flageladas almas
<BR>Reverdecem como palmas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Balanceadas no letargo
<BR>Dos sopros que vem do largo...
<BR>&nbsp;
 
<P>Radiantes d’ilusionismos,
<BR>Segredos, orientalismos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que como em &aacute;guas de lagos
 
<BR>B&oacute;iam nelas cisnes vagos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Que essas cabe&ccedil;as errantes
<BR>Trazem louros verdejantes.
<BR>&nbsp;
 
<P>E a languidez fugitiva
<BR>De alguma esperan&ccedil;a viva.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que trazeis magos aspeitos
<BR>E o vosso bando &eacute; de eleitos.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Que vestes a pompa ardente
<BR>Do velho Sonho dolente.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que por entre os estertores
<BR>Sois uns belos sonhadores.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P><I>SPLEEN</I> DE DEUSES
<BR>&nbsp;
 
<P>Oh! D&aacute;-me o teu sinistro Inferno
<BR>Dos desesperos t&eacute;tricos, violentos,
<BR>Onde rugem e bramem como os ventos
<BR>An&aacute;temas da Dor, no fogo eterno...
<BR>&nbsp;
 
<P>D&aacute;-me o teu fascinante, o teu falerno
 
<BR>Dos falernos das l&aacute;grimas sangrentos
<BR>Vinhos profundos, venenosos, lentos
<BR>Matando o gozo nesse horror do Averno.
<BR>&nbsp;
 
<P>Assim o Deus dos P&aacute;ramos clamava
<BR>Ao Dem&ocirc;nio soturno, e o rebelado,
<BR>Capric&oacute;rnio Sat&atilde;, ao Deus bradava.
<BR>&nbsp;
 
<P>Se &eacute;s Deus-e j&aacute; de mim tens triunfado,
 
<BR>Para lavar o Mal do Inferno e a bava
<BR>D&aacute;-me o t&eacute;dio senil do c&eacute;u fechado...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>DIVINA
<BR>&nbsp;
 
<P>Eu n&atilde;o busco saber o inevit&aacute;vel
<BR>Das espirais da tua vi mat&eacute;ria.
<BR>N&atilde;o quero cogitar da paz fun&eacute;rea
<BR>Que envolve todo o ser inconsol&aacute;vel.
<BR>&nbsp;
 
<P>Bem sei que no teu circulo male&aacute;vel
<BR>De vida transit&oacute;ria e m&aacute;goa seria
 
<BR>H&aacute; manchas dessa org&acirc;nica mis&eacute;ria
<BR>Do mundo contingente , imponder&aacute;vel .
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas o que eu amo no teu ser obscuro
<BR>E o evang&eacute;lico mist&eacute;rio puro
<BR>Do sacrif&iacute;cio que te torna hero&iacute;na.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o certos raios da tu’alma ansiosa
<BR>E certa luz misericordiosa,
<BR>E certa aur&eacute;ola que te fez divina!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>CABELOS
 
<BR>&nbsp;
 
<P>I
<BR>Cabelos! Quantas sensa&ccedil;&otilde;es ao v&ecirc;-los!
<BR>Cabelos negros, do esplendor sombrio,
<BR>Por onde corre o fluido vago e frio
<BR>Dos brumosos e longos pesadelos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Sonhos, mist&eacute;rios, ansiedades, zelos,
<BR>Tudo que lembra as convuls&otilde;es de um rio
<BR>Passa na noite c&aacute;lida, no estio
 
<BR>Da noite tropical dos teus cabelos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Passa atrav&eacute;s dos teus cabelos quentes,
<BR>Pela chama dos beijos inclementes,
<BR>Das dol&ecirc;ncias fatais, da nostalgia...
<BR>&nbsp;
 
<P>Aur&eacute;ola negra, majestosa, ondeada,
<BR>Alma da treva, densa e perfumada,
<BR>L&acirc;nguida Noite da melancolia!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>OLHOS
<BR>&nbsp;
 
<P>II
<BR>A Gr&eacute;cia d’Arte, a estranha claridade
<BR>D’aquela Gr&eacute;cia de beleza e gra&ccedil;a,
 
<BR>Passa, cantando, vai cantando e passa
<BR>Dos teus olhos na eterna castidade.
<BR>&nbsp;
 
<P>Toda a serena e altiva heroicidade
<BR>Que foi dos gregos a imortal coura&ccedil;a,
<BR>Aquele encanto e resplendor de ra&ccedil;a
<BR>Constelada de antiga majestade,
<BR>&nbsp;
 
<P>Da Atenas fl&oacute;rea toda o vi&ccedil;o louro,
<BR>E as rosas e os mirtais e as pompas d’ouro,
<BR>Odiss&eacute;ias e deuses e galeras...
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Na sonol&ecirc;ncia de uma lua aziaga,
<BR>Tudo em saudade nos teus olhos vaga,
<BR>Canta melancolias de outras eras!...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>BOCA
 
<BR>&nbsp;
 
<P>III
<BR>Boca vi&ccedil;osa, de perfume a l&iacute;rio,
<BR>Da l&iacute;mpida frescura da nevada,
<BR>Boca de pompa grega, purpureada,
<BR>Da majestade de um damasco ass&iacute;rio.
<BR>&nbsp;
 
<P>Boca para deleites e del&iacute;rio
<BR>Da vol&uacute;pia carnal e alucinada,
 
<BR>Boca de Arcanjo, tentadora e arqueada,
<BR>Tentando Arcanjos na amplid&atilde;o do Emp&iacute;rio,
<BR>&nbsp;
 
<P>Boca de Of&eacute;lia morta sobre o lago,
<BR>Dentre a aur&eacute;ola de luz do sonho vago
<BR>E os faunos leves do luar inquietos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Estranha boca virginal, cheirosa,
<BR>Boca de mirra e incensos, milagrosa
<BR>Nos filtros e nos t&oacute;xicos secretos...
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>SEIOS
<BR>&nbsp;
 
<P>IV
<BR>Magn&oacute;lias tropicais, frutos cheirosos
<BR>Das &aacute;rvores do Mal fascinadoras,
 
<BR>Das negras mancenilhas tentadoras,
<BR>Dos vagos narcotismos venenosos.
<BR>&nbsp;
 
<P>O&aacute;sis brancos e miraculosos
<BR>Das frementes vol&uacute;pias pecadoras
<BR>Nas paragens fatais, aterradoras
<BR>Do T&eacute;dio, nos desertos tenebrosos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Seios de aroma embriagador e langue,
<BR>Da aurora de ouro do esplendor do sangue,
<BR>A alma de sensa&ccedil;&otilde;es tantalizando.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; seios virginais, t&aacute;lamos vivos
<BR>Onde do amor nos &ecirc;xtases lascivos
<BR>Velhos faunos febris dormem sonhando...
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>M&Atilde;OS
<BR>&nbsp;
 
<P>V
<BR>&Oacute; M&atilde;os eb&uacute;rneas, M&atilde;os de claros veios,
<BR>Esquisitas tulipas delicadas,
<BR>L&acirc;nguidas M&atilde;os sutis e abandonadas,
<BR>Finas e brancas, no esplendor dos seios.
<BR>&nbsp;
 
<P>M&atilde;os et&eacute;ricas, di&aacute;fanas, de enleios,
<BR>De efl&uacute;vios e de gra&ccedil;as perfumadas,
<BR>Rel&iacute;quias imortais de eras sagradas
<BR>De amigos templos de rel&iacute;quias cheios.
<BR>&nbsp;
 
<P>M&atilde;os onde vagam todos os segredos,
<BR>Onde dos ci&uacute;mes tenebrosos, tredos,
 
<BR>Circula o sangue apaixonado e forte.
<BR>&nbsp;
 
<P>M&atilde;os que eu amei, no f&eacute;retro medonho
<BR>Frias, j&aacute; murchas, na fluidez do Sonho,
<BR>Nos mist&eacute;rios simb&oacute;licos da Morte!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>P&Eacute;S
<BR>&nbsp;
 
<P>VI
<BR>L&iacute;vidos, frios, de sinistro aspecto,
<BR>Como os p&eacute;s de Jesus, rotos em chaga,
<BR>Inteiri&ccedil;ados, dentre a aur&eacute;ola vaga
<BR>Do mist&eacute;rio sagrado de um afeto.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>P&eacute;s que o fluido magn&eacute;tico, secreto
<BR>Da morte maculou de estranha e maga
<BR>Sensa&ccedil;&atilde;o esquisita que propaga
<BR>Um frio n’alma, doloroso e inquieto...
<BR>&nbsp;
 
<P>P&eacute;s que bocas febris e apaixonadas
<BR>Purificaram, quentes, inflamadas,
<BR>Com o beijo dos adeuses solu&ccedil;antes.
<BR>&nbsp;
 
<P>P&eacute;s que j&aacute; no caix&atilde;o, enrijecidos,
<BR>Aterradoramente indefinidos
<BR>Geram fascina&ccedil;&otilde;es dilacerantes!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
 
<BR>&nbsp;
 
<P>CORPO
<BR>&nbsp;
 
<P>VII
<BR>Pompas e pompas, pompas soberanas
<BR>Majestade serene da escultura
<BR>A chama da suprema formosura,
<BR>A opul&ecirc;ncia das p&uacute;rpuras romanas.
<BR>&nbsp;
 
<P>As formas imortais, claras e ufanas,
<BR>Da gra&ccedil;a grega, da beleza pura,
 
<BR>Resplendem na arcang&eacute;lica brancura
<BR>Desse teu corpo de emo&ccedil;&otilde;es profanas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Cantam as infinitas nostalgias,
<BR>Os mist&eacute;rios do Amor, melancolias,
<BR>Todo o perfume de eras apagadas...
<BR>&nbsp;
 
<P>E as &aacute;guias da paix&atilde;o, brancas, radiantes,
<BR>Voam, revoam, de asas palpitantes,
<BR>No esplendor do teu corpo arrebatadas!
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>CAN&Ccedil;&Atilde;O NEGRA
<BR>A Nestor Vitor
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; boca em tromba retorcida
 
<BR>Cuspindo inj&uacute;rias para o C&eacute;u,
<BR>Aberta e p&uacute;trida ferida
<BR>Em tudo pondo igual lab&eacute;u.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; boca em chamas, boca em chamas,
<BR>Da mais sinistra e negra voz,
<BR>Que clamas, clamas, clamas, clamas,
<BR>Num cataclismo estranho, atroz.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; boca em chagas, boca em chagas,
 
<BR>Somente an&aacute;temas a rir,
<BR>De tantas pragas, tantas pragas
<BR>Em catadupas a rugir.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; bocas de uivos e pedradas,
<BR>Vis&atilde;o hist&eacute;rica do Mal,
<BR>Cortando como mil facadas
<BR>Dum golpe s&oacute;, transcendental.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sublime boca sem pecado,
 
<BR>Cuspindo embora a lama e o pus,
<BR>Tudo a deixar transfigurado,
<BR>O lodo a transformar em luz.
<BR>&nbsp;
 
<P>Boca de ventos inclemente
<BR>&nbsp;De universais revolu&ccedil;&otilde;es,
<BR>Alevantando as hostes quentes,
<BR>Os sanguin&aacute;rios batalh&otilde;es.
<BR>&nbsp;
 
<P>Aben&ccedil;oada a can&ccedil;&atilde;o velha
 
<BR>Que os l&aacute;bios teus cantam assim
<BR>Na tua face que se engelha,
<BR>Da cor de l&iacute;vido marfim.
<BR>&nbsp;
 
<P>Parece a furna do Castigo
<BR>Jorrando pragas na can&ccedil;&atilde;o,
<BR>&nbsp;A tua boca de mendigo,
<BR>T&atilde;o tosco como o teu bord&atilde;o.
<BR>&nbsp;
 
<P>Boca fatal de torvos trenos!
 
<BR>Da onipot&ecirc;ncia do bom Deus,
<BR>Louvados sejam tais venenos,
<BR>Purificantes como os teus!
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo precisa um ferro em brasa
<BR>Para este mundo transformar...
<BR>Nos teus An&aacute;temas p&otilde;e asa
<BR>E vai no mundo praguejar!
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; boca ideal de rudes trovas,
<BR>Do mais sangrento resplendor,
 
<BR>Vai reflorir todas as covas,
<BR>O facho a erguer da luz do Amor.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nas v&atilde;s mis&eacute;rias deste mundo
<BR>Dos exorcismos cospe o fel...
<BR>Que as tuas pragas rasguem fundo
<BR>O cora&ccedil;&atilde;o desta Babel.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mendigo estranho! Em toda a parte
<BR>Vai com teus gritos, com teus ais,
<BR>Como o simb&oacute;lico estandarte
 
<BR>Das tredas convuls&otilde;es mortais!
<BR>&nbsp;
 
<P>Resume todos esses travos
<BR>Que a terra fazem languescer.
<BR>Das m&atilde;os e p&eacute;s arranca os cravos
<BR>Das cruzes mil de cada Ser.
<BR>&nbsp;
 
<P>A terra &eacute; m&atilde;e!&nbsp; -- mas &eacute;bria e louca
 
<BR>Tem germens bons e germens vis...
<BR>Bendita seja a negra boca
<BR>Que t&atilde;o malditas coisas diz!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>A IRONIA DOS VERMES
<BR>&nbsp;
 
<P>Eu imagino que &eacute;s uma princesa
<BR>Morta na flor da castidade branca...
<BR>Que teu cortejo sepulcral arranca
<BR>Por tanta pompa espasmos de surpresa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que tu vais por um coche conduzida,
<BR>Por esquadr&otilde;es flam&iacute;vomos guardada,
<BR>Como carnal e virgem madrugada,
<BR>Bela das belas, sem mais sol, sem vida.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que da Corte os luzidos Dignit&aacute;rios
 
<BR>Com seus aspectos marciais, bizarros,
<BR>Seguem-te ap&oacute;s nos fagulhantes, carros
<BR>E a excelsa cauda dos cortejos v&aacute;rios.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que a tropa toda forma nos caminhos
<BR>Por onde ir&aacute;s passar indiferente;
<BR>Que h&aacute; no semblante v&atilde;o de toda a gente
<BR>Curiosidades que parecem vinhos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que os potentes canh&otilde;es roucos atroam
<BR>O espa&ccedil;o claro de uma tarde suave,
<BR>E que tu vais, L&iacute;rio dos l&iacute;rios e ave
<BR>Do Amor, por entre os sons que te coroam.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que nas flores, nas sedas, nos veludos,
<BR>E nos cristais do f&eacute;retro radiante
<BR>&nbsp;Nos damascos do Oriente, na faiscante
<BR>Onda de tudo h&aacute; longos prantos mudos.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Que do sil&ecirc;ncio azul da imensidade,
<BR>Do perd&atilde;o infinito dos Espa&ccedil;os
<BR>Tudo te d&aacute; os beijos e os abra&ccedil;os
<BR>Do seu adeus a tua Majestade.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que de todas as coisas como Verbo
<BR>De saudades sem termo e de amargura,
<BR>Sai um adeus a tua formosura,
 
<BR>Num desolado sentimento acerbo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que o teu corpo de luz, teu corpo amado,
<BR>Envolto em finas e cheirosas vestes,
<BR>Sob o carinho das Mans&otilde;es celestes
<BR>Ficar&aacute; pela Morte encarcerado.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que o teu s&eacute;quito &eacute; tal, tal a coorte,
<BR>Tal o sol dos bras&otilde;es, por toda a parte,
 
<BR>Que em vez da horrenda Morte suplantar-te
<BR>Cr&ecirc;-se que &eacute;s tu que suplantaste a Morte.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas dos faustos mortais a regia trompa,
<BR>Os grandes ourop&eacute;is, a real Quermesse,
<BR>Ah! tudo, tudo proclamar parece
<BR>Que h&aacute;s de afinal apodrecer com pompa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como que foram feitos de lux&uacute;ria
<BR>E gozo ideal teus funerais luxuosos
 
<BR>Para que os vermes, pouco escrupulosos,
<BR>N&atilde;o te devorem com pleb&eacute;ia f&uacute;ria.
<BR>&nbsp;
 
<P>Para que eles ao menos vendo as belas
<BR>Magnific&ecirc;ncias do teu corpo exausto
<BR>Mordam-te com cuidados e cautelas
<BR>Para o teu corpo apodrecer com fausto.
<BR>&nbsp;
 
<P>Para que possa apodrecer nas frias
<BR>Geleiras sepulcrais d'esquecimentos,
<BR>Nos mais augustos apodrecimentos,
 
<BR>Entre constela&ccedil;&otilde;es e pedrarias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas ah! quanta ironia atroz, fun&eacute;rea,
<BR>Imagin&aacute;ria e c&acirc;ndida Princesa:
<BR>&Eacute;s igual a uma simples camponesa
<BR>Nos apodrecimentos da Mat&eacute;ria!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>IN&Ecirc;S
<BR>&nbsp;
 
<P>Tem teu nome a estranha gra&ccedil;a
<BR>De uma galga verde, estranha.
<BR>Certo langor te adelga&ccedil;a,
<BR>Certo encanto te acompanha.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;s velada, quebradi&ccedil;a
 
<BR>Como teu nome &eacute; velado.
<BR>Certa flor curiosa vi&ccedil;a
<BR>No teu corpo edenizado.
<BR>&nbsp;
 
<P>Chamam-te a In&ecirc;s dos quebrantos,
<BR>A galga verde, a felina,
<BR>Amaranto de amarantos,
<BR>Das franzinas a franzina.
<BR>&nbsp;
 
<P>Teus olhos, langues aqu&aacute;rios
 
<BR>Adormentados de cisma,
<BR>Vivem mudos, solit&aacute;rios
<BR>Como uma treva que abisma.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tua boca, vivo cravo
<BR>Sang&uuml;&iacute;neo, p&uacute;rpuro, ardente,
<BR>De certa forma tem travo
<BR>Embora veladamente.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;s l&iacute;rio de velho outono,
<BR>Meiga In&ecirc;s, e de tal sorte
 
<BR>Que j&aacute; vives no abandono,
<BR>Meio enevoada da morte.
<BR>&nbsp;
 
<P>Teu beijo, do rosmaninho
<BR>Tem o sainete amargoso...
<BR>Lembra a saudade de um vinho
<BR>Secreto, mas venenoso.
<BR>&nbsp;
 
<P>Por um mist&eacute;rio indiz&iacute;vel
<BR>N&atilde;o te &eacute; dado amar na terra.
 
<BR>Vem de longe o Indefin&iacute;vel
<BR>Que os teus sil&ecirc;ncios encerra!
<BR>&nbsp;
 
<P>Deus fechou-te a sete chaves
<BR>O cora&ccedil;&atilde;o l&aacute; no fundo...
<BR>Mas deu-te as asas das aves
<BR>Para irradiares no mundo.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>HUMILDADE SECRETA
<BR>&nbsp;
 
<P>Fico parado, em &ecirc;xtase suspenso,
<BR>&Agrave;s vezes, quando vou considerando
<BR>Na humildade simp&aacute;tica, no brando
<BR>Mist&eacute;rio simples do teu ser imenso.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo o que aspiro, tudo quanto penso
<BR>D’estrelas que andam dentro em mim cantando,
<BR>Ah! tudo ao teu fen&ocirc;meno vai dando
<BR>Um c&eacute;u de azul mais carregado e denso.
<BR>&nbsp;
 
<P>De onde n&atilde;o sei tanta simplicidade,
<BR>Tanta secreta e l&iacute;mpida humildade
<BR>Vem ao teu ser como os encantos raros.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nos teus olhos tu alma transparece...
 
<BR>E de tal sorte que o bom Deus parece
<BR>Viver sonhando nos teus olhos claros.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>FLOR PERIGOSA
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! quem, tr&ecirc;mulo e p&aacute;lido, medita
 
<BR>No teu perfil de &aacute;spide triste, triste,
<BR>N&atilde;o sabe em quanto abismo essa infinita
<BR>Tristeza amarga singular consiste.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tens todo o encanto de uma flor, o encanto
<BR>Secreto de uma flor de vago aroma...
<BR>Mas n&atilde;o sei que de morno e de quebranto
<BR>Vem, lasso e langue, dessa negra coma.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;s das origens mais desconhecidas,
<BR>De uma long&iacute;nqua e nebulosa inf&acirc;ncia.
 
<BR>A vis&atilde;o das vis&otilde;es indefinidas,
<BR>De atra, sinistra m&oacute;rbida eleg&acirc;ncia.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como flor, entretanto, &eacute;s bem amarga!
<BR>P&oacute;lens celestes o teu ser inundam,
<BR>Mas ningu&eacute;m sabe a onda nervosa e larga
<BR>Dos insetos mortais que te circundam.
<BR>&nbsp;
 
<P>Quem teu aroma de mulher aspira
<BR>Fica entre &acirc;nsias de t&uacute;mulo fechado...
<BR>Sente vertigens de vulc&atilde;o, delira
<BR>E morre, sutilmente envenenado.
<BR>&nbsp;
 
<P>Teu olhar de fulg&ecirc;ncias e de treva,
<BR>Onde as vol&uacute;pias a pecar se ajustam,
<BR>Guarda um mist&eacute;rio que envilece e eleva,
<BR>Causa del&iacute;quios e emo&ccedil;&otilde;es que assustam.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;s flor, mas como flor &eacute;s perigosa,
<BR>Do mais sombrio e t&eacute;trico perigo...
<BR>Fen&ocirc;menos fatais de luz ansiosa
<BR>V&atilde;o pelas noites segredar contigo.
<BR>&nbsp;
 
<P>V&atilde;o segredar que &eacute;s feia e que &eacute;s estranha
<BR>Sendo feia, mas sendo extravagante,
 
<BR>De enorme, de esquisita, de tamanha
<BR>Influ&ecirc;ncia de eclipse radiante...
<BR>&nbsp;
 
<P>Sei! n&atilde;o nasceste sob a luz que ondeia
<BR>Na beleza e nos astros da sa&uacute;de;
<BR>Mas sendo assim, morbidamente feia,
<BR>O teu ser feia torna-se virtude.
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;s feia e doente, surges desse misto,
<BR>Da ex&oacute;tica, da insana, da funesta
<BR>Aur&eacute;ola ideal dos mart&iacute;rios de Cristo
 
<BR>Naquela Dor absurdamente mesta.
<BR>&nbsp;
 
<P>Vens de l&aacute;, vens de 1&aacute; -- fundos remotos
<BR>Adelga&ccedil;ando como os v&eacute;us de um rio...
<BR>Abrindo do magoado e velho l&oacute;tus
<BR>Do sentimento, todo o sol doentio...
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas quem quiser saber o quanto encerra
<BR>Teu ser, de mais profundo e mais nevoento,
 
<BR>Venha aspirar-te no teu vaso -- a Terra --
<BR>&Oacute; perigosa flor do esquecimento!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>METEMPSICOSE
<BR>&nbsp;
 
<P>Agora, j&aacute; que apodreceu a argila
 
<BR>Do teu corpo divino e sacrossanto;
<BR>Que embalsamaram de magoado pranto
<BR>A tua carne, na mudez tranq&uuml;ila,
<BR>&nbsp;
 
<P>Agora, que nos C&eacute;us, talvez, se asila
<BR>Aquela gra&ccedil;a e luminoso encanto
<BR>De virginal e p&aacute;lido amaranto
<BR>Entre a Harmonia que nos C&eacute;us desfila.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que da morte o estupor macabro e feio
 
<BR>Congelou as magn&oacute;lias do teu seio,
<BR>Por entre catal&eacute;pticas vis&otilde;es...
<BR>&nbsp;
 
<P>Surge, Bela das Belas, na Beleza
<BR>Do transcendentalismo da Pureza,
<BR>Nas brancas, imortais Ressurrei&ccedil;&otilde;es!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>OS MONGES
<BR>&nbsp;
 
<P>Montanhas e montanhas e montanhas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ei-los que v&atilde;o
galgando.
<BR>As sombras v&atilde;s das figuras estranhas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Na Terra projetando.
<BR>&nbsp;
 
<P>Habitam nas mans&otilde;es do Imponder&aacute;vel
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Esses graves ascetas;
<BR>Ocultando, talvez, no Inconsol&aacute;vel
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Amarguras inquietas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como os reis Magos, trazem l&aacute; do Oriente
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; As alfaias preciosas,
<BR>Mas alfaias, surpreendentemente,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; As mais miraculosas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nem incensos, nem mirras e nem ouros,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nem mirras nem incensos,
<BR>Outros mais raros, m&aacute;gicos tesouros
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Sobre todos, imensos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Pelos long&iacute;nquos, s&aacute;faros caminhos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que vivem percorrendo,
 
<BR>A Dor, como atros, venenosos vinhos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os vai deliq&uuml;escendo.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o os monges sombrios, solit&aacute;rios,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como esses vagos rios
<BR>Que passam nas florestas tumultu&aacute;rios,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Solit&aacute;rios,
sombrios.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o monges das florestas encantadas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos ignotos tumultos,
<BR>Almas na Terra desassossegadas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Desconsolados vultos.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&atilde;o os monges da Gra&ccedil;a e do Mist&eacute;rio,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Far&oacute;is da Eternidade
 
<BR>Iluminando todo o Azul sid&eacute;reo
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Da sagrada Saudade.
<BR>&nbsp;
 
<P>-- Onde e quando achar&atilde;o o seu descanso
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Eles que h&aacute;
tanto vagam?
<BR>Em que dia ter&atilde;o esse remanso
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os seus p&eacute;s
que se chagam?
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Quando caminham nas Regi&otilde;es nevoentas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Da lua nos quebrantos,
<BR>As suas sombras vagarosas, lentas
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ganham certos encantos...
<BR>&nbsp;
 
<P>Ficam nimbados pela luz da lua
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os seus perfis tristonhos...
<BR>Sob a dol&ecirc;ncia peregrina e crua
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos tant&aacute;licos
sonhos.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>As Ilus&otilde;es s&atilde;o seus mantos sang&uuml;&iacute;neos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De s&iacute;mbolos
de dores,
<BR>De signos, de solenes vatic&iacute;nios,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De nirv&acirc;nicas
flores.
<BR>&nbsp;
 
<P>Benditos monges imortais, benditos
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que et&eacute;reas
harpas tangem!
<BR>Que rasgam d'alto a baixo os Infinitos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Infinitos abrangem.
<BR>&nbsp;
 
<P>Deixai-os ir com os seus trof&eacute;us bizarros
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De humano Sentimento,
<BR>Arrebatados pelos &iacute;gneos carros
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Do augusto Pensamento.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que os leve a gra&ccedil;a das errantes almas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; -- Grandes asas de
tudo --
<BR>Entre as Hosanas, o verdor das palmas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Entre o Mist&eacute;rio
mudo!
<BR>&nbsp;
 
<P>N&atilde;o importa saber que rumo trazem
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nem se &eacute; longo
esse rumo...
 
<BR>Eles no Indefinido se comprazem,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; S&atilde;o dele a
chama e o fumo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Deixai-os ir pela Amplid&atilde;o a fora,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nos Sil&ecirc;ncios
da esfera,
<BR>Nos esplendores da eternal Aurora
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Coroados de Quimera!
<BR>&nbsp;
 
<P>Deixai-os ir pela Amplid&atilde;o, deixai-os,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; No segredo profundo,
<BR>Por entre fluidos de celestes raios
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Transfigurando o mundo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que s&oacute; os astros do Azul cintilam
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Pela sid&eacute;rea
rede
<BR>Saibam que os monges, l&iacute;vidos, desfilam
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Devorados de sede...
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Que ningu&eacute;m mais possa saber as &acirc;nsias
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nem sentir a Dol&ecirc;ncia
<BR>Que vindo das inc&oacute;gnitas Distancias
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E dos monges a ess&ecirc;ncia!
<BR>&nbsp;
 
<P>Monges, &oacute; monges da divina Gra&ccedil;a,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; L&aacute; da gra&ccedil;a
divina,
<BR>Deu-vos o Amor toda a imortal coura&ccedil;a
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dessa F&eacute; que
alucina.
<BR>&nbsp;
 
<P>No meio de anjos que vos-aben&ccedil;oam
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Cora&ccedil;&otilde;es
estremecem...
 
<BR>E tudo eternamente vos perdoam
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os que n&atilde;o
vos esquecem.
<BR>&nbsp;
 
<P>Toda a miseric&oacute;rdia dos espa&ccedil;os
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Vos oscule, surpresa...
<BR>E abri, serenos, largamente, os bra&ccedil;os
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; A toda a Natureza!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>TRISTEZA DO INFINITO
<BR>&nbsp;
 
<P>Anda em mim, soturnamente,
<BR>Uma tristeza ociosa
<BR>Sem objetivo, latente,
<BR>Vaga, indecisa, medrosa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Como ave torva e sem rumo,
<BR>Ondula, vagueia, oscila
<BR>E sobe em nuvens de fumo
<BR>E na minh'alma se asila.
<BR>&nbsp;
 
<P>Uma tristeza que eu, mudo,
<BR>Fico nela meditando
<BR>E meditando, por tudo
<BR>E em toda a parte sonhando.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tristeza de n&atilde;o sei donde,
<BR>De n&atilde;o sei quando nem como...
<BR>Flor mortal, que dentro esconde
 
<BR>Sementes de um mago pomo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Dessas tristezas incertas,
<BR>Esparsas, indefinidas...
<BR>Como almas vagas, desertas
<BR>No rumo eterno das vidas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tristeza sem causa forte,
<BR>Diversa de outras tristezas,
<BR>Nem da vida nem da morte
<BR>Gerada nas correntezas...
<BR>&nbsp;
 
<P>Tristeza de outros espa&ccedil;os,
 
<BR>De outros c&eacute;us, de outras esferas,
<BR>De outros l&iacute;mpidos abra&ccedil;os,
<BR>De outras castas primaveras.
<BR>&nbsp;
 
<P>Dessas tristezas que vagam
<BR>Com vol&uacute;pias t&atilde;o sombrias
<BR>Que as nossas almas alagam
<BR>De estranhas melancolias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Dessas tristezas sem fundo,
 
<BR>Sem origens prolongadas,
<BR>Sem saudades deste mundo,
<BR>Sem noites, sem alvoradas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Que principiam no sonho
<BR>E acabam na Realidade,
<BR>Atrav&eacute;s do mar tristonho
<BR>Desta absurda Imensidade.
<BR>&nbsp;
 
<P>Certa tristeza indiz&iacute;vel,
<BR>Abstrata, como se fosse
<BR>A grande alma do Sens&iacute;vel
 
<BR>Magoada, m&iacute;stica, doce.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ah! tristeza imponder&aacute;vel,
<BR>Abismo, mist&eacute;rio aflito,
<BR>Torturante, formid&aacute;vel...
<BR>Ah! tristeza do Infinito!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>LUAR DE L&Aacute;GRIMAS
<BR>&nbsp;
 
<P>I
<BR>Nos estrelados, l&iacute;mpidos caminhos
<BR>Dos C&eacute;us, que um luar criva de prata e de ouro,
<BR>Abrem-se r&oacute;seos e cheirosos ninhos,
<BR>E h&aacute; muitas messes do bom trigo louro.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Os astros cantam meigas cavatinas,
<BR>E na frescura as almas claras gozam
<BR>Alvoradas eternal, cristalinas,
<BR>E os Dons supremos, divinais esposam.
<BR>&nbsp;
 
<P>L&aacute;, a floresc&ecirc;ncia dos Desejos
<BR>Tem sempre um novo e original perfume,
<BR>Tudo rejuvenesce dentre harpejos
<BR>E dentre palmas verdes se resume.
<BR>&nbsp;
 
<P>As pr&oacute;prias mocidades e as inf&acirc;ncias
 
<BR>Das coisas tem um esplendor infindo
<BR>E as imortalidades e as distancias
<BR>&nbsp;
 
<P>Est&atilde;o sempre florindo e reflorindo.
<BR>Tudo a&Iacute; se consola e transfigura
<BR>Num Relic&aacute;rio de viver perfeito,
<BR>E em cada uma alma peregrina e pura
<BR>Alvora o sentimento mais eleito.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo a&iacute; vive e sonha o imaculado
 
<BR>Sonho esquisito e azul das quint'ess&ecirc;ncias,
<BR>Tudo &eacute; sutil e c&acirc;ndido, estrelado,
<BR>Embalsamado de eternais ess&ecirc;ncias.
<BR>&nbsp;
 
<P>L&aacute; as Horas s&atilde;o &aacute;guias, voam, voam
<BR>Com grandes asas resplandecedoras...
<BR>E harpas augustas finamente soam
 
<BR>As Aleluias glorificadoras.
<BR>&nbsp;
 
<P>Forasteiros de todos os matizes
<BR>Sentem ali felicidades castas
<BR>E os que essas liba&ccedil;&otilde;es gozam felizes
<BR>Deixam da terra as vastid&otilde;es nefastas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Anjos excelsos e contemplativos,
<BR>Soberbos e solenes, soberanos,
<BR>Com aspectos grand&iacute;loquos, altivos,
<BR>Sonham sorrindo, angelicais e ufanos.
<BR>&nbsp;
 
<P>L&aacute; n&atilde;o existe a convuls&atilde;o da Vida
<BR>Nem os tremendos, tr&aacute;gicos abrolhos.
<BR>H&aacute; por tudo a do&ccedil;ura indefinida
<BR>Dos azuis melanc&oacute;licos de uns olhos.
<BR>&nbsp;
 
<P>V&eacute;us brancos de Vis&otilde;es resplandecentes
 
<BR>Miraculosamente se adelga&ccedil;am...
<BR>E recordando essas Vis&otilde;es diluentes
<BR>Dol&ecirc;ncias beethov&iacute;nicas perpassam.
<BR>&nbsp;
 
<P>H&aacute; magos e arcang&eacute;licos poderes
<BR>Para que as exist&ecirc;ncias se transformem...
<BR>E os mais egr&eacute;gios e completos seres
 
<BR>Sonos sagrados, impolutos dormem...
<BR>&nbsp;
 
<P>E l&aacute; que vagam, que plangentes erram,
<BR>L&aacute; que devem vagar, decerto, fl&oacute;reas,
<BR>Puras, as Almas que eu perdi, que encerram
<BR>O meu Amor nas Urnas ilus&oacute;rias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Hosanas de perd&atilde;o e de bondade
 
<BR>De celestial miseric&oacute;rdia santa
<BR>Aben&ccedil;oam toda essa claridade
<BR>Que na harmonia das Esferas canta.
<BR>&nbsp;
 
<P>Preces ardentes como ardentes sar&ccedil;as
<BR>Sobem no meio das divinas messes.
<BR>Lembra o v&ocirc;o das pombas e das gar&ccedil;as
<BR>A leve ondula&ccedil;&atilde;o de tantas preces.
<BR>&nbsp;
 
<P>E quem penetra nesse ideal Dom&iacute;nio,
<BR>Por entre os raios das estrelas belas,
<BR>Todo o celeste e singular escr&iacute;nio,
<BR>Todo o escr&iacute;nio das l&aacute;grimas v&ecirc; nelas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E absorto, penetrando os C&eacute;us t&atilde;o calmos,
<BR>C&eacute;us de constela&ccedil;&otilde;es que maravilham,
 
<BR>N&atilde;o sabe, acaso, se com os brilhos almos,
<BR>S&atilde;o estrelas ou l&aacute;grimas que brilham.
<BR>&nbsp;
 
<P>Mas ah! das Almas esse azul letargo,
<BR>Esse eterno, imortal Isolamento,
<BR>Tudo se envolve num luar amargo
<BR>De Saudade, de Dor, de Esquecimento!
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo se envolve nas neblinas densas
<BR>De outras recorda&ccedil;&otilde;es, de outras lembran&ccedil;as,
 
<BR>No doce luar das l&aacute;grimas imensas
<BR>Das mais inconsol&aacute;veis esperan&ccedil;as.
<BR>&nbsp;
 
<P>II
<BR>&Oacute; mortos meus, &oacute; desabados mortos!
<BR>Chego de viajar todos os portos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Volto de ver in&oacute;spitas paragens,
 
<BR>As mais profundas regi&otilde;es selvagens.
<BR>&nbsp;
 
<P>Andei errando por funestas tendas
<BR>Onde das almas escutei as lendas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E tornei a voltar por uma estrada
<BR>Erma, na solid&atilde;o, abandonada.
<BR>&nbsp;
 
<P>Caminhos maus, atalhos infinitos
<BR>Por onde s&oacute; ouvi &acirc;nsias e gritos.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>por toda a parte a rir o inc&ecirc;ndio e a peste
<BR>Debaixo da Ilus&atilde;o do Azul celeste.
<BR>&nbsp;
 
<P>Era tamb&eacute;m luar, luar lutuoso
<BR>Pelas estradas onde errei saudoso...
<BR>&nbsp;
 
<P>Era tamb&eacute;m luar, o luar das penas,
<BR>Brando luar das Ilus&otilde;es terrenas.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Era um luar de triste morbideza
<BR>Amortalhando toda a natureza.
<BR>&nbsp;
 
<P>E eu em v&atilde;o busquei, Mortos queridos,
<BR>Por entre os meus trist&iacute;ssimos gemidos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Em v&atilde;o pedi os filtros dos segredos
<BR>Da vossa morte, a voz dos arvoredos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Em v&atilde;o fui perguntar ao Mar que e cego
<BR>A lei do Mar do Sonho onde navego.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ao Mar que e cego, que n&atilde;o v&ecirc; quem morre
<BR>Nas suas ondas, onde o sol escorre...
<BR>&nbsp;
 
<P>Em v&atilde;o fui perguntar ao Mar antigo
<BR>Qual era o vosso desolado abrigo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Em v&atilde;o vos procurei cheio de chagas,
<BR>Por estradas ins&oacute;litas e vagas.
<BR>&nbsp;
 
<P>Em v&atilde;o andei mil noites por desertos,
<BR>Com passos, espectrais, d&uacute;bios, incertos.
<BR>&nbsp;
 
<P>Em v&atilde;o clamei pelo luar a fora,
<BR>Pelos ocasos, pelo albor da aurora.
<BR>&nbsp;
 
<P>Em v&atilde;o corri nos areiais terr&iacute;veis
<BR>E por curvas de montes impass&iacute;veis.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; um luar, s&oacute; um luar de morte
<BR>Vagava igual a mim, com a mesma sorte.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; um luar sempre calado e d&uacute;til,
 
<BR>Para a minha afli&ccedil;&atilde;o, acerbo e in&uacute;til.
<BR>&nbsp;
 
<P>Um luar de sil&ecirc;ncio formid&aacute;vel
<BR>Sempre me acompanhando, impenetr&aacute;vel.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; um luar de mortos e de mortas
<BR>Para sempre a fechar-me as vossas portas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E eu, j&aacute; purgado dos terrestres
<BR>Crimes, Sem achar nunca essas portas sublimes.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sempre fechado a chave de mist&eacute;rio
<BR>O vosso ex&iacute;lio pelo Azul sid&eacute;reo.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; um luar de tr&ecirc;mulos mart&iacute;rios
 
<BR>A iluminar-me com clar&otilde;es de c&iacute;rios.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; um luar de desespero horrendo
<BR>Ah! sempre me pungindo e me vencendo.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; um luar de l&aacute;grimas sem termos
<BR>Sempre me perseguindo pelos ermos.
<BR>&nbsp;
 
<P>E eu caminhando cheio de abandono
<BR>Sem atingir o vosso claro trono.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sozinho para longe caminhando
<BR>Sem o vosso carinho venerando.
<BR>&nbsp;
 
<P>Percorrendo o deserto mais sombrio
<BR>E de abandono a tiritar de frio...
<BR>&nbsp;
 
<P>&Oacute; Sombras meigas, &oacute; Ref&uacute;gios ternos
 
<BR>Ah! como penetrei tantos Infernos!
<BR>&nbsp;
 
<P>Como eu desci sem v&oacute;s negras escarpas,
<BR>A Almas do meu ser, &Oacute; Almas de harpas!
<BR>&nbsp;
 
<P>Como senti todo esse abismo ignaro
<BR>Sem nenhuma de v&oacute;s por meu amparo.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sem a ben&ccedil;&atilde;o gozar, serena e doce,
 
<BR>Que o vosso Ser aos meus cuidados trouxe.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sem ter ao pe de mim o astral cruzeiro
<BR>Do vosso grande amor alvissareiro.
<BR>&nbsp;
 
<P>Por isso, &oacute; sombras, sombras impolutas,
<BR>Eu ando a perguntar as formas brutas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E ao vento e ao mar e aos temporais que ululam
<BR>Onde &eacute; que esses perfis se crepusculam.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>Caminho, a perguntar, em v&atilde;o, a tudo,
<BR>E s&oacute; vejo um luar soturno e mudo.
<BR>&nbsp;
 
<P>S&oacute; contemplo um luar de sacrif&iacute;cios,
<BR>De ang&uacute;stias, de tormentas, de cil&iacute;cios.
<BR>&nbsp;
 
<P>E sem ningu&eacute;m, ningu&eacute;m que me responda
<BR>Tudo a minh’alma nos abismos sonda.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo, sedenta, quer saber, sedenta
<BR>Na febre da Ilus&atilde;o que mais aumenta.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tudo, mas tudo quer saber, n&atilde;o cessa
<BR>De perscrutar e a perscrutar come&ccedil;a.
<BR>&nbsp;
 
<P>De novo sobe e desce escadarias
<BR>D’estrelas, de mist&eacute;rios, de harmonias.
<BR>&nbsp;
 
<P>Sobe e n&atilde;o cansa, sobe sempre, austera,
<BR>Pelas escadarias da Quimera.
<BR>&nbsp;
 
<P>Volta, circula, abrindo as asas volta
<BR>E os v&ocirc;os de &aacute;guia nas Estrelas solta.
<BR>&nbsp;
 
<P>Cada vez mais os v&ocirc;os no alto apruma
<BR>Para as et&eacute;reas amplid&otilde;es da Bruma.
<BR>&nbsp;
 
<P>E tanta forca na ascens&atilde;o desprende
<BR>Da envergadura, a propor&ccedil;&atilde;o que ascende...
<BR>&nbsp;
 
<P>Tamanho impulso, colossal, tamanho
<BR>Ganha na Altura, no Esplendor estranho.
<BR>&nbsp;
 
<P>Tanto os esfor&ccedil;os em subir concentra,
<BR>Em tantas zonas de Prod&iacute;gios entra.
<BR>&nbsp;
 
<P>Nas duas asas tal vigor supremo
<BR>Leva, atrav&eacute;s de todo o Azul extremo,
<BR>&nbsp;
 
<P>Que parece cem &aacute;guias de atras garras
<BR>Com asas gigantescas e bizarras.
<BR>&nbsp;
 
<P>Cem &aacute;guias soberanas, poderosas
 
<BR>Levantando as cabe&ccedil;as fabulosas.
<BR>&nbsp;
 
<P>E voa, voa, voa, voa imersa
<BR>Na grande luz dos Paramos dispersa.
<BR>&nbsp;
 
<P>E voa, voa, voa, voa, voa
<BR>Nas Esferas sem fim perdida a toa.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ate que exausta da fadiga e sonho
<BR>Nessa vertigem, nesse errar medonho.
<BR>&nbsp;
 
<P>Ate que tonta de abranger Espa&ccedil;os,
 
<BR>Da Luz nos fulgid&iacute;ssimos abra&ccedil;os.
<BR>&nbsp;
 
<P>Depois de voar a t&atilde;o sutis Encantos,
<BR>Vendo que as Ilus&otilde;es a abandonaram,
<BR>Chora o luar das l&aacute;grimas, os prantos
<BR>Que pelos Astros se cristalizaram!
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
 
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&Eacute;BRIOS E CEGOS
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Fim de tarde sombria.
<BR>Torvo e pressago todo o c&eacute;u nevoento.
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Densamente chovia.
<BR>Na estrada o lodo e pelo espa&ccedil;o o vento.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mon&oacute;tonos gemidos
<BR>Do vento, mornos, l&acirc;nguidos, sens&iacute;veis:
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Plangentes ais perdidos
<BR>De solit&aacute;rios seres invis&iacute;veis...
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dois secretos mendigos
<BR>Vinham, bambos, os dois, de bra&ccedil;o dado,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como estranhos amigos
<BR>Que se houvessem nos tempos encontrado.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Parecia que a bruma
<BR>Crepuscular os envolvia, absortos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Numa vis&atilde;o,
nalguma
<BR>Vis&atilde;o fatal de vivos ou de mortos.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E de ambos o andar
lasso
 
<BR>Tinha talvez algum sonambulismo,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Como atrav&eacute;s
do espa&ccedil;o
<BR>Duas sombras volteando num abismo.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Era tateante, vago
<BR>De ambos o andar, aquele andar tateante
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De ondula&ccedil;&atilde;o
de lago,
<BR>Tardo, arrastado, tr&ecirc;mulo, oscilante.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E tardo, lento, tardo,
<BR>Mais tardo cada vez, mais vagaroso,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; No torvo aspecto pardo
<BR>Da tarde, mais o andar era brumoso.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Bamboleando no lodo,
<BR>Como que juntos resvalando a&eacute;reos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Todo o mist&eacute;rio,
todo
<BR>Se desvendava desses dois mist&eacute;rios:
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ambos &eacute;brios e cegos,
<BR>No caos da embriaguez e da cegueira,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Vinham cruzando pegos
<BR>De bra&ccedil;o dado, a sua vida inteira.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ningu&eacute;m diria,
entanto,
<BR>O sentimento tr&aacute;gico, tremendo,
 
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; A convuls&atilde;o
de pranto
<BR>Que aquelas almas iam turvescendo.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ningu&eacute;m sabia,
certos,
<BR>Quantos os desesperos mais agudos
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dos mendigos desertos,
<BR>&Eacute;brios e cegos, caminhando mudos.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ningu&eacute;m lembrava as
 
&acirc;nsias
<BR>Daqueles dois estados meio g&ecirc;meos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Presos nas inconst&acirc;ncias
<BR>De sofrimentos quase que bo&ecirc;mios.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ningu&eacute;m diria
nunca,
<BR>&Eacute;brios e cegos, todos dois tateando,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; A que atroz espelunca
<BR>Tinham, sem vista, ido beber, bambeando.
 
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que negro &aacute;lcool
profundo
<BR>Turvou-lhes a cabe&ccedil;a e que sud&aacute;rio
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mais pesado que o
mundo
<BR>P&ocirc;s-lhes nos olhos tal horror mortu&aacute;rio.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E em tudo, em tudo
aquilo,
 
<BR>Naqueles sentimentos t&atilde;o estranhos.
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De tamanho sigilo,
<BR>Como esses entes vis eram tamanhos!
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que t&atilde;o fundas
cavernas,
<BR>Aquelas duas dores enjaularam,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Miser&aacute;veis
e eternas
<BR>Nos horr&iacute;veis destinos que as geraram.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que medonho mar largo,
<BR>Sem lei, sem rumo, sem vis&atilde;o, sem norte,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que absurdo t&eacute;dio
amargo
<BR>De almas que apostam duelar com a morte!
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nas suas naturezas,
<BR>Entre si t&atilde;o opostas, t&atilde;o diversas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Monstruosas grandezas
 
<BR>Medravam, j&aacute; unidas, j&aacute; dispersas.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Onde a noite acabava
<BR>Da cegueira feral de atros espasmos,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; A embriaguez come&ccedil;ava
<BR>Rasgada de rid&iacute;culos sarcasmos.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E b&ecirc;badas, sem
vista,
<BR>Na mais que trovejante tempestade,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Caminhando a conquista
<BR>Do desd&eacute;m das esmolas sem piedade,
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; L&aacute; iam, juntas,
bambas,
<BR>-- acorrentadas convuls&otilde;es atrozes --,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ambas as vidas, ambas
 
<BR>J&aacute; meio alucinadas e ferozes.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E entre a chuva e entre
a lama
<BR>E solu&ccedil;os e l&aacute;grimas secretas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Presas na mesma trama,
<BR>Turvas, flutuavam, tr&ecirc;mulas, inquietas.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mas ah! torpe mat&eacute;ria!
 
<BR>Se as atritassem, como pedras brutas,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que chispas de mis&eacute;ria
<BR>Romperiam de tais almas corruptas!
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; T&atilde;o grande,
tanta treva,
<BR>T&atilde;o terr&iacute;vel, t&atilde;o tr&aacute;gica, t&atilde;o triste,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Os sentidos subleva,
 
<BR>Cava outro horror, fora do horror que existe.
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Pois do sinistro sonho
<BR>Da embriaguez e da cegueira enorme,
<BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Erguia-se, medonho,
<BR>Da loucura o fantasma desconforme.
<BR>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;
<BR>&nbsp;
 
<P>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;
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