Anais da Ilha Terceira/I/XXVII: diferenças entre revisões

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Assim tomaram o pátio do hospital da cidade, e nele se colocou a casa da moeda, servindo de mestre um hábil ourives, por nome Gaspar Ribeiro, com os mais oficiais peritos, juiz, e escrivão; começando logo em princípio a fabricar boa moeda do prata, ouro e cobre<ref>Citada ''Relação'', capítulo 40. É desta relação que extraímos a notícia das moedas aqui mencionadas, ainda que delas todas não trata a referida carta régia. Já desta carta déramos notícia no [[Anais da Ilha Terceira/I/II|Capítulo II da Primeira Época]], tratando das armas da cidade de Angra.</ref>, com as armas e divisa do Regente, da forma que se manifesta na carta régia transcrita no [[Documento I**]], datada do 1.º de Abril de 1582.
 
Por efeito desta ordem, levantou-se em dobro o valor nominal da moeda, a saber: os patacões valeram a 10 réis; as moedas de real e meio, a 5 réis; as de real, a 3 réis; e as de meios reais a real, que era o preço por que corriam antigamente antes que reinasse [[w:Sebasrião I de Portugal|El-Rei D. Sebastião]], e era o seu cunho uma cruz com um açor ao pé, e da outra parte as armas reais. Fabricaram-se moedas de prata de cruzado, tostões, meios tostões e vinténs: depois dobrou-se o seu valor, e das moedas de cruzado, marcadas na forma dita, se fizeram 800 réis; de um tostão, dois; e assim gradualmente. Todo este aumento era de El-Rei, porque recolhia dois e tirava um tostão com o novo cunho. Também se fez moeda de 80 réis e de 40 réis. Igualmente se aumentou o valor das moedas de 500 réis, que ficaram valendo a 1$000 réis, e as de 1$000 réis, a 2$000 réis. De todas estas moedas se têm achado muitas, que se conservam na ilha para memória<ref>O excelentíssimo [[w:ViscondeTeotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara|visconde de Bruges]] conserva um grande número destas moedas que comprou a certo homem, que as achou dentro de um saco já podre sepultado junto do tronco de uma animosa faia no lugar das Roças, subúrbio da cidade. Não se pôde averiguar ao certo que quantidade seria de moedas de ouro, porque ele só confessou achara umas cem, e de prata maior quantidade. Foi este importante ''haver'' encontrado nos últimos dias do mês de Fevereiro de 1841; porém já muito de antes se acharam noutros partes algumas moedas de cobre deste cunho.</ref>.
 
Logo que se começou a trabalhar na casa da moeda, saiu Manuel da Silva em pessoa com muitos homens principais da cidade, e, com palavras as mais insinuantes, pelas portas dos moradores dela pedia dinheiro, e peças de ouro e prata para se fabricar moeda, com que se pudessem sustentar as tropas até se restaurar o Reino de Portugal. O que vendo os moradores de Angra, e os modos e maneira com que ele pedia, uns se comprometiam a dar como amigos, outros como suspeitos ao serviço do novo Rei D. António; e desta forma estes por medo, e aqueles por vontade, ofereciam cadeias de ouro, anéis, jóias, peças de ouro e prata; uns prometiam moios de trigo, outros gado; e os que eram de suspeita, a esses se pedia com mais indústria, e mais por vergonha do que por vontade se alargaram em suas dádivas, com medo de os molestarem; ''de maneira que todas as cadeias que lhe davam, Manuel da Silva as lançava ao pescoço, e já não podia com elas; e como a terra estava rica e próspera ajuntou um tesouro'': e constou que nada disto apareceu na casa da moeda, pois tudo guardou com muito [[w:Âmbar|âmbar]] das naus que vinham ter à ilha<ref>Citada ''Relação'', no capítulo 41, a que se refere o Padre Cordeiro no Livro 6.º, capítulo 27 § 304 da 'História Insulana''.</ref>.