Anais da Ilha Terceira/I/XXVII: diferenças entre revisões

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Já muito antes havia principiado, como dissemos, a deserção de alguns homens principais da ilha Terceira, considerando a pouca estabilidade dos negócios a favor de [[w:António I de Portugal|El-Rei D. António]], e se achavam premiados no serviço de [[w:Filipe I de Portugal|El-Rei Filipe]]; e vimos que outros, voltando a ela em comissões honrosas, ostentavam publicamente o gozo das mercês que em prémio de sua rebeldia lhes foram concedidas, com o fim de atraírem os seus compatriotas, e de os arrastarem à mesma opinião.
 
Do número dos descontentes, por este ou aquele motivo, foi João Dias de Carvalhal, que sendo homem de 40 anos, pouco mais ou menos, pela sua nobreza e virtudes cívicas de que era ornado em grau superior, andava quase efectivamente na governança da cidade<ref>Por vários documentos autênticos que me confiou o Sr. João de Carvalhal Júnior, sucessor desta casa dos Carvalhais na ilha Terceira e pelo testemunho dos nossos cronistas, sabemos que Francisco Dias de Carvalhal, chefe dos deste apelido, senhor do casal de Carvalhal em Guimarães, na freguesia de Santa Marinha da Costa, que o possuiu por seus antepassados Martim Domingos, filho de Domingos Esteves de Carvalhal, e Maria Anes, sua mulher, como consta da carta passada por El-Rei D. Duarte, em a cidade de Évora, aos 5 de Fevereiro de 1435, foi e primeiro que passou a esta ilha pelos anos de 1520, com seu irmão Gonçalo Dias de Carvalhal, vindos da Índia, onde militaram muitos anos, e lhes chamaram os ''cavaleiros'', porque o eram de uma das ordens militares. Conhecida sua nobreza e qualidade, casou Francisco Dias com Catarina Neta, filha do nobre João Álvares Neto, e de sua mulher Mécia Lourenço Fagundes, dos quais tratámos na [[Anais da Ilha Terceira/I/VI|Primeira Época, Capítulo VI]]. Serviu de vereador em Angra no ano de 1545 e de juiz ordinário no ano de 1564. Consta mais por uma certidão que lhe passou Matias Jacques, escrivão de alfândega, assinada por António Pires do Canto, provedor das armadas reais por impossibilidade de seu pai Pedro Anes do Canto, em 2 de Outubro de 1545, que o dito Carvalhal servia, haviam muitos anos, de depositário dos cofres de ouro de Sua Alteza que vinham da Índia e Mina, por se entender que em outra parte não estavam tão seguros como em sua casa. E que assim teve o depósito dos cofres que trouxe o galeão comandado por Mendo Rodrigues de São Paio, o qual Pedro Anes lhe mandou entregar; assim como outro cofre da Mina trazido a esta ilha por Estêvão Soares, capitão da caravela ''Leoa'', que se deteve em Angra seis meses; e finalmente outro cofre que viera da Índia naquele ano de 1515; e que de tudo dera inteira satisfação, sem lhe ser assinado prémio, nem se lhe fazer mercê alguma enquanto vivo.</ref>, e fora outrora um dos mais afeiçoados ao partido de El-Rei D. António, sem dele se presumir outra coisa; muito mais por ser genro de Estêvão Cerveira, que já dissemos fora com o padre Frei Melchior visitar El-Rei, quando este se achava na vila de Aveiro. Logo que chegou o conde, foi João Dias de Carvalhal visitá-lo, no intento de o iludir e se pôr a salvo da ilha para fora; e com palavras estudadas lhe significou a sua dedicação ao serviço de El-Rei D. António, e por tal forma lisonjeou o conde do seu bom governo, que ele se persuadiu ter presente um dos seus maiores confidentes e servidores de El-Rei. Então João Dias de Carvalhal o persuadiu dizendo-lhe<ref>Citada ''Relação'', no capítulo 36.</ref>: ''que ele era homem que não tinha nunca saído desta ilha, que se queria ir ver com Sua Majestade''. Representando-lhe além disto, o ardente zelo que tinha de o servir; e queria ''andar em sua companhia sem dele se apartar''; concluindo no seu pedido, lhe desse licença para se embarcar nos navios que iam com o [W[w:Pastel|pastel]] dos mercadores.
 
Instado por estas razões o conde, e convencido da utilidade que disto se poderia seguir, por ser João Dias de Carvalhal um grande cavaleiro, lhe concedeu licença de se embarcar, e muito mais lhe faria se pedido lhe fosse; porém ele, embarcando-se imediatamente para Inglaterra, sem querer saber mais de El-Rei D. António, passou a Lisboa a dar obediência a El-Rei Filipe, e a requerer despachos, desculpando o dito seu sogro Estêvão Cerveira; e por estes serviços obteve mercês que depois serviram a seu filho Francisco de Carvalhal, porque, vindo a estas ilhas na armada com o marquês de Santa Cruz, quando este defronte da ilha de S. Miguel rompeu a armada francesa, ficou gravemente ferido e maltratado, de forma que em breves dias faleceu em Lisboa; e seu filho, dito Francisco de Carvalhal, por estes serviços de seu pai obteve as indicadas mercês, uma das quais fora o hábito de Cristo com 20$000 réis de tença; e além disto alcançou um bom posto na Índia, com tal infelicidade, porém, que o não chegou a gozar, por se perder com a nau onde embarcou, sem que constasse de que modo foi.