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Edição atual desde as 01h32min de 29 de outubro de 2020

Em uma sala contígua está um secretário e um oficial da guarda, mas uma vez introduzido no pequeno salão, o visitante acha-se a portas fechadas em presença somente de Leão XIII. O papa, que lia um livro de versos latinos quando fui anunciado, mandou que me assentasse numa cadeira ao lado da sua e perguntou-me em que língua devia falar-me. Eu preferi o francês.

A impressão que senti todo o tempo da audiência, que não durou menos de três quartos de hora, não se parece com a sensação causada pela presença de um dos grandes soberanos do mundo. O trono brasileiro é uma exceção. Nunca no Brasil teve homem tão acessível como o imperador, nem casa tão aberta como S. Cristóvão. Mas os monarcas em geral são educados e crescem, porque a sua condição é superior à do resto dos homens, na crença de que são ‘melhores’ do que a humanidade. A todas as vantagens do papado como instituição monárquica, notavelmente a eletividade, é preciso acrescentar essa superioridade do papa sobre os outros soberanos, que estes nascem, vivem e morrem no trono, e que os papas só chegam à realeza nos últimos anos da vida, isto é, que vivem toda a vida como homens e no trono não fazem quase senão coroar a sua carreira. Esse caráter ‘humano’ da realeza pontifícia é a condição principal de seu prestígio, assim como a eletividade é a condição da sua duração ilimitada e o espírito