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Edição atual desde as 02h28min de 30 de outubro de 2020

por uma serenidade e uma doçura sem igual.

Em 1860 meu pai mudou-se do Catete para a praia do Flamengo, onde residiu até a morte. A casa era uma dessas construções maciças ainda do bom tempo da edificação portuguesa do Rio de Janeiro, com proporções no interior de um trecho de palácio ou de convento. Ali, naqueles salões, e quartos que eram salas, ele estava à vontade, tinha o espaço e, com o mar em frente de suas janelas, a variedade e o movimento exterior, precisos a um recluso dos livros. A sociedade do Rio de Janeiro vinha às suas partidas e recepções; vizinhos, nos domingos, à missa rezada em seu oratório; durante a sessão das Câmaras, deputados pernambucanos, e sempre os íntimos, como o marquês de Abrantes, Quarahim, os antigos colegas. Isto, além das vezes que ia de carruagem ao Senado ou ao escritório, constituía toda a distração que ele tinha fora do seu gabinete. Sua vida, pode-se dizer, era exclusivamente cerebral, e nunca teve tempo, (nem um dia, talvez, em toda ela), de interromper, de suspender, essa labor contínuo, que era todo ele um serviço forçado, nenhuma parte, nem a mais insignificante sequer, sendo de sua própria escolha ou inclinação...Desse modo de viver, encerrado entre altas muralhas de livros, saindo da sua cela somente para se encontrar em presença da família com os que a simpatia ou a fidelidade