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Edição atual desde as 02h29min de 30 de outubro de 2020

espíritos emancipados se atribuem em relação aos que nunca saíram da fé. Era no tempo em que eu perguntava a mim mesmo se um homem, mesmo tendo o gênio de um Santo Tomás de Aquino, podia ser chamado superior, se não tinha, em nosso século, outro horizonte intelectual senão o da revelação... Talvez pensasse eu então como consolo que meu pai também tivera dúvidas que não deixava perceber, ou que tinha voltado à fé como uma síntese já pronta da vida humana em todas as suas relações depois de ter debalde procurado construir outra por si mesmo. Só mais tarde alcancei compreender que a inteligência pode trabalhar até ao fim inteiramente alheia aos graves problemas religiosos que confundem o pensador que os quer resolver segundo a razão, se nenhum choque exterior veio perturbar para ela a solução recebida na infância. A dúvida não é sinal de que o espírito adquiriu maior perspicuidade, é às vezes um simples mal-estar da vida. Uma existência ocupada por grandes trabalhos pode não ter um momento para dar à dúvida religiosa. Se não é exato dizer que a dúvida nunca ajudou nenhum dos grandes gênios da humanidade no traço ou no aperfeiçoamento de sua obra, o número dos que ela assistiu é seguramente pequeno comparado ao dos que não precisaram de um sopro de negação para os inspirar e souberam criar, crendo. Uma coisa pelo menos é certa, a saber,