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Edição atual desde as 16h26min de 30 de novembro de 2020

A sineta tocou, e fomos tomar lugares. A Pilar já estava no camarote; nos outros, quando neles iam entrando as damas respectivas, o primeiro olhar era para ela. O presidente já estava sentado, bem à vista da sala. A Pilar olhou-o demoradamente, correu a vista pela sala e olhou-o ainda uma vez, com firmeza e sem inveja. Era como se dissesse: aqui eu e tu! A orquestra atacou. O pano subiu e eu me preparei para ouvir as doçuras da música italiana. O espetáculo prolongou-se além da meia noite, e nós o assistimos até ao fim. Saímos tristes. Era a primeira vez que eu assim saía de um teatro. Nos meus tempos de estudante, deixava o espetáculo alegre.

Cercado senão de amigos, no mínimo de camaradas, passava a representação como assistindo uma aula, em cujos intervalos, de igual a igual, discutia e conversava familiarmente com os outros. Desta vez, sem aquele ambiente favorável de colegas, eu me choquei bruscamente com aquele mundo hostil. Não houve uma só palavra que me ferisse, nem sequer um olhar; entretanto, só em contemplar aquela grande gente, que me parecia tão rica e tão brutal, eu me senti inferior. Donde me vinha esse sentimento? Era a minha cultura? Não; eu recebi a mesma instrução dos mais