Através do Brasil/LIII: diferenças entre revisões

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|seção=LIII-Inácio Mendes
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O negociante, cujo endereço Carlos havia guardado, tinha o seu escritório comercial na cidade baixa. Àquela hora o escritório estava fechado, como quase todas as casas daquela parte da cidade, que somente durante o dia é animada pelo movimento do comércio. Mas em um armazém, que estava aberto, disseram a Carlos em que rua da cidade alta morava o homem procurado.
 
- É muito longe daqui?
 
- Não! Vão pelo “Parafuso”, que fica a dois passos.
 
Ainda tinham algum dinheiro, e puderam pagar as passagens, no “Parafuso”, elevador elétrico, cujo modo de funcionar foi um grande divertimento para Alfredo.
 
A casa ficava perto da Praça Duque de Caxias, e não lhes foi difícil encontrá-la, graças às informações que iam pedindo de rua em rua. Era um prédio elegante, com um pequeno jardim ao lado. Bateram à porta.
 
- Diga ao Sr. Inácio Mendes que estão aqui os filhos do engenheiro Meneses - disse Carlos ao criado que veio ver quem era.
 
Logo depois, apareceu o negociante, espantado:
 
- Entrem! Entrem!
 
Entraram numa saleta de espera, onde o dono da casa começou a examiná-los com curiosidade. Era um homem alto e gordo, de fisionomia franca e simpática, com o bigode raspado, e suíças já grisalhas. Esteve um momento calado, a fitá-los, e por fim falou:
 
- São então os filhos do Dr. Meneses?
 
- Sim senhor; - respondeu Carlos - sou o mais velho, Carlos, e este é o mais moço, Alfredo.
 
- E este? - perguntou Inácio Mendes, apontando Juvêncio.
 
- Este foi o nosso companheiro de jornada, e devemo-lhe muita gratidão pelo auxílio que nos prestou durante a viagem difícil que tivemos de fazer, até aqui.
 
- Mas como fizeram a viagem?
 
- Oh! - exclamou Alfredo, intervindo - a cavalo, em canoa, em estrada de ferro, a pé...
 
Carlos, com um gesto, impôs silêncio ao irmão, e disse:
 
- Foi em Jaguari que, por acaso, lendo um jornal, encontrei o anúncio, em que o senhor prometia uma recompensa a quem lhe desse notícias de nós.
 
O negociante continuava a examinar os três rapazes com mal contido espanto:
 
- E como foi essa história do seu desaparecimento?
 
Carlos ia responder; mas Inácio Mendes, mudando de idéia, disse:
 
- Bem! Bem! Temos tempo!... vamos lá para dentro; vocês precisam cear e descansar.
 
Já tratava os rapazes com familiaridade, e estes começavam a sentir-se atraídos por ele, pelo seu ar simpático e bondoso.
 
Inácio Mendes introduziu-os na sala de jantar, onde estava reunida a família. A mulher do negociante era uma senhora bem conservada, parecendo moça. Estava à cabeceira da mesa; nos outros lugares, estavam as duas filhas, uma de quatorze anos e outra de doze, e o filho, ainda menino. Das duas mocinhas uma cosia, e outra bordava, sobre talagarça, em um bastidor. O menino folheava um livro com estampas.
 
- Ora aqui estão os heróis de um romance! - disse o negociante, ao entrar na sala. - São os filhos do Dr. Meneses, que tinham desaparecido do colégio.
 
- Jesus! - exclamou a senhora, levantando-se - como foi isso, meninos?
 
- Tá! Tá! Tá! - interrompeu o negociante, rindo - por ora, creio que eles não poderão contar como foi, porque devem estar caindo de fome! Vamos dar-lhes de cear, e ouvi-los-emos depois.
 
Daí a pouco, servida uma ceia de carnes frias e de doces, Carlos, que já se sentia bem naquela atmosfera de família, começava a contar a sua história. Disse, sumariamente, como soubera da doença do pai, como saíra à procura dele em companhia do irmão, como tinha recebido a notícia da morte, e como viera até ali, entre mil perigos e dificuldades. A narração foi sucinta, mas, ainda assim, durou mais de uma hora, durante a qual o negociante, a mulher, e os filhos não continham por vezes a admiração e as lágrimas, ouvindo a relação de tantos riscos e tormentos. Carlos, apesar de resumir o mais possível a narrativa, não esqueceu o encontro com Juvêncio, nem os serviços que este lhe prestou, nem a doença do irmão...
 
- Coitados! - diziam compassivamente, de quando em quando, a senhora e as filhas.
 
Quando Carlos acabou de falar, houve na sala um silêncio comovido. O negociante foi o primeiro a rompê-lo, dizendo:
 
- Pois, meninos, eu não conheci pessoalmente seu pai. Sou apenas correspondente de seus tios do Rio Grande do Sul. Telegrafaram-me, há mais de dez dias, pedindo-me com muito empenho que eu descobrisse o paradeiro de vocês, desaparecidos do colégio, no Recife, em busca de seu pai enfermo na Boa Vista, no São Francisco. Imediatamente, fiz publicar aquele anúncio, e telegrafei para Alagoinhas, e outras cidades do interior, mas não obtive resposta... Imaginem o desassossego em que devem estar os seus parentes do Rio Grande!... Enfim, vocês apareceram, e isso é o essencial. Amanhã veremos o que se deve fazer... Que caso extraordinário!
 
- Parece um romance! - disse uma das mocinhas.
 
- Um romance verdadeiro!
 
As duas meninas, Maria Nazaré e Georgina, tinham tomado conta de Alfredo, que conversava animadamente com elas. O filhinho do negociante, Otávio, caíra de bruços sobre o livro, e dormia; Carlos e Juvêncio conversavam com o dono da casa, dando-lhes ainda novos episódios da viagem.
 
Foi Inácio Mendes quem interrompeu o serão dizendo:
 
- Já é quase meia noite! Vamos dormir, que estes meninos, depois da sua viagem tão complicada, devem estar morrendo de sono!
 
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