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||author_override=por [[Autor:Olavo Bilac|Olavo Bilac]] e [[Autor:Manuel Bonfim|Manuel Bonfim]]
|seção=LVIX-O gigante de pedra
|anterior=[[Através do Brasil/LVIII|LVIII-A tempestade]]
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Ainda a noite enchia todo o céu e cobria toda a terra, e já todos os passageiros estavam acordados, na tolda, ansiosos por admirar o espetáculo da entrada da barra do Rio de Janeiro. No escuro, os vultos moviam-se como fantasmas, falando alto e rindo; e todos esperavam com entusiasmo o gozo artístico que a contemplação do panorama lhes prometia. O primeiro luzir da manhã já encontrou Carlos e Alfredo de pé, ao lado dos outros, encostados à amurada, do lado da proa.
 
Quando o paquete enfrentou a barra, uma leve cor de rosa desmaiada começava a tingir as montanhas cujos vultos imensos pareciam defender zelosamente a entrada do porto, como sentinelas de pedra. O paquete diminuiu a marcha. Com o lento clarear da aurora, a luz do farol da ilha Rasa, que varria intermitentemente as águas, empalidecia. Uma claridade mais forte cobriu de repente o Pão de Açúcar, que se erguia à esquerda do navio, formidavelmente, dominando as águas. À direita, tremeluziam esmaecidas as luzes da fortaleza de Santa Cruz. Os dois meninos, calados e trêmulos de emoção, contemplavam embevecidamente o extraordinário espetáculo. Todo o céu parecia agora arder num incêndio espantoso; e as nuvens, que se enchiam de chamas, refletiam-se no mar, que também fulgurava, coberto de fogo...
 
Quando o navio lentamente passou entre Santa Cruz e Lage, um enorme leque de varetas de púrpura subia do nascente; daí a pouco, essa púrpura principiou a dourar-se toda, - e a claridade vitoriosa do sol iluminou a Bahia.
 
- Que maravilha! - exclamavam vários passageiros.
 
Carlos, respondendo a uma das multiplicadas perguntas de Alfredo, teve de explicar-lhe que a denominação de “Rio de Janeiro” foi dada, porque no dia 1º de Janeiro, os primeiros navegantes, chegando a essa baía, supuseram estar diante da foz de um grande rio.
 
Mais longe, quando os dois estavam admirando em conjunto as serras, um passageiro lhes chamou a atenção para o famoso “Gigante de Pedra”.
 
- Que gigante? - perguntou Alfredo.
 
- Pois não reparou? Quando se enfrenta a barra, parece que as serras formam o vulto imenso de um homem deitado... Vêem-se perfeitamente a cabeça, o peito, as pernas... A semelhança é ainda melhor, quando se vê do lado do sul, quando os navios entram a barra, vindo dos Estados meridionais.
 
- É verdade! - exclamou o pequeno - reparei! É perfeito! E parece a figura de um índio...
 
- Justamente! Já houve um grande poeta brasileiro que cantou o “Gigante de Pedra”.
 
- Quem foi?
 
- Gonçalves Dias. Não conhecem a poesia?
 
- Não. Como é?
 
- Guardo apenas de memória algumas estrofes:
 
<poem>
E lá na montanha, deitado, dormindo,
Campeia o gigante, - não pode acordar!
Cruzados os braços de ferro fundido,
A fronte nas nuvens, os pés sobre o mar!
 
Nas duras montanhas os membros gelados,
Talhados a golpes de ignoto buril,
Descansa, ó gigante, que encerras os fados,
Que os términos guardas do vasto Brasil!
</poem>
 
[[Categoria:Através do Brasil]]