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Revisão das 18h38min de 25 de setembro de 2021

Henrique Lins

Marcondes Salgado, comandante da nossa Força Pública, e o grande inventor brasileiro Santos Dumont”[1]. O suicídio, entretanto, não poderia ser divulgado. “Não haverá inquérito, Santos Dumont não se suicidou”[2], pontificou o governador Pedro de Toledo. No mesmo dia seu corpo foi embalsamado pelo Dr. Walter Harberfeld que retirou e preservou o coração de Santos Dumont. O general Góes Monteiro, comandante das tropas de Getúlio, dirigiu-se ao povo paulista: “Em homenagem à memória do imortal pioneiro da Aviação, as unidades aéreas do Destacamento do Exército Leste, deixarão de bombardear hoje as posições militares inimigas”[3]. Getúlio Vargas, em 25 de julho, decretou luto oficial por três dias. Somente em 17 de dezembro de 1932 o corpo de Santos Dumont foi transladado para a capital federal, Rio de Janeiro. O sepultamento se deu durante um forte temporal no cemitério São João Batista. Lá, sob a réplica do monumento do Ícaro de Saint Cloud, por ele construído, repousa Santos Dumont.

A contribuição de Santos Dumont para a aviação foi enorme. Não só no campo de provas, onde ele realizou os dois primeiros vôos dirigidos da história: do balão dirigível, em 19 de outubro de 1901, e o do avião, em 23 de outubro e 12 de novembro de 1906. A partir de 1910, quando ele se afastou de sua carreira de aviador, sua contribuição foi de fundamental importância para o surgimento de uma nova mentalidade que passou a aceitar o avião como um novo artefato tecnológico à disposição da sociedade. Além disso, graças às suas reflexões sobre as possibilidades que os dirigíveis e os aviões ofereciam, surgiu gradualmente, não só no meio militar e esportivo, a percepção de uma nova indústria nascia. O avião, de fato, pode ser considerado como o grande responsável por uma mudança global. Quando perguntado pelo jornalista italiano Antonio Polito, sobre a grande novidade que apareceu e que permitiu a redução ou eliminação completa das barreiras comerciais entre os Estados, o historiador inglês Eric Hobsbawm respondeu: “A grande mudança foi o surgimento do transporte de carga por aviões. O exemplo mais óbvio, que nos afetou a todos, é o fim da sazonalidade dos produtos agrícolas... Pela primeira vez na história da humanidade, isto tornou possível organizar a produção, e não apenas o comércio, em escala transnacional...”[4]

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  1. Idem. P. 109.
  2. Jorge, Fernando. 1977. As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont. McGraw-Hill do Brasil. SP. 207 pp. P. 200.
  3. Idem. P. 200.
  4. Hobsbawm, 2000. O novo século. Companhia das Letras. SP. 196 pp. p.71-72.